Tony Tornado, racismo e construções discursivas de um corpo negro em tempos de ditadura (1970-1972)
DOI:
https://doi.org/10.5965/2175180312312020e0203Resumo
O presente artigo reúne campos de investigação distintos, mas, complementares, ao aproximar história, relações étnico-raciais e estudos da linguagem. Nosso objetivo principal foi discutir o modo como os enunciados produzidos sobre o artista brasileiro, Tony Tornado, contribuem com a produção e reprodução de discursos racistas em nosso país. Para tanto, selecionamos notícias, artigos e reportagens publicados entre os anos 1970 e 1972 em revistas e jornais brasileiros. Nos debruçamos, também, na análise de pareceres da Censura, que evidenciam o “perigo” que Tony Tornado representava à certa estabilidade política e social do governo militar, pois, ao iluminar o problema da discriminação racial, o músico questionava o discurso de democracia racial, tão propalado no Brasil daqueles anos. Em nossa busca pelos efeitos de sentido, elegemos a análise do discurso enquanto referencial teórico e metodológico. Nessa direção, questionamos os enunciados produzidos sobre Tony Tornado e estivemos atentos às estratégias e marcas discursivas presentes nas revistas, nos jornais e nos pareceres da Censura. A análise do corpus nos permitiu identificar a construção de certa cadeia discursiva, e nos levou a compreender que a figura pública de Tony Tornado foi construída, também, com base no racismo.
Palavras-chave: Tony Tornado. Ditadura. Racismo. Mídia impressa. Discurso.
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