Mães em Rebeldia – uma análise sobre o artivismo na palhaçaria
Paula Bittencourt de Farias
Florianópolis, v.1, n.46, p.1-18, abr. 2023
que não era grande coisa por sinal, quando comecei a fala, foi uma
festa imensa. Tanto que os professores tiveram que levar as
crianças embora porque elas estavam na loucura. Então, eu
compreendi que a gente não somente leva uma mensagem de
esperança, de alegria, de artes, de circo, não só leva esse momento
de risos que é imprescindível e maravilhoso, se não, que também
a gente leva uma mensagem de Fraternidade. Naquele caso nós
palhaços estávamos ali para dizer que eles não estavam sozinhos
diante da ocupação. Então, a partir daquele momento eu comecei
a dar essa fala o tempo todo, porque era importante que eles
entendessem os motivos reais do porquê estávamos lá. Não
estávamos de circulação, por caridade, estávamos ali pele com
pele, coração com coração, a favor da sua liberdade e contra a
ocupação e isso marcou de algum jeito a história dos “Pallasos en
Rebeldía” (Prado, 2023).
Percebemos na fala de Ivan essa sutil, mas importante diferença, nas
relações que os
Pallasos en Rebeldía
estabelecem com os lugares nos quais
atuam, começando pela escolha dos que estão em luta ativa. Quando fomos para
a Aldeia Manuel Alves, do povo
Krahô
, no Tocantins, em 2015, ficou muito claro
que estávamos lá por conta do
Hoxwa
(cômico ritual) e não para reforçarmos sua
luta. É evidente que se pensarmos nos povos originários no Brasil, todos estão em
luta por terra. Mas a questão aqui é o momento de enfrentamento. O povo
krahô
não estava em confronto no momento da nossa caravana e o que nos levou até
lá não foi algum tipo de confronto, mas sim, de partilha entre os palhaços
cupẽ
(estrangeiro-branco) e os Hoxwa. Foi um encontro para a linguagem artística. Muito
diferente das caravanas realizadas com o povo
Kariri-Xocó
de Alagoas, por
exemplo, que estavam num momento de enfrentamento, acampados e lutando
para que as terras não fossem invadidas. Assim como na caravana junto do povo
Dení
do Amazonas, ou ainda na Aldeia Piraí com o povo Guarani, na aldeia Morro
dos Cavalos, nos assentamentos do MST, entre outros.
Ao ser questionado do porquê os
Pallasos en Rebeldía
não faziam caravanas
em Israel, já que lá também havia crianças e mulheres, Ivan foi muito claro quanto
ao posicionamento político da associação, estariam sempre do lado do oprimido.
É uma questão de escolha, segundo Ivan, não conseguimos estar em todos os
lugares, temos que ter muito claro quem é o opressor e quem é o oprimido e
escolher.