As mulheres sobre as quais não falamos: filantropia e práticas de esquecimento e de memória

Autores/as

DOI:

https://doi.org/10.5965/2175180316412024e0202

Palabras clave:

filantropia, esquecimento, conservadorismo, memória

Resumen

Este artigo propõe uma reflexão a respeito do envolvimento das mulheres de elite e de perfil conservador com organizações caritativo-filantrópicas a partir de dois processos históricos reveladores do caráter pendular entre esquecimento e memória da documentação, de suas biografias, ações e visões de mundo. O artigo discorre, primeiro, sobre o processo histórico da feminilização da benevolência, da caridade e da filantropia em países ocidentais europeus e americanos, com maior visibilidade a partir do século XIX, e as críticas formuladas por liberais e socialistas marxistas à filantropia. Trata da contribuição da historiografia para o esquecimento, mas também para a compreensão da extensão do trabalho voluntário das mulheres, da descoberta e análise de documentação desconhecida, ou pouco explorada, e das diferenças sociais e culturais das mulheres e das práticas benemerentes. A mesma problematização do movimento pendular do esquecimento e da memória está presente na última parte do artigo, sobre os protagonismos de mulheres na caridade e na filantropia no Brasil. Se houve esquecimentos por parte da história do serviço social e da história da assistência, há uma produção vigorosa e consistente da história das mulheres sobre a filantropia a partir dos anos 1990 que problematiza a agência pública, social e política das mulheres, reconhecendo não só padrões de reprodução social e de adequação, mas possibilidades de ampliação da agência assistencial para o envolvimento com políticas sociais, com a defesa dos direitos das mulheres e mesmo do feminismo.

Descargas

Los datos de descargas todavía no están disponibles.

Biografía del autor/a

Ana Paula Vosne Martins, Universidade Federal do Paraná

Tem experiência na área de História, com ênfase em História do Brasil e História Moderna, atuando como pesquisadora e orientando trabalhos sobre os seguintes temas: gênero, cultura e medicina; corpo feminino, história das mulheres; cultura e sociabilidades; políticas públicas materno-infantis; gênero e saúde; escrita de mulheres.

Citas

ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

BESSE, Susan. Modernizando a desigualdade: reestruturação da ideologia de gênero no Brasil. 1914-1940. São Paulo: EDUSP, 1999.

BOXER, Marilyn J. Rethinking the socialist construction and international career of the concept ‘bourgeois feminism’. The American Historical Review, Oxford v. 12, n. 1, p. 131-158, Feb. 2014. Disponível em: http://www.jstor,org/stable/4136009. Acesso em: 20 maio 2014.

CASTEL, Robert. A ordem psiquiátrica: a idade de ouro do alienismo. Rio de Janeiro: Graal, 1978.

DONZELOT, Jacques. A polícia das famílias. Rio de Janeiro: Graal, 1986.

ELLIOTT, Dorice Williams. The Angel out of the house: philanthropy and gender in Nineteenth Century England. Charlottesville: University Press of Virginia, 2002.

ENGELS, Friedrich. A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. São Paulo: Global Editora, 1985.

FERREIRA, Gabriela Nunes; BOTELHO, André (orgs.) Revisão do pensamento conservador: ideias e política no Brasil. São Paulo: Hucitec, 2010.

GORSKY, Martin. Patterns of philanthropy: charity and society in Nineteenth Century Bristol. Woodbridge: Boydell & Brewer, 1999.

HAHNER, June. A mulher brasileira e suas lutas sociais e políticas: 1850-1937. São Paulo, Brasiliense, 1981.

LANDIN, Leilah. Women and philanthropy in Brazil: an overview. In: MCCARTHY, Kathleen D. (org.). Women, philanthropy, and civil society. Bloomington: Indiana University Press, 2001. p. 65-108.

LUXEMBURGO, Rosa. Women’s suffrage and class struggle. Stuttgard: [s. n.], 1912. Disponível em: www.marxists.org/archive/luxemburg/1912/05/12.htm: Acesso em: 1 dez. 2015.

MARTINS, Ana Paula Vosne. Bondade, substantivo feminino: esboço para uma história da benevolência e da feminilização da bondade. História: Questões & Debates, Curitiba, n. 59, p. 143-170, jul./dez. 2013.

MARTINS, Ana Paula Vosne. Faces femininas do conservadorismo: filantropas e feministas brasileiras no começo do século XX. Teresina: Cancioneiro, 2023.

MCCARTHY, Kathleen D. (Ed.). Lady bountiful revisited: women, philanthropy and power. New Brunswick: Rutgers University Press, 1990.

MESTRINER, Maria Luiza. O Estado entre a filantropia e a assistência social. São Paulo: Cortez, 2005.

MEYERS, Diana. Personal autonomy and the paradox of feminine socialization. The Journal of Philosophy, New York v. 84, n. 11, p. 619-628, 2014. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/2026764. Acesso em: 10 jan. 2014.

MOTT, Maria Lucia. Maternalismo, políticas públicas e benemerência no Brasil: 1930-1945 Cadernos Pagu, Campinas, n. 16, p. 199-234, 2001.

MOTT, Maria Lucia; BYINGTON, Maria Elisa Botelho; ALVES, Olga Sofia Fabergé. O gesto que salva. Pérola Byington e a cruzada pró-infância. São Paulo: Grifo Projetos Históricos e Editoriais, 2005.

MOTT, Maria Luica. Assistência à saúde, filantropia e gênero: as sociedades civis na cidade de São Paulo (1893-1929). In: MOTT, Maria Lucia e SANGLARD, Gisele (org.) História da saúde em São Paulo: Instituições e patrimônio arquitetônico (1808-1958) Rio de Janeiro: FIOCRUZ: Manole, 2011. p. 93-132.

MOTHERSOLE, Brenda. Female philanthropy and women novelists of 1840-1870. 1989. Theses (Doctor of Philosophy) – Faculty of Education and Design, Brussel University, Brussel.

% CARIDADE. O Momento, Bicas de Minas, n. 239, 12 out. 1939. Acervo do Arquivo Nacional. Fundo Presidência da República.

ORTNER, Sherry. Making Gender: Toward a Feminist, Minority, Postcolonial, Subaltern, etc., Theory of Practice. In: ORTNER, Sherry B. Making gender: the politics and erotics of culture. Boston: Beacon Press, 1996. p. 1-20.

ORTNER, Sherry. Poder e projetos: reflexões sobre a agência. In: GROSSI, Miriam Pilar; ECKERT, Cornelia; FRY, Peter (orgs.) Reunião Brasileira de Antropologia: conferências e práticas antropológicas. 25ª. Reunião da Associação Brasileira de Antropologia. Blumenau: Editoria Nova Letra, 2007. p. 45-80.

PINCHES, Sylvia. Women as objects and agents of charity in Eighteenth-Century Birmingham. In: SWEET, Rosemary; LANE, Penelope. (eds.). Women and urban life in Eighteenth-Century England ‘On the Town’. Aldershot: Ashgate, 2003. p. 65-85.

PINHEIRO, Maria Esolina. Serviço social: documento histórico. Rio de Janeiro: Centro de Produção da UERJ, 1985a.

PINHEIRO, Maria Esolina. Serviço social; uma interpretação do pioneirismo no Rio de Janeiro: documentário. Rio de Janeiro: Edições UERJ, 1985b.

POLANY, Karl. A grande transformação: as origens da nossa época. Rio de Janeiro: Elsevier, 2000.

PROCHASKA, Frank K. Women and philanthropy in Nineteenth Century England. Oxford: Clarendo, 1980.

RANCIÈRE, Jacques. Sobre a História das Mulheres no século XIX. In: DUBY, George; PERROT, Michelle. As mulheres e a História. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1995. p. 45-55.

SCOTT, Joan W. Gender and the politics of History. New York: Columbia University Press, 1988.

SPOSATI, Aldaiza de Oliveira; BONETTI, Dilsea; YASBEK, Maria Carmelita; FALCÃO, Maria do Carmo B. C. (orgs.). Assistência na trajetória das políticas sociais brasileiras: uma questão em análise. São Paulo: Cortez, 2008.

VICKERY, Amanda (Ed.). Women, privilegie, and power: British politics, 1750 to present. Saint Louis: Washington University, 2001.

Publicado

2024-04-28

Cómo citar

MARTINS, Ana Paula Vosne. As mulheres sobre as quais não falamos: filantropia e práticas de esquecimento e de memória. Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 16, n. 41, p. e0202, 2024. DOI: 10.5965/2175180316412024e0202. Disponível em: https://revistas.udesc.br/index.php/tempo/article/view/2175180316412024e0202. Acesso em: 17 may. 2024.