A atuação de artistasprofessoras e artistasprofessores na (re)invenção do ato estético
Adriana Teles de Souza
Florianópolis, v.2, n.44, p.1-13, set. 2022
As conversas foram em torno dos seus processos de formação como sujeito
atuante na vida e na arte e como materializava seus processos de criação — de
aula e artística.
Trouxe para essa conversa uma fala que melhor expressa a atuação do
artistaprofessor no sentido de uma atuação não-indiferente do ato estético, e uma
fala de seu estudante que também revela essa posição. Foram grafadas em
negritos os recortes analisados para este estudo, como seguem:
Aquilo que a gente falou naquele dia,
eu não consigo mais entrar em sala
de aula e não levar esse (fala o seu nome) inteiro que eu sou hoje, o meu
corpo inteiro que está em transformação, e tudo que é pulsante, e tudo
que eu estou vendo, é estar íntegro comigo mesmo, e também tudo que
eu absorvo, permitir que as pessoas tenham esse espaço de integridade.
Somos todos humanos, temos que dar conta das nossas emoções,
professores e alunos.
De entender esse espaço, eu não estou numa área burocrática, eu estou
trabalhando com arte, mais humana
na medida que eu estou vivendo
essa minha profissão, não tem como desvincular minhas outras práticas,
eu faço um contraponto com a escola uma coisa mais formatada, isso
me levava para um outro lugar, eu não tenho como deixar a minha arte
para entrar em sala de aula
, e não é algo pensado, “a agora vou usar das
estratégias que nós, atores, usamos para seduzir uma plateia,” (fala em
outro tom) não é isso,
é a minha relação com o mundo mesmo
.
(Artistaprofessor, 2017; 2018; 2019).
Fala do estudante em questão:
Começamos com as vanguardas, fomos para as mulheres vanguardistas,
Frida Kahlo, Leila Diniz e passamos por outros nomes, imprimimos
poemas, textos sobre o assunto.
Não sabíamos nada, não me interessava
pelo assunto
. Mas o professor explica bem e envolve mais as pessoas
nas aulas, é diferente. Faz perguntas para as pessoas, não só fica falando,
como os outros professores. As pessoas se sentiam mais envolvidas nas
aulas dele. Creio que a maioria das coisas que ele dizia, consegui
entender, como a consciência negra, o que o negro é na sociedade, pelo
professor ser negro, ele vive isso e isso ele consegue explicar melhor,
através da leitura de imagens, (pausa, pensativo) não ficamos só no que
víamos na TV.O difícil para mim foi procurar e imprimir textos e imagens,
pois no período da tarde gosto de fazer outras coisas, como sair, ver TV,
outras coisas (fica corado, a respiração mais ofegante).
O professor levava
a gente para o laboratório, a maioria dos professores não tiram a gente
da sala, o que eu mais gostei foi isso. Eu não lembro de ter feito criações,
não sei se a pintura se encaixa nisso
. Ou outra coisa. A partir do que
consegui entender nos estudos das vanguardas artísticas é que ser
diferente não é ruim é prazeroso ser diferente. Se não tivéssemos as
vanguardas não teríamos a arte hoje, 105 (ofegante, segurando as mãos)