Entre a atriz e a performer: a visibilidade feminina construindo um corpo em arte
Ronaldo Záphas (Francisco dos Santos) ; Isabela Augusto Rosa
Florianópolis, v.2, n.44, p.1-23, set. 2022
E sua parceira Maíra complementa a ideia: “Porque você tem que estar… vivo.
E ‘estar’ é uma condição, né, em cena. [...] De reagir ao que tá acontecendo. Jamais
negar o que tá acontecendo” (Rosa, 2021, p.53). E Bondía completa,
A experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque,
requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos
tempos que correm: requer parar para pensar, parar para olhar, parar
para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais
devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes,
suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender
o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos
e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar
aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-
se tempo e espaço (Bondía, 2002, p.24).
O corpo é o que é e está onde está
Nesta reflexão, nós nos deparamos com diversas questões que se mostraram
muito tênues: definir o que é o corpo, onde a artista está, o que seria corpo
cotidiano e corpo atuante, corpo cênico e performativo. Afinal, não estariam todas
as pessoas performando possibilidades diferentes? Identidades diferentes?
Buscamos olhares diversos. De mulheres e homens, atrizes, atuadoras,
performers – e, mesmo assim, não conseguiríamos abranger toda a multiplicidade
de pessoas, realidades e visões a respeito do tema. Em certo momento,
percebemos que não se tratava de buscar uma definição do que se entende por
teatralidade e performatividade, porém, de ampliar o olhar para essas gradações
possíveis, esses espaços territoriais fronteiriços e borrados. Logo, não é possível
aludir a uma teatralidade e performatividade única, visto que corpos definidos
como “mulher”, dentro da nossa sociedade, também têm suas performatividades
singulares, assim como corpos lésbicos, corpos negros, corpos trans, corpos
gays
.
Como dizer que todas essas questões não influenciam o atuar, tendo em vista que
o corpo que atua é a própria pessoa, com as suas particularidades?
Esse corpo que atua, que está e que é, se faz por trajetórias: memórias, afetos,
dúvidas, lembranças. Um corpo político, o qual está para além da nossa
individualidade. Corpo atriz, pesquisadora, lésbica, mulher que poderia ser um