e-ISSN 1984-7246
Sonia
Maria Rummert *
Universidade Federal Fluminense (UFF)
Niterói, RJ - Brasil
lattes.cnpq.br/9928452814893376
Danielle
do Nascimento Rezera**
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)
São Bernardo do Campo, SP -- Brasil
lattes.cnpq.br/1155653092420308
Débora
Spotorno Moreira Machado Ferreira***
Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ)
Rio de Janeiro, RJ - Brasil
lattes.cnpq.br/6917562635160328
Hyago
Marinho da Silva****
Universidade Federal Fluminense (UFF)
Niterói, RJ - Brasil
lattes.cnpq.br/8403813164037022
A educação da
classe trabalhadora em Gramsci: contribuições pré-carcerárias em diálogo com o
Caderno 12
Resumo
Abordamos, neste trabalho, contribuições de Antonio
Gramsci à educação da classe trabalhadora à qual sempre conferiu extrema
importância. Destacamos, também, sua profícua produção teórica como expressão
da fundamentação materialista histórica, o que é essencial para compreendermos
sua intensa atividade intelectual relativa a variados e candentes temas. O
ensaio confere especial relevo à educação e, para tanto, recorremos a escritos
políticos pré-carcerários, articulando-os às contribuições fundamentais do
Caderno 12, elaborado no cárcere. Os textos selecionados evidenciam a
imprescindibilidade da educação para a classe trabalhadora, chamando-a a
protagonizá-la. Abordamos, ainda, sua forte crítica à perspectiva tendenciosa
nessa formação, por parte da classe dominante e seu alerta sobre a importância
de uma sólida e ativa preparação cultural e política articulada pelos
intelectuais orgânicos dessa classe. As contribuições do filósofo são tratadas
sem incidir na dicotomia pré-cárcere/cárcere, mas buscando-se o sentido de seu
percurso intelectual acerca da superação da ordem vigente e da instauração da
alternativa socialista, a qual, necessariamente, se dá pela luta de classes.
Procura-se evidenciar, assim, que sua contribuição à educação da classe
trabalhadora sempre a considerou expressão da base material e visou à superação
da sociedade de classes. Sublinhamos também a ênfase dada por Gramsci à
necessidade de que a educação dos trabalhadores os torne aptos a governar e a
controlar os que governam, tanto para vencer a luta de classes, quanto para
manter a continuidade dessa vitória no decorrer do processo histórico.
Palavras-chave: classe trabalhadora;
hegemonia; escola unitária; educação.
The education of the working
class in Gramsci: pre-carcerary contributions in dialog with Prison Notebook 12
Abstract
In this paper, we examine
Antonio Gramsci's contributions in working-class education, to which he always
given extreme importance. We also highlight his prolific theoretical production
as an expression of historical materialism, which is essential to understand
his intense intellectual activity on a variety of matters. This essay gives
special focus on education and, to do so, refers to his pre-prison political
writings, linking them to the fundamental contributions of Prison Notebook 12.
The selected works highlight the indispensability of education for the
working-class and the call, to this class, to be a protagonist in its own
education. We also address the author strong criticism of the ruling class
biased perspective in the working-class education and his warning about the
importance of a solid and active, cultural and political preparation
articulated by the organic intellectuals of this class. The philosopher's
contributions are discussed without focusing on the pre-prison/prison
dichotomy, but in search of his intellectual journeymeaning, regarding the
overcoming of the current order and the establishment of the socialist
alternative, which necessarily takes place through the class struggle. In this
way, we attempt to show that in his contribution to the working-class education
he always considered it to be amaterial base expression and aimed to overcome
class society. We also underline Gramsci's emphasis on the need for workers'
education to make them capable of govern and control those who are governing,
both in order to win the class struggle and to keep the continuity of this
victory through the historical process.
Keywords: working class; hegemony; unitary school; education.
Introdução
Para
Marx, as
armas da crítica não podem substituir a crítica das armas, uma vez que “a força
material tem de ser deposta por força material”. Entretanto, ressaltava que “a
teoria também se converte em força material uma vez que se apossa dos homens”
(Marx, 1991, p. 32). A valiosa indicação
marxiana se materializou permanentemente na atuação de Antonio Gramsci, como
militante, jornalista, dirigente partidário, político, dirigente do
Partido Comunista Italiano, pelo qual foi
representante dos trabalhadores no parlamento italiano, prisioneiro político,
pai, esposo e tio. O teórico foi, sempre, um educador na plena dimensão da
palavra. Já na prisão, elaborou uma obra que, tomada como referência
teórico-metodológica, é fundamental para a compreensão da realidade que se
apresenta, sob distintas e interligadas configurações no Modo de Produção
Capitalista até a atualidade.
Ao
assumir prioritariamente essa forma de militância e atuação política, Gramsci
valorizou a formação dos trabalhadores, reconhecendo-a como estratégia
essencial para a construção de uma nova
concepção de mundo, base da mudança estrutural, tornando-a uma força material
capaz de assumir função fundamental na construção de uma nova sociedade. Essa
opção, porém, rara na atuação militante, foi no mais das vezes – e ainda o é –
incompreendida e, mesmo, desqualificada. Para a crítica a Gramsci, a ênfase na
questão da cultura por ele concebida como concepção de mundo, significava
desprezo pela base material. Tal leitura limitada e dogmática de sua teoria,
tida como culturalista ou revisionista, levou à desqualificação de sua enorme
relevância na luta por transformações estruturais que sempre perseguiu e pelas
quais lutou.
Desde
seus escritos pré-carcerários é sublinhada a importância da força material, da
base econômica, tendo Gramsci sempre se debruçado sobre suas repercussões na
sociabilidade humana; nas formas de pensar e estar no mundo; nos modos de
organização da existência, nos processos de construção e manutenção
da hegemonia
__________________________
Contribuições de
autoria
* conceituação, curadoria de dados, metodologia, escrita
- rascunho original e escrita - análise e edição.
** curadoria de dados, escrita - rascunho original
e escrita - análise e edição.
*** escrita - rascunho original e escrita - análise
e edição.
**** escrita - rascunho original e escrita - análise
e edição.
que se tornam seu
maior objeto de investigação e atuação. Tal procedimento teórico-prático
inspirava-se em Marx, o que fica claro no escrito “O nosso Marx”, datado de
1918 e publicado, sem assinatura, em Il Grido del Popolo.
Com Marx, a história continua a ser o
domínio das ideias, do espírito, da atividade consciente de indivíduos isolados
ou associados. Mas as ideias, o espírito, são substanciadas, perdem sua
arbitrariedade, não são mais abstrações fictícias religiosas ou sociológicas.
Sua substância está na economia, na atividade prática, nos sistemas e nas
relações de produção e troca. A história como um evento é pura atividade
prática (econômica e moral). Uma ideia é realizada não na medida em que é
logicamente consistente com a verdade pura, a humanidade pura (que existe
apenas como um programa), mas na medida em que encontra na realidade econômica
sua justificativa, o instrumento para se afirmar. Para saber exatamente quais
são os objetivos históricos de um país, de uma sociedade, de um grupo, primeiro
é importante saber quais são os sistemas e as relações de produção e troca
desse país, dessa sociedade (Gramsci, 1918, tradução própria[1]).
Mais adiante, a posição política do
intelectual italiano fica clara quando destaca:
A classe que detém o instrumento de
produção já conhece necessariamente a si própria, tem a consciência, ainda que
confusa e fragmentária, de seu poder e de sua missão. Tem objetivos individuais
e os realiza através da sua organização, friamente, objetivamente, sem se
preocupar se o seu caminho é pavimentado com corpos famintos ou com os
cadáveres dos campos de batalha (Gramsci, 1918, tradução própria[2])
Ao
sublinhar o entrelaçamento permanente entre pensamento e modo de produção,
Gramsci também reconhece a importância da base material na construção das
concepções de mundo que fundamentam os processos de correlações de forças. É,
precisamente, sobre esse processo político-ideológico que o filósofo e
militante apresenta ricas reflexões acerca da formação política, intelectual e
moral da classe trabalhadora que, vindo a se constituir como um Leonardo da
Vinci coletivo, a partir de ampla ação educativa, poderá fazer frente à
hegemonia do Modo de Produção Capitalista forjando novas bases culturais e
materiais, necessárias à transformação estrutural da realidade com vista à
libertação do trabalho do jugo do capital.
Se a
formação da classe trabalhadora constitui seu foco de atuação no período
pré-carcerário, ao período da prisão corresponderá uma fase profícua de estudos
que, pretende, sejam base de compreensão sobre como domina a classe dominante,
visando a superar esse processo. Para tanto, entre os vários temas de estudo
aos quais se dedica, entrelaça, no Caderno 12, a análise sobre a formação dos
intelectuais e suas diferentes inserções histórico-sociais e sobre a educação
escolar burguesa, apresentando, também, os fundamentos da escola unitária.
Tendo
delineado a tessitura que constitui a complexa intelligentsia de Gramsci, nos dedicamos a debater como os temas
dos escritos pré-carcerários se traduzem nos principais conceitos revelados na
sua produção carcerária. De acordo com Francioni (2009), Gramsci compila os
cadernos entre fevereiro de 1929 e a metade de 1935, período em que, mesmo
sob fortes restrições materiais, físicas e todas aquelas direcionadas a um
prisioneiro de sua envergadura teórico-política, produziu uma escrita orgânica
em sua verve conceitual, de luta política e cultural que já era delineada desde
suas primeiras atuações políticas. A compreensão das estruturas que sustentam
as concepções de mundo, o mundo do trabalho, as relações entre os homens e sua
intelectualidade têm continuidade neste período de encarceramento e nos
possibilita identificar a atualidade de seus conceitos e concepções.
De acordo com os limites inerentes a este
ensaio resultante de pesquisa bibliográfica, elegemos para análise quatro
textos pré-carcerários relativos à formação da classe trabalhadora: Homens ou Máquinas (1916); O privilégio da Ignorância (1917); Analfabetismos (1917) e
Neccessità di una preparazione ideologica di massa (1925). Essa seleção,
que poderia ser significativamente ampliada, dialoga com conceitos fundamentais
apresentados por Gramsci, em particular no Caderno 12 (Gramsci, 2000, p.
13-54): hegemonia, Estado, formação dos intelectuais, educação integral e
escola unitária.
O ensaio, além desta Introdução, está
subdivido em outras quatro seções: a primeira apresenta algumas considerações
acerca do Caderno 12, que será retomado nas demais seções; a segunda, Homens ou
máquinas – a defesa de uma escola de novo tipo, aborda, a partir de texto
escrito em 1916, as formas de educação ofertadas pelo Estado à classe
trabalhadora, questão extremamente atual; em Do privilégio da ignorância à
superação do analfabetismo, destaca-se a relevância conferida por Gramsci à
formação dos intelectuais da classe trabalhadora e, a quarta seção, aborda a
contribuição do intelectual italiano à preparação ideológica de massa. O texto
é concluído com breves Considerações finais que reafirmam o objetivo de
contribuir para reflexões que visem concorrer para a construção de uma sociedade que se organize sob a égide da emancipação
humana (Marx, 1991).
Considerações sobre o Caderno 12
O Caderno 12 é dedicado à pesquisa sobre a
história dos intelectuais, do que decorre também, sua especial atenção à escola
unitária e à educação integral. Segundo Grasmsci, ele daria “origem a uma série
de ensaios sobre a ‘história da cultura’ (Kulturgeschichte)
e a história da ciência política” (Gramsci, 2001, p. 17). De fato, seus
escritos fomentam a pesquisa e o debate contínuos, por exemplo, sobre a
história, a cultura filosófica e política, a literatura e a educação.
Nesse Caderno, vemos o empenho em dar
subsídios a uma análise da “vontade coletiva” que se manifesta no complexo
período histórico que o filósofo italiano vivencia. Denota assim, como toda sua
obra, uma originalidade na interpretação marxista pela sua atenção à complexidade e à
ligação entre os fenômenos econômicos, sociais, culturais e ético-políticos, questões
às quais Gramsci dedicou esforços analíticos desde um programa de pesquisa que
se iniciara em seus escritos pré-carcerários e que, na discussão empreendida no
Caderno 12, se destacam em dois aspectos: a formação mais elevada e crítica da
classe trabalhadora para que possa assumir uma posição de disputa e de poder e
os aspectos concretos que limitam ou possibilitam uma educação complexa que
vise à emancipação humana (Marx, 1991).
Gramsci busca dar especial atenção à
constituição da Itália na economia mundial, ao pós-guerra, ao complexo período
dos anos Novecento, com a ascensão do
poder econômico estadunidense, ao corporativismo como um instrumento político,
ao fortalecimento do fascismo, ao Tratado de Latrão[3] e à
consolidação do Estado soviético, entre outros marcos que são compreendidos por
Gramsci como movimentos que representam não apenas uma conjuntura, mas um
processo histórico em que a atuação dos intelectuais é parte fundamental da
tessitura sócio-histórica que os constitui.
Esses aspectos, discutidos à luz de toda a
sua obra, se coadunam com a compreensão de que o Caderno 12 não é uma obra
isolada, mas uma das expressões de fecundo e amplo processo de amadurecimento
de ideias (Semeraro, 2021) acerca de diversos temas estudados em diversas
dimensões, por Gramsci, ao longo da vida.
Tal entrelaçamento entre os seus escritos é
evidenciado no extenso levantamento realizado por Francioni (2009) sobre os
percursos que delinearam os Cadernos. Francioni também destaca que parte
substancial da feitura do denso Caderno 12, teria sido realizada entre maio e
junho de 1932, o que denota que Gramsci já possuía uma maturação dos temas
abordados.
O Caderno 12, “Apontamentos e notas esparsas
para um grupo de ensaios sobre a história dos intelectuais”, reafirma,
aprofunda e amplia as teses sobre a formação da classe trabalhadora, já
constituídas parcialmente ou integralmente e divide-se em três partes, que
estabelecem conexões entre o tema dos intelectuais, da escola e da educação. De
acordo com Nosella (2010), o Caderno 12 apresenta uma proposta de educação
oposta ao projeto burguês: “Trata-se de uma possível proposta educacional do
Partido Comunista para a sociedade italiana, isto é, expõe-se nesse texto a
política educacional alternativa que seria implementada caso os comunistas
conquistassem o Estado” (Nosella, 2010, p. 161). Para Semeraro (2021), esse
Caderno constitui uma trama de assuntos conectados que vão ter como base de
sustentação e foco os intelectuais orgânicos[4], a
escola unitária, a educação integral e o novo princípio educativo.
Constitui, assim, um amplo e árduo trabalho
de síntese e contribuição intelectual. Uma tentativa de condensar a compreensão
de como a sociedade burguesa mantem a hegemonia e indicar possibilidades de
superação desse processo. Gramsci desvela as relações sociais, traz a luta de
classes para uma nova perspectiva, compreende o papel da educação escolar
(formulando suas próprias soluções) e concentra especial atenção naqueles que,
em sua perspectiva, conferem direção à sociedade: os intelectuais orgânicos.
Ademais, acendrar como o exercício da hegemonia se constitui um dos grandes
legados de Gramsci, que analisou, ou com profundo dinamismo, as características
da modernidade e se empenhou na compreensão de temas que são ainda hodiernos,
por serem centrais na correlação de forças e na forma de exercícios de domínio
e direção da sociedade.
Homens ou máquinas – A defesa de uma escola de novo tipo
Na véspera do Natal de 1916, no contexto de
intensificação da repressão política, na qual os textos de Gramsci sofriam
intensa censura (Cospito, 2015), o jornal socialista Avanti publicou o artigo Homens
ou máquinas, texto não assinado, que marca o caráter teórico-metodológico
de sua reflexão e teorização, ao dialogar criticamente com os leitores acerca
de um debate de opiniões no Congresso, em que as propostas pedagógicas
delineadas na Itália estavam sob forte influência das necessidades
político-econômicas do modelo capitalista e das forças produtivas em
desenvolvimento. Tal reflexão aclarava o movimento de ataque à escola e à
escolarização de caráter comum, justamente pela dualidade entre a formação
profissional e a formação intelectual e humanista geral.
Em 1916, o mundo europeu sofria as
consequências diretas das políticas imperialistas motivadas pela corrida do
capital monopolista[5]. No
auge da Primeira Guerra Mundial, a Itália era palco de uma intensa disputa por
hegemonia que suscitava impetuosos conflitos de ideias e divergentes concepções
de organização da vida social. A educação nacional italiana não ficava de fora
do embate.
Homens
ou máquinas inscrevia-se no debate, então em voga, sobre
as formas de educação ofertadas pelo Estado, tratando de questão extremamente
atual. Em linhas gerais, havia uma contenda entre aqueles que defendiam um
ensino instrumentalizado para a classe trabalhadora, formadora de força de
trabalho acrítica, e aqueles que entendiam que a formação do proletariado
italiano, longe de ser imediatista, deveria permitir ao homem uma formação
geral e humanista (Nosella, 2010).
Nesse contexto, se posiciona Gramsci:
O proletariado, que está excluído das
escolas de cultura média e superior por causa das atuais condições da
sociedade, que determinam certa especialização nos homens – antinatural, já que
não baseada na diferença de capacidades e, portanto, destruidora e prejudicial
à produção – tem de ingressar nas escolas paralelas: técnicas e profissionais
(Gramsci, 2004, p. 74).
O intelectual comunista já apresentava a
maneira como, genericamente, ocorre o processo de formação educacional das
classes sociais na sociedade capitalista, marcada pela inexistência de livre e
espontânea escolha, pela classe trabalhadora, de seu percurso educacional.
Tendo em vista que liberdade deve ter como
base as condições materiais, não é livre aquele que, por precisar garantir sua
sobrevivência no mundo capitalista, realiza uma formação voltada para o mundo
do trabalho imediato, cujas opções são escassas e previamente definidas. Em
consequência, constitui-se aquilo que podemos caracterizar como dualidade
educacional em que, a sociedade dividida em classes cria uma educação
igualmente repartida em classes.
Também merece destaque a crítica ao Estado
capitalista, presente no texto:
Na Itália, a escola continua a ser um
organismo estritamente burguês, no pior sentido da palavra. A escola média e
superior, que é do Estado, isto é, paga com receitas gerais, e, portanto,
também com os impostos diretos pagos pelo proletariado, não pode ser
frequentada a não ser pelos jovens filhos da burguesia, que gozam de
independência econômica necessária para a tranquilidade dos estudos (Gramsci,
1916, p. 73-74).
Gramsci enfatiza que a educação média e
superior ofertada pelo Estado italiano e financiada a partir da contribuição de
todos, só é acessada pelos “jovens filhos da burguesia” (Gramsci, 1916, p. 74),
excluindo-se do processo os filhos da classe trabalhadora. A crítica aponta
para o uso indevido do financiamento coletivo para benefício de um grupo social
específico; no entanto, não há, por parte do autor, uma exclusão da necessidade
de participação efetiva do Estado no processo educacional. Conclui o texto
explicitando sua posição sobre a escola para a classe trabalhadora: “O
proletariado necessita de uma escola desinteressada. Uma escola em que seja
dada ao menino a possibilidade de formar-se, de tornar-se um homem, de adquirir
aqueles critérios gerais que servem para o desenvolvimento do caráter”
(Gramsci, 1916, p. 75).
E complementa:
[...] uma escola de liberdade e de
livre iniciativa, não uma escola de escravidão e de orientação mecânica. Também
os filhos dos proletários devem possuir diante de si todas as possibilidades,
todos os campos livres para poder realizar sua própria individualidade da
melhor forma e, por isso, do modo mais produtivo para eles e para a
coletividade (Gramsci, 1916, p. 75).
Evidencia, assim, a compreensão de que a
escola do proletariado deve ser desinteressada, afastada de imediatismos, ou
seja, “séria, profunda, universal e coletiva, que interessa a todos os homens”
(Nosella, 2010, p. 47).
Opondo-se à estrutura escolar do Estado
burguês, que estimula a reprodução da força de trabalho de acordo com os
interesses da classe dominante, Gramsci teoriza brevemente sobre uma escola
verdadeiramente democrática, que objetiva a formação individual do educando em
seu sentido mais amplo. Não se trata de uma educação que resulte em benefícios
individualistas, mas que produza condições pessoais de construção coletiva de
uma sociedade igualitária. Homens ou
Máquinas expõe, assim, três pontos centrais que serão desenvolvidos com
complexidade no Caderno 12: a questão da dualidade educacional[6], a
teorização sobre uma nova escola e o papel do Estado em todo esse processo.
Sobre o primeiro aspecto, comenta Gramsci:
A tendência atual é a de abolir
qualquer tipo de escola “desinteressada” (não imediatamente interessada) e
“formativa” ou de conservar apenas um seu reduzido exemplar, destinado a uma
pequena elite de senhores e mulheres que não devem pensar em preparar-se para
um futuro profissional, bem como a de difundir cada vez mais escolas
profissionais especializadas nas quais o destino do aluno e sua futura
atividade são predeterminados (Gramsci, 2001, p. 33).
O
que o intelectual sardo nos indica é a criação artificial de múltiplas escolas
profissionais, cujo interesse é a formação acelerada e fragmentada para um
mundo do trabalho cada vez mais alienado. E, ao longo do texto, complementa sua
crítica chamando a atenção para algo extremamente importante e que, propagado
pela ideologia dominante, afeta diretamente a consciência da classe
trabalhadora. “O aspecto mais paradoxal reside em que este novo tipo de escola
aparece e é louvado como democrático, quando, na realidade, não só é destinado
a perpetuar as diferenças sociais, como ainda a cristalizá-las em formas
chinesas” (Gramsci, 2001, p. 49).
A falsa sensação de oportunidades iguais e
diversas é o que está sendo exposto por Gramsci mais uma vez. Não há liberdade
democrática quando as escolhas giram em torno de opções pré-determinadas para a
manutenção do lugar social do sujeito histórico. A solução para esse problema
certamente passa pela superação da sociedade cindida em classes. Na vanguarda
do processo revolucionário, assumindo papel atuante de teorização e luta
política, Gramsci avança no debate e defende uma escola verdadeiramente
humanista e formadora: a escola unitária.
Em Homens
e Máquinas, nos fala de outra escola, que de fato seja libertadora,
criativa e desinteressada. No Caderno 12, encontramos mais uma vez essa escola,
agora mais detalhada teoricamente:
A crise terá uma solução que,
racionalmente, deveria seguir essa linha: escola única inicial de cultural
geral, humanista, formativa, que equilibre de modo justo o desenvolvimento da
capacidade de trabalhar manualmente (tecnicamente, industrialmente) e o
desenvolvimento de capacidades do trabalho intelectual. Deste tipo de escola
única, através de repetidas experiências de orientação profissional,
passar-se-á a uma das escolas especializadas ou ao trabalho produtivo (Gramsci,
2001, p 33 -34).
Um terceiro e último destaque nessa relação
estreita entre os dois textos é o papel do Estado na constituição dessa nova
escola. A partir da argumentação desenvolvida, podemos compreender que a
crítica de Gramsci, em 1916, não se dirigia ingenuamente contra o Estado em si,
mas sim contra a forma como esse Estado ofertava a educação escolar que
favorecia uma classe em específico.
A escola unitária requer que o Estado
possa assumir as despesas que hoje estão a cargo da família no que toca a
manutenção dos escolares, isto, é, requer que seja completamente transformado o
orçamento do ministério da educação nacional, ampliando-o enormemente e tornando-o
mais complexo... (Gramsci, 2001, p. 36).
Nesse sentido, atento à necessidade primeira
da organização estatal, desenvolveu uma perspectiva crítica séria e
transformadora sobre a questão da formação. Para o filósofo, através da escola
unitária, “a inteira função da educação e formação das novas gerações deixa de
ser privada e torna-se pública, pois ela pode abarcar todas as gerações, sem
divisões de grupos ou castas” (Gramsci, 2001, p. 36).
Desse modo, teorizou sobre uma escola de fato
pública e democrática, cabendo ao Estado sua oferta, pois seria a forma
imprescindível de garantir oportunidades iguais de acesso para todos.
A escola unitária deveria corresponder
ao período representado hoje pelas escolas primárias e médias, reorganizadas
não somente no que diz respeito ao método de ensino, mas também no que toca à
disposição dos vários graus da carreira escolar. O nível inicial da escola
elementar não deveria ultrapassar três-quatro anos... O resto do curso não
deveria durar mais de seis anos, de modo que, aos quinze ou dezesseis anos, já
deveriam estar concluídos todos os graus da escola unitária (Gramsci, 2001, p.
37).
Essa escola teria como função superar aquilo
que Gramsci (2001) denominou como a “marca social da escola”, em que “cada
grupo social tem um tipo de escola próprio, destinado a perpetuar nestes
estratos uma determinada função tradicional, dirigente ou instrumental”
(Gramsci, 2001, p. 49).
Significa dizer que o filósofo constituiu um
projeto em que, com a sociedade não mais dividida em classes, o fenômeno da
dualidade educacional também seria superado. Dessa forma, temos a elaboração de
uma nova escola, acompanhando um novo projeto de formação humana, para uma nova
sociedade.
Do privilégio da ignorância à superação do analfabetismo -
elementos para compreender a importância da formação dos intelectuais da classe
trabalhadora
O Privilégio
da Ignorância (1917), publicado de forma anônima no Grido del Popolo, nos mostra a discussão em continuum do pensamento de Gramsci acerca da educação dos
trabalhadores. Nesse texto, o pensador dedica-se a desenvolver uma correlação
entre educação e liberdade. Para Gramsci (2004, p. 117), “o problema da
educação dos proletários é um problema de liberdade. Os próprios proletários
devem resolvê-lo. Os burgueses que pensem em seus problemas, se é que querem
pensar”. Nessa passagem, o teórico defende a importância da autorresponsabilização
dos trabalhadores por seu processo educativo, convocando-os a assumi-lo segundo
suas necessidades e seus interesses.
Imbricado nessa tese de apropriação, pela
classe trabalhadora, de sua própria educação está o argumento de Gramsci de que
a ignorância não é uma opção para os trabalhadores, ao contrário do que ocorre
com os burgueses, que ostentam o privilégio de poderem ser ignorantes, sem
maiores consequências sociais. Isso porque a sociedade capitalista se organiza
de modo funcionar e se reproduzir mesmo com a ignorância da maioria dos
pertencentes à classe dominante.
Os burgueses podem até ser ignorantes
em sua esmagadora maioria: nem por isso o mundo burguês deixará de seguir seu
curso. Ele é estruturado de tal modo que basta que haja uma minoria de
intelectuais, de cientistas, de estudiosos, para que os negócios sigam em
frente. Também a ignorância é um privilégio da burguesia, assim como o são o
doce ócio e a preguiça mental (Gramsci, 2004, p. 116).
Nesse sentido a burguesia busca efetivamente
manter os trabalhadores ignorantes, restringindo a socialização do conhecimento
a apenas parcelas e fragmentos da informação, oferecendo-lhes o que é
estritamente necessário àquele estágio de desenvolvimento funcional ao
trabalho, visando manter a dominação.
Para ilustrar essa estratégia, o filósofo
sardo aponta um dos teóricos da burguesia italiana, Alberto Caroncini[7], ao
defender que os grupos de intelectuais dominantes deveriam lutar para que o pão
fosse acessível aos camponeses, ou “caipiras”, como os denominava, por
acreditar que tal garantia poderia assegurar que esses se afastassem da batalha
teórica que envolvia a questão dos impostos sobre o trigo. Todo esse esforço
deveria ser feito principalmente para que os “caipiras” não se interessassem
pelas questões teóricas, pois, se assim o fizessem, os burgueses poderiam ter
problemas que, inclusive, são difíceis de imaginar. Para Alberto Caroncini,
segundo Gramsci, o real perigo era que esse interesse pudesse levar os
trabalhadores a acreditarem ser capazes de derrubar as diferenças de classe
(Gramsci, 2004).
Pela compreensão desse movimento e de suas
implicações no complexo arranjo produtivo e político, Gramsci entendia ser
urgente, para a classe trabalhadora, que a educação se ampliasse, do mesmo modo
como era necessário que o número de intelectuais na sociedade aumentasse, para
que todos fossem capazes de dirigir ou de controlar os que dirigiam, como já
referido. Em sua perspectiva, alargar cada vez mais esse número de
intelectuais, evitaria que, uma vez havendo apenas uma minoria deles, se
instaurasse uma ditadura, haja vista o crescimento das ações fascistas, a
violência, a censura e os projetos societais que ampliavam o fosso das
desigualdades sociais daquele tempo.
Além disso, a ampliação desses quadros de
intelectuais aumentaria as possibilidades de escolha de liderança, exercendo
forte influência nas disputas por espaços decisórios e diretivos da sociedade.
A educação da classe trabalhadora deveria, e deve, acontecer, entre outros
motivos, “para que haja garantia de liberdade, para que a escolha recaia sobre
os melhores e não necessariamente sobre os mesmos, deve haver um modo de
escolher para os cargos públicos dentre o maior número possível de indivíduos”
(Gramsci, 2004, p. 117). Logo, ninguém pode ser totalmente desnecessário na
sociedade e, por isso, o trabalhador tem o dever de dominar o conhecimento que
o domina, para lutar efetivamente pela sua libertação.
Porém, para que isso ocorra, é preciso que os
trabalhadores se interessem por sua própria educação, que eles a queiram, e é
nesse sentido que esse escrito se articula com o Analfabetismo (1917),
no qual afirma que é preciso fazer “[...] nascer de maneira autônoma o sentido
de necessidade, da necessidade do alfabeto e da língua” para os trabalhadores
(Gramsci, 2020, p. 30).
Isso porque o filósofo, quando trata do
alfabetismo, não o relaciona apenas ao fato de saber ler as palavras, formar
frases ou escrever. Para ele, a questão abrange a capacidade de compreender o
que se lê, ser capaz de produzir um texto, uma argumentação, uma intervenção.
Superar o analfabetismo, portanto, implica desenvolver nos trabalhadores a
capacidade de conseguir se fazer entender. Para isso, é imprescindível que o
ato de aprender tenha sentido e propósito para o próprio trabalhador. Isso
porque, ninguém se alfabetiza à força, “a lei é uma imposição: pode impor a
frequência escolar, mas não pode obrigar a aprender e, àqueles que aprendem, a
não esquecer” (Gramsci, 2020, p. 35).
Se, por um lado, alfabetizar está para além
da mera capacidade de ler e escrever, a questão que se coloca está intimamente
ligada à riqueza vocabular. Significa não haver alfabetização sem a compreensão
da beleza e da necessidade do domínio da escrita e das fontes. Propiciar que as
pessoas construam condições reais de se expressarem requer, necessariamente, o
aprimoramento de seu vocabulário e, portanto, a complexidade de seu pensamento.
Gramsci percebe, com clareza, que se restringindo o vocabulário, se restringe a
capacidade de expressão individual e social. Por isso, defende, ainda, que a
classe trabalhadora extrapole o domínio do seu dialeto[8] e
aprenda a língua matriz, e outras línguas inclusive.
A cultura, o alfabeto adquirem assim
um propósito [...] o analfabetismo desaparecerá completamente apenas quando o
socialismo o fizer desaparecer, pois o socialismo é o único ideal capaz de
converter em cidadãos – no melhor e total sentido da palavra – todos os
italianos que ainda hoje vivem apenas dos seus pequenos interesses pessoais,
homens nascidos apenas para consumir alimentos (Gramsci, 2020, p. 35-36).
A conversão de todos os italianos em
verdadeiros cidadãos envolvia, portanto, a formação de seus próprios
intelectuais. Gramsci dedica boa parte do seu tempo de estudos e das suas
reflexões buscando compreender o que são os intelectuais e qual o papel deles
na formação de concepções de mundo que, por sua vez, dão direção à sociedade. A
permanente construção e manutenção da hegemonia capitalista requer garantir que
as ideias dominantes sejam as da classe dominante. Essa difusão de ideias, bem
como a garantia de que elas se perpetuem continuamente e produzam consenso e coerção
sobre a classe trabalhadora são, também, abordadas no Caderno 12.
Nesse Caderno, Gramsci apresenta riquíssima
análise acerca de como dominam os dominantes. A expropriação dos trabalhadores
do acesso ao conhecimento socialmente produzido é uma das principais
estratégias por ele identificadas, como um projeto político direcionado à
conformação das classes subalternizadas.
Logo, a defesa de formação de quadros de
intelectuais vinculados aos interesses da classe trabalhadora, expressa a real
preocupação de que ela seja verdadeiramente livre e ocupe os espaços de poder e
decisão na sociedade, entendendo que apenas assim as bases estruturais podem
ser enfrentadas com sucesso.
Segundo Gramsci, cada grupo forma seus
próprios intelectuais:
[...] todo grupo social, nascendo no
terreno originário de uma função essencial no mundo da produção econômica, cria
para si, ao mesmo tempo, organicamente, uma ou mais camadas de intelectuais que
lhe dão homogeneidade e consciência da própria função, não apenas no campo econômico,
mas também no social e político (Gramsci, 2001, p. 15).
Faz parte desse processo definir e
estabelecer como tais intelectuais ocupam os espaços, inclusive dentro do
Estado, para direcionar políticas a favor dos seus interesses. É nesse contexto
argumentativo que se reforça na obra do filósofo sardo a importância da escola[9],
compreendendo-a, também, como instrumento de formação de intelectuais. Logo, “a
escola é o instrumento para elaborar os intelectuais de diversos níveis. A
complexidade da função intelectual nos vários Estados pode ser objetivamente
medida pela quantidade das escolas especializadas e pela sua hierarquização”
(Gramsci, 2001, p. 19).
Assim, entende Gramsci que a escola – formal
– apesar de não apenas ela[10],
desempenha um papel privilegiado e importante na formação desses intelectuais
orgânicos. Por esse motivo, dedica-se o autor a desenvolver a defesa de um tipo
específico de escola “desinteressada”, aquela que, segundo entende, seria capaz
de formar a todos de forma igualitária, como já vimos.
Necessidade de uma preparação ideológica de massa: educar o
partido educador
No contexto dos Novecento, vemos a profusão produtiva quanto à questão da educação,
atrelando uma vez mais o problema pedagógico ao problema político. Como
exemplos, os movimentos do Ordine Nuovo e da Escola por Correspondência, que
são delineados para dar sentido a uma formação para a classe trabalhadora que
ultrapasse os limites a que estava submetida. Destacamos uma discussão sobre o
tema que Gramsci empreende em 1925, em um texto agit-prop para o Partido Comunista Italiano (PCI), e que serviu de
introdução ao primeiro curso da escola interna do partido, denominado Neccessità di una preparazione ideologica di
massa (Gramsci, 1978), no qual defende a necessidade da formação da classe
trabalhadora e do partido, pela iniciativa da Escola por Correspondência[11],
que já se mostrava bem-sucedida, no contexto das ações fascistas empreendidas
por Mussolini. Essa estratégia daria suporte para elevar o nível político das
massas, a luta política e, minimamente, mediar uma organicidade entre Escola, a
Sociedade e o Partido. Uma escola do Partido capaz de subsidiar uma
intencionalidade transformadora viva no seio do militante, que fortaleça a
disputa para um espaço de direção via um novo bloco intelectual, com
organicidade e uma cultura de participação efetiva nas ações do partido, nesse
sentido, uma qualidade intelectual para a manutenção da luta e sua progressão.
O texto não divulga as iniciativas concretas
de Gramsci na formação da consciência crítica do proletariado no momento de
contingenciamento das liberdades, explicita tal contexto de cerceamento
político e das sociabilidades organizativas e das ações de massa e contribui
para a questão desenvolvida com mais acuidade nos Cadernos do Cárcere, em
especial no Caderno 12. Nele, ressalta a necessária disputa na formação
intelectual e na formação de intelectuais orgânicos à classe operária, visto
que, neste texto de 1925, o pensador compreende que, no período de terror
fascista, as ações de contraposição deveriam se dar majoritariamente de modo
imediatista, radicalizadas para um extremismo que não alcança soluções
concretas e são distantes dos marcos de verve marxista que se apagam sem o
devido processo formativo da classe trabalhadora.
Ademais, o filósofo intensifica sua
preocupação com a formação política e social a que estão sujeitos os italianos
diante do cenário fascista e das ações dos reformistas sindicais e do Partido
Socialista Italiano que não só deturpavam, mas com vileza se utilizavam das
concepções teóricas marxistas para fomentar a democracia burguesa, uma
democracia que subsidiava a existência particularista de suas existências ou
“funções”. Segundo Gramsci:
essa foi a sorte do marxismo na
Itália: servir de salsinha [enfeite] para todo tipo de molhos indigestos que os
mais imprudentes aventureiros da escrita quiseram colocar à venda. Enrico
Ferri, Guglielmo Ferrero, Achille Loria, Paolo Orano, Benito Mussolini... eram
marxistas dessa forma. (Gramsci, 1978, p. 121, tradução própria[12]).
Para Gramsci (1978), os intelectuais ativos
no contexto fascista e reformista buscavam distanciar das massas o elemento
consciência. Assim, considerava que a função mais basilar na disputa pelo
projeto societário é a capacidade de compreender e chegar a essa consciência:
O que é necessário é o elemento da
consciência, o elemento ‘ideológico’, ou seja, uma compreensão das condições
sob as quais se luta, das relações sociais em que o trabalhador vive, das
tendências fundamentais que operam no sistema dessas relações, do processo de
desenvolvimento pelo qual a sociedade passa devido à existência de antagonismos
irredutíveis em seu seio etc. (Gramsci, 1978, p. 120, tradução própria).[13]
Nesse sentido, assevera que não basta empenho
em conclamar a classe trabalhadora, “é preciso que o partido intensifique e
torne sistemática sua atividade no campo ideológico (Gramsci,
1978. p. 121, tradução própria[14]),
como também compreenda a ligação orgânica que seus intelectuais devem possuir
com o partido e com a realidade da classe trabalhadora. Essa questão é
destacada no Caderno 12, quando Gramsci expande o conceito de intelectuais e
examina o papel, a função, a influência do grau de intelectualidade e da
atividade intelectual que se dissemina a fim de encontrar presença no campo das
ideias e das práticas.
O entendimento do intelectual como
organizador da cultura e da direção societária, aquele capaz de elaborar ideias
e ações que complexificam as relações de poder e formas de sociabilidade, na
relação de subalternidade e liderança, possibilitou-lhe pensar a formação e a
integração dos membros na manutenção do partido, questão explicitada em textos
anteriores como Il Congreso dei Giovani (1921), sobre o VIII Congreso giovanile
di Firenze em 1921, quando manifesta sua preocupação com a formação desses
jovens e sua inserção qualitativa no partido. Em 1925, Gramsci indica que “para
que o partido viva e esteja em contato com as massas, é necessário que cada
membro do partido seja um elemento político ativo, seja um líder” (1978, p.
122, tradução própria[15]).
Essa questão é tratada como crucial para a autonomia e capacidade de manutenção
da luta diante do recrudescimento das forças antagônicas que se apresentam cada
vez mais intensas. Assim, afirma que “a preparação ideológica das massas é,
portanto, uma necessidade da luta revolucionária, é uma das condições
indispensáveis para a vitória...” (Gramsci, 1978, p. 122, tradução própria)[16].
No Caderno 12, Gramsci (2001) esclarece que a
função dos intelectuais é precisamente criar condições favoráveis à expansão da
classe que representam, embora deixe claro que apesar de todos os homens serem
intelectuais, não necessariamente desempenham funções intelectuais, devendo-se,
sim, considerar o papel que desempenham na sociedade, no que tange à concepção
de mundo.
No Estado fascista, esse processo torna-se
ainda mais explícito com o modelo propagandístico, formativo, a anuência dos
intelectuais eclesiásticos e as ações de terror empreendidas então que, para o
filósofo sardo, representavam a decomposição da sociedade italiana. É o partido
fascista que organiza uma sociedade pela ótica antissocial e da barbárie;
organicamente, ele (partido) é ligado à crise do regime capitalista, à guerra
imperialista e representa a expressão orgânica da classe proprietária que, em
luta pela manutenção de uma elite no controle político e social, se volta
contra as necessidades vitais da classe trabalhadora e do movimento de
reorganização do Estado italiano; por isso, a forte atenção do fascismo ao
embrutecimento educativo e ao controle ideológico.
Gramsci (2001) demonstra ser intrínseca a
relação entre os intelectuais e a escola, o que se evidencia, também, no
período de ascensão e domínio fascista: a brutalização social e os limites
impostos pela economia do trabalho à formação da classe trabalhadora. O empenho
fascista exponencia a ampliação da formação social pela desigualdade, questão
que delineia como a diferenciação formativa que visa conservar o mundo
dirigente para uma pequena elite.
A complexidade manifesta na modernidade, como
as formas produtivas e sociais, confere um caráter mais dinâmico à atuação e
tipos de intelectuais, além de seus vínculos orgânicos. A vontade coletiva se
expressa pela ação permanente e processual entre as massas e os intelectuais
que fomentam uma dada hegemonia, que só é possível pelos diferentes tipos
intelectuais que atuam na complexa sociedade que se transforma rapidamente.
Conforme essa compreensão, o sentido educativo adquire ainda mais relevância
num contexto que desvela a genealogia do controle decisório, do domínio das
ideias e da difusão de um dado senso comum. No Caderno 12, vemos que Gramsci
faz uma elaborada síntese das tendências e tensões históricas em torno da
formação dos intelectuais e das suas formas de atuação.
Ao ter o domínio das características e
estruturas que formam os processos de conformação e manutenção a uma dada
hegemonia, Gramsci delineia que os intelectuais da classe trabalhadora precisam
articular-se para que o trabalhador seja capaz de atuar em suas destinações
histórico-políticas e possa emancipar-se das determinações sócio-históricas
ferrenhamente conservadas pela classe dominante burguesa e por sua estrutura
ideológica que é a dinâmica excludente. Assim, Neccessità di una preparazione ideologica di massa, de 1925
(Gramsci, 1978), mostra-se como um dos materiais que já anunciavam a
compreensão do autor sobre a relação educativa e a possibilidade de disputa
para que a classe trabalhadora possa tornar-se dominante.
Gramsci é assertivo ao afirmar, naquele
contexto, que a necessária consciência crítica das massas é uma tarefa do
partido educador, um compromisso que permite inclusive a existência do próprio
enquanto líder de um movimento capaz de promover transformações profundas. No
entanto, enquanto negligenciar a atividade teórica, isto é, a luta na frente
ideológica sob o prisma marxista, menos o partido terá sentido e a compreensão
do mundo dar-se-á pela ótica da frente inimiga que avança intensamente neste
campo.
Considerações finais
Ao articular os textos pré-carcerários Homens
ou Máquinas (1916), O
privilégio da Ignorância (1917), Analfabetismos (1917) e Neccessità
di una preparazione ideologica di massa (1925) às categorias
conceituais e analíticas delineadas no Caderno 12, como hegemonia, formação dos
intelectuais e escola unitária, analisamos as contribuições gramscianas em
defesa da educação integral da classe trabalhadora.
Gramsci lutava pela formação de intelectuais
orgânicos à classe dos subalternizados e pela construção e manutenção de uma
nova hegemonia que apresentasse à sociedade concepções de mundo críticas ao
sistema capitalista, bem como proposituras objetivamente efetivas de superação
desse modo de produção e das profundas desigualdades socioeconômicas dele
originárias.
O filósofo sardo nos legou contribuição
teórico-prática de inegável relevância à educação da classe trabalhadora,
compreendendo-a como um instrumento de formação crítica e interventiva, capaz
de contribuir com a construção de uma sociedade socialista, objeto de sua permanente
preocupação, visando à formação intelectual dos trabalhadores orgânicos ao novo
projeto socioeconômico. Tal preocupação decorria da clareza quanto ao fato de
que, sem acesso crítico ao conhecimento socialmente produzido, seria muito
difícil romper e revolucionar as bases estruturais da sociedade, sendo
fundamental reafirmar que, desde os escritos
pré-carcerários, a importância da força material, da base econômica
manifesta-se como elemento estrutural de suas intervenções.
Deve-se também sublinhar seu entendimento de
que o processo educativo não se esgota na dimensão formal da escola, embora
essa seja o locus privilegiado da formação dos intelectuais (tanto os
orgânicos da burguesia, quanto da classe trabalhadora). Gramsci, fundamentado
na compreensão da dialética do processo formativo, valoriza sobremaneira o
papel fundamental desempenhado por outros aparelhos de hegemonia como, por
exemplo, a escola do partido, os comitês de fábrica, a escola para
prisioneiros, a escola por correspondência – quando esta se faz necessária –, a
educação familiar, a imprensa, a Igreja como aparelhos de hegemonia que também
educam os trabalhadores.
Buscamos destacar, nos escritos selecionados,
de acordo com os limites deste ensaio, questões que propiciam debater um processo
de construção de ideias acerca do empenho na disputa por um novo projeto
societário complexo que, na perspectiva de Gramsci, se expressa na emancipação
humana (Marx, 1991) da classe trabalhadora. Consideramos que a tradutibilidade
de seus escritos, respeitando a historicidade e as particularidades do contexto
e sociedade analisados, apresenta elementos de atualidade
que permitem uma leitura do real que nos aproxime cada vez mais das suas
determinações e sobredeterminações não aparentes.
Esperamos, portanto,
parafraseando o próprio Gramsci, que esse ensaio integre o humus
fertilizador para os leitores que busquem, no filósofo sardo, contribuições
aos seus objetos de estudo e pesquisa visando a uma sociedade regida pela
conquista da emancipação humana.
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SEMERARO,
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escola: um estudo do caderno 12 de Antonio Gramsci. São Paulo: Expressão
Popular, 2021. 239 p.
[1] Con Marx la storia
continua ad essere dominio delle idee, dello spirito, dell'attività cosciente
degli individui singoli od associati. Ma le idee, lo spirito, si sustanziano,
perdono la loro arbitrarietà, non sono piú fittizie astrazioni religiose o
sociologiche. La sostanza loro è nell'economia, nell'attività pratica, nei
sistemi e nei rapporti di produzione e di scambio. La storia come avvenimento è
pura attività pratica (economica e morale). Un'idea si realizza non in quanto
logicamente coerente alla verità pura, all'umanità pura (che esiste solo come
programma, come fine etico generale degli uomini), ma in quanto trova nella realtà
economica la sua giustificazione, lo strumento per affermarsi. Per conoscere
con esattezza quali sono i fini storici di un paese, di una società, di un
aggruppamento importa prima di tutto conoscere quali sono i sistemi e i
rapporti di produzione e di scambio di quel paese, di quella società (Gramsci,
1918).
[2] La classe che detiene lo
strumento di produzione conosce già necessariamente se stessa, ha la coscienza,
sia pur confusa e frammentaria, della sua potenza e della sua missione. Ha dei
fini individuali e li realizza attraverso la sua organizzazione, freddamente,
obiettivamente, senza preoccuparsi se la sua strada è lastricata di corpi
estenuati dalla fame, o dei cadaveri dei campi di battaglia (Gramsci, 1918).
[3] Através do Tratado de
Latrão, a Santa Sé, na figura do papa Pio IX, torna-se um Estado independente e
soberano, superando o período de perdas durante a Unificação Italiana (a
Questão romana), o acosso das tropas fascistas – os camisas-negras e, isso se deu devido à adesão
aos interesses destes. Assim, o Estado do Vaticano é criado e passa a erigir-se
no sistema internacional como uma potência que anui em conjunto com Benito
Mussolini a uma guerra contra o liberalismo e o comunismo. Sob esses pretextos, passa a
exercer forte influência no desenvolvimento, manutenção e promoção de regimes
totalitários, contra a igreja ortodoxa e quaisquer grupos que ameacem sua
hegemonia no campo moral, político e econômico.
[4] Os intelectuais – tema
fundamental na obra de Gramsci – possuem entre suas principais características
a função de mediar, organizar ou conectar a sociedade civil e a sociedade
política, bem como garantir o consenso ou mesmo a coerção (se necessária), para
que um dado projeto societário se dinamize. Para Cospito (2004), os
intelectuais são parte de grupo social nascido de um lugar essencial no campo
da produção econômica e que cria, organicamente, uma leva de intelectuais que
dão homogeneidade e reconhecimento à função que têm nesse campo. Os intelectuais
são divididos entre tradicionais e orgânicos. Tradicionais, como os
eclesiásticos, constituem um grupo que historicamente detém um prestígio, um
lugar assentado no imaginário e na mítica do poder, visto serem representantes
de uma continuidade histórica não rompida que os valida socialmente, permitindo-lhes
influenciar “naturalmente” o senso comum e a realidade em que exercem domínio e
influência e se articulam para manutenção de seu “status” e independência
relativa aos grupos dominantes. Já os intelectuais orgânicos dialogam e
articulam estrutura e superestrutura, sendo a complexidade e dimensão de
atuação destes diretamente conectada à sua formação. São orgânicos devido ao
seu tipo de vínculo nas relações de produção. Essa organicidade se dá pela
referência que articulam e dinamizam na produção educativa e cultural, pois são
intrinsicamente atrelados à consciência do grupo a que pertencem, à sua classe
ou à representação de classe à
qual se vinculam ideologicamente e que admite sua presença e atuação tanto na
sociedade civil quanto na sociedade política. Há, nos intelectuais orgânicos, uma categoria denominada
intelectuais condensados, que são aqueles não somente vinculados
ideologicamente, mas sim originários da classe dominante e que exercem direção
e domínio como representante e representado. De todo modo, quaisquer
intervenções desses intelectuais têm por objetivo a hegemonia do grupo que
representam.
[5] O conceito de
imperialismo no campo marxista, a partir da teoria de Lênin (1916), é complexo
e confere uma abordagem particular sobre a centralização do capital-dinheiro. O
avanço dessa
centralização constitui o capital financeiro, levando ao processo de exportação
de capital que por sua vez fomenta o imperialismo capitalista, do mesmo modo
que o desenvolvimento capitalista em regiões estratégicas para a exploração da
força de trabalho e novos espaços de consumo e de concepções de mundo. Gramsci,
que acompanhava os embates sobre a Segunda Internacional e as consequências da
centralização do capital financeiro e avanço imperialista no bojo da sociedade
Italiana, tem a compreensão mais alargada sobre esses processos. Aprofunda o
estudo no âmbito dessas relações de poder e suas características, estratégias,
relações de domínio e direção, entre tantas outras que o levam a formar suas
considerações teóricas sobre Estado, Hegemonia, Educação etc.
[6] O fenômeno da dualidade
educacional é compreendido a partir da formação dual dentro da sociedade
burguesa, com destaque à
existência de dois tipos de escola: a geral, de formação
humanista/desinteressada para as classes burguesas e a profissional, voltada
para a formação e instrução da classe trabalhadora de maneira
imediata/interessada.
[7] Professor de Ciência
Econômica da Scuola di commercio di Torino e um dos fundadores da Associazione
Nazionalista
Italiana.
[8] Sobre esse aspecto é
importante destacar que Gramsci não é contra o conhecimento do dialeto. Ao
contrário, ele o defende em uma das suas cartas (n°14) escritas à sua irmã
Teresina, em
26 de março de 1927, ao se apresentar preocupado com a educação de seu sobrinho
Franco, alertando-a que deveria permitir que o menino aprendesse o dialeto
sardo no seio da família e a língua italiana na escola (Gramsci, 2011).
[9] Percebemos que Gramsci
chega à educação escolar mais o,u
menos como Marx chega à mercadoria na pesquisa. Marx ao estudar o sistema
capitalista,
chegou à mercadoria e optou
por começar por ela a lógica da exposição da sua obra O Capital. No caso do
filósofo sardo, ele chega à escola pela reflexão desenvolvida por ele acerca
dos intelectuais.
[10] É indispensável lembrar,
conforme já demarcamos, que Gramsci considera que a educação da classe
trabalhadora e a formação de seus quadros de intelectuais orgânicos não cabem
apenas à escola formal.
[11] Mesmo com limitações
técnicas e pedagógicas, como criticava Gramsci, a Escola por Correspondência,
servia como uma escola interna do partido, ao modo que indicava uma estratégia
anti Bordiga (que apresentava uma ótica centralizadora no PCI) e em sintonia
com a política de frente única estabelecida pelo Partido Comunista Russo.
Conforme Del Roio (2006), Gramsci,
em 1923, já
se propunha a desenvolver um espaço formativo para a educação das massas nesse sentido. Assim, do jornal L'Unità à revista
L'Ordine Nuovo, serviram de instrumentos para uma escola de partido. Devido à
reação fascista, a mobilização para criar essas escolas se tornou ainda mais
necessária. Do mesmo modo, o compromisso de formar a classe trabalhadora nos
preceitos
bolcheviques, voltados à formação crítica e intelectual, superando o maximalismo e a instrumentalização
da atuação militante (Gramsci, 1978).
Longe
de uma visão utópica, Gramsci entendia a formação dessas pequenas escolas como um primeiro passo a ser dado para a emancipação espiritual
dos trabalhadores.
[12] Questa fu la fortuna del
marxismo in Italia: che esso servì da prezzemolo a tutte le più indigeste salse
che i più imprudenti avventurieri della penna abbiano voluto mettere in
vendita. E’ stato marxista in tal modo Enrico Ferri, Guglielmo Ferrero, Achille
Loria, Paolo Orano, Benito Mussolini…(Gramsci, 1978, p. 121).
[13] E’ necessario l’elemento
coscienza, l’elemento “ideologico”, cioè la comprensione delle condizioni in
cui si lotta, dei rapporti sociali in cui l’operaio vive, delle tendenze
fondamentali che operano nel sistema di questi rapporti, del processo di
sviluppo che la società subisce per l’esistenza nel suo seno di antagonismi
irriducibili, ecc. (Gramsci, 1978, p. 120).
[14] è necessario che il
partito intensifichi e renda sistematica la sua attività nel campo ideológico.
(Gramsci, 1978, p. 121).
[15] Perché il partito viva e
sia a contatto con le masse occorre che ogni membro del partito sia un elemento
politico attivo, sia un dirigente (Gramsci, 1978, p. 122).
[16] La preparazione
ideologica di massa è quindi una necessità della lotta rivoluzionaria, è una
dele condizioni indispensabili della vittoria. […] (Gramsci, 1978, p. 122).