Sociabilidade homoerótica e relações identitárias: o caso do jornal o snob (Rio de Janeiro, década de 1960)
DOI:
https://doi.org/10.5965/2175180302022010061Palavras-chave:
sociabilidades, homoerotismo, relações de gênero, imprensaResumo
Este artigo estuda uma rede de sociabilidade homoerótica na cidade do Rio de Janeiro, na década de 1960, pela análise de relatos contidos no jornal doméstico "O Snob" (1963 a 1969), produzido por um dos grupos que formavam essa rede e que circulava entre os seus participantes. Trata-se de uma investigação das construções identitárias que esses personagens realizaram em um espaço de sociabilidade segregado da sociedade maior, mas ao mesmo tempo dialogando com ela. Analisando os assuntos que esses grupos abordaram internamente, tendo como pano de fundo as normas heterocentradas de comportamento vigentes no período, identifiquei experimentos originais em busca de um “corpo homossexual normal”. As mudanças sociossexuais promovidas por esses experimentos refletiram-se nos seus espaços de sociabilidade e nas parcerias sexuais estabelecidas, propiciando o surgimento de novas possibilidades sexuais e/ou afetivas. Assim, tento demonstrar que a forma de integração empreendida pelos grupos em estudo estava diretamente ligada a certa inflexibilidade dos papéis de gênero da época, rigidez que com o tempo foi se distanciando das antigas para construir novas maneiras de atuar. Estudar a trajetória peculiar dos grupos que formavam a rede, associando-a aos movimentos identitários próprios de seu tempo, pode contribuir para discutir a história dos direitos individuais, mais especificamente da luta pela igualdade sexual, e para o debate sobre ocupação de espaços gays.
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