Teatro na rua: quando a cidade invade a cena
Entrevista com André Carreira - Concedida a José Alencar de Melo (Zekhety)
Orientação e organização: Natássia Duarte Garcia Leite de Oliveira
Florianópolis, v.3, n.45, p.1-25, dez. 2022
minha grande influência é o teatro de Buenos Aires. Mas eu morei em Buenos Aires
nos anos 1980, no período da pós-ditadura, quando uma enorme quantidade de
artistas internacionais visitou Buenos Aires. Então, eu tive oportunidade, morando
e vivendo lá, de conviver com uma cena muito ativa e de ver artistas internacionais
bem importantes. A minha maior influência, de fato, do ponto de vista técnico, foi
o diretor chamado Francisco Javier
, de quem fui assistente e orientando em meu
doutorado. Um diretor importante em Buenos Aires, Javier foi o introdutor do
‘teatro do absurdo’ na Argentina. Aprendi muito vendo seus ensaios. Do ponto de
vista artístico o trabalho que mais me impactou foi o de Tadeusz Kantor
, com o
Cricot 2, cujos espetáculos realmente me fizeram repensar o que eu entendia
como teatro. Então, essa é uma referência muito grande, uma espécie de ponto
de ruptura na minha formação. No que diz respeito à experiência com o teatro na
cidade, o trabalho da companhia francesa Royal de Luxe
que também foi muito
importante ao longo das minhas experiências. Poderia citar esses e vários outros,
mas essas foram as referências mais fortes, mais impactantes. Agora,
principalmente a cena nova da Argentina na década de [19]80 que eu participei.
Artistas como Daniel Veronese
e Ricardo Bartis
foram muito importantes na
minha leitura do teatro.
A partir dos seus textos e trabalhos podemos compreender o espaço urbano não
apenas como o lugar que recebe o espetáculo, mas como um elemento
estruturante de uma teatralidade multifacética. Pode nos falar um pouco mais
sobre esta questão, citando exemplos? Ainda neste sentido, a cidade pode ser
vista como um espaço de dramaturgia e não apenas cenográfico?
Geralmente as pessoas chamam o teatro na cidade de teatro de rua, e
relacionam isso com uma forma muito específica de teatro que por ocupar este
Jorge Amado Lurati, mais conhecido como Francisco Javier (1923 - 2017), foi diretor de teatro e
docente da Universidade de Buenos Aires (UBA).
Tadeusz Kantor (Wielopole, 1915 - 1990), artista polonês, pintor, cenógrafo, encenador e criador
de happenings e performances. Em 1955 criou o Teatro Cricot 2.
Royal de Luxe é uma companhia francesa de teatro de rua, fundada em 1979 por Jean Luc
Courcoult, que é conhecida por usar marionetes gigantes em suas obras.
Daniel Veronese nasceu na Argentina, em 1955. É ator, dramaturgo, titiritero, diretor de teatro e
criador do grupo El Periférico de Objetos.
Ator, diretor e dramaturgo argentino, nascido em 1949.