Adoção de Ferramentas Contábeis Gerenciais e Seus
Reflexos na Gestão de uma Clínica Multiprofissional
Felipe Meurer
Graduando em Ciências Contábeis
Universidade Estadual do Centro-Oeste, UNICENTRO, Brasil
feh.meurer@gmail.com
http://lattes.cnpq.br/9087434689432616
https://orcid.org/0009-0005-2030-4479
Stella Maris Lima Altoé
Doutora em Contabilidade
Universidade Estadual do Centro-Oeste, UNICENTRO, Brasil
stella.altoe@unicentro.br
http://lattes.cnpq.br/9540914580170984
https://orcid.org/0000-0001-9252-7835
Disponibilidade: https://doi.org/10.5965/2764747112232023096
Data de Submissão: 05 de maio de 2023
Data de Aprovação: 12 de julho de 2023
Edição: v. 12, n. 23, p. 096-112, dez. 2023
Adoção de Ferramentas Contábeis Gerenciais e seus Reflexos na Gestão de uma Clínica
Multiprofissional
Resumo
Objetivo: Investigar de que forma a utilização das ferramentas contábeis gerenciais
refletem na gestão de uma clínica multiprofissional na cidade de Guarapuava (PR). Método:
Foi aplicado um questionário estruturado em três blocos aos colaboradores dos setores
administrativo, financeiro e contábil. O bloco 1 versava sobre as ferramentas contábeis
gerenciais, o bloco 2 sobre a importância atribuída a essas ferramentas, neste bloco, as
ferramentas foram segregadas em controles operacionais, demonstrações contábeis, métodos
de custeio e outros artefatos gerenciais. No bloco 3 foi realizada uma entrevista
semiestruturada, em que cada colaborador comentou sobre sete proposições relacionadas a sua
percepção acerca das ferramentas e dos reflexos delas na gestão e tomada de decisão.
Resultados: Os resultados indicam que a Contadora e a Controller desempenham um papel
importante na tomada de decisão dentro da clínica multiprofissional. De modo geral, as
ferramentas contábeis gerenciais são utilizadas para visualizar o andamento do negócio e, em
contrapartida, contribuem para a tomada de decisão e gestão empresarial. Observou-se que os
controles operacionais são os mais utilizados e que nem todos os colaboradores entendem as
informações contidas nos relatórios contábeis, tendo em vista que atuam no segmento
administrativo/contábil, porém apresentam formação acadêmica em outra área.
Contribuições: De forma prática, este artigo busca evidenciar que as ferramentas contábeis
gerais são importantes na gestão das organizações, embora nesta pesquisa sua utilização não
seja integral pelos colaboradores. Além disso, ressalta-se a importância de tais ferramentas à
medida que os processos são detalhados e compreendidos de forma analítica. Ainda, dada a
relevância dessas ferramentas, pretende-se com esta pesquisa contribuir para a literatura
conforme novas pesquisas são desenvolvidas, ressaltando e aprofundando essa área de estudo.
Palavras-chave: Contabilidade gerencial. Ferramentas contábeis. Gestão.
Adoption of Managerial Accounting Tools and their Reflections in the Management of a
Multiprofessional Clinic
Abstract
Objective: To investigate how the use of managerial accounting tools reflects in the
management of a Multiprofessional Clinic in the city of Guarapuava PR. Method: A
questionnaire structured in 3 blocks was applied to employees in the Administrative, Financial
and Accounting sectors. Block 1 dealt with managerial accounting tools, block 2 with the
importance attributed to managerial accounting tools, in this block, the tools were segregated
into operational controls, Financial Statements, costing methods and other managerial artifacts.
In block 3, a semi-structured interview was conducted, in which each employee commented on
7 propositions related to their perception of managerial accounting tools and their impact on
management and decision-making. Results: The findings indicate that the Accountant and the
Controller play an important role in decision-making within the Multiprofessional Clinic. In
general, management accounting tools are used to visualize the progress of the business and,
on the other hand, contribute to decision-making and business management. It was observed
that operational controls are the most used in the Clinic and that not all employees understand
all the information contained in accounting reports, considering that they work in the
administrative/accounting segment, but their academic training is in another area.
Contributions: In a practical way, the article seeks to show that general accounting tools are
important in the management of organizations, although in the present research their use is not
integral by the collaborators, the importance of such tools is emphasized as the processes are
detailed and understood analytically. Still, given the relevance of management accounting
tools, this research seeks to contribute to the literature as new research on this topic is
developed, emphasizing and deepening this area of study.
Keywords: Management accounting. Accounting tools. Management.
Adopción de Herramientas de Contabilidad Gerencial y sus Reflejos en la Gestión de
una Clínica Multiprofesional
Resumen
Objetivo: Investigar cómo se refleja el uso de herramientas de contabilidad gerencial
en la gestión de una Clínica Multiprofesional en la ciudad de Guarapuava PR. Método: Se
aplicó un cuestionario estructurado en 3 bloques a empleados de los sectores Administrativo,
Financiero y Contable. El bloque 1 trató sobre las herramientas de contabilidad gerencial, el
bloque 2 sobre la importancia atribuida a las herramientas de contabilidad gerencial, en este
bloque las herramientas fueron segregadas en controles operativos, Estados Financieros,
métodos de costeo y otros artefactos gerenciales. En el bloque 3 se realizó una entrevista
semiestructurada, en la que cada colaborador comentó 7 proposiciones relacionadas con su
percepción de las herramientas de contabilidad gerencial y su impacto en la gestión y toma de
decisiones. Resultados: Los hallazgos indican que el Contador y el Contralor juegan un papel
importante en la toma de decisiones dentro de la Clínica Multiprofesional. Por lo general, las
herramientas de contabilidad de gestión se utilizan para visualizar la marcha del negocio y, por
otro lado, contribuir a la toma de decisiones y la gestión empresarial. Se observó que los
controles operativos son los más utilizados en la Clínica y que no todos los empleados
comprenden todas las informaciones contenidas en los informes contables, considerando que
actúan en el segmento administrativo/contable, pero su formación académica está en otra área.
Aportes: De manera práctica el artículo busca mostrar que las herramientas de contabilidad
general son importantes en la gestión de las organizaciones, aunque en la presente investigación
su uso no es integral por parte de los colaboradores, se enfatiza la importancia de dichas
herramientas a medida que se detallan y comprenden los procesos. analíticamente. Aún así,
dada la relevancia de las herramientas de contabilidad de gestión, esta investigación busca
contribuir a la literatura a medida que se desarrollen nuevas investigaciones sobre este tema,
enfatizando y profundizando esta área de estudio.
Palabra clave: Contabilidad de gestión. Herramientas de contabilidad. Gestión.
Introdução
A gestão financeira das empresas, seja ela de pequeno, médio ou grande porte necessita
de um monitoramento permanente das operações de entradas e saídas, controle de patrimônio
e gestão das atividades (Fernandes & Galvão, 2016). Desse modo, a contabilidade gerencial é
um importante componente que fornece informações aos gestores, ou seja, àqueles que estão
dentro da empresa e são responsáveis pelo controle das operações da organização para a tomada
de decisão (Frezatti et al., 2007). Partindo desse pressuposto, entende-se que a contabilidade
gerencial fornece dados, informações e conhecimento aos gestores na tomada de decisão,
tornando possível elaborar planos e definir metas com mais assertividade para o delineamento
e progresso da entidade (Padoveze, 2010).
Soutes (2006) aponta que com a evolução da contabilidade gerencial, foram
desenvolvidas ferramentas gerenciais que auxiliam o profissional contábil gerencial a exercer
suas atribuições em alguns processos como a identificação, análise e interpretação de dados,
transformando em informações úteis para serem utilizadas nos processos de tomada de decisão.
Essas ferramentas, segundo Marion e Ribeiro (2011), ajudam os agentes internos,
especialmente os gestores, a mensurar os custos de produtos e serviços e tomar decisões para
reduzi-los, melhorar a eficiência das operações, aumentar a produtividade e a produção de bens
e serviços para incentivar novos projetos.
É importante ressaltar que a utilidade dos instrumentos de contabilidade gerencial no
processo decisório faz com que os processos e o desenvolvimento organizacional sejam
simplificados, sistematizando a vida cotidiana das empresas (Beuren et al., 2013). Sobrinho
Neto et al. (2022) analisaram a percepção de micro e pequenos empresários do Rio Grande do
Norte quanto ao propósito desses instrumentos. O uso da análise custo/volume/lucro e ponto
de equilíbrio são as ferramentas contábeis gerenciais utilizadas pela maioria das empresas
investigadas. Hamermüller et al. (2020) estudaram os artefatos de contabilidade gerencial
utilizados pelos gestores dos restaurantes de Fernando de Noronha para a tomada de decisão, a
partir do modelo International Management Accounting Practices 1, os achados sugerem que
o custeio absorção e o orçamento foram as ferramentas tradicionais predominantes, o
benchmarking, Kaizen, teoria das restrições e planejamento estratégico as ferramentas
modernas adotadas.
Dessa forma, averigua-se que por meio da contabilidade gerencial é possível otimizar
o desempenho das entidades, inclusive as pequenas empresas, favorecendo para que as ações
planejadas se concretizem e para que as decisões sejam assertivas (Marcelino et al., 2021).
Assim, a contabilidade gerencial, por meio de suas ferramentas, contribui para que os processos
estratégicos sejam ajustados e para que as organizações se adequem às exigências impostas
pelo mercado (Pessoa et al., 2022).
Diante da constatação de que as ferramentas contábeis gerenciais estão presentes nas
rotinas das entidades, a questão desta investigação é: de que forma a utilização das ferramentas
contábeis gerenciais refletem na gestão de uma clínica multiprofissional? Como objetivo geral,
este estudo pretende investigar como se o uso das ferramentas e como elas refletem na gestão
de uma clínica multiprofissional na cidade de Guarapuava (PR).
As empresas, no ambiente que se encontram, crescem e se desenvolvem, sendo
necessário aumentar seus processos e, consequentemente, seus controles na busca por melhorar
sua competitividade, concorrência e, portanto, satisfazer seus clientes internos e externos, com
prestação de serviço de maior qualidade (Passos, 2010). Dessa forma, o Sistema de Informação
Gerencial (SIG), para Mishima et al. (1996), apresenta-se como um instrumento que subsidia
a tomada de decisão, a partir da utilização de informações para planejar e avaliar as atividades,
de forma flexível e dinâmica, dando suporte e fortalecendo o processo de gerenciamento.
Justifica-se a realização deste estudo, tendo em vista que o pesquisador atua na entidade
investigada e percebe a dificuldade de entendimento dos termos técnicos da contabilidade por
parte dos colaboradores, além disso, destaca-se a oportunidade de estudar uma clínica
multiprofissional. Nessa linha, constata-se que as ferramentas contábeis gerenciais fazem parte
da rotina organizacional das entidades, porém tais ferramentas são utilizadas de forma intuitiva
ou limitada (Hamermüller et al., 2020). Espera-se que este estudo possa contribuir de forma
prática para que a gestão da clínica multiprofissional encontre uma forma de utilizar as
ferramentas gerenciais, de modo que estas contribuam efetivamente para a gestão
organizacional, com o intuito de otimizar o sistema, prevenir erros e automatizar processos.
Referencial teórico
Gestão empresarial
A gestão empresarial pode ser caracterizada como a união das atividades desenvolvidas
pelos encarregados e pela coordenação da empresa, com o objetivo de cumprir a missão e as
metas definidas, além de contribuir para o gerenciamento das atividades ou negócios da
organização, incorporando processos de planejamento, execução e controle dos trabalhos
realizados pela empresa (Padoveze & Bertolucci, 2013).
O planejamento, a execução e o controle são responsáveis por gerir os processos de
negócios dentro das áreas de uma organização, o controle interno deve ser visto como
integrante do processo de gestão, fazendo com que, por meio do monitoramento contínuo, haja
uma maior segurança nas atividades da empresa (Floriano & Lozeckyi, 2008). Taylor (1995),
aponta que é necessário um sistema de controle que possibilite a identificação imediata de
fatores internos e externos que possam interferir nas atividades da empresa para que seja
realizada uma verificação e avaliação dos impactos ocasionados nas operações.
A gestão empresarial está dividida em três aspectos: o operacional, o econômico e o
financeiro (Padoveze, 2012). No aspecto operacional está a qualidade, a quantidade e o
cumprimento dos prazos para utilização dos recursos consumidos e dos produtos e serviços
produzidos. Já o aspecto econômico, evidencia os custos e os estoques, as receitas, o resultado
operacional, o resultado financeiro e o resultado. E o aspecto financeiro está relacionado aos
desembolsos, recebimentos e fluxos de caixa. Os três aspectos formam o fluxo operacional, ou
seja, controle dos estoques, contas a pagar, contas a receber, caixa, patrimônio líquido final e
ativos fixos (Padoveze, 2012).
A forma de gerenciar uma empresa, com o objetivo de atingir um resultado significante
mediante ao aumento da competitividade, necessidade de estratégias e estruturas de negócios,
crescimento dos meios de comunicação que propaga as informações com rapidez e
objetividade, transformando o mercado mais competitivo e acirrado, pode colocar em risco o
desenvolvimento da empresa (Bulgacov, 1999). Em virtude disso, cada vez mais, a
contabilidade gerencial vem ganhando espaço importante dentro das organizações devido ao
aumento da concorrência e diminuição dos recursos disponíveis, pois ela contribui para
mudanças na gestão dos negócios. De antemão, é necessário destacar que as informações são
primordiais aos diretores, pois possibilitam a identificação tanto das conveniências quanto das
ameaças que o cenário econômico e financeiro apresenta às empresas (Portella & Treter, 2011).
Contabilidade gerencial
Pazetto et al. (2019, p. 47) entendem que a contabilidade gerencial “. . . é compreendida
pela pluralidade de conceitos e abarca diferentes perspectivas teóricas, epistemológicas e
metodológicas na investigação de seus fenômenos. A contabilidade gerencial tem como base a
tradução e interpretação dos dados existentes nos relatórios contábeis, facilitando o
entendimento das informações e tornando-as úteis ao administrador, no processo decisório, a
partir do uso de ferramentas gerenciais, que também são denominadas de artefatos (Santos et
al., 2009). O termo artefato, para Frezatti (2006, p. 36), pode ser definido como “. . . uma série
de elementos utilizados nas organizações, tais como ferramentas (relatórios gerenciais),
sistemas (de informação, por exemplo), conceitos (EVA), que possam proporcionar
entendimentos variados”.
As ferramentas da informação contábil gerencial elaboradas para o gestor da
organização, dentro do processo de identificação, mensuração, análise, preparação,
interpretação e comunicação das informações, tem como fundamento atingir os objetivos
organizacionais (Horngren et al., 2004). Além de fornecer informações que ajudam os gestores
nas suas funções, ela identifica e analisa os eventos econômicos e os retornos da organização,
e assegura a sobrevivência da empresa (Atkinson et al., 2008). Com a aplicação das ferramentas
da contabilidade gerencial no processo de tomada de decisão, o cotidiano das empresas torna-
se mais formal, sistemático e eficaz (Beuren et al., 2013).
Padoveze (2007) aponta que mesmo a contabilidade gerencial utilizando de temas de
outras disciplinas, ela se destaca por ser uma área contábil com enfoque no planejamento,
controle e tomada de decisão e pela capacidade de se integrar a um sistema de informação
contábil. De modo geral, a contabilidade gerencial se caracteriza como um ponto de vista
conferido a técnicas e procedimentos contábeis conhecidos e tratados na contabilidade
financeira, de custos, análise financeira e de balanço, entre outras, em sentidos diferentes, em
um grau detalhado ou apresentação diferenciada (Iudícibus, 2006).
Ferramentas contábeis gerenciais
A contabilidade gerencial, por meio do profissional contador, no uso de suas
atribuições, pode adotar um termo genérico para se referir à artefatos, atividades, ferramentas,
filosofias de gestão, instrumentos, métodos de custeio, modelos de gestão, métodos de
avaliação ou sistemas de custeio (Soutes, 2006).
Souza et al. (2020) identificaram o perfil bibliométrico dos artigos sobre artefatos de
controladoria e contabilidade gerencial publicados entre 2009 e 2018 nos periódicos mais
relevantes da área de contabilidade. Os resultados sugerem que os artefatos mais estudados
compreendem o orçamento, custeio por absorção, custeio ABC, custeio variável, preços de
transferência e benchmarking.
Um estudo realizado por Santos et al. (2016) investigou quais são os artefatos e
procedimentos gerenciais utilizados na tomada de decisão em micro e pequenas empresas. De
acordo com os resultados por eles encontrados, os instrumentos mais utilizados na tomada de
decisão são controles operacionais e planejamento tributário, ao passo que os menos utilizados
são as demonstrações contábeis, métodos de custeio e outros instrumentos gerenciais, em
função das empresas não conhecerem ou não utilizarem instrumentos que orientam as
estratégias e ações organizacionais, como o planejamento estratégico e o orçamento.
Lima (2007) apresenta que o planejamento empresarial necessita de objetivos claros e
definidos, ou seja, de forma estruturada, e destaca uma linha de controles gerenciais a serem
seguidos. Para tanto, as ferramentas de controle podem ser divididas da seguinte forma:
controle operacional de gestão, controle de gestão de tomada de decisão e monitoramento, e
avaliação de desempenho. As ferramentas de controle operacional, consideradas por Lima
(2007) são: controle de contas a pagar, controle de contas a receber, controle de estoque e
controle de custos.
Para Souza e Rios (2011), o controle de contas a pagar e receber permite a identificação
dos vencimentos e valores a pagar e a receber e as prioridades de liquidação de títulos. De
antemão, possibilita o conhecimento dos montantes a receber, clientes com valores em atraso,
programação de cobrança, entre outros.
Com relação à gestão de estoques, Oliveira et al. (2000) apontam que o controle e a
administração de estoques significa ter uma rápida rotatividade dele, minimizando seu custo e
mantendo em nível suficiente para suprir a demanda da empresa, além de possibilitar a geração
de valores a receber originados pelas vendas. Sendo assim fica explícita a importância da gestão
dos bens, pois são um investimento significativo da empresa. Os autores complementam que o
controle de custos é uma importante ferramenta para minimizar os problemas como o
descontrole da gestão de custos, dificuldade em precificar os produtos e a falta de conhecimento
sobre a contribuição do lucro total.
Adriano e Silva (2021) investigaram como a contabilidade de custos pode auxiliar na
economicidade dos processos e tomada de decisão. Os autores constataram que “. . . um bom
gerenciamento do sistema de custos e o conhecimento de suas particularidades, proporciona
para gestão segurança nos resultados, controle de todos os recursos da empresa, redução de
custos”. Dessa forma, entende-se que a gestão dos estoques é uma ferramenta contábil gerencial
relevante, tendo em vista que as organizações que dominam esse assunto e o aplicam em
procedimentos corretos precificam e gerenciam seus custos com mais assertividade.
Ao discutir as ferramentas contábeis gerenciais, ressalta-se a importância das
demonstrações contábeis, que segundo o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC 00 (R2))
(2019), pretendem apresentar informações relativas aos ativos, passivos, patrimônio líquido,
receitas e despesas da entidade, de forma útil aos usuários para avaliação de futuros fluxos de
entrada de caixa e na avaliação da gestão de recursos. Essas demonstrações são elaboradas para
um período específico e fornecem as informações que contribuem para o processo decisório.
Como principais demonstrativos, segundo Diniz (2015), podem-se citar o Balanço
Patrimonial (BP), que indica os resultados das atividades em determinando período; a
Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), que apresenta o resultado, ou o sucesso, da
empresa, durante um período; e a Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC), que permite a
visualização das entradas e saídas de caixa a partir das atividades operacionais, de investimento
e de financiamento, dentro de um mesmo período.
Além dos demonstrativos citados, há também a Demonstração dos Lucros ou Prejuízos
Acumulados (DLPA), que tem como objetivo evidenciar a destinação do lucro líquido apurado
no final de cada exercício; a Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL), que
objetiva evidenciar as transformações ocorridas nas contas que compõem o patrimônio líquido
em determinado período; a Demonstração do Valor Adicionado (DVA), que é um relatório que
procura detectar o quanto de riqueza foi gerada por determinada entidade e demonstrar como
ela foi distribuída; e as Notas Explicativas que são, informações extras relacionadas aos dados
contidos nas informações contábeis, contemplando informações adicionais sobre cálculos ou
modificações que são de grande para o esclarecimento de dúvidas sobre alguma das contas das
demonstrações contábeis (Diniz, 2015).
Ainda, destaca-se a importância dos métodos de custeio, que são outras ferramentas
contábeis que podem ser utilizadas pelas organizações, as quais subdividem-se em: custeio por
absorção, em que os elementos de transformação (mão-de-obra direta e indireta, custos diretos
e indiretos, depreciação) são absorvidos pelo estoque. Custeio variável, o qual é apropriado
apenas como custos de fabricação, ou seja, os custos variáveis (Medeiros et al., 2017). Os
demais métodos de custeio são: o custeio ABC e o custeio padrão. O custeio baseado em
atividades, conhecido como ABC (Activity-Based Costing), objetiva a redução das distorções
provocadas pelo rateio arbitrário dos custos indiretos (Martins, 2018). O custeio padrão serve
como base de registro da produção antes da determinação do custo, sendo utilizado para definir
os orçamentos e os preços de venda (Dutra, 2009).
Além das ferramentas apresentadas, existem outras cinco ferramentas de grande
importância: o planejamento estratégico, orçamento, planejamento tributário, retorno sobre
investimento e ponto de equilíbrio. Kuazaqui (2015) aponta que o planejamento estratégico
possibilita a criação de cenários que a empresa deverá seguir para que ela atinja a meta
desejada, identificando e selecionando caminhos que levam a melhores resultados. A entidade
que pretende o aumento do seu resultado, tem no orçamento uma ferramenta de grande
utilidade ao administrador, pois o orçamento permite traçar as metas e estratégias (Santos et
al., 2009). O planejamento tributário determina os procedimentos como forma de economia de
impostos, propondo a avaliação da melhoria da forma de apuração, recolhimento de tributos e
apurações (Crepaldi, 2021). O resultado do cálculo do ponto de equilíbrio apresenta o nível de
atividade operacional quando a receita de vendas se iguala aos custos da soma dos custos fixos
e variáveis (Padoveze, 2012).
Na sequência, apresenta-se os aspectos metodológicos da pesquisa. Ressalta-se que a discussão
central da pesquisa se fundamenta nas ferramentas contábeis gerenciais apresentadas.
Procedimentos metodológicos
Caracterização da pesquisa
Quanto ao seu objetivo, esta pesquisa caracteriza-se como descritiva ao investigar de
que forma a utilização das ferramentas contábeis gerenciais refletem na gestão de uma clínica
multiprofissional na cidade de Guarapuava. Estudos descritivos apresentam as características
de um determinado público (Gil, 2019).
Demonstra uma natureza qualitativa que, segundo Neves (1996), a pesquisa qualitativa
compreende um conjunto de diferentes técnicas interpretativas que visam descrever e
decodificar os componentes de um sistema complexo de significados. Guerra (2014) descreve
que pesquisa qualitativa contempla o estudo do uso e a coleta de materiais empíricosestudo
de casos; experiência pessoal; entrevistas – que descrevem eventos rotineiros e possivelmente
uma problematização na vida dos indivíduos.
Caracteriza-se como um estudo de caso, tendo em vista que investiga um fenômeno
dentro do contexto da vida real por meio de várias fontes de evidências, contendo muito mais
variáveis de interesses do que pontos de dados, beneficiando-se do desenvolvimento prévio de
proposições teóricas para conduzir a coleta e análise de dados (Yin, 2015). O estudo de caso
foi realizado em uma clínica multiprofissional em função da acessibilidade aos dados da
organização. Como o pesquisador é colaborador da clínica multiprofissional e participou da
pesquisa, enquadra-se no método de pesquisa-ação. A pesquisa-ação faz com que os
envolvidos, pesquisadores e pesquisados pensem sobre o que estão realizando de forma
articulada, dentro do processo de mudança (Lodi et al., 2017).
Caracterização da Clínica Multiprofissional
A clínica estudada constitui-se nas atividades de clínica-escola de um centro universitário da
região de Guarapuava, abrangendo atendimentos à comunidade em diversas áreas da saúde e
educação. Nela, são realizados os estágios supervisionados na área de saúde, com forte caráter
humanístico, visando o avanço científico e tecnológico e a consolidação de sua
responsabilidade social no atendimento às necessidades da comunidade local e regional na
promoção da qualidade de vida.
A clínica multiprofissional pretende se constituir em um centro de reabilitação de
excelência, reconhecido pela sociedade, com ótima atuação profissional e postura ética em prol
da promoção da qualidade de vida para a comunidade local e regional. Os atendimentos são
realizados por profissionais graduados ou em fase final de graduação, sendo estes últimos sob
supervisão.
Esta pesquisa foi realizada na coordenação administrativa da clínica multiprofissional,
em parceria com o centro universitário, entidade mantenedora da clínica. Esse setor conta com
o Administrativo; contábil; financeiro e tesouraria; pessoal; tecnologia de informação; e
serviços gerais e suprimentos.
Além da Coordenadora Administrativa, foram entrevistados cinco colaboradores (Controller,
Contadora, Auxiliar de contas a receber, Auxiliar financeiro/contábil responsável pelas baixas
dos eventos bancários, negociações – e o relato do pesquisador, que é colaborador do setor de
contas a pagar na clínica multiprofissional, e atua diretamente no sistema contábil da empresa).
A problemática da pesquisa ocorreu principalmente em virtude da percepção do pesquisador
quanto à dificuldade da coordenação em entender os relatórios contábeis que apresentam
termos técnicos, por isso, procedeu-se à execução deste estudo, com intuito de auxiliar o
processo de tomada de decisão.
Coleta de dados e roteiro de entrevista
As entrevistas foram realizadas nos departamentos administrativo, financeiro e contábil
da clínica multiprofissional, totalizando seis entrevistas. O instrumento de coleta de dados foi
direcionado aos colaboradores que têm conhecimento das informações contábeis, buscando
identificar quais ferramentas são utilizadas dentro da empresa.
O instrumento de coleta de dados que orientou a execução das entrevistas foi adaptado
do estudo de Lima (2007) e Santos et al. (2014), sendo composto por três blocos. O primeiro
bloco verificou quais ferramentas contábeis gerenciais são utilizadas nas atividades
desenvolvidas pelos colaboradores. Em suas respostas os entrevistados poderiam indicar se
utilizam; conhecem, mas não utilizam ou desconhecem aquela ferramenta.
O segundo bloco buscou identificar a importância atribuída às ferramentas contábeis
gerenciais utilizadas dentro das atividades desenvolvidas, para tanto utilizou-se escala Likert
de 5 pontos com as seguintes possibilidades de respostas: (1) nada importante, (2) pouco
importante, (3) indiferente, (4) importante e (5) muito importante. Para Silveira et al. (2010), a
escala Likert é um instrumento utilizado em questionários para pesquisa de opinião, verificando
o nível de concordância com a afirmação.
No segundo bloco as ferramentas contábeis (Lima, 2007; Santos et al., 2014) foram
divididas em: (i) Controles operacionais: controle de caixa, controle de contas a pagar, controle
de contas a receber, controle de estoques e controle de custos e despesas; (ii) Demonstrações
Contábeis: Balancete de verificação, BP e DRE, DMPL ou DLPA, DFC, DVA e Notas
Explicativas; (iii) Métodos de custeio: custeio por absorção, custeio variável, custeio padrão,
custeio ABC e custo; e (iv) outros artefatos gerenciais: planejamento estratégico, orçamento,
planejamento tributário, retorno sobre investimento e ponto de equilíbrio.
no terceiro bloco, foi realizada uma entrevista semiestruturada, em que cada
colaborador comentou sobre sete proposições (Tabela 1).
Tabela 1
Roteiro de entrevista semiestruturada
1. Comente sobre suas principais atividades desenvolvidas na Clínica Multiprofissional.
2. Com relação à tomada de decisões, qual é o seu papel? Quais recursos você utiliza para tomar decisões?
(experiência, ferramentas contábeis gerenciais, intuição, outros).
3. Na sua opinião, as ferramentas contábeis gerenciais contribuem para o alcance dos objetivos da empresa?
(decisões diárias, decisões estratégicas, decisões de financiamento, decisões de investimento, no
acompanhamento dos negócios e atendimento da parte legal, entre outros).
4. As ferramentas contábeis gerenciais são utilizadas como instrumento de apoio à gestão? De que forma?
5. Qual sistema você utiliza na execução de suas atividades na Clínica Multiprofissional? (manual, planilhas,
ERP, outros). Comente.
6. Quais os benefícios obtidos pela utilização das ferramentas contábeis?
7. Você consegue compreender todas as informações contábeis apresentadas nos relatórios?
As entrevistas ocorreram entre os meses de dezembro de 2022 e janeiro de 2023, em
que os entrevistados foram abordados em seus ambientes de trabalho, as entrevistas tiveram de
10 a 40 minutos de duração, pois cada entrevistado levou um certo tempo para responder o
questionário e ao longo do questionário surgiram dúvidas e comentários por parte de alguns
entrevistados.
Análise das evidências e discussões
A seguir, apresentam-se os principais achados desta investigação. As análises serão
realizadas considerando os seguintes blocos: bloco 1 verificar quais ferramentas contábeis
gerenciais são utilizadas nas atividades desenvolvidas pelos colaboradores; bloco 2
identificar a importância atribuída às ferramentas utilizadas dentro das atividades
desenvolvidas e bloco 3 entrevista que retrata a percepção dos colaboradores sobre as
ferramentas e os reflexos delas na gestão e tomada de decisão
Uso das ferramentas contábeis gerenciais
Neste item, são apresentadas as ferramentas contábeis gerenciais utilizadas na clínica
multiprofissional, divididas nos grupos e apresentadas na metodologia. Os colaboradores
responderam de acordo com a sua realidade, dentro da atividade desenvolvida no setor (Tabela
2).
Tabela 2
Ferramentas contábeis gerenciais
Ferramentas Contábeis
Função
Contadora1
Coord. Adm.4
Aux. Financ./
Contábil5
Aux. Conta a
Pagar6
Aux. Conta a
Receber7
Controle de caixa
Utiliza
Utiliza
Não utiliza
Utiliza
Não utiliza
Controle de contas a pagar
Utiliza
Utiliza
Utiliza
Utiliza
Não utiliza
Controle de contas a receber
Utiliza
Utiliza
Utiliza
Utiliza
Utiliza
Controle de estoques
Não utiliza
Não utiliza
Não utiliza
Utiliza
Utiliza
Controle de custos e despesas
Utiliza
Não utiliza
Utiliza
Não utiliza
Não utiliza
Balancete
Utiliza
Não utiliza
Não utiliza
Não utiliza
Desconhece
Balanço Patrimonial
Utiliza
Não utiliza
Não utiliza
Não utiliza
Desconhece
DRE
Utiliza
Utiliza
Não utiliza
Não utiliza
Desconhece
DVA
Não utiliza
Desconhece
Não utiliza
Não utiliza
Desconhece
DFC
Utiliza
Não utiliza
Não utiliza
Não utiliza
Desconhece
DMPL e DLPA
Utiliza
Não utiliza
Não utiliza
Não utiliza
Desconhece
Notas Explicativas
Utiliza
Desconhece
Não utiliza
Não utiliza
Desconhece
Custeio por absorção
Não utiliza
Utiliza
Não utiliza
Utiliza
Não utiliza
Custeio variável
Não utiliza
Utiliza
Não utiliza
Não utiliza
Não utiliza
Custeio padrão
Não utiliza
Não utiliza
Não utiliza
Não utiliza
Não utiliza
Custeio baseado em atividades
Não utiliza
Desconhece
Não utiliza
Utiliza
Não utiliza
Custo meta
Não utiliza
Utiliza
Não utiliza
Utiliza
Não utiliza
Retorno sobre o investimento
Não utiliza
Não utiliza
Não utiliza
Não utiliza
Desconhece
Orçamento
Utiliza
Utiliza
Não utiliza
Utiliza
Não utiliza
Planejamento tributário
Utiliza
Não utiliza
Não utiliza
Não utiliza
Desconhece
Cálculo do ponto de equilíbrio
Não utiliza
Não utiliza
Não utiliza
Não utiliza
Desconhece
Planejamento estratégico
Utiliza
Não utiliza
Não utiliza
Não utiliza
Desconhece
1 Graduada em Ciências Contábeis e Especialista em Gestão Empresarial. 2 Graduada em Ciências Contábeis e Especialista em Contabilidade. 3 Graduada em Psicologia, Especialista em Gestão
Hospitalar, Especialista em Gestão do conhecimento no ensino Superior e Mestre em Promoção da Saúde. 4 Graduada em Administração, Especialista em Administração Financeira e Acadêmica
de Ciências Contábeis. 5 Técnico em Administração e Acadêmico de Ciências Contábeis. 6 Graduada em Tecnologia em Estética e Cosmética.
Dentre as ferramentas analisadas, Tabela 2, pode-se destacar o uso dos controles
operacionais, predominando a utilização do controle de contas a pagar e receber, o que vem de
encontro aos achados de Lima (2007) e de Santos et al. (2016), demonstrando que esses
controles são os mais utilizados pelas micro e pequenas empresas. As evidências de Santos et
al. (2016) indicam que a maioria dos gestores utilizam mais os controles operacionais, enquanto
as demonstrações contábeis não são utilizadas e os principais métodos de custeio são
desconhecidos.
Além disso, constata-se neste estudo que os principais métodos de custeio são pouco
utilizados. De modo que a Contadora apontou que não são utilizados, ao passo que a Controller
relatou que para alguns serviços como: pagamentos de contas e pagamento de salários é
utilizado o método de custeio por absorção, conforme as respostas da Coordenadora
Administrativa e do pesquisador-colaborador do setor de contas a pagar.
As ferramentas classificadas no grupo de outros artefatos, como planejamento
tributário, planejamento estratégico, orçamento, não são utilizadas por todos os entrevistados.
Observou-se que apenas a Contadora faz o uso das três ferramentas para execução de suas
atividades, enquanto a Coordenadora utiliza a ferramenta orçamento e a Controller o
planejamento tributário. Com relação às ferramentas de cálculo do ponto de equilíbrio e retorno
sobre investimento, essas são desconhecidas ou não utilizadas pelos colaboradores e gestores,
embora reconheçam a sua importância, conforme apresentado no bloco 2, corroborando com
os achados do estudo de Santos et al. (2016).
Importância atribuída às ferramentas contábeis gerenciais
O segundo bloco buscou identificar a importância atribuída às ferramentas contábeis
gerenciais utilizadas nas atividades desempenhadas na clínica multiprofissional, classificando
o grau de importância de cada ferramenta contábil gerencial. Pode-se observar que as
ferramentas contábeis, que fazem parte do grupo de controle operacional, são as mais utilizadas
dentro da empresa. Ainda, o controle de caixa, controle de contas a pagar, controle de contas a
receber e o controle de custos e despesas são utilizados pela maioria dos colaboradores, desde
o setor de contas a receber até a controladoria.
O uso de algumas ferramentas varia de acordo com a função que o colaborador exerce,
assim como o grau de importância atribuída a determinado item. Constata-se que nem todos os
colaboradores possuem formação na área administrativa, financeira ou contábil, portanto,
algumas ferramentas não são consideradas importantes, tendo em vista que, no caso da
entrevistada 6, que tinha formação em um curso superior de tecnologia na área da saúde e
trabalha no setor de contas a receber, considerava importante apenas as ferramentas que ela
usava. Observou-se durante a entrevista uma certa dificuldade de alguns colaboradores para
entender o que era cada um dos itens presentes no instrumento de pesquisa, principalmente a
colaboradora do setor de contas a receber e a Coordenadora Administrativa, as quais não
apresentam formação na área administrativa ou financeira. Com relação às demonstrações
contábeis, apenas a Contadora e a Controller fazem uso das ferramentas desse grupo. Assim,
observou-se que na clínica multiprofissional são utilizados balancetes, BP, DRE, DFC, DMPL,
DLPA e as Notas Explicativas.
Constatou-se, junto a Controller, que o método de custeio utilizado é o custeio por
absorção, entretanto, a contabilidade não utiliza esse método. Tal achado deve-se ao fato do
sistema utilizado pelo setor de contas a pagar ser diferente do sistema da contabilidade, alguns
lançamentos como o de contas a pagar e a receber é feito no sistema acadêmico, o qual é
utilizado pela clínica multiprofissional para que seja realizada a conciliação bancária para
fechamento mensal. Após os lançamentos no sistema SWA JACAD, é feito um relatório e é
13
repassado para o Auxiliar Contábil fazer os lançamentos em outro sistema, o Teorema Sistemas,
o que dificulta a organização.
Os demais artefatos são o planejamento estratégico, orçamento e planejamento
tributário, porém não são utilizados como instrumento de tomada de decisão. Uma das
entrevistadas disse ainda que alguns desses artefatos precisam ser atualizados, pois apresentam
dados já defasados.
Percepção sobre as ferramentas contábeis gerenciais e os reflexos na gestão e tomada de
decisão
No terceiro bloco, buscou-se observar a perspectiva de cada entrevistado, com relação
ao seu papel na tomada de decisão, atrelado a sua função dentro da clínica multiprofissional,
fazendo relação com a contribuição que as ferramentas gerenciais proporcionam para alcançar
os objetivos da empresa, refletindo de que forma as ferramentas são utilizadas no processo de
tomada de decisão.
A Contadora e a Controller, quando questionadas sobre o seu papel na tomada de
decisão, ambas relataram que elaboram relatórios contábeis para que a direção possa utilizá-
los como ferramenta, além disso, salientaram apresentam um papel relevante para tomada de
decisões dentro da clínica multiprofissional. De antemão, a Coordenadora Administrativa toma
as decisões de execução do dia a dia, com auxílio das informações para ela repassadas. As
demais funções alimentam o sistema da empresa para que seja possível a elaboração dos
relatórios emitidos pela contabilidade e controladoria.
Com relação ao uso das ferramentas como instrumento de apoio à tomada de decisão,
os entrevistados, de modo geral, apontaram que elas são utilizadas para visualizar o andamento
do negócio e em contrapartida contribuem para a tomada de decisões e uma boa gestão
empresarial. Entretanto, a colaboradora do departamento de controladoria comentou que as
ferramentas são pouco utilizadas para as tomadas de decisões diárias.
Para execução das atividades, todos indicaram que fazem uso de planilhas e do sistema
Enterprise Resource Planning (ERP), ou seja, um sistema integrado de gestão empresarial.
Como a instituição é vinculada a um centro universitário, são utilizados dois sistemas, o
acadêmico, em que os setores de contas a pagar e a receber fazem os lançamentos das entradas
e saídas e um software de gestão financeira, fiscal, contábil e pessoal, utilizado pelo setor
contábil.
Os benefícios da utilização das ferramentas contábeis, de acordo com a Contadora, é a
“Agilidade e otimização no processo de registro das informações, consistência nas elaborações
dos relatórios e demonstrativos, redução de custos com pessoal e burocracia.” Para a
Coordenadora Administrativa, “todos possíveis para visualização clara do andamento da saúde
do negócio”. A Controller apontou que o sistema da empresa precisa de melhorias para que os
relatórios possam ser extraídos de uma forma mais simples, pois quando eles são gerados
arquivos dos relatórios, eles o se apresentam da mesma forma que aparece na tela do
computador.
Nem todos os entrevistados conseguem compreender as informações contidas nos
relatórios, uma vez que alguns não têm formação na área. A Coordenadora Administrativa
relatou que ainda está aprendendo a parte de gestão financeira. Assim, por intermédio das
evidências extraídas das entrevistas, observou-se que as funções de Contadora e Controller
possuem grande importância dentro da empresa para a tomada de decisão devido ao seu
conhecimento técnico.
14
Considerações Finais
Este estudo investigou de que forma a utilização das ferramentas contábeis gerenciais
refletem na gestão de uma clínica multiprofissional na cidade de Guarapuava, tendo como base
alguns elementos encontrados nas pesquisas de Santos et al. (2016) e Soutes (2006). Para a
coleta dos dados foi aplicado um questionário direcionado aos colaboradores dos
departamentos administrativo, financeiro e contábil e, em seguida, realizada uma entrevista
semiestruturada com esses colaboradores.
As ferramentas analisadas foram subdivididas em três blocos: bloco 1 – verificar quais
ferramentas contábeis gerenciais são utilizadas nas atividades desenvolvidas pelo colaborador;
bloco 2 identificar a importância atribuída às ferramentas contábeis gerenciais utilizadas
dentro das atividades desenvolvidas e bloco 3 entrevista. Observou-se por meio das
entrevistas que a maioria das funções fazem uso de ferramentas contábeis, principalmente dos
controles operacionais, seja para alimentar o sistema, seja para extrair informação do sistema
para gerar relatórios ou analisar os relatórios para tomada de decisão. Evidencia-se que os
relatórios e as informações pertinentes à contabilidade são registrados em sistemas ERP e em
planilhas.
Após a realização das análises, pode-se verificar quais as ferramentas utilizadas na
gestão e quais são aquelas que influenciam na tomada de decisão, com isso, constatou-se que
apesar de terem sua importância reconhecida, nem todas as ferramentas são utilizadas, como é
o caso dos métodos de custeio e as ferramentas mencionadas no grupo de outros artefatos.
Observa-se que a Coordenadora Administrativa, que possui a responsabilidade de fazer
a gestão da clínica, não apresenta a formação na área administrativa, financeira ou contábil e
tem muita dificuldade em interpretar os relatórios contábeis para poder utilizar as ferramentas
de forma correta para que o processo de tomada de decisão seja eficiente e satisfatório.
O pesquisador, com o intuito de contribuir de forma prática com a gestão da clínica,
apresentou a importância do uso das ferramentas contábeis gerenciais e como elas podem
auxiliar as rotinas da entidade. Percebe-se que a ausência de formação na área de negócios é
um dos fatores que mais dificultam o entendimento das ferramentas contábeis gerenciais, sendo
assim, para que a clínica multiprofissional alcance êxito nos negócios é importante que a
gestora busque aprofundar os conhecimentos na área dos negócios. Na perspectiva teórica, a
pesquisa contribui à medida que o estudo foi realizado em uma clínica multiprofissional e os
achados desta investigação podem ser comparados com estudos anteriores realizados em outros
setores econômicos. Sugere-se que novos estudos investiguem outros constructos para
ferramentas contábeis gerenciais, bem como outros setores e profissionais.
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