Um ensino ilustrativo de teatro: raça, gênero, sexualidade e classe social em livros didáticos
Tiago Cruvinel | Túlio Fernandes Silveira
Florianópolis, v.2, n.47, p.1-29, jul. 2023
o desenvolvimento da capacidade de análise crítica por parte das e dos estudantes
ao longo dos livros, é importante questionar se os conteúdos teatrais estão
contribuindo nesse sentido.
Categorias de análise
Para esta análise, observaremos os conteúdos propostos para o ensino de
teatro, utilizando quatro categorias: raça, gênero, sexualidade e classe social.
Nosso objetivo é analisar se, considerando essas categorias, os conteúdos de
teatro presentes nos livros didáticos do PNLD 2021, Objeto 2, área de Linguagens
e suas Tecnologias, tensionam as estruturas de poder e seus regimes regulatórios.
Essas categorias são definidas a partir da perspectiva das diferenças
propostas pelos estudos de Gênero e a Teoria Queer/Cuir que se opõem às
políticas identitárias que fragmentam as lutas coletivas. Nesse viés, "As teorias e
as práticas queer fazem parte [de] experiências culturais anti-hegemônicas, de
contestação da sociedade normativa e das suas múltiplas formas de exclusão"
(Rea; Amancio, 2018, p. 3). Além disso, para a Teoria Queer, "a identidade tem um
valor estratégico para formular reivindicações radicais, para pautar ações políticas,
mas ela deve ser considerada como uma construção dinâmica e mutável, sempre
historicamente transformada e renegociada, e não como uma realidade estável,
fixa e natural" (Rea; Amancio, 2018, p. 4). Dessa forma, a identidade é "uma
estratégia e não uma essência" (Rea; Amancio, 2018, p. 4).
Neste contexto, em relação à categoria
raça
, não partiremos da perspectiva
da identidade para a análise, pois concordamos com Silvio Luiz de Almeida que,
no prefácio da edição brasileira do livro de Asad Haider (2019) sobre a armadilha
da identidade, afirma que a "política identitária acaba tendo como efeito a
reafirmação da subjetividade colonial e não uma mudança estrutural efetiva" (2019,
p. 12). Ainda nesse sentido, Silvio dirá que: "um negro é um negro por causa do
racismo, e não porque sua negritude não é valorizada ou
reconhecida
; da mesma
forma, um branco também é um branco por causa do racismo, e não devido à sua
brancura" (Almeida apud Haider, 2019, p.12, grifo do autor).
Desse modo, ao abordarmos a categoria raça, nosso interesse reside em
investigar como o ensino de teatro está propondo mudanças nas estruturas