Dossiê: História do Tempo Presente, patrimônio e memória

Submissões até 01 de janeiro de 2024

Os debates em torno da História do Tempo Presente têm compreendido o presente em sua densa composição de estratos temporais, indo além da mera associação com o imediato e o recente. E, no entrecruzar de gerações, representações e memórias, a História do Tempo Presente tem se debruçado fortemente sobre as lutas sociais que marcaram os tempos vividos; seu estudo convida, assim, a lidar com uma temporalidade aberta, prenhe de possibilidades e projetos, ensaios e promessas, traumas e ressentimentos, demandas por reparação e justiça.

Ao desestabilizar fronteiras temporais, a História do Tempo Presente provoca, muito especialmente, a reflexão sobre passados que não passam – irrevogáveis, inscritos nas vivências e nos cotidianos, em contraponto a percepções de passados mortos, tidos como irreversíveis. Essa perspectiva faz incidir um olhar especialmente crítico sobre políticas de memória e instituições de caráter memorial (arquivos, museus e centros de documentação), bem como sobre variadas formas de monumentalização de sujeitos e acontecimentos. Em paralelo, diversas instituições e iniciativas que compõem o campo do patrimônio cultural têm revisado suas trajetórias e práticas, na tentativa de combater persistências coloniais, excludentes e antidemocráticas. Tornaram-se alvo de crítica os órgãos de preservação e seus critérios de seleção de bens culturais vistos como patrimonializáveis, em prol da superação de vieses elitistas presentes tanto nos procedimentos (quem seleciona e como?) como em seus resultados (o que, efetivamente, é selecionado? Qual a inscrição social dos bens selecionados?). Autenticidade e excepcionalidade deixaram de ser elementos inquestionáveis nas políticas de preservação. Do lado das instituições museológicas, coleções, exposições e a própria concepção de “público” têm sido radicalmente repensadas. O olhar “técnico” foi colocado sob suspeição e a construção dialógica e conjunta tornou-se chave das ações.

Cabe interrogar em que medida os investimentos críticos contemplados pela História do Tempo Presente convergem com os das ondas renovadoras do campo patrimonial. Dessa forma, o dossiê proposto pretende atrair o interesse de profissionais que busquem examinar as interações entre História do Tempo Presente, patrimônio e memória, por meio de discussões de caráter mais marcadamente teórico ou de estudos de caso, envolvendo temas como políticas de memória, usos do passado, experiências traumáticas, exercício de direitos, gestão participativa, grupos sociais subalternizados e formas de patrimonialização.

Organização:

Luís Alegría Licuime  - Universidad de Valparaíso (Chile)

Janice Gonçalves - Universidade do Estado de Santa Catarina (Brasil)