e-ISSN 1984-7246  

Apresentação do Dossiê

As intelectualidades negras na compreensão do Brasil

 

 

Organizadores do Dossiê

 

Fernanda Oliveira

Departamento de História e Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Brasil.

lattes.cnpq.br/2707940149001288

orcid.org/0000-0001-8198-3552

feolisilva@gmail.com

 

Marília Passos Apoliano Gomes

Departamento de Ciências Sociais e Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Brasil.

lattes.cnpq.br/9090578300570173

orcid.org/0000-0002-2159-8975

mariliapassos@ufpi.edu.br

 

Bruno Ferreira Freire Andrade Lira

Licenciatura em Ciências Sociais da Universidade de Pernambuco (UPE). Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública do Instituto Aggeu Magalhães/FIOCRUZ (PPgSP/IAM/FIOCRUZ), Brasil.

lattes.cnpq.br/6001672724993794

orcid.org/0000-0003-1869-1017

bruno.ffalira@upe.br

 

Em 2023, a Lei 10639/2003 completou 20 anos, trazendo consigo a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e africana na educação básica. Essa norma deu início a um considerável incremento de políticas públicas antirracistas no Brasil, quais sejam: a exigência do ensino de relações étnico-raciais nos planos político-pedagógicos no ensino superior; a política de cotas étnico-raciais, o Estatuto da Igualdade Racial e, recentemente, um pacote de políticas nacionais para a promoção da igualdade racial. Esse conjunto de ações, desde então, tem contribuído pedagogicamente para uma transformação no cerne da sociedade brasileira ao incentivar e realizar processos de letramento racial. Não somente isso, é de se destacar também a visibilização de uma interseccionalidade, ou seja, a compreensão de que a questão racial se encontra interseccionada à desigualdade sexual e de gênero, assim como às desigualdades de classe, produzindo uma tripla discriminação, em especial, à mulher negra de classe baixa (Gonzalez, 2020). Diante disso, é fundamental que, no processo de ações antirracistas, ocorram também o reconhecimento e a valorização da representatividade afrodiaspórica. A retomada de uma ancestralidade e de uma memória negra é fundamental para empoderar a luta antirracista, contribuindo para a visibilização de uma sociedade brasileira plural e diversa.

Nesse sentido, o objetivo deste Dossiê é valorizar as intelectualidades negras brasileiras, em especial nas ciências humanas e sociais, enquanto sujeitos/as produtores/as de conhecimento e de interpretações sobre os nossos vários Brasis. Partindo da pluriversalidade e do reconhecimento de que a realidade social é complexa, buscamos construir um espaço de compartilhamento de saberes oriundos de lutas sociais e de (r)existências desde intelectuais a movimentos e coletivos negros colocados, muitas vezes, em condição de subalternidade. Por essa razão, propomos este local de compreensão sobre o Brasil a partir das intelectualidades negras. Isso é simbolizado no autorretrato de Arthur Timótheo da Costa (1882-1922), um de tantos artistas negros invisibilizados na história, que em sua escrevivência se retratou enquanto sujeito. O tema em questão encontra sua pertinência no significativo aumento do reconhecimento e valorização de uma produção negra enquanto intérpretes da realidade brasileira, seja pela ampliação na circulação desse conhecimento gerado como pelo fortalecimento constante de um movimento de enfrentamento do racismo institucional e estrutural que perpassa nossa sociedade. Assim, um dossiê para visibilizar pesquisas com referências e produções das intelectualidades negras na compreensão do Brasil é uma ótima oportunidade para contribuir no crescimento de espaços plurais e antirracistas, sobretudo quando tais discussões têm alcançado maior repercussão nacional e internacional, como sempre deveria ter sido.

Recebemos uma considerável quantidade de trabalhos acadêmicos, cuja escolha se pautou na máxima diversidade regional, de gênero, racial e acadêmica, sendo consonante a perspectiva plural ensejada. O dossiê, portanto, consegue compartilhar uma variedade de temáticas que se propõe a compreender o Brasil sob o olhar de intelectualidades negras, que vão refletir a partir de diferentes áreas e matrizes teóricas como a interseccionalidade, o feminismo negro estadunidense e brasileiro, o pensamento afrodiaspórico e os mais diversos intelectuais negras/os.

Os trabalhos estão sendo publicados em fluxo contínuo durante o ano de 2024, e, quando da publicação do último artigo integrante do dossiê, vincularemos uma apresentação completa de todas as contribuições.

 

Referências

 

Gonzalez, Lélia A. Por um feminismo afro-latino-americano: ensaios, intervenções e diálogos. Rios, F.; Lima, M. (orgs.) Rio de Janeiro: Zahar, 2020.