
(Des)Escolarização performativa: rituais escolares e a dança na escola
Jair Mario Gabardo Junior; Thaís Castilho
Florianópolis, v.1, n.43, p.1-34, abr. 2022
gestualidades, verbal e não-verbal, o que a eles é transmitido, sendo eles mesmos
sujeitos transmissores e produtores de cultura. Os rituais extrapolam as suas
significâncias para além dos signos: eles criam o mundo para os atores sociais.
A performance, por sua vez, compreende o corpo como centralidade de
discurso e significação. Reconhece a existência estruturada de acordo com modos
de comportamentos repetidos e socialmente reconhecíveis, possibilitando que
qualquer atividade humana possa ser considerada como performance, ou, ao
menos, que toda atividade seja realizada tendo na ação estados de consciência
sobre si mesma. Carlson sugere que a diferença entre
fazer
e
performar
não está
localizada tão somente no teatro em comparação com a vida real, mas na atitude,
quer dizer, “podemos fazer ações sem pensar mas, quando pensamos sobre elas,
isso introduz uma consciência que lhes dá a qualidade de performance” (Carlson,
2009, p.15).
As ideias de McLaren e Carlson partem de uma ampla gama dos estudos
sobre performance, um eixo teórico que, desde a década de 1970, tem animado a
intersecção de diferentes campos epistêmicos, que se estendem da antropologia,
filosofia, linguagem, sociologia até a arte, suscitando discussões no campo da
educação com base em investigações que tomam o corpo como objeto de
interesse. Este último, investigado por intermédio da atuação dos papéis sociais
expressados nas diferentes posições de sujeito que são aprendidas, reforçadas,
negociadas e transformadas cotidianamente por meio da restauração de condutas
performadas em uma cultura ritualmente teatralizada
(Schechner, 2000).
Deslocar o entendimento tanto de performance quanto de ritual à experiência
em educação tem sido foco de diferentes autores (McLaren, 1991; Pineau, 2010;
Gonçalves, 2020; Pereira, 2010). A partir de Gonçalves (2020, p.189), por exemplo,
entende-se como Educação performativa os modos de aproximação da
performance em “contextos educacionais, o que implica um leque de
Ao que se possa inferir ainda a respeito de cultura ritualmente teatralizada, McLaren (1991) enfatiza a
necessidade de ampliação daquilo que se pode, por meio da performance, chamar de ritual e/ou
teatralidade, permitindo dar a esses termos uma conotação para além daquela vinculada ao contexto
místico/sagrado e/ou a prática teatral in situ. Significa atribuir a essas palavras uma condição nata à
performance humana, como distintas maneiras de (re)organização da vida cotidiana, nos modos de
(r)elaboração das nossas experiências, sobretudo frente àquelas corporalizadas e expressas nas diferentes
posições ocupadas pelo sujeito.