A cena como campo ampliado: o ambiente e o Viewpoints
Giselly Brasil
Florianópolis, v.1, n.43, p.1-23, abr. 2022
Antes do termo "instalação arte" tornar-se parte do vernáculo da arte
contemporânea, havia o termo "Ambiente", que foi usado por Allan
Kaprow, em 1958, para descrever seus trabalhos multimídia do tamanho
de uma sala. A crítica apropriou-se deste termo para descrever uma série
de trabalhos por duas décadas. Em meados dos anos 1970, o termo
"Ambiente", embora ainda popular, se juntou a outros, incluindo "projeto
de arte" e simplesmente "arte temporária".
Essa "arte temporária" apresenta os trabalhos como processos e não como
objetos acabados em si e confere ao evento da arte condições que se
comprometem com a ativação e inclusão do espectador, seja de modo direto, a
partir de sua presença física, ou na provocação da sua percepção.
A partir dessas considerações, apresentarei essa condição temporária e
transitória a partir do conceito de ambiente que surge nas perspectivas ambientais
de Richard Schechner e Hélio Oiticica. O termo ambiental, que surge nas propostas
de ambos, coincide com uma concepção na qual:
[...] os fenômenos artísticos se apresentam como potencialidade de
relação, como compartilhamento e como surgimento de pontos de
observação múltiplos e dinâmicos. Um evento sem ponto de fuga, sem
um orientador fixo que garanta o reconhecimento de fórmulas e padrões
instituídos” (Brasil, 2016, p.162).
Richard Schechner, na introdução da edição expandida do
livro Environmental
Theater
, informa que o termo Environmental, usado em seus trabalhos, sobretudo
na década de 1970, vem do conceito de Allan Kaprow, que em 1966 escreveu o
livro Assemblages, Environments e Happenings. “A noção de Environmental no
contexto de Kaprow se relaciona com o mundo da pintura e é a partir daí que
Schechner irá colocar tal noção em diálogo com a perspectiva teatral” (Brasil, 2016,
p.163). O autor faz ainda algumas considerações sobre a sua concepção de
ambiental:
Os significados teatrais e ecológico dos ambientes não são antitéticos.
Um ambiente é o que envolve, sustenta, envolve, contém, aninha. Mas ele
é também participativo e ativo, uma concatenação de sistemas vivos. Em
termos de planeta terra, o ambiente é o lugar onde a vida acontece. O
Before the term “Installation art” became part of the vernacular of contemporary art, there was the term
“Environment”, which was used by Allan Kaprow in 1958 to describe his room-size multimedia works. This
term was picked up by critics and used to describe a range of works for two decades. In the mid-1970s, the
term “Environment”, while still popular, was joined by others, including “project art” and simply “temporary
art”. (Tradução nossa)