A ópera chinesa nos Estados Unidos
Marvin Carlson |Tradução: Esther Marinho Santana
Florianópolis, v.2, n.44, p.1-19, set. 2022
uma companhia de ópera chinesa na região, a primeira nos Estados Unidos.
Trabalhando em conjunto com um empreendedor de Guangdong, conseguiram
que a trupe de excelência Hong Fook Tong
se mudasse para a cidade californiana
com os seus quarenta e três membros. O grupo trouxe consigo para serem
montados no Novo Mundo elaborados cenários, figurinos e artefatos, e até mesmo
toda a estrutura física de um teatro.
A sessão de 20 de outubro de 1851 foi a primeira apresentação de ópera
chinesa nos Estados Unidos, e, como os artistas ainda não contavam com uma
estrutura própria concluída, utilizaram o teatro já existente American. Embora a
plateia, majoritariamente chinesa, tenha se deleitado, não era numerosa o
suficiente para manter um programa composto por uma obra tão inusitada. Logo,
a partir da terceira noite em cartaz uma comédia estadunidense assumiu o
espetáculo, e a porção chinesa passou a ter duas peças, seguidas de uma exibição
de acrobacias e cambalhotas. Assim a companhia seguiu se apresentando até que
o seu teatro, trazido da China em diversos pedaços, fosse devidamente armado e
inaugurado. Assemelhava-se a um pequeno pagode, e se mantinha aberto dia e
noite para performances. A maior parte do entretenimento se concentrava em
malabarismos, arremesso de facas e acrobacias, porém, amostras de Ópera
Cantonesa eram incluídas. Aqueles que não eram chineses apreciavam os
números acrobáticos, mas mostravam pouco interesse pela ópera. Um dos
espectadores teria declarado que os únicos atrativos da programação eram as
“vestimentas extraordinárias do elenco”, visto que “o barulho incessante feito com
gongos e tambores de metal é tão discordante e ensurdecedor”, e os falsetes
habitadas por chineses e seus descendentes em todo o mundo. Cada qual com suas particularidades,
Chinatowns existem em outras cidades estadunidenses, no Canadá, em Cuba, no Peru, na França, na
Inglaterra, na Índia, na Austrália, etc.
Nota da tradutora: a companhia foi também chamada de Hook Took Tong, Hong Took Tong, Hook Tong Hook,
Tung Hook Tong, Tung Hong Took, Hook Took Tong e Tung Hook Long. Carlson adota a anglicização Hong
Fook Tong, comumente empregada nos Estados Unidos, e, portanto, para este e outros casos manterei as
grafias do texto original. Relembro que Daphne Pi-Wei Lei discute o complicado processo de transcrição de
nomes próprios chineses para o inglês, marcado pelo desconhecimento do funcionamento das línguas
chinesas (sobretudo o cantonês, então predominante na região de São Francisco), pelo preconceito com as
sonoridades, pela indiferença diante de especificidades linguísticas e culturais, e pela tentativa de produzir
grafias mais facilmente assimiláveis pelos anglófonos. Tais entraves ajudam a explicar a ausência de maiores
informações sobre os artistas asiáticos em registros da época, que, não raro, eram citados sem jamais serem
de fato nomeados. (
Operatic China: Staging Chinese Identity Across the Pacific
. New York: Palgrave MacMillan,
2006).