A.part.tir da Residência de criação Entoar o corpo sensível:
diálogo epistolar entre Vitor Lemos e Tiago Porteiro
Florianópolis, v.1, n.43, p.1-35, abr. 2022
associar a partir das minhas vivências: uma sensação de consciência
tridimensional de habitar o espaço; um estado subtil de conexão e de relação com
tudo o que me envolve e que me permite abertura, receção e reatividade aos
diferentes estímulos existentes; a emergência de uma acuidade diferenciada e que
interconecta uma atenção em constante movimento e outra em que predomina
uma certa clareza e serenidade. Nesse “estado”, identifico ainda um ser/estar mais
consciente da minha presença no mundo. Enfim, “entrar” nesse “estado” implica
sentir-me/integrar um campo de forças que produz dinâmicas de “individuação,
de devir, de criação ou de reorganização de si, acolhendo a diferença, o
distanciamento, o descentramento” (Vadori-Gauthier, 2018, p.72)
, e onde, a cada
instante, é possível “saborear” a sensação de interligação.
Estas frases que aqui exponho, e que me ajudaram a dar nome à minha
experiência, encontrei-as num dos livros que acabo de ler, e que muito me tem
ajudado a clarificar aquilo que sinto, penso e procuro –
Écosomatiques
.
Penser
l’écologie depuis le geste
(Bardet, Clavel e Ginot, (Org.), 2018). Trata-se de uma
obra, com contributos de vários autores, que tem como referência as práticas
somáticas
, entendidas como “espaços de produção de subjetivação, tanto
individuais como coletivos”, e que têm “poder de ação sobre os nossos modos de
vida”, orientando assim os nossos imaginários “e a sua realização numa direção de
novos horizontes de perceção, do ressentir e de invenção do quotidiano” (Bardet,
Clavel e Ginot, (Org.), 2018, p.18)
. Por me parecer importante, sublinho ainda o
facto de as perspetivas
ecossomáticas
procurarem definir-se enquanto
abordagens “que tomam em linha de conta as relações de coconstrução e de
coinvenção entre gestos e contextos, entre perceções, pensamentos e afetos”
(Bardet, Clavel e Ginot, (Org.), 2018, p.15)
.
[...] d’individuation, de devenir, de création ou de réorganisation de soi, accueille la différence, l’écart, le
décentrement. (Tradução: Tiago Porteiro)
Termos definido por Thomas Hanna durante os anos 70. Constitui hoje um campo de estudos e de práticas
que se encontra nos interstícios entre arte, ciência, educação e terapia e que entende os domínios sensoriais,
percetivos, cognitivos, motores, afetivos, sociais, políticos e espirituais nas suas sinergias.
[...] sont des espaces de production individuels et collectifs de subjectivités [...] un pouvoir d’agir sur nos
manières de vivre [...] et sa réalisation vers de nouveaux horizons de perceptions, de ressentis et d’invention
du quotidien. (Tradução: Tiago Porteiro)
[…) prenant en compte les relations de coconstruction et de coinvention entre gestes et contextes, entre
perceptions, pensées et affects. (Tradução: Tiago Porteiro)