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Corporeidade e teatro de animação na escola:
esconder ou mostrar
Jailson Araújo Carvalho
Para citar este artigo:
CARVALHO, Jailson Araújo. Corporeidade e teatro de
animação na escola: esconder ou mostrar.
Urdimento
Revista de Estudos em Artes Cênicas, Florianópolis, v. 1 n. 43,
abr. 2022.
DOI: http:/dx.doi.org/10.5965/1414573101432022e0109
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Jailson Araújo Carvalho
Florianópolis, v.1, n.43, p.1-18, abr. 2022
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Corporeidade e teatro de animação na escola: esconder ou mostrar
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Jailson Araújo Carvalho
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Resumo
Um dos maiores desafios encontrados no ensino das artes da cena é o de colocar o
estudante em evidência no momento de compartilhar com os colegas sua criação
cênica, sobretudo, quando o que normalmente é posto em destaque é o seu corpo.
Ao refletir sobre tal aspecto, o presente texto tratou da possibilidade do trabalho
corpóreo com estudantes do Ensino Fundamental com o ponto de partida no Teatro
de Animação reflexão teórica a partir da minha pesquisa de Doutorado em Artes
Cênicas, em andamento, na Universidade de Brasília. Este artigo abordará os
seguintes aspectos: o percurso corpóreo dentro do Teatro de Animação, voltado
para o Ensino Fundamental; o corpo na sombra; a corporificação do boneco com as
mãos e o corpo em cena na animação direta. Como procedimento metodológico,
fez-se uso de análise de artigos, dissertações e teses. Concluiu-se que a
corporeidade no teatro de animação apresenta nuances únicas para a experiência
nas aulas de teatro no Ensino Fundamental.
Palavras-chave
: Corporeidade. Teatro de Animação. Pedagogia do Teatro.
Corporeity and animation theater at school: hide or show
Abstract
One of the biggest challenges encountered in teaching the performing arts is to put
the student in evidence when sharing his scenic creation with colleagues, especially
when the focus is usually the body. When reflecting on this aspect, the present text
dealt with the possibility of the body work with students in Elementary School with
the starting point in the Theater of Animation theoretical reflection based on my
Doctorate in Arts research Scenic, in progress, at the University of Brasília. This article
will address the following aspects: the bodily course within the Animation Theater
aimed at Elementary Schools; the body in the shade; the embodiment of the puppet
with the hands; and, the body in the scene in direct animation. As methodological
procedures analysis of articles, dissertations and theses were used. It was concluded
that the corporeity in the puppet theater presents unique nuances to the experience
in drama classes in elementary school.
Keywords
: Corporeity. Animation Theater. Theater Pedagogy.
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Revisão ortográfica e gramatical do artigo realizada por Mircéa Cândida Ferreira, Mestre em Educação (UnB),
Graduada em Letras Português-Espanhol (UnB). Professora de Língua Portuguesa na Secretaria de Educação
do Distrito Federal. mircea.letras@gmail.com
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Doutorando em Artes Cênicas (UnB). Mestre em Artes (UnB). Graduado em Licenciatura Plena em Artes
Cênicas (FADM) e Bacharelado em Interpretação Teatral (FADM). Especialista em Metodologia do Ensino das
Artes (UNINTER), Gestão Escolar (UnB). Professor de Artes Cênicas na Secretaria de Educação do Distrito
Federal. jailson.carvalho@edu.se.df.gov.br
http://lattes.cnpq.br/6215356946936715 https://orcid.org/0000-0002-0888-0634
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Corporeidad y teatro de animación en la escuela: esconder o
mostrar
Resumen
Uno de los mayores desafíos que enfrenta la enseñanza de las artes de la escena es
poner el estudiante en evidencia al momento de compartir con los colegas su
creación escénica, sobre todo cuando lo que suele destacarse es su cuerpo. Al
reflexionar sobre tal aspecto, el presente texto abordó la posibilidad del trabajo
corpóreo con estudiantes de la Enseñanza Básica con el punto de partida en el
Teatro de Animación - reflexión teórica a partir de mi investigación en curso en el
Doctorado en Artes Escénicas, en proceso, en la Universidad de Brasilia. Este artículo
abordó los aspectos subsecuentes: la trayectoria corpórea dentro del Teatro de
Animación destinado a la Enseñanza Básica; el cuerpo en la sombra; la
corporificación del muñeco con las manos; y el cuerpo en escena en la animación
directa. Como procedimientos metodológicos se ha hecho uso de análisis teórico de
artículos, disertaciones y tesis. Se concluyó que la corporeidad en el teatro de
animación presenta matices únicos para la experiencia en las clases de teatro con
estudiantes de la Enseñanza Básica.
Palabras clave
: Corporeidad. Teatro de Animación. Pedagogía del Teatro.
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Corpos em formação
Imagine uma sala de aula em uma escola pública brasileira, com muitas
cadeiras e mesas ou carteiras (uma espécie de cadeira com um suporte na frente
para escrever), quadro negro e, talvez, em algum canto, armários. Em uma parede,
encontra-se a porta de entrada; e, no topo, as janelas pequenas. À frente, janelas
maiores estão a mais ou menos um metro e meio do chão. Nesse cenário, dentro
de tal espaço, vale a tentativa de visualizar uma aula de teatro com estudantes do
Ensino Fundamental – 6º ao 9º ano.
Tal momento na vida estudantil é aquele em que o corpo está em plena
formação. Sob esse viés, as aulas de teatro poderiam ser experiências incríveis
para o autoconhecimento, uma vez que o teatro, “como um dos componentes do
ensino na escola básica e na universidade, é um processo de educação e formação
humana que acentua o potencial humanista, propulsor da consciência estética,
crítica, ética e solidária” (Gaiger apud Cruvinel; Concilio, 2019, p.43). Logo, o teatro
na escola tenta oportunizar diversas experiências no decorrer dessa formação
corporal.
Dessa forma, tratar da corporeidade para as artes da cena encaminha para o
fato de que “o corpo é a fonte primária para a produção de possíveis e variadas
formas de conhecimento” (Vicente, 2017, p.10), sobretudo, quando o que é
experienciado remete ao autoconhecimento. Sobre a questão, Aschieri (2013) leva-
nos a pensar sobre o corpo um lugar de questionamentos da arte como espaço
de criação e experimentações unidas às sensações e emoções que podem ser
partilhadas entre ator e espectador.
Ao refletir sobre o corpo na escola, em especial, nas aulas de teatro, faz-se
necessário ponderar a respeito deste indivíduo que está em formação e que nem
sempre quer ser visto ou posto em evidência. As aulas de teatro, na Secretaria de
Educação do Distrito Federal, ofertadas por um professor com formação em Artes
Cênicas, podem ter seu início no ano do Ensino Fundamental “pode ter”
porque os professores de Artes têm sua formação em diversas linguagens
artísticas.
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Infelizmente, um estudante pode passar por todos os anos do Ensino
Fundamental sem aulas de teatro. Entretanto, quando o estudante se depara com
o professor de Artes Cênicas, um dos maiores desafios dá-se no momento da
exposição e do compartilhamento da criação cênica quando o corpo é posto em
evidência. Para que essa experiência aconteça com significação, segundo Viana
(2016, p.29), um dos caminhos poderia ser o Teatro de Animação:
Pensar o teatro de animação é de alguma forma, pensar na relação do
ser vivo com o não-vivo, que em cena está na relação do ator com o
objeto que anima. Por mais que se tente evitar as dicotomias corpo e
alma, vida e morte, matéria e espírito, sempre acaba existindo uma
comparação entre os modos de ser objeto, coisa, dos modos de ser vivo,
ser.
Com a animação, o processo corpóreo continua existindo, mas com outro
olhar sobre a exposição visual do corpo do estudante em cena. Nesse sentido, as
linhas que se seguem tratam das reflexões iniciais para a escrita da minha tese de
Doutorado sobre a corporeidade a partir do Teatro de Animação.
Assim, uma das possibilidades da animação é a mudança de foco. Com isso,
o que é evidenciado deixa de ser o próprio ator em si, em prol do objeto animado.
No entanto, isso não exclui a necessidade que o trabalho corpóreo exige do ator,
seja com a animação seja com seu corpo em total visibilidade em cena. Logo, este
texto apresentará os seguintes aspectos: o percurso corpóreo dentro do Teatro de
Animação voltado para o Ensino Fundamental; o corpo na sombra; a corporificação
do boneco com as mãos e o corpo em cena na animação direta.
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Corpo e ato de animar em sala de aula
Figura 1 – Experimento pedagógico com teatro de bonecos, em aula com estudantes do
CEF 101 do Recanto das Emas/DF, novembro de 2021. Foto autoria própria.
As experimentações com o Teatro de Animação na escola podem ser
percebidas como um momento de (re)descoberta de dois corpos, quais sejam: o
corpo do estudante e o corpo do objeto que será animado. A Figura 1 apresenta
uma situação em que os estudantes necessitam animar o boneco – caminho que
tem seu início na energia de seus próprios corpos, que será emanada para dar
ânima
aos objetos. Sobre a questão, Roques (2017, p.5) afirma que o “teatro é corpo
e é justamente que se encontra sua especificidade”. Segundo Piragibe (2018,
p.108), no Teatro de Animação, o corpo em questão pode ser o próprio corpo do
ator ou o corpo que será animado:
O Teatro de Animação oferece corpos a ideias e transforma objetos em
corpos na medida em que confere a eles significado dramatúrgico.
Sempre que adequadamente posto no espaço, tornado presente e
dotado de contexto por meio da animação, o objeto-corpo é capaz de
produzir uma impressão violenta sobre a percepção da plateia, uma vez
que passa a ser mais do que uma representação, mas uma
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corporificação.
Assim, no Ensino Fundamental, o estudante em sala de aula pode se enxergar
como uma parte de um todo, para que os elementos composicionais de cena
sejam apresentados e compartilhados para quem for assistir. Esse corpo é uma
parte cujos caminhos corpóreos estão atrelados à relação que se com o objeto
animado. Nesse sentido, é preciso ter em mente que
entender o corpo como um território possível de criação de topografias
internas e externas, de conexões, desconexões, caminhos, meridianos,
constelações, totalidades, vazios, cicatrizes, acumulações, ossos
quebrados, articulações, centros de força, traumas, fortalezas, dores,
etecetera, pode ser uma estragia fértil no desenvolvimento de
processos de criação (Cunha, 2016, p.230-231).
Tal processo, conforme Cunha (2016), necessita percorrer por um corpo que
se coloca à disposição das artes da cena. Quando pensamos nesse estado de
alerta com o Teatro de Animação, é possível ter em mente que o ato de animar
um objeto ocorrerá no momento da partilha do sensível e do imaginário.
Também vale destacar que essa partilha acontece após um vasto processo
de experimentação com a animação e que, antes da animação propriamente dita,
faz-se necessário todo o treinamento corpóreo para que o
ator/estudante/animador se doe e que, por meio de seu corpo, ocorra a magia, e
a ideia de ânima – vida – seja percebida pela plateia.
A corporeidade na ação de animar um boneco, uma sombra ou um objeto
leva a pensar no que será partilhado. Nesse percurso, o corpo aprende sobre si,
sobre suas potencialidades, sobre seus pontos frágeis. Dessa forma, Perlbart
(2008, p.1) conclui que:
vamos aprendendo a selecionar o que convém com o nosso corpo, o que
não convém, o que com ele se compõe, o que tende a decompô-lo, o
que aumenta sua força de existir, o que a diminui, o que aumenta sua
potência de agir, o que a diminui, e, por conseguinte, o que resulta em
alegria, ou tristeza. Vamos aprendendo a selecionar nossos encontros, e
a compor, é uma grande arte.
No Ensino Fundamental, ao transpor a ideia corpórea para a sala de aula, é
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necessário recordar que o aprendizado sobre o corpo, descrito por Perlbart (2008),
acontece ao mesmo tempo em que o corpo está em processo de formação. E
esse desenvolvimento vem carregado de medos e anseios, sobretudo, quando diz
respeito a momentos de exposição para toda a turma.
Nesse sentido, o Teatro de Animação pode ser um excelente aliado do
estudante, pois a evidência da exposição ocorrerá, em grande parte, no boneco, na
sombra ou no objeto animado. Entretanto, para chegar a esse momento, é
importante levar o estudante à compreensão sobre a importância que seu corpo
terá no processo composicional para a cena com o Teatro de Animação.
É a partir do corpo em formação, em ebulição, em uma mistura de medo
com alegria, que emerge o ato de dar a vida. O estudante necessita compreender
que as técnicas no Teatro de Animação dependem de treinamento corporal do
ator/estudante/animador. Sem esse cuidado prévio, a animação poderá se tornar
mecânica, assim a magia de dar a vida poderá não ser aceita pela plateia.
A consciência corpórea que antecede a animação é necessária para que o
processo de criação cênica suceda com mais fluidez. No Ensino Fundamental, tal
processo em sala de aula requer um tempo maior para que os conceitos sejam
assimilados, ampliando-se, por conseguinte, a sensibilidade criativa do estudante.
Tal ampliação pode ocorrer concomitantemente ao desenvolvimento do sensível
que habita em cada ser humano, resultando em maior consciência de si uma
consciência crítica de suas possibilidades corpóreas –, além de possibilitar a
percepção de suas limitações e de como o corpo se portará em cena.
De fato, para que ocorra a relação corpo-animação, no Ensino Fundamental,
o estudante necessita compreender como seu corpo reagirá diante de um objeto
inanimado; como focar naquilo que for animado seja um boneco, uma sombra
ou um objeto –; como a preparação corpórea ocorrerá via criação cênica e como
pensará na limpeza e na contenção de movimentos, na velocidade destes
movimentos, na respiração de seu próprio corpo e na respiração do que for
animado. Além disso, é preciso ter em mente a energia necessária do existir entre
o corpo do estudante e o objeto animado.
Para que a compreensão do corpo no processo de criação do Teatro de