A dramaturgia de um puerpério: uma videodança a partir da Técnica Klauss Vianna
Jaqueline Barbosa Pinto Silva | Jussara Miller
Florianópolis, v.3, n.48, p.1-29, set. 2023
de aula do processo criativo; a relação entre ambos os aspectos é direta
e acontece já na prática regular do aluno-pesquisador. O processo
técnico tem a mesma flexibilidade e necessidade de investigação que o
processo de criação. A técnica não se fecha em si, mas permite acessar
o corpo para a experimentação de erros e acertos com o foco no
processo investigativo, e não somente no produto artístico, resultando
assim num entrelaçamento entre técnica e criação (Miller, 2012, p. 53).
Nesse sentido, a coreografia emerge de um processo investigativo que não
induz a uma repetição mecânica de passos, mas sim a um caminho de movimento
pautado num mapa coreográfico que possibilita diferentes trilhas a partir da
prática da improvisação. É importante lembrar que "no Brasil, Klauss Vianna
inaugurou o uso de improvisação em cena, procedimento principal do processo
criativo exercido pela Escola Vianna" (Miller, 2012, p.78). A TKV, por meio da escuta
do corpo vivo e presente, de reconhecer o que faz enquanto se faz, é em si uma
prática de improvisação (Miller, 2012).
A TKV, assim, propicia mais que a criação de uma coreografia ou uma cena,
mas “um estado de dança”, em que o movimento aparece como “vetor de
emoções”, não como uma representação mas como “consequência das memórias
e sensações que se instauram e instabilizam o corpo em moção” (Miller, 2012,
p.122).
Nesse sentido, os diferentes movimentos, experimentados por meio da
improvisação a partir do estudo dos tópicos corporais, definem e redefinem a
coreografia a cada repetição sensível, que por sua vez, começam a esboçar a
dramaturgia, sugerindo àquela dança incorporada e reincorporada a cada instante
outros elementos – músicas, imagens, roupas, ambientes, textos, entre outros –
que contaminam e transformam a coreografia, dando corpo à cena. A dramaturgia,
portanto, emerge, desse processo, de forma fluida, maleável e lábil.
A dramaturgia constitui-se com base em estruturas móveis –
combinações de discursos corporais, musicais, fotográficos e textuais –
que, no conjunto, compõem a ação cênica. Os movimentos/momentos
são ordenados de maneira livre e investigativa com o objetivo de
proporcionar à coreografia um caráter flexível e transitório (Miller, 2012, p.
144).
Embora o processo criativo tenha que ter uma finalização para ser
compartilhado, ele não termina. A TKV, como dança somática, propõe uma vivência