Kroni, um ser com uma cabeça grande e um corpo minúsculo, que muda de cor e forma de
acordo com seu ambiente e estado de espírito, originário de um país frio que os filhos de
Copeau visitam em frequentes "viagens" efetuadas atrás de um biombo. Os bonecos, que as
crianças consideram "seus filhos", também fazem parte desses jogos, e cada um dos três
pequenos é então o "chefe de família" de um clã de bonecos com seus próprios nomes e
personalidades. Essas atividades, marcadas por um forte caráter de fabulação, são frequentes
entre os jogos dos filhos de Copeau. Entretanto, pelo que podemos deduzir dos testemunhos
de Marie-Hélène, são os jogos cuja principal característica é a dramatização que predominam
durante sua infância. Este caráter dramático aparece nas oito brincadeiras registradas pela
primogênita de Copeau em Histoires de nos jeux, como podemos verificar no Jogo da Madame
Gide:
O jogo da Madame Gide era jogado no quarto das crianças, na rue Montaigne. Edi,
naturalmente, era Madame Gide, pois ela era quase sempre a pessoa principal nos
jogos, ou pelo menos a pessoa que dava nome ao jogo [...] Para ser Madame Gide,
Edi colocava um relógio de árvore de Natal ao redor de seu pescoço e levava seus
dois cachorros, Miquette e Vigie. Miquette era uma espécie de animal [...] ele parecia
algo entre um cão, um coelho e uma ovelha e ele foi montado em uma espécie de
fole de papel que gritava quando pressionado, mas o grito que ele produzia não era
o de um cão, nem de um coelho, nem de uma ovelha - em todo caso o fole estava
quebrado e não gritava mais (em nota no livro: Edi diz que nós até removemos o fole
para que ele fosse mais aku.), e para nós o animal se chamava Miquette. Vigie era
representado por outro animal muito grande, que devia ser um cão, mas que se
parecia muito com uma ovelha. [...] Ele não parecia feroz, mas era Vigie, por seu
tamanho. Madame Gide passeava seus dois cachorros em um carro verde. A babá
sempre perguntava a Madame Gide que horas eram, e não importava que horas
eram, a babá sempre dizia: "Ah, é a sua hora! "Sua hora" era o momento em que a
criança no carro verde seria colocada no penico... [...] A babá falava o tempo todo.
Madame Gide respondia educadamente - em poucas palavras. Às vezes Madame
Gide levava a babá para um passeio de carro - mas de repente viajávamos de uma
praça onde estávamos para Cuverville - como nos sonhos [...](M-H Dasté, 2006, p.9-
20).
Le jeu de Madame Gide se jouait rue Montaigne dans la chambre des enfants. Edi était naturellement Madame Gide, car elle
était presque toujours la personne principale dans les jeux ou du moins la personne qui donnait le nom au jeu […] Pour être
Mme Gide, Edi mettait autour de son cou une montre d’arbre de Noël et prenait ses deux chiens, Miquette et Vigie. Miquette
était une sorte d’animal […] il ressemblait à quelque chose entre un chien, un lapin et un mouton et il était monté sur une
espèce de soufflet en papier qui devait crier quand on l’appuyait, mais le cri qu’il produisait n’était ni celui d’un chien, ni celui
d’un lapin, ni celui d’un mouton – en tous les cas le soufflet était cassé et ne criait plus (en note : Edi dit que nous avons
même enlevé le soufflet pour que ça soit plus aku.), et pour nous l’animal était Miquette. Vigie était représenté par un autre
animal très grand, qui devait être un chien, mais qui ressemblait énormément à un mouton. […] Il n’avait pas l’air féroce, mais
il était Vigie pour sa taille. Madame Gide promenait ses deux chiens dans une voiture verte. La nourrice demandait tout le
temps à Madame Gide quelle heure il était, et peu importe l’heure la nourrice disait toujours : « Ah, c’est son heure ! » « Son
heure » était le moment où l’enfant de la voiture verte devait être mise sur le pot… […] La nourrice parlait tout le temps.
Madame Gide répondait poliment – en peu de mots. Quelquefois Madame Gide emmenait la nourrice faire une promenade
en voiture – mais alors on quittait tout à coup le square pour Cuverville – comme dans les rêves. […] (Tradução nossa)