nos é coletivo. Esse trajeto é singular, porque parte de cada pessoa, de seus pensamentos e 
memórias, e plural, pois os temas e os rastros percebidos são do coletivo. Ademais, cabe verificar 
a maneira pela qual esse processo é ativado por meio da aproximação do espectador, entendendo-
o não como um voyeur, porém, também como quem vive ou viveu esse acontecimento. 
Já  a  biografização,  conforme  Leonor Arfuch  (2010), apresenta-nos  o  biográfico como 
mediação entre o público e o privado, alegando a exposição de uma interioridade, afetividade e 
experiência. Essa valorização de Cristian, com sua própria trajetória, em um emaranhado de 
coreógrafos e coreografias como documentos, faz o espectador identificar várias informações 
sobre o valor que eles têm. Afinal, todos temos referências.  
Cristian Duarte considerou as coreografias como documento dialogando com os corpos e 
os  gestuais  motores  (com  suas  diferenciações,  às  vezes  sutis),  estudados  profundamente, 
observando as obras de cada coreógrafo, e, assim, entendendo as reverberações em seu corpo. 
Em suas escolhas, aparecem coreógrafos como Anne Therese De Keersmaeker, Pina Bausch e 
astros pop como Bruce Lee e Beyoncé. 
 
Afetos, Manobras e Âncoras: Potências Contemporâneas 
 É claro que você saboreia a coisa de um outro jeito, se vai reconhecendo algumas 
coisas, mas eu estava mais fascinado na época, (eu acho mais interessante) e ainda 
hoje, por esse lugar de ficar engajado com o corpo em movimento, criando sentidos e 
criando conexões, por vezes improváveis, de como sair de um lugar para outro, como 
sair  de  uma  tonalidade  para  outra.  Então,  eu  fui  entendendo  mais  no  lugar  da 
fisicalidade  mesmo,  até  de  como  brincar  com  o  tônus  para  entrar  em  qualidades 
distintas, para mergulhar, enfim, nas referências. E aí sempre esse trabalho me volta, 
falo  assim, olha  a  referência de  novo,  olha  lá  a  tonalidade Trisha Brown, olha a 
tonalidade...  Marcelo  Evelin,  Lia  Rodrigues,  sabe,  vai  me  fazer  visitar  essas 
referências, é uma fonte inesgotável. (Duarte, 2022). 
 
          Afetos   
 
O termo afeto exprime a transição de um estado a outro, tanto no corpo afetado como no 
que afeta. Um corpo se torna mais potente, quando se permite afetar-se ou seja, a capacidade para 
afetar e ser afetado por outros corpos, num sistema dinâmico de excorporações e incorporações. 
Assim, estudos, vivências, experimentações e afetos definem cada corpo. 
Nesse contexto, Spinoza (apud Chaui, 2011) é frequentemente citado  acerca dos modos 
de existência imanentes. Esse pensador/filósofo discorre sobre rever o sentido de expansão de 
potência, isto é, somar experiências ao corpo como um conjunto de velocidades, intensidades e 
capacidades de ser afetado.