Representatividade Indígena nos cursos de Licenciatura em Teatro –
Eliana Silva Santos Pataxó e Edimar Srenokra Xerente
Entrevista concedida a Ana Carolina Fialho de Abreu e Juliano Casimiro de Camargo Sampaio
Florianópolis, v.1, n.43, p.1-36, abr. 2022
grande e hoje quando a gente olha para as políticas públicas, eu percebo no Edimar
aquilo que se confirma quando você tem oportunidade, então essa oportunidade
de você entrar na universidade, com todos os desafios, com todos os problemas
que ele enfrentou, e não foram poucos, foram muitos, ele se empoderou, tanto é
que ele volta para a comunidade e nessa comunidade você percebe mudanças,
mudanças no seu entorno, você provoca mudanças. E aí nós tivemos a ideia de
pensar em um projeto, passou por um projeto de doutoramento, agora de pós-
doutoramento também, que é a produção de materiais didáticos, mas não a partir
de uma visão colonizadora, mas sim, a partir de uma visão descolonizadora. E aí,
nós da universidade e o Edimar que é egresso, a gente começa a pensar o seguinte,
que nós podemos apenas ser indutores. Então a gente vai lá, a gente provoca,
começa, digamos assim, a balançar um pouco algumas questões mais
pragmáticas de estrutura mesmo do projeto pedagógico, mas os atores são eles
né, os responsáveis são eles. Então a gente orienta, nós somos muito mais os
facilitadores, e aí as rodas de conversa foram fundamentais. A gente percebe que
os materiais didáticos que os professores e alunos produziram são méritos deles,
não tenho dúvida. Nós começamos a organizar, porque a lógica do tempo e a lógica
do espaço também são diferentes, nós temos uma lógica temporal, uma lógica
espacial, digamos assim, mais capitalista, mais mercantilista, mais pragmática,
mais cartesiana, e quando você vai pra comunidade você tem que dar um clique,
aqui é um outro tempo, é um outro espaço, é uma outra cultura, então isso tem
um movimento também de desconstrução, e eu acho que é um grande ganho pra
gente, eu sempre digo: “eu ganho mais quando eu vou, do que quando eu penso
que eles estão ganhando”. Somos nós que estamos ganhando e nós que estamos
nos modificando. Então, assim, foi uma experiência fantástica, não tenho dúvidas
desse empoderamento do Edimar e a mudança na comunidade é perceptível e a
gente quer continuar junto com eles trabalhando. A professora Adriana está
trabalhando a questão das músicas, a transcrição das partituras. A Adriana está
aqui? Ô Adriana, que coisa boa, estou falando de você, né? Então o trabalho da
Adriana é um trabalho que infelizmente não será feito da forma como nós
pensamos que seria uma pesquisa dentro da comunidade junto com os
professores, estendendo isso para os mitos, para os cantos, enfim, então a gente
tem aí uma trajetória grande. O curso de Teatro tem muito a colaborar, e em