Vestido de Noiva
(re)estreia: encenar a modernização do teatro brasileiro (1943-1976)
Henrique Brener Vertchenko
Florianópolis, v.4, n.49, p.1-23, dez. 2023
Aplaudiram muito. Foi uma das ovações mais espetaculares a que já
assisti. Depois, os comentários, já nos corredores, nas escadarias, pela
noite a dentro. “Genial”, era o mínimo que se dizia. “Revolucionário”...
“Expressionista”... “Fantástico”... Se V. gosta de adjetivos, naquela noite os
teve para o resto da vida. [...]. Também naquela noite se pronunciou pela
primeira vez a frase que se ligaria, como um subtítulo, a “Vestido de noiva”
– um marco na História do Teatro Brasileiro (Cardoso, 1958).
No mesmo sentido, Sergio Viotti escreveria no
Correio Paulistano
que “Vestido
de Noiva representa um marco no nosso teatro. Sei que acabei de escrever uma
frase que todos já escreveram um dia: mas como outros ainda voltarão a escrever
a mesmíssima coisa, o ‘chavão’ adquire uma significação verdadeira que o redime”
(Viotti, 1958). Há nisso a elaboração de um significado perene para a peça,
conformado por uma leitura que estabelece uma linha de continuidade entre
passado, presente e futuro.
No ano de 1965, Sérgio Cardoso remontaria a peça, desta vez no Teatro
Municipal do Rio de Janeiro, como parte das comemorações do IV Centenário da
cidade, em uma temporada de treze dias. No elenco, além de Yoná Magalhães (que
havia participado no ano anterior do filme
Deus e o diabo na terra do Sol
),
constavam nomes como John Herbert, Lola Brah, Ana Maria Nabuco, Sadi Cabral
e Thelma Reston. Além disso, Joffre Rodrigues, filho de Nelson, era um dos
produtores do espetáculo. Nesse retorno ao Teatro Municipal, a experiência de
1958 era retomada por meio de uma plataforma similar inclinada em forma de
rampa. A montagem, em geral, não agrada à crítica, que vê a abolição de planos
do texto como um dificultador. Van Jafa, por exemplo, afirma que a cenografia “é
de todo impraticável e tem seu ponto grave na desfiguração da rubrica do autor
que pede três planos, para a compreensão da sua história” (Jafa, 1965). Há, de todo
modo, grande cobertura da mídia e excertos das críticas de 1943 são veiculados
na imprensa e anexados ao programa. Vinte e um anos depois, a peça não se
apresentava como uma ousadia chocante, mas como uma comprovação de
eficiência, permanecendo pretensamente atual e, portanto, fundamental para as
novas gerações de plateias conhecerem.
No dia da estreia, em 26 de maio, Nelson deveria escrever sobre futebol em
sua coluna no
Jornal dos Sports
, mas confessa não conseguir fazê-lo, pois está