
Atrizes no teatro amador de São Luís na primeira metade do século XX
Gilberto Martins; Bene Martins
Florianópolis, v.2, n.44, p.1-25, set. 2022
mancebo, foi fielmente interpretado pelo sr. F.L., que no primeiro acto
portou-se com uma correção admirável. Os srs. J.T. e J. B. mostraram-
se no 5º acto à altura da situação. Aquelle então foi perfeito, quando ao
erguer-se o panno, aparece como um velho enfermo moral e
physicamente. O sr. R.B., no desempenho do papel de Fernando da
Cunha, moço debochado e jogador consumado, o mais perfeito emblema
do vício, esteve acima de todas as expectativas. Este amador que agora
estréia, figurou-se-nos já um artista com tirocínio. A presença de espírito
com que se se mostrava, a clareza com que emitia as palavras, a
naturalidade dos seus gestos foram surphreedentes. Depois de uma tal
estreia não é difícil prever o mais rósea e risonho futuro que se abre
diante dos “Filhos de Thália”. Que não nos enganemos nesta nossa
previsão, são os nossos mais ardentes votos (
Pacotilha
, 02 jan. 1902, grifo
nosso).
Segundo o comentário feito à Sociedade Dramática Particular Filhos de
Thália, composta por estudantes, artistas autônomos, homens da repartição
pública; como o alfandegueiro da Intendência Municipal, de origem da cidade de
Caxias, Ricardo Barbosa, o escrivão Augusto de Faria Bello, o pintor e cenógrafo
Antônio Rabasa, o maestro Joaquim P.F. Parga, além de Almir Mattos, Pedro
Belfort, João Pedro d´Almeida Filho, Francisco Lopes, José Bittencourt, Caetano
de Souza, José Pearce, Álvaro Lima, R. Rodrigues, Adelman Corrêa, José Rayol,
Marcos Bangoim. O espetáculo de estreia desses amadores não contou com a
presença de atrizes; pelo menos é o que sugere a ênfase em figuras masculinas,
ainda que o drama girasse em torno de uma mulher enquanto protagonista,
Helena, representada por M.S., a qual teria o ator agradado.
Esse destaque feito a um ator representando um papel feminino não
encontra lugar em outras fontes consultadas até o momento, ainda que fosse para
criticar ou reiterar o acontecido. O fato é que esse assunto passa com naturalidade
na veiculação dada pelo jornal
Pacotilha
, deixando a tarefa de uma investigação
sobre o assunto mais complexa. Teria sido apenas o
Pacotilha
a não registrar uma
possível participação de atrizes nesse espetáculo? Quais outras fontes possíveis
de rastreamento delas nesse cenário aparentemente masculino do amadorismo
ludovicense?
No século XX, as fontes jornalísticas só voltam a mencionar nomes de atrizes-
cantoras no âmbito dos grupos amadores ludovicenses apenas a partir de 1920,
quando fazem referências aos grupos amadores Thália, Coelho Neto, Arthur