
(Des)Educação do corpo pelas artes na formação de pedagogas(os)
Lucia Maria Salgado dos Santos Lombardi
Florianópolis, v.1, n.43, p.1-26, abr. 2022
com a linguagem corporal nessa formação se constitui, em grande medida, a partir
do ato de brincar, para que se tenha a compreensão dos modos de aprender das
crianças. O corpo da criança é um corpo-brincante, sujeito cognoscitivo do brincar.
Temos momentos das oficinas em que brincamos, a fim de ser possível relembrar
os princípios e valor do jogo. Além de jogos tradicionais que solicitam dos corpos
uma disponibilidade e presença, dos jogos teatrais acolhemos os conceitos de
fiscalização, da improvisação, da liberdade para jogar e criar, do exercício da escuta
e da observação atenta.
Escutar de modo sensível e observar é uma tarefa muito importante da
docência. A questão da observação do movimento, do seu próprio e do repertório
de movimento das outras pessoas da turma está sempre presente por inspiração
de Spolin, que ilumina a importância da plateia intragrupo, ou seja, a ideia de
existirem momentos em que enquanto parte do grupo trabalha em uma
improvisação, outras(os) jogadoras(es) atuam como observadoras(es), alternando
o jogar e o observar continuamente.
Em Laban se considera que pessoas observadas e observadoras aprendem
mutuamente influenciados por seus processos de transformação, que não cessam
de acontecer (Miranda, 2008) e expandem seus repertórios de movimento, de
atitudes, de disponibilidade corporal. Na TKV a atenção e a escuta têm um papel
preponderante na aprendizagem, sendo trabalhadas ao longo de todas as aulas e
em todas as práticas como fundamento indispensável para o trabalho do corpo.
De acordo com Neves (2017, p.4):
Em estado de atenção focada, pode-se observar, pelo menos em parte,
o que se passa no corpo e no ambiente e na relação entre os dois; pode-
se responder aos estímulos percebidos, conscientemente ou não, com
os recursos disponíveis, de forma a criar soluções adaptativas. A atenção
focada permite responder criativamente às necessidades que se
apresentem em um determinado momento, colocando em ação a
capacidade de criar novas soluções para situações, conhecidas ou não.
Sem este estado de atenção, age-se de forma mecânica, repetindo
padrões, hábitos construídos ao longo da vida, sejam estes relativos a
movimento ou comportamento.
A improvisação é tomada como parte muito importante do processo de
reeducação do corpo expressivo e brincante para Spolin (1987). Qual é o valor do