Sensorialidade no espaço cênico:
Vestido de Noiva
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Roda Viva
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Trate-me Leão
Delano Delfino; Cêça Guimaraens; Weber Schimiti
Florianópolis, v.3, n.45, p.1-26, dez. 2022
Como a gente não tinha luz, não tinha cenário, não tinha nada e tinha
aquele monte de cena, o Hamilton frisava que era importante que, na
hora em que a bola estivesse com você, você soubesse segurar a bola.
Porque o público é uma manada, você faz com ele o que quiser. O público
está aqui e, se você acende uma luz ali, todo mundo olha para lá. Se
alguém berra lá atrás, todo mundo vira de costas. Então, a gente começou
a aprender a direcionar essa atenção. Tinha uma história de botar o foco
em você, tinha vários exercícios de foco. (Travassos apud Hollanda, 2004,
p.109).
Na quarta cena do espetáculo, após serem interceptados em uma blitz da
polícia e fugirem, os jovens entram no buraco das obras e são perseguidos
também pelos guardas do metrô. Para tentar escapar, pulam de uma estrutura
para outra e um deles, num momento de desequilíbrio, cai e morre. A cena, como
descrita por Nina de Pádua, causou uma grande comoção no público, pois
retratava a realidade daqueles tempos marcados pela truculência e perseguição
dos militares e dos policiais à população. O público entra em uma grande catarse
com os atores, quando, todos, têm que se jogar no paredão e permanecerem
estáticos (Hollanda, 2004, p.110).
A cena do metrô, no fim do primeiro ato, era fortíssima. Perfeito caia e
morria no buraco do metrô. A plateia ficava paralisada. E um dia
aconteceu uma coisa inesperada. Estávamos fazendo o espetáculo no
Teatro Ipanema, e num certo momento da cena do metrô encosta todo
mundo no paredão. Isabel Câmara, aquela poetisa e dramaturga
maravilhosa, entrou na viagem, subiu no palco e encostou junto com a
gente, ficou de mãos dadas e não queria sair dali de jeito nenhum. Ficou
uma coisa constrangedora porque era intervalo e ela tinha que sair do
palco para poder começar o segundo ato... - Nina de Pádua (apud
Hollanda, 2004, p.110).
No dia 15 de abril de 1977, o grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone, subiu ao
palco do Teatro Dulcina. Hamilton Vaz Pereira, Evandro Mesquita, Fábio Junqueira,
José Paulo Pessoa, Luís Fernando Guimarães, Nina de Pádua, Patrícia Travassos,
Regina Casé, Perfeito Fortuna estavam prontos para encarar quase cinco horas de
espetáculo (Pereira, 2004, p.23).
A casa cheia, o calor humano – calor mesmo, não tinha ar refrigerado. E
a plateia, a avidez dos espectadores. Era lindo ver a plateia. Todo mundo
ávido, como as pessoas queriam aquilo, sabe? Regina Casé (apud Pereira,
2004, 19/19). Estreamos no Dulcina sem cortar nada, com umas quatro
ou cinco horas de duração – depois é que chegamos a duas horas e aí, o