O martelo e o edifício: o encontro entre ofício e espaço pela experiência de
um trabalhador cenotécnico no Theatro Municipal de São Paulo
Entrevista com Aníbal Marques (Pelé) - Concedida à Berilo Luigi Deiró Nosella; Priscila de Souza Chagas do Nascimento
Florianópolis, v.3, n.45, p.1-23, dez. 2022
dominavam, aquele círculo de São Paulo. Sempre aquelas mesmas pessoas que
rodavam todos os teatros de São Paulo, os eventos, essas coisas todas. “Chama o
fulano porque tem que está pronto, e tal…” Então a gente não tinha tempo de ficar
ensinando as pessoas. Hoje em dia a demanda é curta, mas a gente tem uma
oportunidade, que está sendo expandida, que eu estou percebendo, dos
estagiários começarem. Você já está levando uma pessoa para o caminho, você
está dando oportunidade para os outros, coisas que a gente não tinha antigamente.
A gente tinha que aprender na raça mesmo, ali, fazendo, acontecendo, não ficar
olhando.
Você falou desse círculo que é criado, que são sempre as mesmas pessoas, até
por falta de profissionais, nos lembrou de um compilado de fichas técnicas de
produções teatrais nos anos de 1980, organizado por Alexandre Mate
, pesquisador
da UNESP. Na parte de cenotécnicos, tinham muitos nomes repetidos, eram
Chimanski, Arquimedes, Pupe…
Estevão, Arquimedes, isso… Lembro, conhecia. Exatamente. Sempre eram
essas mesmas pessoas. “Vou chamar o Pupe, porque o Pupe resolve e sabe
resolver…” O Pupe, eu aprendi muito com ele esse tipo de coisa, de autoridade
dentro do palco. Ele chegava e falava para o diretor: “não, não é assim, essa cena
não é assim, essa cena é assim, assim, assim”. O cenotécnico dizia como tem que
ser, porque ele estuda aqui ali, ele sabia como estava montado. O contrarregra que
dizia qual o tipo de objeto que a pessoa vai usar, não é o diretor, e como vai usar.
Não é o diretor. Então, eles tinham um valor.
Como é essa relação hoje no Theatro Municipal? Do cenotécnico com o cenógrafo,
com toda a equipe administrativa e com o diretor?
O cenotécnico hoje em dia, eu acho né, que em relação ao diretor ele tem
que se impor muito, porque às vezes o diretor não aceita, não são todos, mas a
maioria. “Não, mas assim não dá, tal”. Mas a relação é boa, entre eles. O que é mais
complicado, é a parte administrativa, eu acho. Mas a relação com o diretor, eu
sempre tive uma boa relação com os diretores. Fizemos e “olha não vai estar
pronto”, e ele abaixa a cabeça e fala, “beleza, então quando você acha que vai estar
Anexo à tese
A Produção Teatral Paulistana dos anos 1980 - R(ab)iscando com faca o chão da história: Tempo
de contar os (pré)juízos em percursos de andança
(Mate, 2008).