Uma análise dos expedientes dramatúrgicos de
Clothes for a Summer Hotel
, de Tennessee Williams
Luis Marcio Arnaut de Toledo
Florianópolis, v.4, n.49, p.1-29, dez. 2023
A verdade do personagem não é específica, mas arquetípica. [...] Nossos
deuses [dos estadunidenses] são nossas celebridades, especialmente
aqueles que já morreram. Artistas, frequentemente, estampam nesse
panteão: Marilyn Monroe, James Dean, Elvis Presley, Frances Farmer.
Alguns escritores alcançam o mesmo
status
. De todos os escritores
estadunidenses, Fitzgerald e Hemingway alcançaram mais claramente
esse tipo de fama. Todos eles representam mais do que suas obras. Suas
vidas os tornam figuras culturais, representativas de dramas enraizados
na psique nacional. Repetidas vezes, o padrão é o mesmo. Glamour,
sucesso, sensualidade, dinheiro, vitimização, autodestruição e,
finalmente, a morte - este é o padrão de maior interesse nacional. Nossos
deuses muitas vezes morrem jovens. [...] Assim como os dramaturgos
gregos usavam os deuses para fins dramáticos, como Shakespeare usava
reis já mortos, Williams, fiel à sua cultura, usa artistas mortos como seus
personagens arquetípicos. O uso dos Fitzgeralds por Williams representa
uma "desconstrução", da mesma forma que Andy Warhol usou a imagem
de Marilyn Monroe em pinturas de serigrafia. Sua obra diz mais sobre
nossa cultura do que sobre Monroe. A verdade de Monroe não era
importante para Warhol, mas a ideia da cultura sobre Monroe é muito
importante (Prosser, 2009, p.181, grifo do autor)18.
Clothes
..., no contexto da
Pop Art
, pode ser considerada uma antítese do
teatro estadunidense dominado pelo realismo. Williams conseguiu sintetizar a
essência dessa poética de modo conciso na dramaturgia, desafiando as noções
tradicionais do que poderia ser entendido como alta cultura ou cultura popular,
arte comercial ou arte pura, conceitos frequentemente debatidos na filosofia da
arte.
A uma primeira vista, a
Pop Ar
t de Williams parece citações borrifadas ao
acaso, ninguém se surpreende com a quantidade enorme de referências
da cultura de massa. Não há, portanto, um reconhecimento de uma obra
valorosa, peças que podem ser até não apreciadas porquanto não
compreendidas. Esse é um dos motivos para que a coleção de narrativas,
com esses expedientes, possa ser considerada como obras adequadas
para a figuração das contradições da sociedade estadunidense, a partir
da década de 1960 até a contemporaneidade. [...]Talvez, essas obras
Pop
Art
de Williams, nesse aspecto, estejam mais para uma antítese daquilo
que era considerado teatro estadunidense até então – do próprio
18 The truth of character is not specific but is archetypal. [...] Our gods are our celebrities, especially the one
who have died. Performers most often emter this pantheon: Marilyn Monroe, James Dean, Elvis Presley,
Frances Farmer. Some writers attain the same status. Of all American writers, Fitzgerald and Hemingway
most clearly achieved this kind of fame. All of them represent more than their works. Their lives make them
cultural figures, representative of deep-seated dramas in the national psyche. Over and over the pattern is
the same. Glamour, success, sexiness, money, victimization, self-destruction, nad finally death - this is the
pattern of greatest national interest. Our gods most often die young. [...] As the Greek playwrights used the
gods for dramatic purposes, as Shakespeare use dead kings, so Williams, true to his culture, uses dead
artists as his archetypal characters. Williams´ use of the Fitzgeralds represents a "desconstruction" in the
same way that Nady Warhol used Marilyn Monroe´s image in the silk screen paintings. His work says more
about our culture than it does about Monroe. The truth of Monroe was not important to Warhol, but the
culture´s idea of Monroe is very important. (Tradução nossa)