Dramaturgia e audiodescrição de mãos dadas nos processos de criação em dança
Thiago de Lima Torreão Cerejeira
Florianópolis, v.3, n.48, p.1-28, set. 2023
da dança em si, mas, sobretudo, que traduza a potência visual que é proposta pela
performance praticada pelos intérpretes, suas voluptuosidades, tensões e
delicadezas.
O ponto central que desafia os processos de criação em dança, no que tange
à audiodescrição, é o de como essa palavra audiodescritiva que transcria a cena
e, portanto, a dança, é também dança para os ouvidos, para a imaginação, para a
experiência estésica dos espectadores, visto que a performance artística praticada
não se resumiria apenas à descrição dos volteios, execuções, saltos, giros, entre
outras ações, mas também à própria tessitura desses acontecimentos enquanto
conjunto performático, narrativo e sensorial.
Seguindo esse raciocínio, é ainda uma busca latente pela trilha que desvenda,
a partir dos estudos e reflexões empreendidos por Nóbrega (2022), o panorama
do corpo e a estesiologia e sua relação com o sentir, do próprio corpo como criador
de mundos subjetivos e intersubjetivos, nuances imprescindíveis para o mergulho
ainda maior no enfoque aqui pretendido, e que converge, providencialmente, para
a possibilidade de, conforme sugere a autora, "sentir a dança" (Nóbrega, 2015).
O processo de criação de audiodescrição em dança é um processo também
de tentar capturar o invisível, ou seja, de não audiodescrever, como já dito, apenas
o que se vê, mas o que, no caso da performance em dança, está para além do
óbvio, do visível, do pragmático ou do que se materializa no corpo dos intérpretes.
Não se trata, contudo, quando se fala em capturar o invisível nos processos
de criação em dança, de compor criações mirabolantes que extrapolem o real
contexto da obra artística, mas, sobremaneira, de criar escopos audiodescritivos
que concebam uma narrativa, e que consigam, dessa forma, envolver e conduzir
os espectadores com deficiência visual por uma ambiência performativa que vai
sendo construída gradativamente por outra matriz sensorial, a do audível.
Nesse jogo entre a captura do visível e do invisível da cena, contudo, há de se
estabelecer um equilíbrio para que, conforme alerta o teatrólogo Peter Brook, não
se perca o elo com os espectadores, ou seja, levando em conta o propósito deste
estudo, ainda que se busque a provocação de uma imaginação poética no público,
é preciso encontrar um equilíbrio entre o que será construído em forma de