Sob o mito da violência edulcorada: faces e raízes das hostilidades cometidas na revolta “constitucionalista” de 1932

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5965/2175180313342021e0308

Resumo

Já não é tão restrito o rol de abordagens dedicadas ao levante de 1932 em São Paulo. Surpreendentemente, entretanto, a violência que teve lugar neste conflito permaneceu distante dos holofotes. Mais do que isso. Ela foi suplantada por uma leitura edulcorada da insurreição, que ostenta as imagens da mobilização para a guerra e, simultaneamente, oculta as brutalidades e sofrimentos dos corpos. Este artigo, por conseguinte, valendo-se de perfis de combatentes mortos no confronto e de processos militares abertos para apurar crimes de guerra, problematiza as dimensões da violência física no levante paulista, as suas causas e significados. Dessa análise vem à tona outro lado da revolta: o das agressões brutais e até voluntárias, que, para além das circunstâncias “inevitáveis” da guerra, deitam raízes em conflitos e ódios antigos, arraigados entre brasileiros ao menos desde o começo da república.

Palavras-chave: violência; “Revolução Constitucionalista”; 1932.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

João Paulo Rodrigues, Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)

Professor de história Moderna e Contemporânea do departamento de história e do Programa de Pós-Graduação em história da Universidade Federal de Mato Grosso.

Referências

ANSART, Pierre. História e memória dos ressentimentos. In: BRESCIANI, Maria Stella; NAXARA, Marcia. (Org.). Memória e (Res) Sentimento. Campinas: Unicamp, 2004. p. 15-36.

AUDOIN-ROUZEAU, Stéphane; BECKER, Annette. Violência e consentimento: a “cultura de guerra” do primeiro conflito mundial. In: RIOUX, Jean-Pierre; SIRINELLI, Jean François. Para uma história cultural. Lisboa: Estampa, 1998. p. 237-256.

BEZERRA, Holien Gonçalves. O Jogo do Poder: revolução paulista de 32. 2ª ed. São Paulo: Moderna, 1988.

BIAJONE, Jefferson et al. Cruzes Paulistas: Edição Comemorativa dos 85 anos da Revolução Constitucionalista de 1932. Itapetininga/SP: Gráfica Regional, 2017. 600p.

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 15ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.

BRASIL. Superior Tribunal Militar. Catálogo. Coleção: a atuação da Justiça Militar em tempo de guerra junto aos Destacamentos dos Exércitos de Leste e do Sul na Revolução Paulista de 1932. Brasília: Superior Tribunal Militar, Diretoria de documentação e gestão do conhecimento, 2018.

CAPELATO, Maria Helena. O movimento de 1932: a causa paulista. São Paulo: Brasiliense, 1981.

CARRERI, Marcio Luiz. Marco zero da identidade e da violência: conflitos entre memória e historiografia sobre a guerra de 1932 em São Paulo. Anais do 30º Simpósio Nacional de História da ANPUH - 2019. Disponível em: https://www.snh2019.anpuh.org/resources/anais/8/1564782517_ARQUIVO_MarcoZerodaIdentidadeedaViolencia.pdf Acesso em: 08/06/2021.

CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil. O longo Caminho. 3ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.

CARVALHO, José Murilo de. Forças Armadas e Política no Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005.

CLAUSEWITZ, Carl Von. O propósito e os meios na guerra. In:__. Da guerra. São Paulo: Martins Fontes, 1996. p. 94-106.

DAVIDOFF, Carlos Henrique. Revolução de 1932. In: ABREU, Alzira Alves de et al. (Coord.). Dicionário histórico-biográfico brasileiro: pós-1930. 2ª ed. Rio de Janeiro: FGV, 2001. Disponível em: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/revolucao-de-1932-1 Acesso em 13/09/2020.

DE PAULA, Jeziel. 1932: Imagens Construindo a História. 2ª ed. Campinas: Unicamp, 1999.

DONATO, Hernani. História da Revolução Constitucionalista de 1932. São Paulo: Ibrasa, 2002.

ELIAS, Norbert. Sumário da Sociedade de Corte. In:__. O processo civilizador. Formação do Estado e Civilização (vol.2). Rio de Janeiro: Zahar, 1993. p. 15-22.

ELLIS JUNIOR, Alfredo. A Nossa Guerra. São Paulo: Piratininga, 1933.

FAUSTO, Boris. História do Brasil. 2ª ed. São Paulo: Edusp/FDE, 1995.

FAUSTO, Boris. Pequenos Ensaios de História da República (1889-1945). São Paulo: Cadernos Cebrap, 1972.

FERREIRA, Marieta de Morais; PINTO, Surama Conde Sá. Estado e oligarquias na Primeira República: um balanço das principais tendências historiográficas. Revista Tempo, Rio de Janeiro, v. 23, n. 3, p. 421-442, set./dez. 2017.

FLORINDO, Marcos Tarcisio. A grande repressão de 1932 em São Paulo. Revista Brasileira de História & Ciências Sociais. v. 4, n. 8, p. 291-316, dez. 2012.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 1987.

FREUD, Sigmund. Além do princípio do prazer. Porto Alegre: L&PM, 2018.

GOMES, Ana Suelen Tossige; MATOS, Andityas Soares de Moura Costa. O estado de exceção no Brasil Republicano. Revista Direito e Práxis, Rio de Janeiro, v. 8, n. 3, p. 1760-1787, 2017.

GRINBERG, Keila. Processos criminais: a história nos porões dos arquivos judiciários. In: PINSKY, Carla Bassanezi; LUCA, Tania Regina de (org.). O historiador e suas fontes. São Paulo: Contexto, 2017. p. 119-139.

JOUTARD, Philippe. Reconciliar história e memória? Escritos: Revista da Fundação Casa de Rui Barbosa, Rio de Janeiro, ano 1, nº 1, p.223-235, 2007. Disponível em: http://escritos.rb.gov.br/numero01/FCRB_Escritos_1_9_Philippe_Joutard.pdf Acesso em: 26/03/2020.

LESSA, Andrea. Arqueologia da agressividade humana: a violência sob uma perspectiva paleoepidemiológica. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 11, n. 2, p. 279-96, maio-ago. 2004.

LOVE, Joseph. A República Brasileira: federalismo e regionalismo (1889 – 1937). In: MOTA, Carlos Guilherme (Org). Viagem Incompleta: a experiência brasileira (1500-2000). São Paulo: SENAC, 2000. p. 121-160.

MENDONÇA, Sônia Regina de. Estado e Sociedade: a consolidação da República Oligárquica. In:__. LINHARES, Maria Yeda (Org.). História Geral do Brasil. 9ª ed. Rio de Janeiro: Campus, 2000. p. 316-326.

MOCELLIN, Renato. Federalista: a revolução da degola. São Paulo: Editora do Brasil, 2014.

MONTENEGRO, Benedicto; WEISSOHN, Alberto Aguiar. Cruzes Paulistas: os que tombaram, em 1932, pela glória de servir São Paulo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1936.

MORAES, Francisco Quartim de. 1932: a História Invertida. São Paulo: Anita Garibaldi, 2018.

PATTO, Maria Helena Souza. Estado, ciência e política na Primeira República: a desqualificação dos pobres. Estudos avançados, São Paulo, v. 13, n. 35, p. 167-198, 1999.

RODRIGUES, João Paulo. 1932: pela força da Tradição. São Paulo: Annablume, 2012.

SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. Sobre o autoritarismo brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

SEVCENKO, Nicolau. A Revolta da Vacina: mentes insanas em corpos rebeldes. São Paulo: Scipione, 2003.

SILVA, Hélio. 1932: A Guerra Paulista. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967.

SILVA, Kalina; SILVA, Maciel. Dicionário de Conceitos Históricos. 2ª ed. São Paulo: Contexto, 2009.

SILVA, Zélia Lopes da. A Domesticação dos Trabalhadores nos anos 30. São Paulo: Marco Zero/CNPq, 1990.

VILLA, Marco Antônio. 1932: Imagens de uma Revolução. SP: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2008.

WEBER, Marx. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília: UnB, 1999.

Downloads

Publicado

2021-12-21

Como Citar

RODRIGUES, João Paulo. Sob o mito da violência edulcorada: faces e raízes das hostilidades cometidas na revolta “constitucionalista” de 1932. Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 13, n. 34, p. e0308, 2021. DOI: 10.5965/2175180313342021e0308. Disponível em: https://revistas.udesc.br/index.php/tempo/article/view/2175180313342021e0308. Acesso em: 22 dez. 2024.