Editorial
Dossiê Temático: Produção de dramaturgia a partir do Sul - Perspectivas críticas de formação e criação
Florianópolis, v.2, n.44, p.1-6, set. 2022
socioeconômico capitalista ocidental. Entretanto, mesmo que esse contexto
globalizado atravesse as realidades sociais das sociedades ibero-americanas, ele é
apenas um horizonte ante o qual se produzem as dramaturgias local e
regionalmente. Daí nossa ênfase em pensar a produção dramatúrgica como
situada. E, dentro dessa perspectiva, refletir sobre suas características
possivelmente decoloniais.
Dentre os textos recebidos, dentre eles artigos científicos, relatos de criação
e dramaturgias, optamos por aprovar para compor o presente dossiê quatro artigos
e dois relatos. Isso porque, observamos, aventamos que o tempo de reflexão sobre
as produções de dramaturgias – entendidas aqui como dramaturgias do texto –
ao Sul ainda esteja em processo de maturação e provocações. No entanto,
pensamos que este número da Urdimento pode ser um disparador para que
questões posteriores sejam elaboradas, articuladas e geradoras de um
pensamento tanto sobre os modos de produção de dramaturgia quanto sobre a
formação de dramaturgos.
O que se observa, já de algum tempo, é a presença multifacetada de textos
criados por artistas deste Sul, vários inclusive de origem não-europeia e não-
ocidental. Mas a reflexão sobre essas obras, a partir de uma abordagem situada
que reflita sobre as relações variáveis entre as expectativas culturais de produção
e recepção artísticas do público-alvo, as influências de escrita vindas de modelos
“do norte”, inclusive em suas formas não-mais dramáticas, e as práticas concretas
de dramaturgas e dramaturgos, ainda nos parece lacunar. Não por último, talvez,
porque envolve uma apropriação crítica do aparato teórico europeu destacando
sua distância com práticas narrativas do Sul (não raramente de origem oral e
enraizadas em experiências comunais e ritualísticas, com suas aberturas do
mundo humano ao telúrico e ao espiritual), mas implica também uma
compreensão dessa distância como disparador de suas capacidades de mediação.
Essa função de mediação também se torna frutífera, a nosso ver, quando a situação
de recepção abrange textos de traços não-europeus ante um público de
descendentes de imigrantes europeus.