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O que podem o riso e o jogo palhacesco contra o
que (nos) mata?
Luciane Olendzki
Para citar este artigo:
OLENDZKI, Luciane. O que podem o riso e o jogo
palhacesco contra o que (nos) mata?.
Urdimento
Revista de Estudos em Artes Cênicas, Florianópolis,
v. 1, n. 46, abr. 2023.
DOI: http:/dx.doi.org/10.5965/1414573101462023e0108
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O que podem o riso e o jogo palhacesco contra o que (nos) mata?
Luciane Olendzki
Florianópolis, v.1, n.46, p.1-27, abr. 2023
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O que podem o riso e o jogo palhacesco contra o que (nos) mata?
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Luciane Olendzki
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Resumo
O artigo, inicialmente, aborda a morte como tema de espetáculos palhacescos
realizados pela autora e palhaça em sua pesquisa de doutorado, dentro de uma
perspectiva entrelaçada com o pensamento trágico da afirmação da vida em
Nietzsche. Diante do acirramento da crise sanitária e social eclodida na pandemia
por Covid-19 no país, o enfrentamento da morte por meio da poética cômica e
palhacesca passa a ser considerado sob novos ângulos e questionamentos pela
autora, tendo em vista a necropolítica (Mbembe, 2016) escancarada e imperante do
governo de extrema-direita na presidência do Brasil no período. A partir desse
contexto, são colocadas algumas questões para a criação artística sobre como
enfrentar o que (nos) mata, entristece e oprime, através do jogo e da produção de
humor na arte palhacesca, a favor da vida.
Palavras-chave
: Arte palhacesca. Morte. Riso. Afirmação da vida.
What can laughter and clowning do against what kills (us)?
3
Abstract
The article initially addresses death as the theme of clown shows performed by the
author and clown in her doctoral research, within a perspective intertwined with
Nietzsche's tragic thought in the affirmation of life. Faced with the worsening of the
health and social crisis that erupted in the COVID-19 pandemic in the country, the
confrontation of death through comic and clown poetics comes to be considered
from new angles and questions by the author, in view of the of the ostentatious and
dominant necropolitics (Mbembe, 2016) of the far-right government in the presidency
of Brazil in the period. From this context, some questions are posed about artistic
creation, such us how to face what kills (us), saddens and oppresses (us), through
play and creation of humor in clown art in favor of life.
Keywords
: Clown art. Death. Laughter. Affirmation of life.
1
Revisão ortográfica e gramatical do artigo realizada por Jefferson Vasques Rodrigues graduado em Letras/
Licenciatura pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
2
Doutorado em Artes da Cena, pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Mestrado em Educação,
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Graduação em Artes Cênicas Licenciatura, pela
UFRGS. Palhaça, atriz, diretora e professora de Artes Cênicas. luquerubim@hotmail.com
http://lattes.cnpq.br/9511717477962062 https://orcid.org/0000-0002-4146-4456
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Tradução do resumo e palavras-chave para inglês e espanhol por Regina Majerkowski, Bacharel em Letras,
com habilitação em português e inglês pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
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Luciane Olendzki
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¿Qué pueden hacer la risa y el juego payasesco contra lo que (nos)
mata (a nosotros)?
Resumen
El artículo aborda inicialmente la muerte como tema de los espectáculos de
payasadas realizados por la autora y payasa en su investigación doctoral,
dentro de una perspectiva entrelazada con el pensamiento trágico de
afirmación de la vida en Nietzsche. Ante el recrudecimiento de la crisis
sanitaria y social desatada por la pandemia del COVID-19 en el país, el
enfrentamiento de la muerte a través de la poética cómica y payasesca
empieza a ser considerado desde nuevos ángulos y cuestionamientos por la
autora, frente a la necropolítica (Mbembe, 2016) explícita y dominante del
gobierno de extrema derecha en la presidencia de Brasil en el período. Desde
ese contexto, se plantean algunas preguntas sobre la creación artística,
siendo una de ellas cómo enfrentar lo que (nos) mata, entristece y oprime (a
nosostros), a través del juego y la producción de humor en el arte payasesco
en favor de la vida.
Palabras clave
: Arte de la payasada. Muerte. Risa. Afirmación de la vida.
O que podem o riso e o jogo palhacesco contra o que (nos) mata?
Luciane Olendzki
Florianópolis, v.1, n.46, p.1-27, abr. 2023
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Pontos de partida: a morte e a afirmação da vida na poética palhacesca
Em minha pesquisa de doutorado
4
desenvolvi relações entre o pensamento
extemporâneo acerca do trágico da afirmação da vida em Nietzsche e a poética
da palhaçaria no teatro, campo de minha formação e atuação profissional como
palhaça.
A pesquisa envolveu investigação empírica com a realização de exercícios de
composição palhacesca que resultaram em quatro espetáculos
5
. Dois destes
foram analisados na tese por tratarem sobre a morte temática eleita como de
maior interesse para os processos de criação e composição palhacescas e as
questões filosóficas relacionadas à afirmação da vida, no tensionamento entre
morte e vida, trágico e cômico.
Os espetáculos
Do ao poporopó: funeral clown
6
(2014), com minha direção
e o solo
Pesa-me Mucho
7
(2015), com minha atuação e direção, apresentam
situações específicas de velório, nas quais se encara a morte com humor em prol
da valorização da vida. Aportando uma visada cômica sobre a dor, o luto, os
sofrimentos, a desmedida, a precariedade, o medo e o absurdo do ser humano
diante da morte. Nas situações de velório, através do jogo e da alegria de viver das
palhaças e dos palhaços, buscamos subverter a negatividade e a seriedade em
torno da morte, em que o trágico ganha sua superficialidade cômica e grotesca.
Conforme Bolognesi (2018, p. 90), “o grotesco apresenta o grau mais elevado do
4
Este artigo parte de minha pesquisa de doutorado
O trágico alegre e a afirmação da vida na poética do
palhaço: exercícios e composições clownescas
(2019), no Programa de Pós-Graduação em Artes da Cena da
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), com orientação da Profa. Dra. Verônica Fabrini Machado de
Almeida.
5
Os espetáculos realizados e não analisados na tese foram: 1)
Enfim Sós: uma tragicomédia clownesca
, com
atuação de Fábio Castilhos e Melissa Dornelles, assistência de direção de Giovana Zóttis e minha direção
(2015-2017). Cf. <https://espetaculoenfimsos.blogspot.com/2015/06/>; 2) Circo da Miséria, concepção e
atuação de Jeff Vasques, com minha orientação de atuação e de dramaturgia (2015- atual). Cf.
<https://www.eupassarinho.com.br/circodamiseria>. Acesso em: 19 jan. 2023.
6
Com atuação de graduandos do curso de Artes Cênicas da UNICAMP no período: Ana Carolina Salomão,
Daniel Tonsig, Lucas Sequinato, Taiane Raffa, Virgílio Guasco e Jeff Vasques (este sem vínculo discente). O
processo envolveu formação em palhaçaria, seguida de laboratórios de composição palhacesca, sob minha
orientação, com apresentações públicas e montagem do espetáculo final, integrante da pesquisa, com
realização através de projetos selecionados nos editais Aluno Artista do Serviço de Apoio ao Estudante (SAE)
da UNICAMP, nos anos de 2013 e 2014.
7
O espetáculo Pesame Mucho foi realizado e cumpriu circuito de apresentações em Campinas (SP) através
de financiamento obtido pelo edital do Fundo de Investimentos Culturais de Campinas (FICC), ano de 2015.
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exagero [...] é cômico quando revela os defeitos e encobre os princípios espirituais”.
Com o jogo dos palhaços e das palhaças, na paródia de um velório em interação
com o público das ruas, apostamos no riso como potência vital de transmutação
e regeneração nas inevitáveis transpassagens pelos ciclos de morte-e-vida da
existência humana.
Ambos espetáculos foram feitos para serem apresentados na rua e em
espaços públicos abertos. As apresentações nos mostraram que a abordagem da
morte, por uma visada cômica pautada na poética, na improvisação e no jogo
palhacescos, é um canal potente e controverso de relação com o público. A figura
do palhaço, da palhaça símbolo do riso e da alegria (contra)posta junto da
morte na encenação cômica de um rito funeral (velório), com um caixão de
aspecto realista em plena rua como elemento cenográfico principal, não deixava
de gerar estranhamento no público. Em ambos espetáculos investiu-se em uma
dinâmica de dissonâncias e compostos grotescos, entre riso e pranto, prazer e dor,
fantasia e cotidiano, jogo infantil, festa e rito funerário, morte e vida tanto na
encenação, quanto no jogo e na atuação dos palhaços e palhaças.
Figura 1 Espetáculo
Do Pó ao Poporopó: funeral clown
(2014), no centro da cidade de
Campinas (SP). Na foto - palhaça Tulipa Xicota (Ana Carolina Salomão) e palhaço Virgulino (Virgílio
Guasco). Foto: Natasha Mota.
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As ruas e espaços públicos das cidades (especialmente das capitais) têm se
tornado lugares de medo, violência e miséria, onde não raro andamos com
desconfiança do outro, alertas e ao mesmo tempo fechados(as) às interações,
com medo de ser roubada(o), violentada(o) e até morta(o) por alguém. Assim,
busca-se a autopreservação, também via a insensibilidade pelo o que está,
passa e acontece. Parece que “como” vamos indo, em um estado de sobrevivência,
vamos mais próximos da morte, tomados(as) por ela ou em uma espécie de
amortecimento do sensível, em automatismo e indiferença, diante da realidade
que se apresenta.
Portanto, nos instigou perceber que do caixão mortuário posto na rua pelos
palhaços e palhaças nos espetáculos integrantes da pesquisa, no jogo com a morte
para paradoxalmente estar mais próximos(as) da vida, saíram risos, brincadeiras,
prazer e partilhas de afetos, nos encontros e interações com o público. Assim,
intervimos no cotidiano e nos espaços públicos de praças, ruas e feiras da cidade
de Campinas (SP), construindo espaços-outros de convivência e relações, com
risos e reflexão com diversão, também, sobre temas duros que fazem parte do
existir e nos impele a re-existir junto da arte palhacesca em aliança com a vida.
Figura 2 Espetáculo
Do Pó ao Poporopó: funeral clown
(2014), no centro da cidade de
Campinas (SP). Foto: Natasha Mota.
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Nas composições palhacescas da pesquisa, a morte foi tratada como parte
inerente à vida e ao viver, junto da perspectiva nietzschiana da afirmação trágica
da vida. Na última fase da produção filosófica de Nietzsche, o pensamento sobre
o trágico ganha uma interessante conotação e virada, em que é associado à alegria,
ao riso, à paródia e à afirmação da vida. O filósofo concebe o trágico dionisíaco
como “a mais alta afirmação”, “um grávido e alegríssimo sim para a vida”, isto é, a
capacidade de afirmar a vida com alegria, sem reservas, envolvendo todos os
aspectos e acontecimentos da existência, inclusive os mais estranhos, espinhosos
e terríveis (Nietzsche, 2003, p. 84-85).
A estética-ética do trágico nietzschiano
8
envolve o experimentalismo, o saber
alegre (
gaya scienza
), o jogo, o humor, as mascaradas e a consciência da comédia
da existência, o corpo como “fio condutor e interpretativo para todas as questões
humanas” (Barrenechea, 2009, p. 43) e o riso curativo da grande saúde.
Barrenechea, ao tratar do riso da grande saúde e da “saúde do riso” em Nietzsche,
coloca:
Perante todas as vicissitudes vitais, perante todos os limites e dores da
existência, perante todas as precariedades que levariam o homem a
rejeitar a existência ou a cair em atitudes fracas, decadentes, seria
fundamental cultuar a nossa capacidade de rir, de ter uma visão
distanciada de todas as comédias e tragédias vitais. Essa capacidade
lúdica e risível seria um sintoma claro de grande saúde (Barrenechea,
2014, p. 134).
A partir de uma abordagem da poética palhacesca sob o ângulo do trágico da
afirmação da vida em Nietzsche, penso que a palhaça, o palhaço ao criar chances
e saídas cômicas para a existência, as questões humanas e a si mesmo(a), pode
atravessar e transfigurar o sombrio, o terrível e o doloroso, através do jogo, do
experimentalismo crianceiro, da paródia e do lume do riso. Extraindo do
acontecido ou vivido, por uma visada artística e cômica, um acontecimento
gracioso que pode religar à “graça” da vida, mesmo com todas suas vicissitudes,
tragicidades e imperfeições.
Ao tratar sobre a morte e confrontá-la no campo lúdico e poético da
8
Sobre tais noções relacionadas ao pensamento do trágico e dionisíaco da afirmação da vida em Nietzsche,
também em associações com a poética da palhaçaria, conferir Olendzki (2019, p. 129-262).
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palhaçaria, havia o desejo de, com isso, mobilizar os afetos e as vivências que
podem nos tornar, palhaços(as) e público, mais próximos e desejantes da vida em
toda sua potência e multiplicidade. Sair ainda mais vivo do contato com a morte
é uma experiência de transformação, de poder tentar de novo, tendo a vida como
derradeiro campo de criação e chance, para a qual é preciso ter vez e jogar. Com
o exercício de um saber alegre em que o riso porta a força de reavaliação,
transformação, recomeço e (re)criação na arte palhacesca e, também, na arte da
existência.
No que diz respeito à arte do palhaço e da palhaça nos espetáculos da
pesquisa, partimos de concepções e metodologias planeadas no campo do teatro,
em que o palhaço ou a palhaça é concebida(o) como sendo uma criação pessoal
e autoral da(o)
performer
, calcada na exploração e seletividade artísticas de
aspectos irrisórios de si mesma(o). Neste sentido, se investe na “transposição
pessoal” (Lecoq, 2003, p. 216) de qualidades e particularidades de cada pessoa
para a composição poética da(o) palhaça(o), com sua expressividade,
corporeidade, caracterização e comicidade próprias, também considerando traços
do(a) palhaço(a) como arquétipo universal e tipo da tradição cômica popular
9
.
Assim como, tendo palhaços e palhaças da história e da contemporaneidade como
referências, que por sua vez se relacionam às experiências de formação,
socialização, recepção de espetáculos e atuação profissional, em uma rede
dinâmica de influências e tessituras de práticas e conhecimentos.
Na seara do(a) palhaço(a) concebido(a) e nominado(a) como “próprio(a)” e
“pessoal” no campo do teatro, o repertório cênico, os esquetes e os espetáculos
com diferentes formatos, também passam a ser (re)criados de forma autoral, com
influências de procedimentos diversos de atuação e encenação das artes cênicas,
o que envolve a arte dos palhaços circenses com suas entradas, estruturas e
roteiros dramatúrgicos para improvisação,
gags
, formas de atuação e jogo cênico
que fundamentam bases e princípios da cena e da comicidade palhacescas.
Os espetáculos da pesquisa foram elaborados a partir de improvisações dos
palhaços e palhaças sobre situações e acontecimentos que podem se dar em um
9
Cf. Bolognesi (2003, p. 197-198) sobre a síntese entre o único (subjetivo) e o universal na construção do
palhaço.
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velório. Sem limitar-se à verossimilhança, podendo transitar entre o absurdo, o
exagero e o onírico, inclusive revelando o insólito das ações cotidianas, tais como
comer e beber (e embebedar-se) com os convivas (o público), festejar o encontro
de entes queridos, pedir um brinde à vida, demonstrar o apreço pela falecida em
uma disputa de quem sofre e chora mais ou mesmo a viúva que acaba
encontrando um novo par amoroso no velório do marido. A partir de diversas
improvisações foi sendo elaborada uma dramaturgia pautada nas ações e no jogo
dos palhaços e palhaças, com seleção e encadeamento de situações na
construção de um enredo e de uma fábula, tendo em conta a encenação e a
atuação voltados para apresentação na rua. A atuação fundamentou-se no jogo e
na improvisação, tendo como base a relação com o público e entre os(as)
palhaços(as) jogadores, no desenrolar das ações e situações do espetáculo,
levando em conta o que acontece (ou não) a cada momento e apresentação.
Figura 3 Espetáculo Do Pó ao Poporopó: funeral clown (2014), em área aberta da Unicamp
(SP). Foto: Natasha Mota.
A concepção do(a) palhaço(a) como pessoal e próprio(a) parte de preceitos
inicialmente desenvolvidos por Jacques Lecoq (1921-1999) em sua Escola
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Internacional de Teatro em Paris
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, na década de 1960. Lecoq aponta uma
significativa descoberta a partir dos malogros dos seus alunos e alunas em
improvisações como palhaços e palhaças, pois desde aí perceberam que, quando
estavam expostos, envergonhados, despeitados e abatidos, perante o fracasso de
seus intentos em fazer rir, era quando despretensiosa e justamente faziam rir.
Assim, constata Lecoq (2003, p. 212): “A descoberta de que uma debilidade pessoal
podia se transformar em força teatral, foi de maior transcendência para colocar
em questão uma aproximação personalizada dos
clowns
através da busca ‘de seu
próprio
clown
’, o que se converteu em um princípio fundamental”.
A consideração do palhaço e da palhaça como sendo uma criação própria,
singular, pessoal e autoral, o que também se estende à composição da cena ou
do espetáculo, tornou-se um princípio recorrente em grande parte do trabalho
desenvolvido na palhaçaria contemporânea na área teatral. Contudo, cabe
questionarmos qual palhaço ou palhaça não é teatral, singular, autoral e pessoal
também no circo e no circo-teatro brasileiros, em que se parte de legados e
repertórios cênicos da tradição circense e da cultura popular, de um arsenal de
fundo coletivo, passados de geração a geração por oralidade, imitação e prática de
ofício, em constante dinamismo e sinergia com seu tempo, público, contexto
cultural e artístico (Silva, 2009).
Dessa forma, impelindo uma revisão de nomenclaturas que desdobram (e
fixam) conceitos acerca do palhaço e da palhaça planeados no campo do teatro,
que, por um lado, pode revelar marcas de uma cultura colonial, eurocêntrica e de
acepção burguesa a serem revistas; por outro, também pode identificar
apropriações, hibridizações e (re)criações diferenciadas das concepções e
formas europeias de onde inicialmente descenderam. Neste contexto, cabe
considerar o embate, as influências e os cruzamentos entre o erudito e o popular,
entre “a palhaçaria e a palhaçada” (Bolognesi, 2017). Trata-se de uma revisão crítica
e criativa que não faremos aqui por extravasar o escopo deste artigo.
Neste artigo, tenho o intuito de que as questões abordadas sobre a vida e a
10
A pedagogia de Lecoq na área da formação do ator com uso de máscaras, ênfase na expressividade do
“corpo poético” (Lecoq, 2003, p. 147) e na improvisação, insere-se no contexto de reteatralização do teatro
no século XX na Europa, com a concepção e a instrumentalização de atores e atrizes como sendo criadores
da poesia cênica e teatral.
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morte possam de alguma forma tocar palhaços e palhaças, com diferentes modos
de pensar e fazer a arte palhacesca, em sua pluralidade de formas na
contemporaneidade, em distintos campos das artes da cena (circo, circo-teatro,
teatro, palhaçaria feminista, cultura popular) e da atuação palhacesca com
públicos em contextos específicos (hospital, zonas de conflito, asilos geriátricos,
etc.).
Sobre a morte e a vida (nas experimentações palhacescas
relacionadas à pesquisa)
A cultura ocidental de raiz judaico-cristã encara a morte com negatividade,
temor e rechaço. Ainda que, o cristianismo e o catolicismo apresentem um deus
crucificado e morto (como símbolo de salvação e expiação) e preguem o
verdadeiro paraíso e o regozijo apenas em um além-mundo, além da vida, após a
morte. Na perspectiva crítica nietzschiana, o trabalho da moral, das religiões e da
metafísica, na invenção de um mundo ideal ou de um além-mundo, conota a
invenção de valores categóricos fundados no pessimismo e na negação deste
mundo e desta vida, que, então, para ser suportada e aceita precisa ser melhorada
ou justificada para além de si mesma. Conforme analisa Barrenechea:
Era preciso que os filósofos, os moralistas, os religiosos criassem um
sentido, um objetivo para justificar a existência, pois esses indivíduos
ascéticos, que rejeitavam a vida, sustentavam que o viver não tinha
sentido em si mesmo. Eles argumentavam que as dores do mundo, a
finitude, a morte, todos os aspectos trágicos demonstravam a
inconsistência da vida, a sua insuficiência. Por isso, a existência precisava
sempre de uma justificativa alheia: o viver era colocado na dependência
de um fator extrínseco. [...] Em suma, todos os “melhoradores da
humanidade”, inclusive os referidos trágicos da seriedade, torturam o
homem com o peso de valores ultramundanos, com o peso de
concepções que depreciaram o corpo, os instintos, as forças
espontâneas. Nessa concepção prescritiva, a vida foi interpretada como
uma
meditatio mortis
, apenas como uma meditação demorada para que
o homem pudesse conquistar uma bela morte, e assim conseguisse
voltar ao seu pretenso lugar originário: o além (Barrenechea, 2014, p. 128-
129).
Por outro lado, os novos paradigmas científicos racionalistas, a biomedicina e
a biotecnologia investem na perduração da vida e na possibilidade de sobrevidas,
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podendo estear a morte em vida, com a vida de mortos-vivos. Em uma espécie
de dessacralização ou coisificação da vida – e da morte concebida e limitada ao
biológico e ao registro clínico (Giacoia, 2005). Rubem Alves (2003), em uma crônica
intitulada
Sobre a morte e o morrer
questiona a penúria de uma sobrevida,
dependente dos recursos da medicina, perdurada nos limites de um estado de
morto-vivo do corpo: “Mas o que é a vida? Mais precisamente, o que é a vida de
um ser humano? O que e quem a define? [...] A vida humana não se define
biologicamente. Permanecemos humanos enquanto existe em nós a esperança da
beleza e da alegria”.
Bukowski, em sua produção literária nos últimos anos que precederam a sua
morte por leucemia, com mais de setenta anos, “dançando com a morte” a
“morder seus calcanhares”, em registros diarísticos, publicados
post mortem
,
escreveu:
A maioria das pessoas não está pronta para a morte, a sua ou a dos
outros. Ela as choca, as apavora. É como uma grande surpresa. Diabos,
não deveria ser nunca. Levo a morte em meu bolso esquerdo. Às vezes,
tiro-a do bolso e falo com ela: “Oi, gata, como vai? Quando virá me
buscar? Vou estar pronto”. Não há nada a lamentar sobre a morte, assim
como não há nada a lamentar sobre o crescimento de uma flor. O que é
terrível não é a morte, mas as vidas que as pessoas levam ou não levam
até a sua morte. Não reverenciam suas próprias vidas [...]. Suas mentes
estão cheias de algodão. Engolem Deus sem pensar, engolem o país sem
pensar. Esquecem logo como pensar, deixam que os outros pensem por
elas. Seus cérebros estão entupidos de algodão. [...] A maioria das mortes
das pessoas é uma empulhação. Não sobra nada para morrer. [...]. Uma
coisa que a morte não suporta é que você ria dela. O verdadeiro riso
ganha a maior das apostas (Bukowski, 2003, p. 8).
Se alguma coisa importante sobre a morte ou sobre o riso “que ganha a
maior das apostas”, é uma questão que, naturalmente, importa ou compete aos
que vivem. Afinal é sempre aos que permanecem vivos que a morte se dirige. Ainda
são os vivos que podem rir, chorar e (re)agir diante da morte na vida, na ação no
presente capaz de erigir um novo porvir.
A experiência da morte aos que permanecem vivos, geralmente, é cheia de
dor, trauma e tristeza. Inclusive, o sentido comum de trágico e de tragédia envolve
a morte ou sua iminência terrífica, implacável e negativa. A morte desnuda o bicho
humano e deixa evidente a nossa condição frágil, efêmera e transitória. A morte
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pode revelar aos que vivem a importância dos ínfimos momentos, encontros e
acontecimentos de nossa breve existência, em que talvez se possa perceber e
aprender que a vida em si mesma é boa. A morte sempre traz questões sobre o
sentido da vida ou como estamos vivendo. Sobre o que aconteceu, acontece e
como será daqui em diante?
A morte é uma espécie de fissura no vivo, e o riso também. Porém, o riso é
fissura da passagem dos fluxos do humor, das seivas da vida, pela lâmina
escrutinadora do espírito cômico. O desenrijecer das carnes vivas pelo sopro e
ânimo do riso, que vem do baixo ventre, que areja e alia a consciência às tripas,
ligado ao saber alegre, corporal, paródico e grotesco. O baixo ventre da
sexualidade, da digestão, do “obrar”, do sacudir do riso vital que desestabiliza as
estruturas rígidas, os padrões fixos, as ordenações categóricas. “É o baixo ventre
que impede o homem de considerar-se um deus” (Nietzsche, 2005, p. 69).
Como mencionado, nos espetáculos da pesquisa de doutorado, o
tratamento da morte se aliou à perspectiva ética e estética da afirmação da vida
em Nietzsche. Tendo em vista que, na concepção singular desse filósofo, o trágico
dionisíaco trata da afirmação da vida em todos em seus aspectos, positivos e
negativos, em que tudo o que acontece e devém, incluindo toda sorte de
tragicidades, dores e sofrimentos, são tidos como necessários. Sendo que,
sobretudo, a afirmação da vida está essencialmente relacionada à transfiguração
do acontecido e do vivido, em recriações e transformações, em uma estética da
existência. Ainda, para Nietzsche, a afirmação trágica e dionisíaca da vida em sua
totalidade aporta um riso extraordinário e curativo, uma alegria trágica que não se
exime dos aspectos duros e graves do viver, com a aquisição e o exercício de um
saber alegre e a capacidade de uma visada cômica e paródica da existência.
Em tempos atuais, em que a morte é banalizada, portanto a vida; em que
morrer e matar são cada vez mais assentes e naturalizados, todo o cuidado é
pouco quando se trata da “aceitação” da morte como parte da vida. Ainda mais,
em uma época em que o niilismo contemporâneo, a falta de sentido em viver, o
desprezo pela vida, a depressão e o suicídio são sintomas recorrentes da
sociedade atual, em todas as camadas sociais e nas mais variadas faixas etárias.
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Figura 4 Espetáculo -
Do Pó ao Poporopó: funeral
clown (à esquerda), na foto Pochó
(Taiane Raffa). Foto: Natasha Mota.
Figura 5 Espetáculo
Pesa-me Mucho
(2015), com Querubina (Luciane Olendzki).
Foto: Natasha Mota.
O que podem o riso e o jogo palhacesco contra o que (nos) mata?
Luciane Olendzki
Florianópolis, v.1, n.46, p.1-27, abr. 2023
15
No contexto da pandemia no país, novamente a morte, portanto a vida, se
pôs como questão para mim como palhaça e pessoa. Porém, além da abordagem
da morte como parte inerente à vida, junto de uma concepção filosófica acerca
do problema trágico da existência, inseria-se um questionamento político sobre a
morte, considerando o contexto macrossocial de domínio e subjugo da vida pelo
poder político-econômico de matar.
A pandemia no país mostrou-se como um campo de proliferação de mortos,
“velados” e numerados, que não deixavam de soterrar os que podiam ou
conseguiam permanecer vivos e ainda respirar. Com imagens de cenas reais que
remetiam a um campo de concentração de um nazismo contemporâneo, tais
como as valas comuns abertas para enterrar nossos mortos, de tantos que eram,
na expansão das áreas dos cemitérios
11
sobre as cidades. Pessoas mortas
enterradas em valas coletivas
12
, como ocorreu na cidade de Manaus (AM) sob
administração de um governo negacionista de direita e aliado ao ex-presidente Jair
Bolsonaro, em que a população foi feita de cobaia do “Kit-Covid” (cloroquina e
ivermectina) e da imunidade de rebanho (contágio e infecção em massa por Covid-
19
13
), chegando ao terror da falta de oxigênio para pacientes internados(as) nos
hospitais e que, por isso, morreram por asfixia, em janeiro de 2021. A falta de
oxigênio se deu devido à prevaricação, desvio de verba pública, licitações ilegais e
crimes contra humanidade envolvendo o Ministério da Saúde
14
, no período sob a
responsabilidade do general Eduardo Pazuello (que desconhecia o que era o
Sistema Público de Saúde/ SUS ao ser nomeado para o cargo
15
).
11
Cf. <https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2021/03/com-300-mil-mortos-por-covid-no-pais-fotos-
mostram-expansao-veloz-de-cemiterio.shtml> e <https://bncamazonas.com.br/municipios/maior-
cemiterio-manaus-antes-depois-pandemia/>. Acesso em: 19 jan. 2013.
12
Cf. <https://www.brasildefato.com.br/2020/04/21/com-aumento-das-mortes-manaus-enterra-vitimas-da-
covid-19-em-valas-coletivas>. Acesso em: 19 jan. 2023.
13
Cf. <https://www.brasildefato.com.br/2021/06/07/imunidade-de-rebanho-por-contagio-a-ideia-errada-
que-seduziu-a-extrema-direita >. Acesso em 19 jan. 2023.
14
Cf. <https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2022/10/27/crise-do-oxigenio-por-que-
houve-colapso-e-o-que-a-ex-de-pazuello-revelou.htm>. Acesso em: 19 jan. 2023.
15
Cf. <https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/10/07/nem-sabia-o-que-era-sus-diz-
ministro-da-saude-em-lancamento-de-campanha.htm >. Acesso em: 19 jan. 2023.
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16
Figura 6 Valas abertas em cemitério de Manaus (AM) durante a pandemia em abril de 2020.
Fonte: frame do vídeo-reportagem do Washington Post, de 24 de abril de 2020.
16
Figura 7 e 8 Valas no cemitério da Vila Formosa (SP), em março de 2020. Fotografias da
série Necropoli(s)tics, de Leonardo Finotti.
Fonte: Artreview (2021).
17
A terra escavada para engolir à força as pessoas mortas pelas políticas de
morte. Terra-mãe tornada campo mortuário e de extermínio, ela mesma
devastada e exaurida. A terra que emitiu suspiros sonoros, exalando o ar das
16
Disponível em: <https://www.washingtonpost.com/world/the_americas/coronavirus-brazil-testing-
bolsonaro-cemetery-gravedigger/2020/04/22/fe757ee4-83cc-11ea-878a-86477a724bdb_story.html>.
Acesso em: 19 jan. 2023.
17
Disponível em: <https://artreview.com/war-without-end-death-drive-bolsonaro-brazil-necropolitics-
mbembe/>. Acesso em: 19 jan. 2023.
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17
memórias inumanas. Quem ouviu a terra
18
temeu que fosse o anúncio do fim do
mundo, as trombetas do apocalipse, no abril de 2020 da pandemia. “E a terra com
todas as partes entreabertas e mostrando áridos segredos. Segredos como
superfícies. A terra e seus nervos e suas pré-históricas solidões, a terra de
geologias primitivas, onde se descobrem os sopés do mundo numa sombra negra
como carvão” (Artaud, 2004, p. 193).
A pandemia de Covid-19 acirrou ainda mais as desigualdades sociais, com o
crescimento da pobreza, a perda de trabalho e fonte de renda, o aumento de
pessoas em insegurança alimentar, o adoecimento e a morte danos que
acometeram diretamente as populações mais pobres e desassistidas em direitos
básicos de vida. Soma-se a esses fatores, a inviabilidade do isolamento social
dos(as) que precisaram manter ou buscar toda sorte de prestação de serviços, a
fim de prover meios para sobrevivência, em um quadro de exploração capitalista-
escravocrata e de reificação do(a) trabalhador(a). No Brasil, morreram mais não-
brancos(as) (pessoas pretas, pardas e indígenas)
19
de infecção por Covid-19, devido
às disparidades de acesso à assistência sanitária e aos serviços de saúde, às
condições do lugar de habitação (agrupamento de moradores, falta de
saneamento básico) e à impossibilidade de isolamento social, com maior
exposição ao vírus.
O contexto pandêmico escrachou a gestão da vida e da morte pelo Estado,
que opera com alvo sobre raça, classe social e topografia – o que Mbembe (2016)
analisa ao tratar acerca da necropolítica exercida pelo Estado em seu direito
soberano e poder de matar, na divisão de quem pode viver e quem deve morrer.
Entendendo soberania como “a capacidade de definir quem importa e quem
não importa, quem é “descartável” e quem não é” (Mbembe, 2016, p. 135).
Covid-19 (
Coronavirus D
isease 2019), uma doença causada pelo vírus SARS-
CoV-2 (Síndrome Respiratória Aguda Grave), em que se morre por insuficiência
respiratória, falta de ar. Também, falta ar quando pessoas pretas clamam “eu não
18
Sobre os sons ouvidos em várias partes do Brasil e do mundo,
cf.
<
https://bhaz.com.br/noticias/variedades/barulho-ceu-madrugada/
>.
Acesso em: 20 jan. 2023.
19
Cf. Souza, 2021; Santos, HLP et al, 2020 e Velleda, 2023.
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18
consigo respirar” ao serem assassinadas
20
pelo racismo estrutural e operante da
necropolítica de Estado, pelo braço violento da polícia e sob a indiferença da
sociedade branca. Falta ar, não há braços e nada mais que possa suportar a perda
e a queda pelo ar do menino Miguel
21
, em junho de 2020, no edifício de luxo, onde
sua mãe trabalhava em plena pandemia como diarista e sua patroa “empurrou” o
menino sozinho ao elevador. Eliane Brum (2020), ao tratar das violências e
desigualdades sociais fundadas no racismo, também considerando a necropolítica
na pandemia, afirma que “sem exterminar o racismo, o ar seguirá faltando”, sendo
necessário que cada branco(a) “tire imediatamente o seu joelho do pescoço de um
negro, o que significa perder privilégios e dividir os espaços de poder em todas –
absolutamente todas – as áreas”
22
.
Falta ar quando a devastação ambiental pelo extrativismo predatório e
criminoso aumentou ainda mais na pandemia, com o extermínio da terra, de seus
biomas, das populações tradicionais e indígenas, com endosso do governo
extremista de Bolsonaro ao garimpo ilegal, à grilagem e à usurpação de terras pelo
agronegócio, junto do desmonte dos órgãos de fiscalização e defesa ambiental.
Nos quatros anos do governo Bolsonaro, a devastação ambiental aumentou
exponencialmente nas áreas do Cerrado e da Mata Atlântica (com incêndios
criminosos no Pantanal). Tendo sido registradas as maiores taxas anuais de
desmatamento da floresta amazônica, “pulmão do mundo”, pelo sistema PRODES
Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INEP).
Na reportagem
Por que os garimpeiros comem as vaginas das mulheres
20
Frase dita por George Floyd, ao ter seu pescoço pressionado por mais de oito minutos pelo joelho do policial
Derek Chauvin, em 25 de maio de 2020, em Mineápolis (EUA). Eric Garner repetiu por onze vezes a mesma
frase, em 17 de julho de 2014, antes de ser estrangulado pelos braços do policial Pantaleo em um golpe de
imobilização, em Nova York. João Alberto Silveira Freitas, foi espancado e depois sufocado pelo peso dos
corpos de dois seguranças do supermercado Carrefour em Porto Alegre/RS em 19 de novembro de 2020.
Cf. <https://www.brasildefato.com.br/2020/11/21/racismo-e-morte-no-carrefour-sao-a-ponta-de-um-
iceberg-envolvendo-multinacionais>. Acesso em: 15 jan. 2023.
21
Cf. <https://g1.globo.com/pe/pernambuco/noticia/2022/06/01/caso-miguel-a-queda-de-menino-do-9o-
andar-que-levou-a-condenacao-da-patroa-da-mae-dele-por-por-abandono-de-incapaz.ghtml>. Acesso
em: 15 jan. 2023.
22
Cf. <https://brasil.elpais.com/opiniao/2020-06-03/tirem-os-joelhos-brancos-dos-pescocos-
negros.html#?rel=mas>. Acesso em: 17 jan. 2023.
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19
Yanomami?
23
de Talita Bedinelli, em setembro de 2022, é mostrada e denunciada
uma realidade estarrecedora sobre o massacre das comunidades indígenas do
território Yanomami nos estados de Amazonas e Roraima, com o descaso genocida
do governo neofascista de Bolsonaro, complacente com à invasão do garimpo
ilegal, que causa alto índice de envenenamento por mercúrio, estupro de crianças
e mulheres indígenas, além da disseminação de doenças, com mortes que
poderiam ser evitadas se houvesse um sistema de atendimento de saúde com
estrutura e medicamentos, ainda mais a fome e a desnutrição que abatem o povo
Yanomami, em pleno extermínio ambiental, cultural e humanitário.
Quem vê, quem sente? Quem chora ou ri? Quem consente?
Safatle (2020), ao analisar a política fascista empregada no governo de
Bolsonaro, com sua força fundada na promoção da morte e da (auto)destruição,
caracterizou o Estado como “suicidário”, no avanço do neoliberalismo associado à
necropolítica, como gestor da morte e do desaparecimento (tão bem executado
pela ditadura militar). Sobre as mortes, ou melhor, o deixar morrer na pandemia,
com “indiferença assassina” e programada, analisa:
Até bem pouco tempo, o país dividia seus sujeitos entre “pessoas” e
“coisas”, ou seja, entre aquelas que seriam tratados como pessoas, cuja
morte provocaria luto, narrativa, comoção e aqueles que seriam tratados
como coisas, cuja morte é apenas um número, uma fatalidade da qual
não razão alguma para chorar.... A população é apenas o suprimento
descartável para que o processo de acumulação e concentração não pare
sobre hipótese alguma (Safatle, 2020, p. 5).
Os ritos funerários de todas as raças, etnias, culturas e religiosidades foram
solapados pelas medidas e protocolos de biossegurança, com a administração
pública hospitalar e funerária dos corpos das pessoas mortas, com as quais as
famílias não podiam ter contato, sem sequer um último e único toque de uma
despedida para sempre. Visto que, toda pessoa morta por Covid-19 era tida como
um campo vivo e de alto contágio do vírus SARS-CoV-2. O vírus continuava vivo
no morto, explicitando a mácula desta doença que impõe a separação, o corte, o
fechamento, o afastamento, o isolamento, o manter-se longe em que o outro
23
Cf. <https://sumauma.com/por-que-os-garimpeiros-comem-as-vaginas-das-mulheres-yanomami/>.
Acesso em: 19 jan. 2023.
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realmente passa a ser um risco e uma ameaça de morte, apenas por sua presença
próxima.
No contexto da pandemia, o povo Yanomami clamou pela realização dos seus
ritos funerários, pelo direito de seus mortos (e vivos), conforme sua
sociocosmologia que implica o equilíbrio vital e a saúde da comunidade baseados
na relação entre vivos e mortos. Os enterros compulsórios dos(as) Yanomami que
vieram à óbito por Covid-19
24
ocorreram sem a autorização da comunidade, sem
quaisquer informações dos sistemas hospitalares e funerários, com o
desaparecimento dos corpos, assim causando o cerceamento do direito do luto e
a possibilidade da realização do ritual funerário
reahu
25
.
Para o povo Yanomami, o enterro dos seus mortos, ainda mais fora de suas
aldeias, faz com que estes permaneçam forçosamente presos à terra como
pore
(alma-fantasma), sendo um ato infame e violento tanto para os vivos, quanto para
os mortos. Com isso, os vivos ficam em “luto estendido”, sob “os maus tratos da
saudade e dos
pore
(Silva; Estellita-Lins, 2021, p. 15). Trata-se de uma situação
torturadora, em que não se deixa viver, nem morrer, na qual este povo originário é
relegado a um total sem-lugar, destituído dos lugares, ligações e limites entre a
morte e a vida.
Para além das questões acerca da necessidade dos protocolos de
biossegurança na inumação dos mortos por Covid-19, terrivelmente aí, mostra-se
também as violências do sistema de poderes que se impõem a partir de um
conhecimento categórico e forjado (como universal e absoluto), pautado nos
valores da sociedade branca ocidental e colonialista, em extermínios evidentes
que vão além da morte física, envolvendo também o epistemicídio, a dizimação
dos aspectos simbólicos, espirituais, históricos e culturais, em processos de
desumanização e inferiorização dos povos com culturas, sociocosmologias,
saberes, práticas e modos de existência diversos e próprios.
24
Cf. <https://brasil.elpais.com/brasil/2020-06-24/maes-yanomami-imploram-pelos-corpos-de-seus-
bebes.html>. Acesso em: 19 jan. 2023.
25
O ritual
reahu
possui várias etapas aa cremação e a guarda das cinzas do ente morto em uma cabaça,
após se chora o morto em uma celebração coletiva, em que as cinzas são enterradas ou ingeridas em
mingau de banana, durante o momento do
reahu
propriamente dito (Cf. Silva; Estellita-Lins, 2021).
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21
O ex-presidente da República e seu governo de extrema direita foram
escandalosamente exemplares no exercício de políticas de morte, conforme o que
Mbembe (2016, p. 129) trata como representativo de um Estado nazista: o poder e
o direito de matar pela combinação de características de Estado racista, Estado
assassino e Estado suicida. Bolsonaro atuou como miliciano do neocapitalismo
colonial, o “imbrochável”
26
abusador da mátria-nação brasileira, messias do
negacionismo, capitão do descaso com os protocolos sanitários, do descrédito e
da obstaculização da pesquisa científica para a descoberta de imunizantes no país,
do retardo da vacinação, do uso do “tratamento precoce” com “Kit-Covid” sem
eficiência comprovada, da defesa da imunização de rebanho em prol do
mercado e da economia, como “bens” prioritários e mais importantes do que a
vida. Um contexto regido por uma necropolítica nefasta que subjuga a vida ao
poder da morte, do matar e morrer, em uma inversão de valores em que a
legitimação e a banalização da morte e da matança suplantam, sufocam, excluem,
exterminam, adoecem, assassinam vidas e a Vida (como potência criadora,
multiplicidade, valor principal e inextirpável).
O que podemos com Ars (arte) palhacesca diante de tanto sufoco, de tanta
falta de ar? Sem salvar, sem prometer, sem heroísmo somos palhaços e
palhaças, nada mais. Como, com o riso e o jogo palhacesco, potencializar e afirmar
a vida com alegria, sem se eximir das dores, negatividades e tragicidades das
questões humanas e do nosso tempo? Para não sucumbir, ao menos, e aliançar-
se à vida, com responsabilidade ética, social e artística, e poder ter o respiro e a
oxigenação do riso.
No carnaval de fevereiro de 2021, no período de isolamento social na cidade
de Porto Alegre (RS), realizei o esquete
Quero Matar a Saudade
, em formato de
vídeo, para ser acessado
online
, concebido por mim e realizado com minha família.
Na véspera da filmagem, foi decretado bandeira preta (grau de risco máximo de
contágio por Covid-19) e
lockdown
em grande parte do Rio Grande do Sul pelo
governo estadual. O sistema de saúde de várias regiões estava colapsado pela
superlotação dos hospitais com infectados(as) por Covid-19. Na data,
contabilizava-se 246 mil mortes notificadas no país, sendo que, em abril de 2020,
26
Cf. < https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62795997 >. Acesso em 22 jan. 2023.
O que podem o riso e o jogo palhacesco contra o que (nos) mata?
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22
o então presidente, ao ser questionado pelo crescente número de mortes ainda
no período inicial da pandemia, disse em entrevista: “– E daí?” ; “– Vai morrer
gente? Vai morrer gente! [...] vão morrer, lamento, essa é a vida”
27
.
“E daí” que chegamos a quase 700 mil pessoas mortas, sendo o país com o
segundo maior número de mortes
28
notificadas por Covid-19 depois dos Estados
Unidos da América. Além das mortes dos biomas por desmatamento, extrativismo
criminoso e predatório, do massacre dos povos ribeirinhos, da floresta e do
cerrado, das mortes e assassinatos por racismo, por feminicídio, por transfobia e
homofobia, por chacinas das forças policiais e milícias nas favelas, por porte de
armas dos “cidadãos de bem”, por fome e miséria.
Em
Quero Matar a Saudade
, uma composição experimental, a palhaça
Querubina se depara com a proliferação de mortos no espaço vazio e sem público,
na roda de atuação na rua. Entre o carnaval e o funeral, entre o sonho e a realidade,
entre os que morrem e os que matam, dados e vestígios documentais do presente
do contexto pandêmico, do qual a palhaça é alheia, atravessam a cena. Dentre os
quais, consta a minimização e a chacota de Bolsonaro ao se referir à Covid-19
como “uma gripezinha, um resfriadinho!”, em contraponto ao apelo real e
desesperado feito pela psicóloga Talitha Rocha
29
, quando faltou oxigênio nos
hospitais de Manaus, em que ela clamou por ajuda em vídeo postado nas redes
sociais. Em uma das cenas do esquete, a Morte, personagem alegórica, um jornal
impresso com manchetes verídicas do período: “A economia não pode parar”;
“Empresariado quer agilizar a imunização”; “Avanço da Covid leva 11 regiões à
bandeira preta no RS”; “Aulas presenciais com segurança”; “Praias tem
aglomerações em festas de carnaval”.
No esquete, o encontro inesperado da palhaça Querubina com a Morte se dá
em um jogo de baile e perseguição cômica. Até que a Morte abraça apertadamente
a palhaça que esmaece e tomba em câmera lenta. Uma criança, o filho da palhaça,
entra em cena e assusta a Morte, com a inocência e o prazer da brincadeira infantil.
27
Cf. <https://www.poder360.com.br/coronavirus/2-anos-de-covid-relembre-30-frases-de-bolsonaro-sobre-
pandemia/>. Acesso em 22 jan. 2023.
28
Cf. <https://news.google.com/covid19/map?hl=pt-BR&gl=BR&ceid=BR%3Apt-419>. Acesso em: 22 jan. 2023.
29
Cf. <https://www.youtube.com/watch?v=yaSfqaqLKfA&t=2s>. Acesso em: 22 jan. 2023.
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23
Após, a criança vai até a mãe-palhaça, que ainda tomba, e lhe oferece uma grande
flor e abraço. Com isso, ela recobra a vida, voltando ao jogo junto com o pequeno
filho-palhaço, agora com nariz vermelho – máscara de proteção vestida nele pela
mãe. Ao fim, ambos escapam da Morte, enquanto esta contempla a grande flor
deixada pela palhaça. Aí, a criança também atua como símbolo e presença do
futuro-presente, da coragem da alegria, da brincadeira, da inocência, da leveza e
do recomeçar no jogo da criação, para os quais é necessário dizer-fazer um
sagrado sim.
Quero Matar a Saudade
foi um novo enfretamento como palhaça com a
morte, ainda, numa perspectiva de fundo, aliada à afirmação da vida, buscando a
contrapartida do riso sobre o que vai contra a vida, a nega e a subtrai. Em
transpassagem pelo terrível, em transfiguração e re-existência com amor à vida e
por sua potencialização, no desejo criativo de saídas alegres e novos futuros em
jogo na arte palhacesca.
Figura 9
Quero Matar a Saudade
(2021), esquete em vídeo com acesso
online
30
.
Foto: Paulo Rosa Santos.
30
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=KgU-YtuGSW0 >. Acesso em 28 jan. 2023.
O que podem o riso e o jogo palhacesco contra o que (nos) mata?
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24
Me pergunto, como palhaça, o que posso contra o que oprime, deprime,
entristece, despontencializa, (nos) mata? O que podemos, como palhaços,
palhaças, palhaces, diante do terrível e do intolerável? Com quais papéis e
inserções sociais? Com quais formas, comicidades e potências intempestivas
aliançadas com os tipos cômicos da história e da genealogia da arte palhacesca
na contemporaneidade? Quais risos e tipos de humor diante das questões do
presente, da vida e da morte – tanto diante do que (nos) faz viver com potência e
alegria, quanto do que e de quem mata ou amortece?
Estas são questões para as quais não tenho resposta. São questões
direcionadas à criação poética e experimental como palhaça, junto de avaliações
sobre o que, como, com e para quem criar, a favor da vida. Que, por meio da
poética palhacesca, se possa mobilizar as forças dionisíacas geradoras,
excessivas, transformadoras e curativas onde o “sem sentido e feio parece como
que permitido”, podendo abarcar “todo o questionável e mesmo terrível”, em
virtude de um excedente de forças vitais, “capaz de transformar todo deserto em
exuberante pomar” (Nietzsche, 2001, p. 273), no pendor das palhaças, palhaços e
palhaces para o eterno jogo de recomeçar, de refazer(-se) incessantemente, no
movimento contínuo de (re)criação. Com o riso como potência vital necessária às
novas criações, aos experimentos, aos jogos de montar e desmontar na arte
palhacesca, que não se separa da vida, no plano po-ético que também atua na
realidade, no presente e em relação com o público.
O riso da afirmação da vida não se coaduna com um ideal para o futuro ou
para a humanidade, tampouco com qualquer utopia, e nada relega à posteridade.
O riso trágico, afirmativo e dionisíaco é imanente ao riso da terra, ao riso da vida.
Cultivemos o riso da terra.
Vivemos um momento em que a estupidez humana é nossa maior
ameaça. Palhaços não transformam o mundo, quiçá a si mesmos. E nós,
palhaços, tontos, bobos, bufões, que levamos a vida a mostrar toda essa
estupidez, cansamos.
O palhaço é a expressão da alegria. Palhaço é a expressão da vida no que
ela tem de instigante, sensível, humana. A alegria que o palhaço realiza a
cada momento de sua ação, contribuindo para estancar, por um
momento que seja, a dor no planeta Terra.
O palhaço é a única criatura no mundo que ri de sua própria derrota. E
ao agir assim, estanca o curso da violência. Os palhaços ampliam o riso
O que podem o riso e o jogo palhacesco contra o que (nos) mata?
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25
da Terra. Por esse motivo, nós, palhaços do mundo, não podemos deixar
de dizer aos homens e mulheres de nosso tempo, de qualquer credo, de
qualquer país: cultivemos o riso.
Cultivemos o riso contra as armas que destroem a vida. O riso que resiste
ao ódio, à fome e às injustiças do mundo. Cultivemos o riso. Mas não o
riso que discrimine o outro pela sua cor, religião, etnia, gostos e costumes.
Cultivemos o riso para celebrar as nossas diferenças. Com o riso que seja
como a própria vida: múltiplo, diverso, generoso [...].
31
Referências
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Folha de São Paulo
, São Paulo, 12 out.
2003. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1210200309.htm.
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Artreview, Opnion
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death-drive-bolsonaro-brazil-necropolitics-mbembe/>. Acesso em: 19 jan. 2023.
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BOLOGNESI, Mário Fernando.
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Recebido em: 30/01/2023
Aprovado em: 17/04/2023
Universidade do Estado de Santa Catarina
UDESC
Programa de Pós-Graduação em Teatro
PPGT
Centro de Arte CEART
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