Operárias da cena: a participação de mulheres no ofício cenotécnico teatral
Priscila de Souza Chagas do Nascimento
Florianópolis, v.1, n.50, p.1-27, abr. 2024
Sobre a relação da incorporação das máquinas e o lugar do trabalho das
mulheres, Michelle Perrot (2005, p. 229-230) diz:
A mecanização não tem efeitos unívocos. Às vezes, ela recompõe o
trabalho, requalifica-o e o masculiniza (fiação); outras vezes, ela o
fragmenta, parcela-o e o feminiza (tecelagem). O lugar das mulheres não
é determinado pela técnica, mas por questões de status que
tradicionalmente atribuem aos homens os postos de comando, de
acompanhamento, os instrumentos complicados, e às mulheres, as
tarefas de auxiliares, de assistentes, os trabalhos de execução, efetuados
com as mãos nuas, pouco especializados e até mesmo casuais, e sempre
subordinados. A mecanização, se ela significa a saída da casa da família
e a entrada mais maciça das mulheres no mercado do trabalho industrial,
não implica em sua libertação, nem em sua promoção, ou seu acesso à
técnica. O medo que existe de sua emancipação sexual leva até mesmo
a vigiá-las ainda mais. Na fábrica, a máquina reproduz, e mesmo agrava
a divisão das tarefas e a subordinação feminina, a autoridade do
contramestre ou da religiosa, substituindo a autoridade do pai. E com
isso, ainda mais devido ao ciclo do trabalho feminino, temporário e
intermitente porque determinado pelas necessidades da família, a revolta
é difícil e a organização na maior parte das vezes impossível.
A formação profissional tradicional da cenotécnica acontece pelo fluxo
variante que o/a profissional desenvolve entre os fazeres do ofício, adquirindo
conhecimento múltiplos de toda a etapa do trabalho na construção de objetos
cenográficos. É possível dizer que a permanência de mulheres neste ofício
também ocorre pela possibilidade de variar suas funções de um espetáculo para
o outro, sendo possível devido à influência na formação institucional em Técnicas
de Palco. Para a cenotécnica, esse fluxo é a chave de entrada para o ofício, é ele
que forma o/a profissional para assinaturas em nome do trabalho cenotécnico.
Hoje, na SP Escola de Teatro, a maior parte dos alunos da linha de estudos
em Técnicas de Palco são mulheres, e elas estão ingressando no mercado e
permanecendo. Com isso, um movimento de conscientização e acolhimento
acontece entre as mulheres, e permite que elas continuem exercendo papeis nos
espaços de produções cenográficas. Durante o ano de 2020, foi possível observar
as mobilizações que visavam debater a importância dos profissionais técnicos de
espetáculos e diversões (e muitas mulheres estavam por detrás das coxias). O
movimento SOS Técnica de São Paulo, determinante na inclusão dos profissionais