Cenografia de
Paraíso Zona Norte
e de outros Nelsons
José Carlos Serroni
Florianópolis, v.4, n.49, p.1-20, dez. 2023
Paraíso Zona Norte
já rendeu muitos estudos, artigos e até teses de mestrado.
É um espetáculo de dimensões épicas, o que, inclusive, foi acentuado pela trilha
sonora saída de filmes hollywoodianos. Mas finalizaria esse meu relato sobre
Paraíso
[…], citando trechos de um artigo do crítico Alberto Guzik (1989, p. 14), que
acompanhou de perto o processo e a finalização desse espetáculo, e que traduz
bem aquilo que resume o universo dos textos de Nelson Rodrigues, que o próprio
autor caracterizava como “um pântano difícil de atravessar”.
O mundo de A Falecida e Os Sete Gatinhos, as duas peças que compõem
Paraíso Zona Norte, fala de amor, sexo, traições e religiosidade e de
homens sujeitos a impulsos degradantes. Nesse universo não se vê um
sentimento sublime ou grandioso. Humilhação e mesquinharia são as
denominações comuns das personagens e tramas rodrigueanas. […] Num
duelar de luzes e sombras emerge o retrato da horrenda mediocridade
do homem. Não da raça humana em geral ou do homem como ser
abstrato, mas do nosso vizinho, ou de nós mesmos. Teria sido muito difícil
enfrentar essas situações não fosse a leitura surpreendente, poética,
mítica e de enorme rigor estético imprimidas por Antunes Filho para esse
seu mais que Paraíso Zona Norte.
Agora passo a comentar a minha experiência num outro espetáculo de Nelson
Rodrigues, também dirigido por Antunes: a junção de dois textos,
Álbum de Família
e
Toda Nudez Será Castigada
; textos já encenados por ele e que, juntos, passaram
a se chamar Nelson 2 Rodrigues.
Ainda no início da temporada de
Paraíso Zona Norte
, em São Paulo, Antunes
recebe a visita de dois produtores, um cubano (Roberto Zaldívar) e um
estadunidense (Robert Weber Federico), proprietários do Teatro de Repertório
Espanhol de Nova York, que vieram com a incumbência de levar Antunes para uma
direção de espetáculo lá. Tinham visto
Paraíso Zona Norte
e saíram encantados e
mais animados de ter o diretor com eles, em Nova York. Antunes, desde 1979,
quando fez
Macunaíma
, não tinha ainda se aventurado em outra direção fora do
Grupo Teatro Macunaíma — agora alocado no CPT.
Mais uma vez, recebi o convite para acompanhá-lo nessa aventura. Aventura,
sim, mas em um universo por ele dominado — pois definiu-se montar Nelson
Rodrigues com a companhia de lá. E lá fomos nós, meses depois, acompanhados
por Rita Martins, atriz de
Paraíso Zona Norte
, que seria assistente de Antunes (por
conhecer profundamente o método de atuação do diretor). Ritinha tinha feito