Ruínas vivas do Teatro de Arte Israelita Brasileiro no livro
TAIB: Uma história do teatro
Paulo Toledo
Florianópolis, v.1, n.50, p.1-11 abr. 2024
americana ou sul-americana (Cytrynowicz, 2023b, p. 36).
Nas primeiras décadas do século XX, na Europa oriental, estes grupos de
judeus constituíram comunidades que se aproximaram de grupos operários e
movimentos socialistas, por conseguinte, “ os anos após a Revolução de 1917 foram
de efervescência do teatro ídiche na União Soviética, que perduraram até a década
de 1930” (Cytrynowicz, 2023b, p. 35).
No Brasil, o teatro ídiche em torno da Casa do Povo e, depois, do TAIB,
organizou uma tradição amadora de um teatro livre, comunitário e experimental.
Neste processo, importantes artistas modernos ligados à comunidade judaica do
período trabalharam no Brasil. Um exemplo é o encenador polonês Zygmunt
Turkow (1896-1970). Além de dirigir peças do teatro ídiche em São Paulo, Turkow
trabalhou com o Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP) e, depois de se mudar
para Israel, tentou montar lá
Vestido de noiva
, de Nelson Rodrigues. Também
esteve por aqui o artista plástico Gershon Knispel, que causara grande impressão
em Bertolt Brecht na década de 1950 e estava discutindo com ele, pouco antes da
morte do autor alemão, em 1956, um conjunto de ilustrações para o poema
narrativo
Cruzada das crianças
, de Brecht
.
Knispel foi cenógrafo de diversas
montagens do teatro ídiche em São Paulo, pintou os painéis na lateral do TAIB (um
deles fazia referência à peça
Mãe coragem
de Brecht), trabalhou com movimentos
sociais, sindicatos de operários e com os grandes movimentos de democratização
da cultura da década de 1960, como o Centro Popular de Cultura da UNE
(Cytrynowicz, 2023, p. 49).
O artigo de Cytrynowicz dá ainda detalhes daquela que foi “uma das mais
celebradas montagens da dramaturgia judaica em português” (Cytrynowicz, 2023,
p. 50),
O Dybuk
, peça escrita em 1914 pelo dramaturgo e etnólogo An-Ski
(pseudônimo do autor russo Shloyme Zanvl Rappoport). A montagem no Brasil,
em 1962, com direção de Graça Mello e com a participação de atores como Sylvio
Band, ligado ao CPC da UNE, teve uma encenação sofisticada, com coros, música,
dança e linguagem híbrida.
Com o tempo, essa comunidade de judeus sobreviventes, muitas vezes
socialistas, e que tinha na língua ídiche uma marca forte de identidade, foi se