“Olhar o mar como anfíbio”: humor e política em Luiz Rettamozo

Autores

  • Everton de Oliveira Moraes Universidade Federal do Paraná

DOI:

https://doi.org/10.5965/2175180308182016185

Resumo

O artista gaúcho Luiz Carlos Rettamozo atuou intensamente na cena cultural curitibana da década de 1970. Da capital paranaense, Rettamozo buscou participar de uma movimentação que ocorria no Brasil naquele momento, isto é, aquela de um conjunto de poetas, músicos e artistas plásticos que Eduardo Viveiros de Castro sintetizou ao chamar de “tropical-concreta”. Tal movimentação foi vivenciada por uma geração que tinha no humor, entendido de forma ampla, como poética e não apenas como atitude cômica, um modo privilegiado de atuação, uma espécie de “arte das artes”, que permitia jogar com os paradoxos, ambiguidades e avessos da sociedade brasileira. O que interessa apontar neste artigo, por meio da análise da temporalidade própria de alguns dos cartuns e experimentações visuais de Rettamozo, é precisamente o modo como o artista buscou investir no humor não apenas como forma de contestação política à ditadura militar, então instalada no país, mas também como modo de desativar os dispositivos de poder postos para funcionar tanto pelo Estado como pelo mercado, que perpassavam a vida cotidiana brasileira, produzindo um clima de “sufoco”.

 

Palavras-chave: Rettamozo; Humor; Tempo; Política.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Everton de Oliveira Moraes, Universidade Federal do Paraná

Doutor em História pela Universidade Federal do Paraná

Referências

AGAMBEN, Giorgio. Infância e história: destruição da experiência e origem da história. Belo Horizonte: Editora UFMG; 2005.

AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo? e outros ensaios. Chapecó: Argos, 2009.

ARAÚJO, Adalice. A arte-jogo de Rettamozo. Gazeta do Povo. Curitiba, 24 mai. 1992.

ARAÚJO, Valdei. A história da historiografia como analítica da historicidade. História da Historiografia, v. 12, p. 34-44, 2012.

DELEUZE, Gilles. Prefácio. In: ALLIEZ, Eric. Tempos Capitais. Relatos da conquista do tempo. São Paulo: Siciliano, 1991.

GOMBRICH, Ernst. O arsenal do Cartunista. In: Meditações sobre um cavalinho de pau e outros ensaios sobre a Teoria da Arte. São Paulo, EDUSP, 1999.

GUMBRECHT, Hans Ulrich. Atmosfera, ambiência, Stimmung: sobre um potencial oculto da literatura. Rio de Janeiro: Contraponto, 2014.

GUMBRECHT, Hans Ulrich. Depois de “Depois de aprender com a história”. In: Aprender com a História? O passado e o futuro de uma questão. NICOLAZZI, Fernando. et. al. (Orgs.) Rio de Janeiro: FGV, 2012.

HUTCHEON, Linda. Uma teoria da paródia: ensinamentos das formas de arte do século XX. Lisboa: Edições 70, 1989.

ISER, Wolfgang. O fictício e o imaginário: perspectivas de uma antropologia literária. Tradução de Johannes Kretschmer. Rio de Janeiro: EdUERH, 1996.

KAMINSKI, Rosane. Imagens de Revistas Curitibanas: análise das contradições na cultura publicitária no contexto dos anos setenta. Dissertação. 213 f. (Mestrado em Tecnologia) Programa de Pós-Graduação em Tecnologia, Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná. Curitiba, 2003.

LEMINSKI, Paulo. Humor: esse duélago. Diário do Paraná. Anexo. Curitiba, 12, jul. 1977a.

LEMINSKI, Paulo. Magia: pensamento marginal. Diário do Paraná. Anexo, Curitiba, 23 abr. 1977b.

MORAES, Everton de Oliveira. "Cortar o tecido da história": condutas e imagens do tempo em Paulo Leminski e Luiz Rettamozo (1975-1980). Tese. 367 f. (Doutorado em História). Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2016.

NODARI, Alexandre. Limitar o limite: modos de subsistência. In: Os mil nomes de Gaia: do Antropoceno a Idade da Terra, 2014.

PELBART, Peter. O Tempo não reconciliado. In: ALLIEZ, Eric. Gilles Deleuze: uma vida filosófica. São Paulo: Editora 34, 2000.

PENNA, João Camillo. Ficção científica (da condição inumana). Manuscrito. Disponível em: https://www.dropbox.com/s/70ix8qy8sccjpq8/Penna%20%20Fic%C3%A7%C3%A3o%20cient%C3%ADfica%20(Da%20condi%C3%A7%C3%A3o%20inumana).pdf?dl=0. Acessado em 24/12/2015.

PIGNATARI, Décio. Informação, linguagem, comunicação. Cultrix: São Paulo, 1980.

RANCIÈRE, Jacques. O espectador emancipado. São Paulo, Martins Fontes, 2012.

RETTAMOZO, Luiz Carlos. A querela do Brasil. Dois. Diário do Paraná. Anexo. 9 jul. 1977a.

RETTAMOZO, Luiz Carlos. ArtShow. Pólo Cultural. 21 set. 1978.

RETTAMOZO, Luiz Carlos. Fechar-abrir-fechar ou “quando o guaraná for Coca-cola”. Diário do Paraná. Anexo. Curitiba, 6 fev. 1977b.

RETTAMOZO, Luiz Carlos. Fique doente, não ficção. Curitiba: Diário do Paraná, 1977c.

RETTAMOZO, Luiz Carlos. Florilégio segundo. Diário do Paraná. Anexo. Curitiba, 27 nov. 1976.

RETTAMOZO, Luiz Carlos. O jugo do bicho ou a declaração de seus direitos. Diário do Paraná. Anexo. Curitiba, 27 jul. 1977d.

RETTAMOZO, Luiz Carlos; PADRELLA, Nelson. A engenharia das emoções vagabundas. Panorama. Curitiba, 2, jul. 1980.

SAER, Juan José. O conceito de ficção. In: Sopro: panfleto político-cultural. Florianópolis: Cultura e Barbárie, n. 87, 2013.

SALIBA, Elias Thomé. Raízes do riso: a representação humorística na história brasileira: da Belle Époque aos primeiros tempos do rádio. São Paulo: Companhia das letras, 2002.

SANTOS, Laymert Garcia dos. Apontamentos sobre o apocalipse. In: O armamentismo e o Brasil: a guerra deles. HERRERA, Amilcar O. et. al. São Paulo: Brasília, 1985.

SUSSEKIND, Flora. Literatura e vida literária. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.

Downloads

Publicado

2016-08-31

Como Citar

MORAES, Everton de Oliveira. “Olhar o mar como anfíbio”: humor e política em Luiz Rettamozo. Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 8, n. 18, p. 185–214, 2016. DOI: 10.5965/2175180308182016185. Disponível em: https://revistas.udesc.br/index.php/tempo/article/view/2175180308182016185. Acesso em: 22 dez. 2024.