Cultura popular e patrimônio: ecoam vozes do mar e da montanha
Liliane Mundim; Ramon Santana de Aguiar
Florianópolis, v.3, n.45, p.1-23, dez. 2022
fechados, rurais ou urbanos, as festas suscitavam variadas atitudes de
comportamento, pois “na festa e convívio há clivagens, mas também assimilações.
Há demarcações hierárquicas, mas também solidariedades. Há normas
disciplinadoras, mas também actos perturbadores” (Coelho, 1998, p.49).
Para os pesquisadores Tereza Caroline Lôbo e Carlos Eduardo Santos Maia,
fica notório que tais manifestações são lugares de interações específicas e
multiplicidade de trajetórias, onde os rituais, como também os modos como os
partícipes se colocam dentro da festa, se tornam repletos de múltiplos
significados (Lôbo & Maia, 2011).
Vale observar que o processo criativo do Cantareira, assim como do Grupo
de Teatro, estão inspirados por essa tradição litúrgica e intrinsecamente ligados à
igreja católica, porém, muito calcados em memória oral, ou seja, na corrente da
cultura popular. A pesquisadora Beti Rabetti (2000, p.4) afirma que,
A cultura popular hoje, poderia identificar-se também com aquele
conjunto de produções ou manifestações que, inseridas nos atuais
contextos de produção e comunicação de massa, mas que preservam
ainda – ao menos no campo simbólico – consistentes dimensões ou
aspectos de valores e características das "culturas tradicionais". A título
de síntese, pode-se recuperar aqui os elementos fundamentais daquelas
culturas, ligadas as correntes de longa duração (que envolvem
persistências e variações), à transmissão oral, à hegemonia da festa, à
mistura do sagrado e do profano, ao rústico, à eleição de praças e ruas
como espaços de intenso convívio entre manifestações artísticas
diversificadas, ao riso, à procura da manutenção de parâmetros coletivos
de produção, ao anonimato prevalecendo sobre a autoria, ao profuso em
detrimentos ao específico, à aparente
espontaneidade
.
Na análise das ações desenvolvidas pelo Coletivo e pelo Grupo de Teatro,
encontram-se características que se assemelham ao destacado por Rabetti: o
caráter comunitário, as festas religiosas e populares, as ações e encenações
acontecendo em lugares públicos e gratuitas. Acrescenta-se a apropriação de
repertório de origem no patrimônio imaterial bem como a ocupação de edifícios e
monumentos em interseção dinâmica com a cidade e seus habitantes. Também,
a maneira como são construídas as dramaturgias e cenas mescla lembranças
pessoais, familiares, referências bibliográficas do lendário de seus contextos. Esses
saberes também são articulados a pesquisas referentes às origens históricas,