Cenas rupestres de lutas corporais no Parque Nacional Serra da Capivara, possíveis interpretações
Leandro Paiva; Deise Lucy Oliveira Montardo; Michel Justamand; Gabriel Frechiani de Oliveira
Vitor José Rampaneli de Almeida; Gabriela Rabello
Florianópolis, v.1, n.43, p.1-26, abr. 2022
caracterizar e identificar padrões em pinturas rupestres (veja Figura 3). Além disso,
orientou-se por suas diretrizes, em que propôs classificar essas manifestações
pelo reconhecimento cognitivo de forma preliminar hipotética. Assim, de acordo
com sua proposição, os principais elementos utilizados para reconhecimento e
caracterização de uma cena de violência
/luta são: “divisão do espaço e
posicionamento das figuras na cena; movimento de uma figura em direção a outra;
movimento rítmico dos braços, pernas e corpo; [...]; figuras com alguma parte do
corpo atingida indicando a agressão” (Silva, 2012, p.51). Vale salientar, nem todos
os sítios suportavam cenas de lutas. Não obstante, foi relevante acessá-los,
presencialmente, para compreensão
in loco
das semelhanças e diferenças
gráficas, no que a literatura arqueológica sobre a região classificou de Tradição
,
Subtradição
e Estilos
, refletindo em suas respectivas datações.
Ademais, não foi difícil depreender, consoante análises publicadas
posteriormente (Paiva, 2017; Paiva, 2019), que os termos “luta” ou “violência”,
poderiam denotar referenciais sociais distintos, mas eram tratados no mesmo
bojo, em boa parte dos estudos realizados no PNSC. Por exemplo, englobavam,
Silva trabalha com o conceito de cenas coletivas de “violência”. Não as caracteriza como “guerra”. Todavia,
conforme apurado em trabalho anterior (Paiva, 2017), sobretudo nas primeiras décadas, os pesquisadores
(arqueólogos) atribuíram a esses registros, sobretudo, o termo “guerra”.
Para uma descrição sumária, “Tradição” se refere à representação visual de todo um universo simbólico
primevo (natural e imaginário), que pode ser milenar (Pessis, 1994; 2003; Guidon, 1981, 1984). No PNSC,
predomina “Tradição Nordeste”, com datação entre 15.000-6.000 anos A.P. (Pessis et al., 2018). É
caracterizada por vestígios reconhecíveis (figuras humanas, animais, plantas e objetos) e os
“puros”/“geométricos”, que não podem ser identificados.
“Subtradição” é uma denominação introduzida para definir um grupo desvinculado de uma tradição e
adaptado a um meio geográfico e ecológico distintos, implicando na presença de novos elementos (Pessis
et al., 2018).
A classe mais particular decorrente de mudanças em uma subtradição é denominada de “Estilo”, denotando
em diferenciações da técnica e apresentação gráfica, com inovações temáticas refletindo a manifestação
criativa de cada comunidade. (Pessis et al., 2018)
Para os registros rupestres no PNSC, estabeleceu-se cronologia baseando-se em décadas de pesquisa
arqueológica, sendo: 1) Estilo “Serra da Capivara” – Datação: entre 15.000(?)-12.000 até 9.000 A.P. (figuras de
contorno fechado; traços contínuos etc.); 2) Estilo “Serra Branca” – Datação: 9.000-6.000 A.P (figuras
humanas preenchidas por traços verticais; riqueza de adornos e objetos etc.) (Pessis, 2003; Pessis, 2013;
Pessis et al., 2018). Em referência ao método específico de datação, Pessis et al. (2018, p. 43) asseveram para
o fato de não existir, para pinturas rupestres no PNSC, apenas uma forma de datação. Para se ter
confiabilidade, exige “um conjunto de resultados de técnicas diferentes capazes de posicionar, no tempo, a
pintura estudada [...]”. Por exemplo, “...quando duas figuras pintadas estão em relação de superposição
parcial. A análise da superposição fornece a certeza da ordem de precedência da realização das figuras,
permitindo segregar camadas de superposição gráfica”.