e-ISSN 1984-7246  

A educação da classe trabalhadora em Gramsci: contribuições pré-carcerárias em diálogo com o Caderno 12

 

Sonia Maria Rummert *

Universidade Federal Fluminense (UFF)

Niterói, RJ - Brasil

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Danielle do Nascimento Rezera**

Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)

São Bernardo do Campo, SP -- Brasil

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Débora Spotorno Moreira Machado Ferreira***

Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

Rio de Janeiro, RJ - Brasil

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Hyago Marinho da Silva****

Universidade Federal Fluminense (UFF)

Niterói, RJ - Brasil

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A educação da classe trabalhadora em Gramsci: contribuições pré-carcerárias em diálogo com o Caderno 12

 

Resumo

Abordamos, neste trabalho, contribuições de Antonio Gramsci à educação da classe trabalhadora à qual sempre conferiu extrema importância. Destacamos, também, sua profícua produção teórica como expressão da fundamentação materialista histórica, o que é essencial para compreendermos sua intensa atividade intelectual relativa a variados e candentes temas. O ensaio confere especial relevo à educação e, para tanto, recorremos a escritos políticos pré-carcerários, articulando-os às contribuições fundamentais do Caderno 12, elaborado no cárcere. Os textos selecionados evidenciam a imprescindibilidade da educação para a classe trabalhadora, chamando-a a protagonizá-la. Abordamos, ainda, sua forte crítica à perspectiva tendenciosa nessa formação, por parte da classe dominante e seu alerta sobre a importância de uma sólida e ativa preparação cultural e política articulada pelos intelectuais orgânicos dessa classe. As contribuições do filósofo são tratadas sem incidir na dicotomia pré-cárcere/cárcere, mas buscando-se o sentido de seu percurso intelectual acerca da superação da ordem vigente e da instauração da alternativa socialista, a qual, necessariamente, se dá pela luta de classes. Procura-se evidenciar, assim, que sua contribuição à educação da classe trabalhadora sempre a considerou expressão da base material e visou à superação da sociedade de classes. Sublinhamos também a ênfase dada por Gramsci à necessidade de que a educação dos trabalhadores os torne aptos a governar e a controlar os que governam, tanto para vencer a luta de classes, quanto para manter a continuidade dessa vitória no decorrer do processo histórico.

 

Palavras-chave: classe trabalhadora; hegemonia; escola unitária; educação.

 

 

The education of the working class in Gramsci: pre-carcerary contributions in dialog with Prison Notebook 12

 

Abstract

In this paper, we examine Antonio Gramsci's contributions in working-class education, to which he always given extreme importance. We also highlight his prolific theoretical production as an expression of historical materialism, which is essential to understand his intense intellectual activity on a variety of matters. This essay gives special focus on education and, to do so, refers to his pre-prison political writings, linking them to the fundamental contributions of Prison Notebook 12. The selected works highlight the indispensability of education for the working-class and the call, to this class, to be a protagonist in its own education. We also address the author strong criticism of the ruling class biased perspective in the working-class education and his warning about the importance of a solid and active, cultural and political preparation articulated by the organic intellectuals of this class. The philosopher's contributions are discussed without focusing on the pre-prison/prison dichotomy, but in search of his intellectual journeymeaning, regarding the overcoming of the current order and the establishment of the socialist alternative, which necessarily takes place through the class struggle. In this way, we attempt to show that in his contribution to the working-class education he always considered it to be amaterial base expression and aimed to overcome class society. We also underline Gramsci's emphasis on the need for workers' education to make them capable of govern and control those who are governing, both in order to win the class struggle and to keep the continuity of this victory through the historical process.

 

Keywords: working class; hegemony; unitary school; education.

Introdução

Para Marx, as armas da crítica não podem substituir a crítica das armas, uma vez que “a força material tem de ser deposta por força material”. Entretanto, ressaltava que “a teoria também se converte em força material uma vez que se apossa dos homens” (Marx, 1991, p. 32). A valiosa indicação marxiana se materializou permanentemente na atuação de Antonio Gramsci, como militante, jornalista, dirigente partidário, político, dirigente do Partido Comunista Italiano, pelo qual foi representante dos trabalhadores no parlamento italiano, prisioneiro político, pai, esposo e tio. O teórico foi, sempre, um educador na plena dimensão da palavra. Já na prisão, elaborou uma obra que, tomada como referência teórico-metodológica, é fundamental para a compreensão da realidade que se apresenta, sob distintas e interligadas configurações no Modo de Produção Capitalista até a atualidade.

Ao assumir prioritariamente essa forma de militância e atuação política, Gramsci valorizou a formação dos trabalhadores, reconhecendo-a como estratégia essencial para a construção de uma nova concepção de mundo, base da mudança estrutural, tornando-a uma força material capaz de assumir função fundamental na construção de uma nova sociedade. Essa opção, porém, rara na atuação militante, foi no mais das vezes – e ainda o é – incompreendida e, mesmo, desqualificada. Para a crítica a Gramsci, a ênfase na questão da cultura por ele concebida como concepção de mundo, significava desprezo pela base material. Tal leitura limitada e dogmática de sua teoria, tida como culturalista ou revisionista, levou à desqualificação de sua enorme relevância na luta por transformações estruturais que sempre perseguiu e pelas quais lutou.

Desde seus escritos pré-carcerários é sublinhada a importância da força material, da base econômica, tendo Gramsci sempre se debruçado sobre suas repercussões na sociabilidade humana; nas formas de pensar e estar no mundo; nos modos de organização da existência,  nos  processos  de construção  e  manutenção  da hegemonia

__________________________

Contribuições de autoria

* conceituação, curadoria de dados, metodologia, escrita - rascunho original e escrita - análise e edição.

** curadoria de dados, escrita - rascunho original e escrita - análise e edição.

*** escrita - rascunho original e escrita - análise e edição.

**** escrita - rascunho original e escrita - análise e edição.

 

que se tornam seu maior objeto de investigação e atuação. Tal procedimento teórico-prático inspirava-se em Marx, o que fica claro no escrito “O nosso Marx”, datado de 1918 e publicado, sem assinatura, em Il Grido del Popolo.

 

Com Marx, a história continua a ser o domínio das ideias, do espírito, da atividade consciente de indivíduos isolados ou associados. Mas as ideias, o espírito, são substanciadas, perdem sua arbitrariedade, não são mais abstrações fictícias religiosas ou sociológicas. Sua substância está na economia, na atividade prática, nos sistemas e nas relações de produção e troca. A história como um evento é pura atividade prática (econômica e moral). Uma ideia é realizada não na medida em que é logicamente consistente com a verdade pura, a humanidade pura (que existe apenas como um programa), mas na medida em que encontra na realidade econômica sua justificativa, o instrumento para se afirmar. Para saber exatamente quais são os objetivos históricos de um país, de uma sociedade, de um grupo, primeiro é importante saber quais são os sistemas e as relações de produção e troca desse país, dessa sociedade (Gramsci, 1918, tradução própria[1]).

 

Mais adiante, a posição política do intelectual italiano fica clara quando destaca:

 

A classe que detém o instrumento de produção já conhece necessariamente a si própria, tem a consciência, ainda que confusa e fragmentária, de seu poder e de sua missão. Tem objetivos individuais e os realiza através da sua organização, friamente, objetivamente, sem se preocupar se o seu caminho é pavimentado com corpos famintos ou com os cadáveres dos campos de batalha (Gramsci, 1918, tradução própria[2])

 

Ao sublinhar o entrelaçamento permanente entre pensamento e modo de produção, Gramsci também reconhece a importância da base material na construção das concepções de mundo que fundamentam os processos de correlações de forças. É, precisamente, sobre esse processo político-ideológico que o filósofo e militante apresenta ricas reflexões acerca da formação política, intelectual e moral da classe trabalhadora que, vindo a se constituir como um Leonardo da Vinci coletivo, a partir de ampla ação educativa, poderá fazer frente à hegemonia do Modo de Produção Capitalista forjando novas bases culturais e materiais, necessárias à transformação estrutural da realidade com vista à libertação do trabalho do jugo do capital.

Se a formação da classe trabalhadora constitui seu foco de atuação no período pré-carcerário, ao período da prisão corresponderá uma fase profícua de estudos que, pretende, sejam base de compreensão sobre como domina a classe dominante, visando a superar esse processo. Para tanto, entre os vários temas de estudo aos quais se dedica, entrelaça, no Caderno 12, a análise sobre a formação dos intelectuais e suas diferentes inserções histórico-sociais e sobre a educação escolar burguesa, apresentando, também, os fundamentos da escola unitária.

Tendo delineado a tessitura que constitui a complexa intelligentsia de Gramsci, nos dedicamos a debater como os temas dos escritos pré-carcerários se traduzem nos principais conceitos revelados na sua produção carcerária. De acordo com Francioni (2009), Gramsci compila os cadernos entre fevereiro de 1929 e a metade de 1935, período em que, mesmo sob fortes restrições materiais, físicas e todas aquelas direcionadas a um prisioneiro de sua envergadura teórico-política, produziu uma escrita orgânica em sua verve conceitual, de luta política e cultural que já era delineada desde suas primeiras atuações políticas. A compreensão das estruturas que sustentam as concepções de mundo, o mundo do trabalho, as relações entre os homens e sua intelectualidade têm continuidade neste período de encarceramento e nos possibilita identificar a atualidade de seus conceitos e concepções.

De acordo com os limites inerentes a este ensaio resultante de pesquisa bibliográfica, elegemos para análise quatro textos pré-carcerários relativos à formação da classe trabalhadora: Homens ou Máquinas (1916); O privilégio da Ignorância (1917); Analfabetismos (1917) e Neccessità di una preparazione ideologica di massa (1925). Essa seleção, que poderia ser significativamente ampliada, dialoga com conceitos fundamentais apresentados por Gramsci, em particular no Caderno 12 (Gramsci, 2000, p. 13-54): hegemonia, Estado, formação dos intelectuais, educação integral e escola unitária.

O ensaio, além desta Introdução, está subdivido em outras quatro seções: a primeira apresenta algumas considerações acerca do Caderno 12, que será retomado nas demais seções; a segunda, Homens ou máquinas – a defesa de uma escola de novo tipo, aborda, a partir de texto escrito em 1916, as formas de educação ofertadas pelo Estado à classe trabalhadora, questão extremamente atual; em Do privilégio da ignorância à superação do analfabetismo, destaca-se a relevância conferida por Gramsci à formação dos intelectuais da classe trabalhadora e, a quarta seção, aborda a contribuição do intelectual italiano à preparação ideológica de massa. O texto é concluído com breves Considerações finais que reafirmam o objetivo de contribuir para reflexões que visem concorrer para a construção de uma sociedade que se organize sob a égide da emancipação humana (Marx, 1991).

 

Considerações sobre o Caderno 12

O Caderno 12 é dedicado à pesquisa sobre a história dos intelectuais, do que decorre também, sua especial atenção à escola unitária e à educação integral. Segundo Grasmsci, ele daria “origem a uma série de ensaios sobre a ‘história da cultura’ (Kulturgeschichte) e a história da ciência política” (Gramsci, 2001, p. 17). De fato, seus escritos fomentam a pesquisa e o debate contínuos, por exemplo, sobre a história, a cultura filosófica e política, a literatura e a educação.

Nesse Caderno, vemos o empenho em dar subsídios a uma análise da “vontade coletiva” que se manifesta no complexo período histórico que o filósofo italiano vivencia. Denota assim, como toda sua obra, uma originalidade na interpretação marxista pela sua atenção à complexidade e à ligação entre os fenômenos econômicos, sociais, culturais e ético-políticos, questões às quais Gramsci dedicou esforços analíticos desde um programa de pesquisa que se iniciara em seus escritos pré-carcerários e que, na discussão empreendida no Caderno 12, se destacam em dois aspectos: a formação mais elevada e crítica da classe trabalhadora para que possa assumir uma posição de disputa e de poder e os aspectos concretos que limitam ou possibilitam uma educação complexa que vise à emancipação humana (Marx, 1991).

Gramsci busca dar especial atenção à constituição da Itália na economia mundial, ao pós-guerra, ao complexo período dos anos Novecento, com a ascensão do poder econômico estadunidense, ao corporativismo como um instrumento político, ao fortalecimento do fascismo, ao Tratado de Latrão[3] e à consolidação do Estado soviético, entre outros marcos que são compreendidos por Gramsci como movimentos que representam não apenas uma conjuntura, mas um processo histórico em que a atuação dos intelectuais é parte fundamental da tessitura sócio-histórica que os constitui.

Esses aspectos, discutidos à luz de toda a sua obra, se coadunam com a compreensão de que o Caderno 12 não é uma obra isolada, mas uma das expressões de fecundo e amplo processo de amadurecimento de ideias (Semeraro, 2021) acerca de diversos temas estudados em diversas dimensões, por Gramsci, ao longo da vida.

Tal entrelaçamento entre os seus escritos é evidenciado no extenso levantamento realizado por Francioni (2009) sobre os percursos que delinearam os Cadernos. Francioni também destaca que parte substancial da feitura do denso Caderno 12, teria sido realizada entre maio e junho de 1932, o que denota que Gramsci já possuía uma maturação dos temas abordados.

O Caderno 12, “Apontamentos e notas esparsas para um grupo de ensaios sobre a história dos intelectuais”, reafirma, aprofunda e amplia as teses sobre a formação da classe trabalhadora, já constituídas parcialmente ou integralmente e divide-se em três partes, que estabelecem conexões entre o tema dos intelectuais, da escola e da educação. De acordo com Nosella (2010), o Caderno 12 apresenta uma proposta de educação oposta ao projeto burguês: “Trata-se de uma possível proposta educacional do Partido Comunista para a sociedade italiana, isto é, expõe-se nesse texto a política educacional alternativa que seria implementada caso os comunistas conquistassem o Estado” (Nosella, 2010, p. 161). Para Semeraro (2021), esse Caderno constitui uma trama de assuntos conectados que vão ter como base de sustentação e foco os intelectuais orgânicos[4], a escola unitária, a educação integral e o novo princípio educativo.

Constitui, assim, um amplo e árduo trabalho de síntese e contribuição intelectual. Uma tentativa de condensar a compreensão de como a sociedade burguesa mantem a hegemonia e indicar possibilidades de superação desse processo. Gramsci desvela as relações sociais, traz a luta de classes para uma nova perspectiva, compreende o papel da educação escolar (formulando suas próprias soluções) e concentra especial atenção naqueles que, em sua perspectiva, conferem direção à sociedade: os intelectuais orgânicos. Ademais, acendrar como o exercício da hegemonia se constitui um dos grandes legados de Gramsci, que analisou, ou com profundo dinamismo, as características da modernidade e se empenhou na compreensão de temas que são ainda hodiernos, por serem centrais na correlação de forças e na forma de exercícios de domínio e direção da sociedade.

 

Homens ou máquinas – A defesa de uma escola de novo tipo

Na véspera do Natal de 1916, no contexto de intensificação da repressão política, na qual os textos de Gramsci sofriam intensa censura (Cospito, 2015), o jornal socialista Avanti publicou o artigo Homens ou máquinas, texto não assinado, que marca o caráter teórico-metodológico de sua reflexão e teorização, ao dialogar criticamente com os leitores acerca de um debate de opiniões no Congresso, em que as propostas pedagógicas delineadas na Itália estavam sob forte influência das necessidades político-econômicas do modelo capitalista e das forças produtivas em desenvolvimento. Tal reflexão aclarava o movimento de ataque à escola e à escolarização de caráter comum, justamente pela dualidade entre a formação profissional e a formação intelectual e humanista geral.

Em 1916, o mundo europeu sofria as consequências diretas das políticas imperialistas motivadas pela corrida do capital monopolista[5]. No auge da Primeira Guerra Mundial, a Itália era palco de uma intensa disputa por hegemonia que suscitava impetuosos conflitos de ideias e divergentes concepções de organização da vida social. A educação nacional italiana não ficava de fora do embate.

Homens ou máquinas inscrevia-se no debate, então em voga, sobre as formas de educação ofertadas pelo Estado, tratando de questão extremamente atual. Em linhas gerais, havia uma contenda entre aqueles que defendiam um ensino instrumentalizado para a classe trabalhadora, formadora de força de trabalho acrítica, e aqueles que entendiam que a formação do proletariado italiano, longe de ser imediatista, deveria permitir ao homem uma formação geral e humanista (Nosella, 2010).

Nesse contexto, se posiciona Gramsci:

 

O proletariado, que está excluído das escolas de cultura média e superior por causa das atuais condições da sociedade, que determinam certa especialização nos homens – antinatural, já que não baseada na diferença de capacidades e, portanto, destruidora e prejudicial à produção – tem de ingressar nas escolas paralelas: técnicas e profissionais (Gramsci, 2004, p. 74).

 

O intelectual comunista já apresentava a maneira como, genericamente, ocorre o processo de formação educacional das classes sociais na sociedade capitalista, marcada pela inexistência de livre e espontânea escolha, pela classe trabalhadora, de seu percurso educacional.

Tendo em vista que liberdade deve ter como base as condições materiais, não é livre aquele que, por precisar garantir sua sobrevivência no mundo capitalista, realiza uma formação voltada para o mundo do trabalho imediato, cujas opções são escassas e previamente definidas. Em consequência, constitui-se aquilo que podemos caracterizar como dualidade educacional em que, a sociedade dividida em classes cria uma educação igualmente repartida em classes.

Também merece destaque a crítica ao Estado capitalista, presente no texto:

 

Na Itália, a escola continua a ser um organismo estritamente burguês, no pior sentido da palavra. A escola média e superior, que é do Estado, isto é, paga com receitas gerais, e, portanto, também com os impostos diretos pagos pelo proletariado, não pode ser frequentada a não ser pelos jovens filhos da burguesia, que gozam de independência econômica necessária para a tranquilidade dos estudos (Gramsci, 1916, p. 73-74).

 

Gramsci enfatiza que a educação média e superior ofertada pelo Estado italiano e financiada a partir da contribuição de todos, só é acessada pelos “jovens filhos da burguesia” (Gramsci, 1916, p. 74), excluindo-se do processo os filhos da classe trabalhadora. A crítica aponta para o uso indevido do financiamento coletivo para benefício de um grupo social específico; no entanto, não há, por parte do autor, uma exclusão da necessidade de participação efetiva do Estado no processo educacional. Conclui o texto explicitando sua posição sobre a escola para a classe trabalhadora: “O proletariado necessita de uma escola desinteressada. Uma escola em que seja dada ao menino a possibilidade de formar-se, de tornar-se um homem, de adquirir aqueles critérios gerais que servem para o desenvolvimento do caráter” (Gramsci, 1916, p. 75).

E complementa:

 

[...] uma escola de liberdade e de livre iniciativa, não uma escola de escravidão e de orientação mecânica. Também os filhos dos proletários devem possuir diante de si todas as possibilidades, todos os campos livres para poder realizar sua própria individualidade da melhor forma e, por isso, do modo mais produtivo para eles e para a coletividade (Gramsci, 1916, p. 75).

 

Evidencia, assim, a compreensão de que a escola do proletariado deve ser desinteressada, afastada de imediatismos, ou seja, “séria, profunda, universal e coletiva, que interessa a todos os homens” (Nosella, 2010, p. 47).

Opondo-se à estrutura escolar do Estado burguês, que estimula a reprodução da força de trabalho de acordo com os interesses da classe dominante, Gramsci teoriza brevemente sobre uma escola verdadeiramente democrática, que objetiva a formação individual do educando em seu sentido mais amplo. Não se trata de uma educação que resulte em benefícios individualistas, mas que produza condições pessoais de construção coletiva de uma sociedade igualitária. Homens ou Máquinas expõe, assim, três pontos centrais que serão desenvolvidos com complexidade no Caderno 12: a questão da dualidade educacional[6], a teorização sobre uma nova escola e o papel do Estado em todo esse processo. Sobre o primeiro aspecto, comenta Gramsci:

 

A tendência atual é a de abolir qualquer tipo de escola “desinteressada” (não imediatamente interessada) e “formativa” ou de conservar apenas um seu reduzido exemplar, destinado a uma pequena elite de senhores e mulheres que não devem pensar em preparar-se para um futuro profissional, bem como a de difundir cada vez mais escolas profissionais especializadas nas quais o destino do aluno e sua futura atividade são predeterminados (Gramsci, 2001, p. 33).

 

O que o intelectual sardo nos indica é a criação artificial de múltiplas escolas profissionais, cujo interesse é a formação acelerada e fragmentada para um mundo do trabalho cada vez mais alienado. E, ao longo do texto, complementa sua crítica chamando a atenção para algo extremamente importante e que, propagado pela ideologia dominante, afeta diretamente a consciência da classe trabalhadora. “O aspecto mais paradoxal reside em que este novo tipo de escola aparece e é louvado como democrático, quando, na realidade, não só é destinado a perpetuar as diferenças sociais, como ainda a cristalizá-las em formas chinesas” (Gramsci, 2001, p. 49).

A falsa sensação de oportunidades iguais e diversas é o que está sendo exposto por Gramsci mais uma vez. Não há liberdade democrática quando as escolhas giram em torno de opções pré-determinadas para a manutenção do lugar social do sujeito histórico. A solução para esse problema certamente passa pela superação da sociedade cindida em classes. Na vanguarda do processo revolucionário, assumindo papel atuante de teorização e luta política, Gramsci avança no debate e defende uma escola verdadeiramente humanista e formadora: a escola unitária.

Em Homens e Máquinas, nos fala de outra escola, que de fato seja libertadora, criativa e desinteressada. No Caderno 12, encontramos mais uma vez essa escola, agora mais detalhada teoricamente:

 

A crise terá uma solução que, racionalmente, deveria seguir essa linha: escola única inicial de cultural geral, humanista, formativa, que equilibre de modo justo o desenvolvimento da capacidade de trabalhar manualmente (tecnicamente, industrialmente) e o desenvolvimento de capacidades do trabalho intelectual. Deste tipo de escola única, através de repetidas experiências de orientação profissional, passar-se-á a uma das escolas especializadas ou ao trabalho produtivo (Gramsci, 2001, p 33 -34).

 

Um terceiro e último destaque nessa relação estreita entre os dois textos é o papel do Estado na constituição dessa nova escola. A partir da argumentação desenvolvida, podemos compreender que a crítica de Gramsci, em 1916, não se dirigia ingenuamente contra o Estado em si, mas sim contra a forma como esse Estado ofertava a educação escolar que favorecia uma classe em específico.

 

A escola unitária requer que o Estado possa assumir as despesas que hoje estão a cargo da família no que toca a manutenção dos escolares, isto, é, requer que seja completamente transformado o orçamento do ministério da educação nacional, ampliando-o enormemente e tornando-o mais complexo... (Gramsci, 2001, p. 36).

 

Nesse sentido, atento à necessidade primeira da organização estatal, desenvolveu uma perspectiva crítica séria e transformadora sobre a questão da formação. Para o filósofo, através da escola unitária, “a inteira função da educação e formação das novas gerações deixa de ser privada e torna-se pública, pois ela pode abarcar todas as gerações, sem divisões de grupos ou castas” (Gramsci, 2001, p. 36).

Desse modo, teorizou sobre uma escola de fato pública e democrática, cabendo ao Estado sua oferta, pois seria a forma imprescindível de garantir oportunidades iguais de acesso para todos.

 

A escola unitária deveria corresponder ao período representado hoje pelas escolas primárias e médias, reorganizadas não somente no que diz respeito ao método de ensino, mas também no que toca à disposição dos vários graus da carreira escolar. O nível inicial da escola elementar não deveria ultrapassar três-quatro anos... O resto do curso não deveria durar mais de seis anos, de modo que, aos quinze ou dezesseis anos, já deveriam estar concluídos todos os graus da escola unitária (Gramsci, 2001, p. 37).

 

Essa escola teria como função superar aquilo que Gramsci (2001) denominou como a “marca social da escola”, em que “cada grupo social tem um tipo de escola próprio, destinado a perpetuar nestes estratos uma determinada função tradicional, dirigente ou instrumental” (Gramsci, 2001, p. 49).

Significa dizer que o filósofo constituiu um projeto em que, com a sociedade não mais dividida em classes, o fenômeno da dualidade educacional também seria superado. Dessa forma, temos a elaboração de uma nova escola, acompanhando um novo projeto de formação humana, para uma nova sociedade.

 

Do privilégio da ignorância à superação do analfabetismo - elementos para compreender a importância da formação dos intelectuais da classe trabalhadora

O Privilégio da Ignorância (1917), publicado de forma anônima no Grido del Popolo, nos mostra a discussão em continuum do pensamento de Gramsci acerca da educação dos trabalhadores. Nesse texto, o pensador dedica-se a desenvolver uma correlação entre educação e liberdade. Para Gramsci (2004, p. 117), “o problema da educação dos proletários é um problema de liberdade. Os próprios proletários devem resolvê-lo. Os burgueses que pensem em seus problemas, se é que querem pensar”. Nessa passagem, o teórico defende a importância da autorresponsabilização dos trabalhadores por seu processo educativo, convocando-os a assumi-lo segundo suas necessidades e seus interesses.

Imbricado nessa tese de apropriação, pela classe trabalhadora, de sua própria educação está o argumento de Gramsci de que a ignorância não é uma opção para os trabalhadores, ao contrário do que ocorre com os burgueses, que ostentam o privilégio de poderem ser ignorantes, sem maiores consequências sociais. Isso porque a sociedade capitalista se organiza de modo funcionar e se reproduzir mesmo com a ignorância da maioria dos pertencentes à classe dominante.

 

Os burgueses podem até ser ignorantes em sua esmagadora maioria: nem por isso o mundo burguês deixará de seguir seu curso. Ele é estruturado de tal modo que basta que haja uma minoria de intelectuais, de cientistas, de estudiosos, para que os negócios sigam em frente. Também a ignorância é um privilégio da burguesia, assim como o são o doce ócio e a preguiça mental (Gramsci, 2004, p. 116).

 

Nesse sentido a burguesia busca efetivamente manter os trabalhadores ignorantes, restringindo a socialização do conhecimento a apenas parcelas e fragmentos da informação, oferecendo-lhes o que é estritamente necessário àquele estágio de desenvolvimento funcional ao trabalho, visando manter a dominação.

Para ilustrar essa estratégia, o filósofo sardo aponta um dos teóricos da burguesia italiana, Alberto Caroncini[7], ao defender que os grupos de intelectuais dominantes deveriam lutar para que o pão fosse acessível aos camponeses, ou “caipiras”, como os denominava, por acreditar que tal garantia poderia assegurar que esses se afastassem da batalha teórica que envolvia a questão dos impostos sobre o trigo. Todo esse esforço deveria ser feito principalmente para que os “caipiras” não se interessassem pelas questões teóricas, pois, se assim o fizessem, os burgueses poderiam ter problemas que, inclusive, são difíceis de imaginar. Para Alberto Caroncini, segundo Gramsci, o real perigo era que esse interesse pudesse levar os trabalhadores a acreditarem ser capazes de derrubar as diferenças de classe (Gramsci, 2004).

Pela compreensão desse movimento e de suas implicações no complexo arranjo produtivo e político, Gramsci entendia ser urgente, para a classe trabalhadora, que a educação se ampliasse, do mesmo modo como era necessário que o número de intelectuais na sociedade aumentasse, para que todos fossem capazes de dirigir ou de controlar os que dirigiam, como já referido. Em sua perspectiva, alargar cada vez mais esse número de intelectuais, evitaria que, uma vez havendo apenas uma minoria deles, se instaurasse uma ditadura, haja vista o crescimento das ações fascistas, a violência, a censura e os projetos societais que ampliavam o fosso das desigualdades sociais daquele tempo.

Além disso, a ampliação desses quadros de intelectuais aumentaria as possibilidades de escolha de liderança, exercendo forte influência nas disputas por espaços decisórios e diretivos da sociedade. A educação da classe trabalhadora deveria, e deve, acontecer, entre outros motivos, “para que haja garantia de liberdade, para que a escolha recaia sobre os melhores e não necessariamente sobre os mesmos, deve haver um modo de escolher para os cargos públicos dentre o maior número possível de indivíduos” (Gramsci, 2004, p. 117). Logo, ninguém pode ser totalmente desnecessário na sociedade e, por isso, o trabalhador tem o dever de dominar o conhecimento que o domina, para lutar efetivamente pela sua libertação.

Porém, para que isso ocorra, é preciso que os trabalhadores se interessem por sua própria educação, que eles a queiram, e é nesse sentido que esse escrito se articula com o Analfabetismo (1917), no qual afirma que é preciso fazer “[...] nascer de maneira autônoma o sentido de necessidade, da necessidade do alfabeto e da língua” para os trabalhadores (Gramsci, 2020, p. 30).

Isso porque o filósofo, quando trata do alfabetismo, não o relaciona apenas ao fato de saber ler as palavras, formar frases ou escrever. Para ele, a questão abrange a capacidade de compreender o que se lê, ser capaz de produzir um texto, uma argumentação, uma intervenção. Superar o analfabetismo, portanto, implica desenvolver nos trabalhadores a capacidade de conseguir se fazer entender. Para isso, é imprescindível que o ato de aprender tenha sentido e propósito para o próprio trabalhador. Isso porque, ninguém se alfabetiza à força, “a lei é uma imposição: pode impor a frequência escolar, mas não pode obrigar a aprender e, àqueles que aprendem, a não esquecer” (Gramsci, 2020, p. 35).

Se, por um lado, alfabetizar está para além da mera capacidade de ler e escrever, a questão que se coloca está intimamente ligada à riqueza vocabular. Significa não haver alfabetização sem a compreensão da beleza e da necessidade do domínio da escrita e das fontes. Propiciar que as pessoas construam condições reais de se expressarem requer, necessariamente, o aprimoramento de seu vocabulário e, portanto, a complexidade de seu pensamento. Gramsci percebe, com clareza, que se restringindo o vocabulário, se restringe a capacidade de expressão individual e social. Por isso, defende, ainda, que a classe trabalhadora extrapole o domínio do seu dialeto[8] e aprenda a língua matriz, e outras línguas inclusive.

 

A cultura, o alfabeto adquirem assim um propósito [...] o analfabetismo desaparecerá completamente apenas quando o socialismo o fizer desaparecer, pois o socialismo é o único ideal capaz de converter em cidadãos – no melhor e total sentido da palavra – todos os italianos que ainda hoje vivem apenas dos seus pequenos interesses pessoais, homens nascidos apenas para consumir alimentos (Gramsci, 2020, p. 35-36).

 

A conversão de todos os italianos em verdadeiros cidadãos envolvia, portanto, a formação de seus próprios intelectuais. Gramsci dedica boa parte do seu tempo de estudos e das suas reflexões buscando compreender o que são os intelectuais e qual o papel deles na formação de concepções de mundo que, por sua vez, dão direção à sociedade. A permanente construção e manutenção da hegemonia capitalista requer garantir que as ideias dominantes sejam as da classe dominante. Essa difusão de ideias, bem como a garantia de que elas se perpetuem continuamente e produzam consenso e coerção sobre a classe trabalhadora são, também, abordadas no Caderno 12.

Nesse Caderno, Gramsci apresenta riquíssima análise acerca de como dominam os dominantes. A expropriação dos trabalhadores do acesso ao conhecimento socialmente produzido é uma das principais estratégias por ele identificadas, como um projeto político direcionado à conformação das classes subalternizadas.

Logo, a defesa de formação de quadros de intelectuais vinculados aos interesses da classe trabalhadora, expressa a real preocupação de que ela seja verdadeiramente livre e ocupe os espaços de poder e decisão na sociedade, entendendo que apenas assim as bases estruturais podem ser enfrentadas com sucesso.

Segundo Gramsci, cada grupo forma seus próprios intelectuais:

 

[...] todo grupo social, nascendo no terreno originário de uma função essencial no mundo da produção econômica, cria para si, ao mesmo tempo, organicamente, uma ou mais camadas de intelectuais que lhe dão homogeneidade e consciência da própria função, não apenas no campo econômico, mas também no social e político (Gramsci, 2001, p. 15).

 

Faz parte desse processo definir e estabelecer como tais intelectuais ocupam os espaços, inclusive dentro do Estado, para direcionar políticas a favor dos seus interesses. É nesse contexto argumentativo que se reforça na obra do filósofo sardo a importância da escola[9], compreendendo-a, também, como instrumento de formação de intelectuais. Logo, “a escola é o instrumento para elaborar os intelectuais de diversos níveis. A complexidade da função intelectual nos vários Estados pode ser objetivamente medida pela quantidade das escolas especializadas e pela sua hierarquização” (Gramsci, 2001, p. 19).

Assim, entende Gramsci que a escola – formal – apesar de não apenas ela[10], desempenha um papel privilegiado e importante na formação desses intelectuais orgânicos. Por esse motivo, dedica-se o autor a desenvolver a defesa de um tipo específico de escola “desinteressada”, aquela que, segundo entende, seria capaz de formar a todos de forma igualitária, como já vimos.

 

Necessidade de uma preparação ideológica de massa: educar o partido educador

No contexto dos Novecento, vemos a profusão produtiva quanto à questão da educação, atrelando uma vez mais o problema pedagógico ao problema político. Como exemplos, os movimentos do Ordine Nuovo e da Escola por Correspondência, que são delineados para dar sentido a uma formação para a classe trabalhadora que ultrapasse os limites a que estava submetida. Destacamos uma discussão sobre o tema que Gramsci empreende em 1925, em um texto agit-prop para o Partido Comunista Italiano (PCI), e que serviu de introdução ao primeiro curso da escola interna do partido, denominado Neccessità di una preparazione ideologica di massa (Gramsci, 1978), no qual defende a necessidade da formação da classe trabalhadora e do partido, pela iniciativa da Escola por Correspondência[11], que já se mostrava bem-sucedida, no contexto das ações fascistas empreendidas por Mussolini. Essa estratégia daria suporte para elevar o nível político das massas, a luta política e, minimamente, mediar uma organicidade entre Escola, a Sociedade e o Partido. Uma escola do Partido capaz de subsidiar uma intencionalidade transformadora viva no seio do militante, que fortaleça a disputa para um espaço de direção via um novo bloco intelectual, com organicidade e uma cultura de participação efetiva nas ações do partido, nesse sentido, uma qualidade intelectual para a manutenção da luta e sua progressão.

O texto não divulga as iniciativas concretas de Gramsci na formação da consciência crítica do proletariado no momento de contingenciamento das liberdades, explicita tal contexto de cerceamento político e das sociabilidades organizativas e das ações de massa e contribui para a questão desenvolvida com mais acuidade nos Cadernos do Cárcere, em especial no Caderno 12. Nele, ressalta a necessária disputa na formação intelectual e na formação de intelectuais orgânicos à classe operária, visto que, neste texto de 1925, o pensador compreende que, no período de terror fascista, as ações de contraposição deveriam se dar majoritariamente de modo imediatista, radicalizadas para um extremismo que não alcança soluções concretas e são distantes dos marcos de verve marxista que se apagam sem o devido processo formativo da classe trabalhadora.

Ademais, o filósofo intensifica sua preocupação com a formação política e social a que estão sujeitos os italianos diante do cenário fascista e das ações dos reformistas sindicais e do Partido Socialista Italiano que não só deturpavam, mas com vileza se utilizavam das concepções teóricas marxistas para fomentar a democracia burguesa, uma democracia que subsidiava a existência particularista de suas existências ou “funções”. Segundo Gramsci:

 

essa foi a sorte do marxismo na Itália: servir de salsinha [enfeite] para todo tipo de molhos indigestos que os mais imprudentes aventureiros da escrita quiseram colocar à venda. Enrico Ferri, Guglielmo Ferrero, Achille Loria, Paolo Orano, Benito Mussolini... eram marxistas dessa forma. (Gramsci, 1978, p. 121, tradução própria[12]).

 

Para Gramsci (1978), os intelectuais ativos no contexto fascista e reformista buscavam distanciar das massas o elemento consciência. Assim, considerava que a função mais basilar na disputa pelo projeto societário é a capacidade de compreender e chegar a essa consciência:

 

O que é necessário é o elemento da consciência, o elemento ‘ideológico’, ou seja, uma compreensão das condições sob as quais se luta, das relações sociais em que o trabalhador vive, das tendências fundamentais que operam no sistema dessas relações, do processo de desenvolvimento pelo qual a sociedade passa devido à existência de antagonismos irredutíveis em seu seio etc. (Gramsci, 1978, p. 120, tradução própria).[13]

 

Nesse sentido, assevera que não basta empenho em conclamar a classe trabalhadora, “é preciso que o partido intensifique e torne sistemática sua atividade no campo ideológico (Gramsci, 1978. p. 121, tradução própria[14]), como também compreenda a ligação orgânica que seus intelectuais devem possuir com o partido e com a realidade da classe trabalhadora. Essa questão é destacada no Caderno 12, quando Gramsci expande o conceito de intelectuais e examina o papel, a função, a influência do grau de intelectualidade e da atividade intelectual que se dissemina a fim de encontrar presença no campo das ideias e das práticas.

O entendimento do intelectual como organizador da cultura e da direção societária, aquele capaz de elaborar ideias e ações que complexificam as relações de poder e formas de sociabilidade, na relação de subalternidade e liderança, possibilitou-lhe pensar a formação e a integração dos membros na manutenção do partido, questão explicitada em textos anteriores como Il Congreso dei Giovani (1921), sobre o VIII Congreso giovanile di Firenze em 1921, quando manifesta sua preocupação com a formação desses jovens e sua inserção qualitativa no partido. Em 1925, Gramsci indica que “para que o partido viva e esteja em contato com as massas, é necessário que cada membro do partido seja um elemento político ativo, seja um líder” (1978, p. 122, tradução própria[15]). Essa questão é tratada como crucial para a autonomia e capacidade de manutenção da luta diante do recrudescimento das forças antagônicas que se apresentam cada vez mais intensas. Assim, afirma que “a preparação ideológica das massas é, portanto, uma necessidade da luta revolucionária, é uma das condições indispensáveis para a vitória...” (Gramsci, 1978, p. 122, tradução própria)[16].

No Caderno 12, Gramsci (2001) esclarece que a função dos intelectuais é precisamente criar condições favoráveis à expansão da classe que representam, embora deixe claro que apesar de todos os homens serem intelectuais, não necessariamente desempenham funções intelectuais, devendo-se, sim, considerar o papel que desempenham na sociedade, no que tange à concepção de mundo.

No Estado fascista, esse processo torna-se ainda mais explícito com o modelo propagandístico, formativo, a anuência dos intelectuais eclesiásticos e as ações de terror empreendidas então que, para o filósofo sardo, representavam a decomposição da sociedade italiana. É o partido fascista que organiza uma sociedade pela ótica antissocial e da barbárie; organicamente, ele (partido) é ligado à crise do regime capitalista, à guerra imperialista e representa a expressão orgânica da classe proprietária que, em luta pela manutenção de uma elite no controle político e social, se volta contra as necessidades vitais da classe trabalhadora e do movimento de reorganização do Estado italiano; por isso, a forte atenção do fascismo ao embrutecimento educativo e ao controle ideológico.

Gramsci (2001) demonstra ser intrínseca a relação entre os intelectuais e a escola, o que se evidencia, também, no período de ascensão e domínio fascista: a brutalização social e os limites impostos pela economia do trabalho à formação da classe trabalhadora. O empenho fascista exponencia a ampliação da formação social pela desigualdade, questão que delineia como a diferenciação formativa que visa conservar o mundo dirigente para uma pequena elite.

A complexidade manifesta na modernidade, como as formas produtivas e sociais, confere um caráter mais dinâmico à atuação e tipos de intelectuais, além de seus vínculos orgânicos. A vontade coletiva se expressa pela ação permanente e processual entre as massas e os intelectuais que fomentam uma dada hegemonia, que só é possível pelos diferentes tipos intelectuais que atuam na complexa sociedade que se transforma rapidamente. Conforme essa compreensão, o sentido educativo adquire ainda mais relevância num contexto que desvela a genealogia do controle decisório, do domínio das ideias e da difusão de um dado senso comum. No Caderno 12, vemos que Gramsci faz uma elaborada síntese das tendências e tensões históricas em torno da formação dos intelectuais e das suas formas de atuação.

Ao ter o domínio das características e estruturas que formam os processos de conformação e manutenção a uma dada hegemonia, Gramsci delineia que os intelectuais da classe trabalhadora precisam articular-se para que o trabalhador seja capaz de atuar em suas destinações histórico-políticas e possa emancipar-se das determinações sócio-históricas ferrenhamente conservadas pela classe dominante burguesa e por sua estrutura ideológica que é a dinâmica excludente. Assim, Neccessità di una preparazione ideologica di massa, de 1925 (Gramsci, 1978), mostra-se como um dos materiais que já anunciavam a compreensão do autor sobre a relação educativa e a possibilidade de disputa para que a classe trabalhadora possa tornar-se dominante.

Gramsci é assertivo ao afirmar, naquele contexto, que a necessária consciência crítica das massas é uma tarefa do partido educador, um compromisso que permite inclusive a existência do próprio enquanto líder de um movimento capaz de promover transformações profundas. No entanto, enquanto negligenciar a atividade teórica, isto é, a luta na frente ideológica sob o prisma marxista, menos o partido terá sentido e a compreensão do mundo dar-se-á pela ótica da frente inimiga que avança intensamente neste campo.

 

Considerações finais

Ao articular os textos pré-carcerários Homens ou Máquinas (1916), O privilégio da Ignorância (1917), Analfabetismos (1917) e Neccessità di una preparazione ideologica di massa (1925) às categorias conceituais e analíticas delineadas no Caderno 12, como hegemonia, formação dos intelectuais e escola unitária, analisamos as contribuições gramscianas em defesa da educação integral da classe trabalhadora.

Gramsci lutava pela formação de intelectuais orgânicos à classe dos subalternizados e pela construção e manutenção de uma nova hegemonia que apresentasse à sociedade concepções de mundo críticas ao sistema capitalista, bem como proposituras objetivamente efetivas de superação desse modo de produção e das profundas desigualdades socioeconômicas dele originárias.

O filósofo sardo nos legou contribuição teórico-prática de inegável relevância à educação da classe trabalhadora, compreendendo-a como um instrumento de formação crítica e interventiva, capaz de contribuir com a construção de uma sociedade socialista, objeto de sua permanente preocupação, visando à formação intelectual dos trabalhadores orgânicos ao novo projeto socioeconômico. Tal preocupação decorria da clareza quanto ao fato de que, sem acesso crítico ao conhecimento socialmente produzido, seria muito difícil romper e revolucionar as bases estruturais da sociedade, sendo fundamental reafirmar que, desde os escritos pré-carcerários, a importância da força material, da base econômica manifesta-se como elemento estrutural de suas intervenções.

Deve-se também sublinhar seu entendimento de que o processo educativo não se esgota na dimensão formal da escola, embora essa seja o locus privilegiado da formação dos intelectuais (tanto os orgânicos da burguesia, quanto da classe trabalhadora). Gramsci, fundamentado na compreensão da dialética do processo formativo, valoriza sobremaneira o papel fundamental desempenhado por outros aparelhos de hegemonia como, por exemplo, a escola do partido, os comitês de fábrica, a escola para prisioneiros, a escola por correspondência – quando esta se faz necessária –, a educação familiar, a imprensa, a Igreja como aparelhos de hegemonia que também educam os trabalhadores.

Buscamos destacar, nos escritos selecionados, de acordo com os limites deste ensaio, questões que propiciam debater um processo de construção de ideias acerca do empenho na disputa por um novo projeto societário complexo que, na perspectiva de Gramsci, se expressa na emancipação humana (Marx, 1991) da classe trabalhadora. Consideramos que a tradutibilidade de seus escritos, respeitando a historicidade e as particularidades do contexto e sociedade analisados, apresenta elementos de atualidade que permitem uma leitura do real que nos aproxime cada vez mais das suas determinações e sobredeterminações não aparentes.

Esperamos, portanto, parafraseando o próprio Gramsci, que esse ensaio integre o humus fertilizador para os leitores que busquem, no filósofo sardo, contribuições aos seus objetos de estudo e pesquisa visando a uma sociedade regida pela conquista da emancipação humana.

 

Referências

 

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COSPITO, Giuseppe. Egemonia. In: FROSINI, Fabio; LIGUORI, Guido. Le parole di Gramsci, per un lessico dei quaderni del carcere. Roma: Carocci editori, 2004. p. 74-92.

 

DEL ROIO, Marcos. Gramsci e a educação do educador. Cad. Cedes, Campinas, v. 26, n. 70, p. 311-328, set./dez. 2006. Disponível em: http://www.cedes.unicamp.br. Acesso em: 22 out. 2023.

 

FRANCIONI, Gianni. Come lavorava Gramsci. In: GRAMSCI, Antonio. Quaderni del carcere. Edizione anastatica dei manoscritti a cura di Gianni Francioni. Cagliari: Società editrice L’unione sarda, 2009. p. 21-60.

 

GRAMSCI, Antonio. Neccessità di una preparazione ideologica di massa. In: GRAMSCI, Antonio. Scritti politici – Gramsci: le Idee 81. A cura de Paolo Spriano. Roma: Editori Reuniti, 1978. 314 p.

 

GRAMSCI, ANTONIO. Cronache Torinesi (1913 – 1917). Torino: Einaudi, 1980. 936 p.

 

GRAMSCI, Antonio. Caderno 12: apontamentos e notas dispersas para um grupo de ensaios sobre a história dos intelectuais. In: GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere: intelectuais: o princípio educativo: jornalismo. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, 2001. v. 2. p. 7-53.

 

GRAMSCI, Antonio. Homens ou máquinas? In: GRAMSCI. Antonio. Escritos políticos. Edição e tradução de Carlos Nelson Coutinho. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004. p. 73-76.

 

GRAMSCI, Antonio. O privilégio da ignorância. In: GRAMSCI, Antonio. Escritos políticos:  Organização e tradução: Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004. v. 1. p. 49-51.

 

GRAMSCI, Antonio. Cartas do cárcere: antologia. São Paulo: Estaleiro Editora, 2011. p. 91-94.

 

GRAMSCI, Antonio. Odeio os indiferentes: escritos de 1917. São Paulo: Boitempo, 2020. 130 p.

 

GRAMSCI, Antonio. O nosso Marx: 1918. In: Resistenze.org. Torino, 2013. Disponível em: https://www.resistenze.org/sito/ma/di/cg/mdcgba13-008114.htm. Acesso em: 26 set. 2023.

 

LENIN, Vladimir Ilitch. O imperialismo, fase superior do capitalismo. Lisboa-Moscovo: Edições Progresso, 1917. Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/lenin/1916/ imperialismo/index.htm. Acesso em: 22 out. 2023.

 

MARX, K. A questão judaica. 2. ed. São Paulo: Moraes, 1991. 148 p.

 

NOSELLA, Paolo. A escola de Gramsci. São Paulo: Cortez, 2010. 320 p.

 

SEMERARO, Giovanni. Intelectuais, educação e escola: um estudo do caderno 12 de Antonio Gramsci. São Paulo: Expressão Popular, 2021. 239 p.

 



[1] Con Marx la storia continua ad essere dominio delle idee, dello spirito, dell'attività cosciente degli individui singoli od associati. Ma le idee, lo spirito, si sustanziano, perdono la loro arbitrarietà, non sono piú fittizie astrazioni religiose o sociologiche. La sostanza loro è nell'economia, nell'attività pratica, nei sistemi e nei rapporti di produzione e di scambio. La storia come avvenimento è pura attività pratica (economica e morale). Un'idea si realizza non in quanto logicamente coerente alla verità pura, all'umanità pura (che esiste solo come programma, come fine etico generale degli uomini), ma in quanto trova nella realtà economica la sua giustificazione, lo strumento per affermarsi. Per conoscere con esattezza quali sono i fini storici di un paese, di una società, di un aggruppamento importa prima di tutto conoscere quali sono i sistemi e i rapporti di produzione e di scambio di quel paese, di quella società (Gramsci, 1918).

[2] La classe che detiene lo strumento di produzione conosce già necessariamente se stessa, ha la coscienza, sia pur confusa e frammentaria, della sua potenza e della sua missione. Ha dei fini individuali e li realizza attraverso la sua organizzazione, freddamente, obiettivamente, senza preoccuparsi se la sua strada è lastricata di corpi estenuati dalla fame, o dei cadaveri dei campi di battaglia (Gramsci, 1918).

[3] Através do Tratado de Latrão, a Santa Sé, na figura do papa Pio IX, torna-se um Estado independente e soberano, superando o período de perdas durante a Unificação Italiana (a Questão romana), o acosso das tropas fascistas – os camisas-negras e, isso se deu devido à adesão aos interesses destes. Assim, o Estado do Vaticano é criado e passa a erigir-se no sistema internacional como uma potência que anui em conjunto com Benito Mussolini a uma guerra contra o liberalismo e o comunismo. Sob esses pretextos, passa a exercer forte influência no desenvolvimento, manutenção e promoção de regimes totalitários, contra a igreja ortodoxa e quaisquer grupos que ameacem sua hegemonia no campo moral, político e econômico.

[4] Os intelectuais – tema fundamental na obra de Gramsci – possuem entre suas principais características a função de mediar, organizar ou conectar a sociedade civil e a sociedade política, bem como garantir o consenso ou mesmo a coerção (se necessária), para que um dado projeto societário se dinamize. Para Cospito (2004), os intelectuais são parte de grupo social nascido de um lugar essencial no campo da produção econômica e que cria, organicamente, uma leva de intelectuais que dão homogeneidade e reconhecimento à função que têm nesse campo. Os intelectuais são divididos entre tradicionais e orgânicos. Tradicionais, como os eclesiásticos, constituem um grupo que historicamente detém um prestígio, um lugar assentado no imaginário e na mítica do poder, visto serem representantes de uma continuidade histórica não rompida que os valida socialmente, permitindo-lhes influenciar “naturalmente” o senso comum e a realidade em que exercem domínio e influência e se articulam para manutenção de seu “status” e independência relativa aos grupos dominantes. Já os intelectuais orgânicos dialogam e articulam estrutura e superestrutura, sendo a complexidade e dimensão de atuação destes diretamente conectada à sua formação. São orgânicos devido ao seu tipo de vínculo nas relações de produção. Essa organicidade se dá pela referência que articulam e dinamizam na produção educativa e cultural, pois são intrinsicamente atrelados à consciência do grupo a que pertencem, à sua classe ou à representação de classe à qual se vinculam ideologicamente e que admite sua presença e atuação tanto na sociedade civil quanto na sociedade política. Há, nos intelectuais orgânicos, uma categoria denominada intelectuais condensados, que são aqueles não somente vinculados ideologicamente, mas sim originários da classe dominante e que exercem direção e domínio como representante e representado. De todo modo, quaisquer intervenções desses intelectuais têm por objetivo a hegemonia do grupo que representam.

 

[5] O conceito de imperialismo no campo marxista, a partir da teoria de Lênin (1916), é complexo e confere uma abordagem particular sobre a centralização do capital-dinheiro. O avanço dessa centralização constitui o capital financeiro, levando ao processo de exportação de capital que por sua vez fomenta o imperialismo capitalista, do mesmo modo que o desenvolvimento capitalista em regiões estratégicas para a exploração da força de trabalho e novos espaços de consumo e de concepções de mundo. Gramsci, que acompanhava os embates sobre a Segunda Internacional e as consequências da centralização do capital financeiro e avanço imperialista no bojo da sociedade Italiana, tem a compreensão mais alargada sobre esses processos. Aprofunda o estudo no âmbito dessas relações de poder e suas características, estratégias, relações de domínio e direção, entre tantas outras que o levam a formar suas considerações teóricas sobre Estado, Hegemonia, Educação etc.

[6] O fenômeno da dualidade educacional é compreendido a partir da formação dual dentro da sociedade burguesa, com destaque à existência de dois tipos de escola: a geral, de formação humanista/desinteressada para as classes burguesas e a profissional, voltada para a formação e instrução da classe trabalhadora de maneira imediata/interessada.

[7] Professor de Ciência Econômica da Scuola di commercio di Torino e um dos fundadores da Associazione Nazionalista Italiana.

[8] Sobre esse aspecto é importante destacar que Gramsci não é contra o conhecimento do dialeto. Ao contrário, ele o defende em uma das suas cartas (n°14) escritas à sua irmã Teresina, em 26 de março de 1927, ao se apresentar preocupado com a educação de seu sobrinho Franco, alertando-a que deveria permitir que o menino aprendesse o dialeto sardo no seio da família e a língua italiana na escola (Gramsci, 2011).

[9] Percebemos que Gramsci chega à educação escolar mais o,u menos como Marx chega à mercadoria na pesquisa. Marx ao estudar o sistema capitalista, chegou à mercadoria e optou por começar por ela a lógica da exposição da sua obra O Capital. No caso do filósofo sardo, ele chega à escola pela reflexão desenvolvida por ele acerca dos intelectuais.

[10] É indispensável lembrar, conforme já demarcamos, que Gramsci considera que a educação da classe trabalhadora e a formação de seus quadros de intelectuais orgânicos não cabem apenas à escola formal.

[11] Mesmo com limitações técnicas e pedagógicas, como criticava Gramsci, a Escola por Correspondência, servia como uma escola interna do partido, ao modo que indicava uma estratégia anti Bordiga (que apresentava uma ótica centralizadora no PCI) e em sintonia com a política de frente única estabelecida pelo Partido Comunista Russo. Conforme Del Roio (2006), Gramsci, em 1923, já se propunha a desenvolver um espaço formativo para a educação das massas nesse sentido. Assim, do jornal L'Unità à revista L'Ordine Nuovo, serviram de instrumentos para uma escola de partido. Devido à reação fascista, a mobilização para criar essas escolas se tornou ainda mais necessária. Do mesmo modo, o compromisso de formar a classe trabalhadora nos preceitos bolcheviques, voltados à formação crítica e intelectual, superando o maximalismo e a instrumentalização da atuação militante (Gramsci, 1978). Longe de uma visão utópica, Gramsci entendia a formação dessas pequenas escolas como um primeiro passo a ser dado para a emancipação espiritual dos trabalhadores.  

[12] Questa fu la fortuna del marxismo in Italia: che esso servì da prezzemolo a tutte le più indigeste salse che i più imprudenti avventurieri della penna abbiano voluto mettere in vendita. E’ stato marxista in tal modo Enrico Ferri, Guglielmo Ferrero, Achille Loria, Paolo Orano, Benito Mussolini…(Gramsci, 1978, p. 121).

[13] E’ necessario l’elemento coscienza, l’elemento “ideologico”, cioè la comprensione delle condizioni in cui si lotta, dei rapporti sociali in cui l’operaio vive, delle tendenze fondamentali che operano nel sistema di questi rapporti, del processo di sviluppo che la società subisce per l’esistenza nel suo seno di antagonismi irriducibili, ecc. (Gramsci, 1978, p. 120).

[14] è necessario che il partito intensifichi e renda sistematica la sua attività nel campo ideológico. (Gramsci, 1978, p. 121).

[15] Perché il partito viva e sia a contatto con le masse occorre che ogni membro del partito sia un elemento politico attivo, sia un dirigente (Gramsci, 1978, p. 122).

[16] La preparazione ideologica di massa è quindi una necessità della lotta rivoluzionaria, è una dele condizioni indispensabili della vittoria. […] (Gramsci, 1978, p. 122).