contorcido e desvairado dos artistas em cena; do outro meu
voyeurismo
mascarado pelos músculos do meu rosto, que mantêm a impressão de
distanciamento, enquanto, por dentro, imagens, associações, desejos, atrações,
nojo e repulsa invadem a minha percepção.
A cena é acompanhada por uma sequência de músicas
pop
sampleadas.
Reconheço Kid Abelha (“eu quero você como eu quero”),
Wicked Game
(de Chris
Isaak), Maria Betânia (!negue meu amor e meu carinho”),
Guns in Roses
, Marina
(!solidão com vista pro mar”) e
Total Eclipse of the Heart
(de Bonnie Tyler). Tento
continuamente contar o número de jovens, mas não consigo, pois eles não param
quietos e são muitos. Fico na dúvida se são treze, quatorze ou quinze. Depois de
muitas tentativas, confirmo que são 15. Às vezes, batem as garrafas entre si sem
querer. Certa vez, um deles deixa cair a garrafa, mas ela não se quebra. Quando a
música para, todos param juntos, respiram alto e exaustos.
Depois de correrem loucamente por vários minutos, vivendo o risco de
tropeçarem e se cortarem caso quebrassem as garrafas de vidro vazias que
levavam nas mãos, parando individualmente somente quando estavam quase
desmaiando, os rapazes começam a passar as mãos nos próprios corpos suados,
ainda segurando as garrafas. Depois, levam os objetos ao chão e, aos poucos, tiram
as meias e os tênis. Um a um, colocam as garrafas embaixo das cadeiras da
primeira fila da plateia e voltam para a cena. Eles colocam as mãos dentro da
boca, nos sexos, deitam-se no chão e começam a se lambuzar no próprio suor.
Silêncio. Enfiam os pés na boca, giram, escorregam e arrastam-se no chão,
umedecido pela transpiração. Os seus cheiros impregnam o ar do teatro. Um
moço, enrolado aos meus pés, causa-me repulsa pela proximidade extrema e
imposta. Prefiro olhar para outros corpos, mais distantes.
A um metro e meio à minha esquerda, noto nas costas de um dos jovens um
machucado recente, na altura de sua lombar: um raspão fundo, ainda sem casca.
Ele começa a rolar no tablado desnivelado do chão e as frestas, entre as tábuas,
me contam que talvez tenham sido elas que, nos dias anteriores, tenham talhado
aquela pele. Uma citação de Freud me vem à mente: “[…] toda dor, em si, já contém
a possibilidade de uma sensação de prazer” (Freud, 2016, p.54). Prazer do ator ou