e-ISSN 1984-7246
Ecologia humana e antropologia
do imaginário: convergências e aproximações
Zulenilton
Sobreira Leal *
Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
Salvador - BA, Brasil
lattes.cnpq.br/5682215588198961
niltonredacao@gmail.com.br
Juracy
Marques dos Santos **
Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
Salvador - BA, Brasil
lattes.cnpq.br/5856711452186247
Geam
Karlo Gomes ***
Universidade de Pernambuco (UPE)
Recife - PE, Brasil.
lattes.cnpq.br/6941717348545116
geam.k@upe.br
Ecologia humana e antropologia
do imaginário: convergências e aproximações
Resumo
Este artigo tem o objetivo de discutir pontos de
convergência entre a Antropologia do Imaginário, do antropólogo francês Gilbert
Durand, e as concepções da Ecologia Humana. Através de uma pesquisa conceitual
comparativa (Niz et al., 2016), foi possível compreender que ambas as correntes
de estudo têm como ponto de convergência a existência de um trajeto
antropológico, ligado ao equilíbrio biopsicossocial do homo sapiens. Essa
perspectiva oferece um debate complexo sobre a relação dos seres humanos com a
natureza e seus diversos habitats, em particular, o habitat simbólico. Nesse
sentido, esta pesquisa traz como resultado a ideia que não há como dissociar o
ser ecologicus do ser simbólicus, pois consideramos as narrativas míticas e
simbólicas linguagens essenciais na promoção de um olhar poético e sensível,
que traduz a subjetividade e que inclui valores nas condutas dos seres,
influenciando suas visões de mundo e das práticas culturais e socioambientais.
Palavras-chave: ecologia humana;
antropologia do imaginário; natureza; simbólico.
Human ecology and anthropology of the imaginary:
convergences and approximations
Abstract
This article aims to discuss
points of convergence between Anthropology of the Imaginary, by French
anthropologist Gilbert Durand, and the conceptions of Human Ecology. Through a
comparative conceptual research (Niz et al., 2016), it was possible to
understand that both streams of study have as a point of convergence, the
existence of an anthropological trajectory, linked to the biopsychosocial
balance of homo sapiens. This perspective offers a complex debate on the
relationship between human beings and nature and their diverse habitats,
particularly the symbolic habitat. In this sense, this research concludes that
it is impossible to dissociate the "ecologicus" being from the
"symbolicus" being, as mythical and symbolic narratives are
considered essential languages in promoting a poetic and sensitive perspective
that translates subjectivity and includes values in the conduct of beings,
influencing their worldviews and cultural and socio-environmental practices.
Keywords: human ecology; anthropology of the imaginary; nature;
symbolic.
___________________________
Contribuições de
autoria
* conceituação;
investigação; metodologia; administração do projeto; recursos; escrita –
rascunho original; escrita – análise e edição.
** administração do projeto; recursos; supervisão;
validação; visualização.
*** conceituação; metodologia; administração do
projeto; recursos; supervisão; validação; visualização; escrita – análise e
edição.
1 Introdução
No cenário contemporâneo, inúmeras são as perspectivas que dão luz à
necessidade de discutir o futuro do planeta Terra, estimulando no ser humano
uma mudança de pensamento e de atitude que possa contribuir para minimizar os
impactos ambientais e trazer ganhos à biodiversidade. Neste texto, abordamos as
preocupações com o meio ambiente/natureza a partir de uma ótica empreendida
pelo encontro epistemológico entre a Antropologia do Imaginário e a Ecologia
Humana. Nessa perspectiva, levantamos questões que dizem respeito à forma como
produzimos imagens do/no/sobre o planeta Terra, como nos vemos nele e como é
nossa relação com outros humanos em meio aos processos biológicos, culturais e
sociais.
Para Leonardo Boff (2021), as questões relacionadas à conservação
ambiental e ao cuidado com o Planeta se fazem urgentes e necessitam de um novo
“software” mental para pensar e ler a
atual realidade. Boff adverte que o pensamento instrumental, científico e
racional, que criou toda essa situação “calamitosa”, não pode ser o mesmo que
vai nos tirar dela. Segundo o filósofo, “precisamos igualmente da inteligência
emocional e com mais intensidade, da inteligência cordial, pois é ela, que nos
faz sentir parte de um todo maior, que nos dá a percepção da nossa conexão com
os demais seres” (Boff, 2021, p. 15).
Sendo assim, defendemos que as
políticas de reintegração entre o ser humano e o meio ambiente, de forma
sustentável, são dos principais recursos para tentarmos minimizar os impactos ambientais e os desequilíbrios
causados às populações de todos os seres vivos em decorrência da ação humana.
Ainda sobre essa questão, Boff (2021) define sustentabilidade como um conjunto
dos processos e ações que devem manter a vida e a integridade da “Mãe Terra”,
preservando seus ecossistemas com todos os elementos físicos, químicos e
ecológicos, que possibilitem a existência e a reprodução da vida.
Compreendemos, então, que os problemas socioambientais podem surgir de
uma estrutura política e sociocultural, que procura justificar a destruição da
natureza em nome do “progresso”. Com destaque para políticas do agronegócio,
hidronegócio, mineração, produção de energia e transição energética, além do
mercado imobiliário, entre outros. Diante desse cenário de uma política
neoliberal e de opressão, surge a necessidade de compreender a relação humana
com a Terra. Não somente nas questões ligadas às lógicas materiais,
racionalistas e utilitárias, tão exaustivamente estudadas em várias áreas de
conhecimento, mas também em sua dimensão imaterial, mítica e simbólica, o que
pode ajudar a entender de forma mais complexa nossa relação com nós mesmos, com
os outros e com todo o meio ambiente.
Nesta pesquisa, pressupomos, então, que existe uma atmosfera mítica
que une um ser humano aos outros e ao planeta desde o surgimento da espécie
humana na Terra. Diante disso, tentamos observar como essa atmosfera
mítica/simbólica pode nos ajudar a entender e a melhorar nossa relação com o meio
ambiente de modo inclusivo e sustentável. Ou seja, para este estudo, é preciso
abrir a mente para uma postura intelectual que não se limite unicamente ao
racionalismo, abdicando do medo do transcendente da recusa do imponderável.
Para Duarte (2017), muitas questões ambientais enfrentadas atualmente
residem justamente no abandono de nossas raízes. Em outras palavras, essa
separação que nós seres humanos promovemos com a natureza, nos afastou dos
traços da nossa ancestralidade, e talvez essa divisão e afastamento sejam a
principal causa para as crises socioambientais que estamos enfrentando. A visão
de Duarte (2017) ajuda a refletir sobre o conceito de arquétipos[1]
como princípio da formação humana e de que existe um inconsciente coletivo, que
impulsiona o ser humano na tomada de decisões e na construção de valores.
Unimos, então, o pensamento de Duarte aos estudos de Carl G. Jung (2000) sobre
a psicologia das profundezas, que contribuem decisivamente para o adensamento
das bases teóricas da Antropologia do Imaginário, a qual trazemos neste artigo.
Para estudiosos da área do Imaginário, como a professora Danielle
Perin Rocha Pitta (2005), o Imaginário é a capacidade de produzir imagens e de
nos conectarmos uns aos outros. Ele está ligado ao imponderável; segundo a
pesquisadora, o imaginário é “uma das essências do espírito humano, um
conhecimento sensível, mas que influencia nosso dia a dia”, “a raiz de tudo
aquilo que, para o homem, existe” (Pitta, 2005, p. 15). Assim, pode ser
entendido como a raiz de tudo aquilo que o ser humano cria/elabora para dar
sentido a sua existência, em meio à passagem do tempo e à certeza da morte.
Observa-se, então, que a discussão sobre Ecologia/Ser Humano em relação à terra
e a todos os elementos existentes nela pode ser alimentada por
imaginários.
Dessa forma, entendemos a importância de estudar essa dimensão
simbólica com o objetivo de compreender como se processa essa condição humana,
de elaborar narrativas e sua relação com o meio ambiente, observando que imagens são essas
que temos da natureza, como elas surgem, desaparecem ou se consolidam. Em
outras palavras, como nós, seres humanos, acionamos esse Imaginário sobre a
conservação e o cuidado com a biodiversidade, em meio a contextos históricos,
políticos, sociais e simbólicos? Para
entendermos melhor essa relação entre a Ecologia Humana e a Antropologia do
Imaginário, recorremos a uma pesquisa conceitual comparativa (Niz et al., 2016) que analisa um tema ou
conceito em um grupo de autores, que possuem ou não uma afinidade, com o
objetivo de apontar a variabilidade entre usos de uma mesma ideia, mostrando os
diferentes sentidos atribuídos ao conceito, as diferentes premissas que
estruturam uma definição, as virtudes e as fraquezas de cada perspectiva.
Neste estudo, foram selecionados autores fundantes da Antropologia do
Imaginário, como Gaston Bachelard, Jung, Mircea Eliade, com destaque para
Gilbert Durand (2012) e o seu conceito de trajeto antropológico. Para esse
pesquisador, o imaginário se forma dentro de um processo, biológico,
psicológico e cultural. No campo da Ecologia Humana, optou-se por incluir
pesquisadores exclusivamente brasileiros, especializados na EH, que reconhecem
o potencial da área, fundamentados em três pilares: a)
Interface Natureza
– Ser Humano, ou seja, Cultura – Meio Ambiente; b) Interdisciplinaridade; c)
Emancipação Humana.
Acredita-se que
ao utilizar o método conceitual comparativo, será possível explorar mais
profundamente as perspectivas de ambos os campos de estudo, proporcionando uma
compreensão mais ampla das temáticas abordadas. Após essa
introdução, o texto está estruturado em quatro partes: na primeira,
apresentamos o papel da Ecologia Humana na construção de um olhar mais complexo
entre a relação homem-natureza revelando que os aspectos naturais, sociais e
culturais da espécie humana não podem ser dissociados das questões ambientais.
Na segunda, visualizamos o Imaginário como um ambiente que se estrutura através
da imaginação. Este é responsável por manter um equilíbrio biopsicossocial da
espécie humana, no qual a relação com a natureza também pode ser investigada pelos sistemas simbólicos
presentes nas culturas humanas e como esses sistemas moldam as práticas
sociais.
Na terceira parte, evidenciamos
as convergências desses dois campos do conhecimento, EH e AI, revelando que o
conceito de Trajeto Antropológico, desenvolvido por Durand, pode ser entendido
como a base estruturante da Ecologia Humana. Assim como os estudos do
imaginário, esse campo busca a integração entre o ser biológico, psicológico,
social e cultural. Na última parte, as considerações finais, revelamos nossa
base epistemológica, afirmando que, para tentar resolver as questões ambientais
que surgem no século XXI, não podemos dissociar esse ser simbólico do ser
ecológico,
pois ambos estão interligados e constituem a natureza humana.
2
Ecologia Humana: uma discussão para além das ciências naturais
A Ecologia Humana – EH, como campo de estudo, foi
sistematizada por Robert Park, Ernest Burgess, Donald Pierson, entre outros, na
Escola de Chicago, nos Estados Unidos, nas primeiras décadas do século XX, em
meio à crescente preocupação com a degradação ambiental e a necessidade de se
compreender as interações complexas entre seres humanos e a natureza. Na base
desses estudos, está a noção de que é preciso um maior diálogo com outras áreas
do conhecimento, além das Ciências Naturais.
Ao reconhecer que o social, o cultural e o natural não podem ser
dissociados, a Ecologia Humana promove um olhar sobre a relação do ser humano
com o meio ambiente e exige de todos os pesquisadores e pesquisadoras dessa
área um diálogo interdisciplinar, ou mesmo transdisciplinar, com campos do
saber que precisam ser analisados em conjunto a fim de refletirmos sobre os
problemas socioambientais. Essa visão, compartilhada por Gonçalves (2021),
evidencia a importância de um olhar mais complexo sobre as questões ambientais:
como se vê,
a problemática ecológica implica outras questões extremamente complexas.
Implica outros valores, o que por si só coloca questões de ordem cultural,
filosófica e política. Implica um outro conceito de natureza e,
consequentemente, outras formas de relacionamento entre os seres vivos; com o
mundo inorgânico; enfim, dos homens entre si (Gonçalves, 2021, p. 22).
Sendo assim, a EH é um campo da ciência que se preocupa em compreender
o ser humano de forma holística, nas suas diversas dimensões, sejam elas:
biológicas, econômicas, políticas e sociais, isto é, nas dimensões da
objetividade e da subjetividade. Esse modo sensível e fluido de fazer ciência
além dos aspectos naturais/biológicos, aproxima-se da sociologia compreensiva de Max Weber, que diz:
A tarefa que
concerne à sociologia, então, é a de descobrir o sentido mais profundo de tal
motivação e compreendê-la de modo correto, mesmo se esta motivação não tiver
participado da ação consciente do indivíduo: torna-se, por conseguinte, um caso
limite de interpretação de sentido (Weber, 1971, p. 27).
Ao trazer o conceito de
sociologia compreensiva, Weber nos oferece uma nova forma de pensar a ciência,
sem desmerecer outros elementos até então apagados pelas luzes do iluminismo e
pela filosofia racionalista. A sociologia compreensiva prestigia o ser humano
nas suas microrrelações cotidianas e entende que ao “desmitologizar” o mundo, a
ciência moderna fomentou um “desencantamento” das sociedades e menosprezou
outras formas de produzir conhecimento, que não fossem o científico racional e
utilitário.
Fugindo a essa lógica positivista/cartesiana, disciplinar,
deparamo-nos com a hipótese denominada por Gaia, de Lovelock (1974), que faz referência à deusa da Mitologia Grega
de mesmo nome. Essa hipótese enxerga a Terra como um organismo vivo, dotado de
sentimentos, sensações e sensibilidades. A obra de Lovelock (1974), embasada em
ideias e paradigmas científicos, segundo Leonardo Boff (2021), influi nas
opções que determinam o nosso comportamento. De acordo com Boff
(2021), após quase quatro séculos de aderência a uma visão da Terra como um
conjunto de coisas isoladas, regidas por leis mecânicas e sem valor próprio,
percebemos que estamos alcançando os limites do planeta. A Terra revela-se como
um planeta antigo de pequeno porte, com imunidade limitada e resiliência
enfraquecida. O aumento da temperatura e a ocorrência de eventos naturais extremos
sugerem que a Terra não é apenas um objeto inanimado e sem propósito, mas
possui reações semelhantes às de um ser vivo.
Com base num pensamento similar ao de Lovelock e Boff, existe o estudo
da Ecologia da Alma, proposto pelo
professor Juracy Marques (2012). Para esse pesquisador, defensor das políticas
socioambientais, ao citar a alma, não estamos totalmente imersos em mares
metafísicos, ou religiosos, mas na percepção de uma sensibilidade, que toca o
íntimo do ser humano e oferece uma nova forma de enxergar e sentir todos os
elementos que estão na natureza, incluindo nós mesmos.
Juracy Marques também exemplifica o conceito de Ecologia da Alma com o
pensamento de povos indígenas. Na observação dele, elementos da natureza como
árvores, rios e cachoeiras são percebidos pelas tribos/povos tradicionais como
algo divino, onde residem os espíritos dos antepassados, e que ao violá-los em
seus espaços naturais, estaríamos desrespeitando toda uma ancestralidade e toda
a humanidade. Outra ilustração dessa
relação sensível está nas comunidades de matrizes africanas, para as quais,
elementos como a água, a terra e o ouro são personificados, vistos como
divindades carregadas de sentidos e subjetividades.
Para Emilio Moran, as mitologias e os símbolos sempre estiveram presentes
nas relações ser humano – natureza. Segundo o autor, sem essa dimensão
simbólica, não teríamos como produzir sentidos sobre o mundo em que vivemos. Essa percepção, que está mais ligada ao poder de
criação da humanidade e que intervém tanto em fatores bióticos quanto
abióticos, torna os estudos em Ecologia Humana importantes ferramentas para
entendermos as relações complexas que perpassam o ser humano com o seu entorno.
Dessa maneira, não enxerga o ser humano numa posição privilegiada, mas como qualquer
outro organismo vivo do Planeta que interfere e sofre interferência da
natureza. Entendemos assim que, para viver, o ser humano busca alternativas de
adaptação impostas pelo meio ambiente, e essas imposições são atravessadas
tanto pelo campo natural, quanto pelo social, cultural e simbólico.
Essa reconexão, caracterizada pelo caráter biocêntrico, talvez seja o
recurso mais eficaz no entendimento de que somos parte de um todo e que esse
todo (ser natureza/meio ambiente) depende de nós, como nós dependemos dele para
continuarmos vivendo na Terra. Compreendemos, dentro desse ponto de vista, que o sapiens, como qualquer outro indivíduo, é parte integrante da
ecosfera e assim é encarado, o que não distingue a EH da ecologia geral. Porém,
não podemos negar que a flexibilidade humana em termos de conduta e capacidade
para controlar as respectivas vizinhanças, desenvolvendo cultura
independentemente do ambiente, é maior do que a dos outros organismos. Daí a
importância de uma ecologia que estude o ser humano em todas as suas dimensões
e particularidades nos seus diversos habitats.
Segundo Marques (2012), a
definição de Ecologia Humana foi, por muito tempo, sistematizada de forma
fragmentada, e muitos dos pesquisadores não compreendiam a real complexidade humana
sobre os fenômenos. Contudo, nos dias atuais, a EH reconheceu suas limitações,
e isso, em particular, deve-se à mudança epistemológica que esse campo de
estudo atravessa. Um exemplo dessas mudanças está nas pesquisas concentradas
mais precisamente no Brasil desde os anos 1980, que não negam a interface ser
humano – natureza, sendo impossível
compreender o fenômeno humano sem perceber e apreender a mútua afetação que o
meio ambiente exerce sobre nós e vice-versa.
No seu livro, A História e Epistemologia da Ecologia Humana (2021), o professor
Luciano Ventim nos faz refletir sobre a relação do ser humano com os seus
diversos ambientes. Afirmando que os ambientes construídos pelo ser humano são,
segundo ele, complexos e diversificados, integram elementos tão diferentes como
a família, a habitação, os transportes, o trabalho, a organização social, a
atividade política, a religião, as emoções e os valores. Nesse ponto, os
estudos da Ecologia Humana lançam um olhar sobre essa postura mais complexa do sapiens, fugindo dos cânones puramente
técnicos científicos e racionais, e procuram nas microrrelações cotidianas
formas de dar sentido ao mundo e às coisas, quebrando uma hegemonia de
pensamento, que surge na antiga Grécia.
Tecendo críticas ao pensamento
que exclui e separa, Gonçalves (2021) afirma que Platão e Aristóteles foram os
responsáveis por todo o processo de fragmentação do ser humano com a natureza.
Isso porque, ambos os filósofos gregos estimularam no pensamento ocidental um
certo desprezo pelas pedras, pelas plantas e animais, e um privilégio ao ser
humano e ao mundo das ideias. O pensamento de Platão e Aristóteles contribuiu
para menosprezar as metáforas contidas nas narrativas míticas, na arte e na
poesia, e qualquer outra forma de produzir conhecimento sobre mundo que não
fosse baseado na filosofia racionalista. Contrapondo o pensamento platônico
aristotélico, o filósofo Gerd Bornheim (1989) nos diz que:
tudo está
cheio de misteriosas forças vivas; a distinção entre a natureza animada e
inanimada não tem fundamento algum; tudo tem uma alma” esta ideia de alma, de
forças misteriosas que habitam a physis, transforma algo inteligente
empresta-lhe certa espiritualidade, afastando-a do sem sentido anárquico e
caótico (Gonçalves, 2021, p. 29).
Essa visão, para qual existe um
mundo das ideias e outro inferior, é também incorporada à ética e aos valores
da cultura Judaico-Cristã. Ou seja, se por um lado Platão falava que só a ideia
era perfeita, em oposição à realidade mundana, o Cristianismo vai operar sua
própria leitura, opondo a perfeição de Deus à imperfeição do mundo material.
Nesse ponto, Gonçalves nos apresenta uma reflexão desse status alcançado pelo homem e como essa condição, apoiada pela
narrativa religiosa, fragmenta a nossa relação com toda a biodiversidade do
Planeta. Tal ideia, tomada também por questões e interesses econômicos, enxerga
a natureza como um recurso, ou seja, um meio para se atingir um fim. Esse
caráter materialista, pelo qual os humanos se tornam o centro do mundo,
estimula a imagem de que somos possuidores da natureza. Sendo esse humano a
imagem e semelhança de Deus, tudo pode, isto é, é o Todo Poderoso. Essa
articulação arbitrária, que divide e nos separa da vida em toda sua dimensão
natural, limita-nos a uma técnica científica e a uma postura antropocêntrica
equivocada, com requisitos para dominar o planeta e tudo que existe nele.
Contrapondo essa visão, Machado
(1984) enxerga no campo da Ecologia Humana, principalmente desenvolvida no
Brasil, uma ferramenta de emancipação epistemológica, que agrega vários campos
de estudo em prol de uma discussão holística entre o ser humano e o meio
ambiente. O autor observa que olhar para esse campo do saber não deve ser fixo,
mas nos chama atenção quanto ao lugar que estamos percorrendo. Assim, para ele, a Ecologia Humana poderia ser considerada uma
ciência, uma disciplina dentro de uma ciência ou uma combinação de partes
marginais de diferentes ciências. Além disso, o autor levanta a possibilidade
de a Ecologia Humana ser uma nova metodologia ou um novo nível de pensamento.
O questionamento do professor
Machado lança luz sobre a EH como um lugar de saberes, no qual o Ecólogo deve
caminhar na floresta da interdisciplinaridade, não de modo impositivo, mas sim
por querer entender as relações ser humano – natureza, assumindo uma atitude reflexiva e correspondente à perspectiva
da Ecologia Humana, que tem como finalidade a busca do entendimento e o
respeito em todos os aspectos macro e micro da vida na terra. Para isso,
segundo Machado (1984), os estudiosos do campo devem ter em mente seu papel de
agente emancipador, construtor de conhecimento, e que podem fugir a sua lógica
de formação.
Mas, afinal, o que é esse campo
interdisciplinar do conhecimento, conhecido como Ecologia Humana? Para Begossi
(1993), a EH é essencial para a compreensão das relações humanas com os
diversos ecossistemas. Sem se limitar a um cartesianismo que mais exclui do que
inclui, a autora nos oferece uma visão dessa ecologia como importante
ferramenta para a formação de uma nova consciência. Ao mapear o posicionamento
dos Ecólogos Humanos sobre a relação dessa área com a ecologia tradicional, a
pesquisadora apresenta o fundamento do posicionamento majoritário de autonomia
da Ecologia Humana para com a ecologia.
Segundo Begossi
(1993), embora a Ecologia Humana se baseie em conceitos da biologia, ela não é
necessariamente considerada uma ramificação da ecologia tradicional. Para
muitos estudiosos da EH, a análise da relação do ser humano com o ambiente
envolve diversos outros fatores, como aspectos culturais, sociais e
psicológicos. Isso faz com que a ecologia humana vá além dos limites das
ciências naturais. A mesma articulação de pensamento
ganha apoio com o professor Cesário, que enxerga no campo de estudos, objetivos
práticos de emancipação humana. Segundo Cesário,
como disciplina, a Ecologia Humana é ciência e
arte; como disciplina aplicada, procura identificar as forças que melhoram o
desenvolvimento humano, atualizam o potencial humano, otimizam o funcionamento
humano e melhoram a qualidade de vida das pessoas[2]
(Cesário, 2004, p. 42, tradução nossa).
O olhar de Cesário traz uma
concepção estética e decolonial dos estudos e pesquisas nessa área, fazendo uma
aproximação com nossa percepção do papel da EH como uma ciência para a vida em
suas dimensões mais profundas. Essa mesma concepção pode estimular a uma transdisciplinaridade para pesquisas nos campos da
arte e da estética, reafirmando a importância da interdisciplinaridade da EH e
sua penetração nos diversos quadros da vida social.
Nesse contexto, entender as
dimensões da Ecologia Humana para além dos aspectos biológicos e naturais é
imprescindível para a formação do seu campo de estudo. Para Marques, “a Ecologia Humana é uma
ecologia que coloca gente nos ecossistemas, e estuda suas relações e
consequências” (Marques, 2012, p. 14). Fugindo de discursos prontos, herdados
da modernidade e de um colonialismo disciplinar/classificatório, o pesquisador
brasileiro assume um caráter político e “adisciplinar”, nos provocando a enxergar
as pesquisas da EH no Brasil sob uma nova perspectiva.
De acordo com Marques
(2015), a EH no Brasil está num contexto das pós-ecologias. Nesse enfoque, o
conhecimento sobre as relações entre os grupos humanos e o ambiente é percebido
por meio do contato direto com os próprios indivíduos, não sendo passível de
ser interpretado apenas por observação científica. Ao tocar em pontos ainda pouco discutidos no meio
acadêmico, mas que acreditamos serem necessários, Marques (2015) também
estimula uma desconstrução de retóricas eurocêntricas e nos coloca num espaço
de interações culturais, a nosso ver, necessárias ao desenvolvimento político e
social, e que são atravessadas pelos aspectos materiais e simbólicos que
constituem nossa espécie.
3 A
Antropologia do Imaginário
Assim como a Ecologia Humana, a
Antropologia do Imaginário se apresenta como um campo interdisciplinar e
transdisciplinar de estudos, podendo ser abordado a partir de diferentes
teorias. Por isso, optamos por trabalhar o entrecruzamento entre matrizes
arquetípicas, e contextos socioambientais – históricos e culturais, pela
proposta antropológica de Gilbert Durand (2012), que enxerga o Imaginário como
elemento vivo, orgânico, marcado pelas experiências cotidianas. O imaginário é,
pois, a forma pulsante, viva e libertadora de conectar as diversas dimensões
que fazem os seres humanos serem quem são: sujeitos racionais, com sentimentos,
pulsões e sonhos.
Ao compreender o Imaginário como
um ambiente vivo e real, que se estrutura por meio da imaginação humana e dos
processos biopsicossociais, trazemos à tona a discussão de que a capacidade de
criar histórias ou mesmo ficções foi e é responsável por trazer um equilíbrio
biopsicossocial à espécie humana. Nesse aspecto, a capacidade de produzir símbolos
é, na verdade, segundo essa teoria, uma estratégia de sobrevivência, para
driblar a angústia do tempo e da morte, sobre a qual a imaginação tem um papel
importante.
Para o filósofo Gaston Bachelard
(1996), a imaginação é, justamente, um caminho por meio do qual a nossa espécie
consegue se desprender da vida cotidiana e se lançar numa aventura em direção
ao novo, ao imprevisto, ao surreal, permitindo, assim que o ser humano se eleve
espiritualmente. A imaginação impõe-se, portanto, como um percurso, que tem o
propósito de reiterar que razão e imaginação são verdadeiros caminhos e não
podem ser dissociados. Assim, Bachelard (1996) inspira Gilbert Durand a
perceber que a capacidade imaginativa dos seres humanos, seus processos
fisiológicos, e as intimações socioculturais, constituem o que chamamos de
Imaginário. Daí o nome original da sua teoria, que explicita as suas bases
epistemológicas "Estruturas Antropológicas do Imaginário”. Além de Gaston Bachelard, Durand
também se inspirou em outros autores que trouxeram grandes contribuições para a
consolidação da sua teoria, a exemplo de Carl G. Jung e Mircea Eliade. Na visão
de Durand (2012), o imaginário é uma dimensão ampla que se estende para além do
âmbito da psique humana, abrangendo toda a cultura e a sociedade.
3.1
Bases epistemológicas da Escola de Grenoble
As bases para a Antropologia
do Imaginário nasceram na Genebra do século 19, tendo a poética como a
linha condutora de conhecimento como sugere Gaston Bachelard (1962), sendo mais
tarde retomada na França do século XX, por meio de seu discípulo Gilbert Durand
(1921 - 2012), que apresenta as estruturas do Imaginário principalmente no viés
da antropologia, com bases científicas hermenêutica e heurística próprias aos
seus estudos. Dessa forma, para entender o complexo de ideias envolto no
imaginário, é preciso explorar algumas concepções dessa teoria formuladas por
Durand, entre elas estão: schème,
arquétipo, símbolo, mito, estruturas, regime de imagens e trajeto antropológico.
O schème é, segundo Durand (2012),
o primeiro esboço do imaginário, uma intenção biopsíquica, que corresponde aos
nossos gestos inconscientes da sensório-motricidade, ou seja, o que ele chama
de reflexos dominantes[3]:
a dominante postural – movimento de
subida, para ficar ereto e de divisão manual e visual; a dominante digestiva – movimento de deglutição, de descida do
alimento, e a dominante copulativa –
movimento cíclico dos ritmos sexuais. Quando esses reflexos entram em contato
com o ambiente e a cultura, imprimem no inconsciente – psiquê – sensações e
estímulos que vão formar imagens. Em outras palavras, segundo a Antropologia do Imaginário,
esses movimentos que a espécie humana executa há milhares de anos, deixam um
registro na nossa psiquê. Os schèmes são,
então, as simbolizações desses reflexos básicos.
Essas imagens, frutos da interação entre fatores biológicos, pulsão e
intimações do meio social, vão originar o que Durand chama de os arquétipos –
imagens universais, que a depender dos contextos sociais, ambientais e
culturais, vão sofrer influências. Jung (2000) define o arquétipo como a zona
matriarcal da ideia – uma forma primordial e inata de caráter universal,
presente no inconsciente coletivo da humanidade. Ele compara os arquétipos às molduras
originais desprovidas de substância consciente, determinada quanto à forma e
nunca quanto ao conteúdo.
Por sua vez, Durand (2012) recupera a discussão de Jung e diz que o
arquétipo é a substantificação dos schèmes
e ocorre em fase posterior. O autor ressalta que as matrizes arquetípicas
se manifestam como substantivação dos schèmes.
Para esse antropólogo, “os arquétipos, então, seriam moldes ocos que devem ser
preenchidos pelos símbolos, distribuídos pela sociedade, sua história e
situação geográfica” (Durand, 2010, p. 91). O arquétipo é o ponto de junção
entre o imaginário e os processos racionais. Por exemplo, a imagem do chefe, do
herói, do bem e do mal geram ideias e energias que se encaixam no schéme postural (verticalização e
divisão). Isso porque essas ideias estão associadas ao que divide e à elevação.
Exemplo, a criança ao ficar em pé, segundo Durand, sente-se melhor, tem mais
liberdade, ganha coragem. Logo, o que está no alto é melhor, o que está abaixo
gera sentimentos menores, de impotência, a ideia de castigo.
No esquema postural também vão surgir as imagens do paraíso e do
inferno. Já as imagens da noite, de um
colo, de algo oco em seu interior, geram ideias de assimilação, inclusão e vão
se encaixar no schème da deglutição.
A roda e o vórtice conclamam a uma atividade, um processo mental, que exige o schème da copulação. Nesse sentido, os
arquétipos são núcleos organizadores das produções culturais dos seres humanos,
e os mitos, também, podem ser compreendidos como uma racionalização desse
arquétipo.
Para Durand, o símbolo é uma imagem que evoca um significado profundo
e transcendente que vai além de sua aparência superficial e imediata. O símbolo
pode ser entendido como um mediador entre o consciente e o inconsciente,
permitindo que o indivíduo entre em contato com os arquétipos e as estruturas
profundas da psique. Já o mito, para a Antropologia do Imaginário, é uma
narrativa que representa a expressão coletiva dos valores, crenças e ideias de
uma cultura. O mito é uma forma de elaborar e transmitir conhecimentos e significados
que são compartilhados por uma comunidade, ajudando a construir identidades e
visão de mundo.
Portanto, essa atualização constante do Imaginário, que acontece tanto
por questões biopsíquicas, como sociais (culturais, meio, tempo histórico etc.)
é o que conhecemos como Trajeto
Antropológico. Esse trajeto está diretamente associado à capacidade
criativa do ser humano de driblar a angústia do tempo e da certeza da morte. E
é através do entendimento do imaginário construído e alimentado por esse trajeto
que este estudo se alicerça, pois se compreende que o ato comunicacional dos sapiens não se baseia apenas nos
aspectos históricos, culturais, sociológicos, muito menos em questões somente
do inconsciente.
Se, para o ser humano, nada que existe no mundo é insignificante e
tudo que existe na natureza pode ser transformado, isso significa dizer que
essas construções permeiam o plano simbólico através da organização de sistemas
de imagens universais (arquétipos). Para isso, essas imagens, segundo Durand (2001),
podem ser classificadas por meio de duas categorias: o regime diurno e o regime
noturno. Entendem-se essas imagens a partir da identificação de seus
significados intrínsecos às próprias imagens, de acordo com o tempo-espaço no
qual elas estão inseridas, ou seja, uma mesma imagem sempre será vista de
diferentes formas de acordo com a cultura e, principalmente, sofrerá
modificações.
Esses regimes, portanto, não são “agrupamentos rígidos de formas
imutáveis” (Durand, 2001, p. 64), mas traduzem os sentimentos próprios de cada
cultura e as experiências individuais ou de um grupo. O regime diurno é
caracterizado pela antítese sombra-luz, pela oposição de palavras e ideias
(dualismo), por imagens que privilegiam a luz como forma de conquista, através
da luta armada na busca da vitória, de vencer a morte e a treva, de ascensão. O
noturno é caracterizado por ser um regime de imagens que trazem o eufemismo, a
descida, a união dos opostos. Nas suas pesquisas, Durand (2012) detectou três
maneiras de agrupar essas imagens: 1) heroicas
ou esquizomorfas, relacionadas ao gesto postural; 2) dramáticas ou sintéticas, relacionadas ao gesto copulativo; 3) místicas
ou antifrásicas, relacionadas ao gesto digestivo. Esses agrupamentos tentam
dar resposta a uma questão fundamental do ser humano: a sua finitude. Nesse
processo, as estruturas estão inseridas dentro dos regimes:
o Regime
Diurno tem a ver com a dominante postural, a tecnologia das armas, a
sociologia do soberano mago e guerreiro, os rituais da elevação e da purificação;
o Regime Noturno subdivide-se nas
dominantes digestiva e cíclica, a primeira subsumindo as técnicas do continente
e do habitat, os valores alimentares e digestivos, a sociologia matriarcal e
alimentadora, a segunda agrupando as técnicas do ciclo, do calendário agrícola
e da indústria têxtil, os símbolos naturais ou artificiais do retorno, os mitos
e os dramas astro biológicos (Durand, 2001, p. 58).
Em linhas gerais, o Imaginário
pode ser compreendido como um ambiente vivo que deve ser entendido como o
capital pensado e não pensado do homo
sapiens. O “grande denominador fundamental onde se vêm encontrar todas as
criações do pensamento humano” (Durand, 2012, p. 18). Para o sociólogo Michel
Maffesoli (1998, p. 78) “o Imaginário está presente em todos os segmentos da
vida, conciliando o que aparentemente é inconciliável”. Então, se o imaginário
tudo contamina, qual a relação entre a Ecologia Humana e a Antropologia do Imaginário?
De fato, se pensarmos que, desde os primórdios, o homo sapiens e os neandertais imaginavam, pressupomos então, que todo o
processo evolutivo que nos conduziu até os dias atuais só foi possível graças à
capacidade de produzir narrativas, mitos. Sendo assim, compreender essas
mitologias sobre nossa relação com a natureza e o meio ambiente se torna
urgente e necessário. Armstrong (2005) aponta que a
alienação moderna em relação ao mito é sem precedentes.
No mundo pré-moderno, a mitologia era considerada
indispensável para a humanidade, pois auxiliava as pessoas a encontrarem
significado em suas vidas e revelava aspectos da mente humana que, de outra
forma, permaneceriam inacessíveis. Longe de
alguns preceitos da ciência moderna que não enxergam essa dimensão da imagem
como constituinte do real, concordamos com Maffesoli (1998, p. 78), que diz “o
Imaginário está presente em todos os seguimentos da vida, conciliando o que
aparentemente é inconciliável”. Para ele,
na ecologia,
por exemplo, com a revalorização da natureza. No desejo de interação, colocando
o holismo acima das perspectivas binárias ou do individualismo. Na convicção de
que o homem deve negociar com a natureza, não a dominar (Maffesoli, 2001 p.
77).
Essa forma de pensar lança luz
sobre a contribuição dos estudos da imaginação e do imaginário como necessários
para compreender um possível processo de revolução cultural das sociedades
sustentáveis. Isso porque pressupomos que esse reencantamento do mundo, ou
seja, esse pensamento utópico é carregado de metáforas e afetos. Deixado de
lado pela modernidade, é nossa ponte de reconexão com a natureza e, por assim
dizer, com nós mesmos.
4
Convergências e aproximações entre a Ecologia Humana e a Antropologia do
Imaginário
Ao mencionar a relação entre a Ecologia Humana e a Antropologia do
Imaginário, evidenciamos que o conceito de Trajeto Antropológico, defendido por
Gilbert Durand, tem relação direta com as bases estruturantes da Ecologia
Humana, revelando o quanto as questões ambientais não podem estar dissociadas
dos aspectos e dimensões simbólicos da espécie humana. Não há como entender o
ser ecológico sem conhecer o ser simbólico. A relação
se torna ainda mais evidente, quando entendemos que o conceito de trajeto
antropológico, nada mais é do que a forma como nós produzimos sentidos sobre o
mundo através dos fatores biológicos, sociais e culturais.
Diante disso, este estudo está
interessado em oferecer uma maior compreensão desse fluxo entre matrizes
arquetípicas e as imagens (próprias do campo da Antropologia do Imaginário) que
temos sobre a natureza e toda a biodiversidade. Um
recorte específico da Ecologia Humana dentro da Antropologia do Imaginário pode
ser a análise de como certas culturas indígenas veem a natureza e desenvolvem
um imaginário coletivo sobre o meio ambiente que as cerca. Nesse contexto, os
pesquisadores podem examinar como essas sociedades concebem as plantas, os
animais, os rios e outras paisagens naturais, atribuindo-lhes significados
simbólicos e espirituais. Isso pode influenciar suas práticas de caça e pesca,
bem como sua relação com o ecossistema em que vivem.
É importante reafirmar que as imagens a que
estamos nos referindo neste estudo têm base nas pesquisas das estruturas
antropológicas do Imaginário em Durand (2012). E são as pulsões resultantes de
construções biopsicossociais ligadas aos movimentos internos do organismo
humano, e as coerções do mundo social, cultural e
natural, que estão diretamente associadas ao poder de imaginação da humanidade.
A ideia é perceber que, ao prestigiar o sensível e o vivencial,
tentamos compreender o ser humano nas suas dimensões poéticas/oníricas e
afetuosas também. Ou seja, ao estudar as dimensões míticas e simbólicas, não
estamos interessados somente num conhecimento utilitário/cartesiano, mas sim
numa potência ancestral e criativa do espírito humano, que impulsiona nossas
ações.
Logo, procurar compreender o
processo de formação de imagens, para buscar entender: que imaginário temos da
conservação ambiental, em quais regimes e estruturas essas imagens estão
inseridas, como podem auxiliar os pesquisadores da EH a irem além dos
estereótipos e do senso comum, buscando uma maior compreensão das ações humanas
frente aos sentidos empreendidos diante das práticas e políticas de conservação
ambiental.
Como exemplo desse processo simbólico natural e social, podemos apresentar
a nossa relação com as águas do Velho Chico, o Rio São Francisco[4].
Qual a imagem (símbolos e mitos) que temos desse Rio atualmente? Estaríamos,
então, hoje: mais interessados em conservar esse rio para poder “ter”. O que
para AI corresponderia a um imaginário utilitário, que divide o ser humano e
enxerga a natureza como algo a nos servir e a sanar nossas necessidades e de
nossos descendentes, algo visto pela EH como resultado de um pensamento
binário, que separou o sapiens da
natureza estimulando um senso de superioridade, para o qual o meio ambiente
existe somente para nos servir, ou seja, estaríamos vivendo um regime diurno
dos símbolos diuréticos e da verticalidade.
Ou deveríamos conservá-lo para “conviver”? Ou seja, uma perspectiva do
regime noturno, seja místico, do redobramento e encaixamento, assimilando o
meio cósmico ao sociocultural numa essência da harmonia. Ou ainda, conservar o
meio ambiente buscando equilibrar o homo
consumericus e homo ecologicus? Isso
é, uma perspectiva ética da integralidade e equilíbrio dos contrários, que
corresponde ao regime noturno disserminatório. Nas duas últimas possibilidades,
há a associação com um pensamento harmonioso, buscando essa reconexão e
respeito ao meio ambiente e as tradições, um pensamento que coaduna com as
bases conceituais da Ecologia Humana que procura essa integração entre os seres
humanos e a natureza na solução das crises ambientais.
O que é preciso compreender nesta
pesquisa é que a sistematização proposta por Durand auxilia a direcionar a análise
das imagens presentes no mundo, criadas pelos seres humanos e ressignificadas
por eles a todo o momento. Nesse cenário, não podemos negar a necessidade emergente de um saber, e de uma
forma de compreender essa relação com a natureza e com nós mesmos, que passa
pelo paradigma da inter e da transdisciplinaridade, pelo pensamento complexo,
bem como pelo caminho do diálogo com outros saberes.
Nessa lógica,
ambas as teorias, Antropologia do Imaginário, quanto os estudos da Ecologia
Humana, contribuem para uma reconexão, para a qual o respeito a toda natureza,
incluindo às tradições, à memória e à cultura, são elementos essenciais para a
conservação da biodiversidade. Concordamos com Marques, quando diz que a
Ecologia Humana “está para a defesa da vida em todas as suas formas” (Marques,
2012, p. 10), permanecendo, então, presente em toda a dimensão humana. Sob um ponto de vista
epistemológico, pressupomos que a Ecologia Humana reforça a ideia de que o ser
humano não pode dominar toda dinâmica da vida (devir) e que esse mesmo humano,
é e faz parte desse grande ambiente material e subjetivo. Nesse sentido,
compreendemos que os ambientes podem estar relacionados ao mundo natural
(plantas, animais insetos e bactérias), ou mesmo à realidade construída pelos
humanos por meio dos seus valores éticos, políticos, culturais e simbólicos.
Dessa forma, compreendendo a
visão dos autores analisados nesta pesquisa e utilizando um método comparativo
conceitual, identificamos as seguintes convergências: Interdependência entre
a sociedade e a natureza: Tanto a ecologia humana quanto a antropologia do
imaginário enxergam a interdependência entre os seres humanos e o ambiente
natural. A ecologia humana examina como as atividades humanas causam mudanças
no ambiente e como, por sua vez, essas mudanças impactam a sociedade (Marques,
2016). A antropologia do imaginário, através de sua hermenêutica e de métodos
específicos, explora como as representações vividas e imaginárias moldam a
percepção e a relação dos seres humanos com a natureza. Ambas as abordagens
analisadas reconhecem que a forma como a sociedade interpreta e se relaciona
com as questões ambientais é influenciada tanto por fatores racionais e
psicológicos, quanto por narrativas, símbolos e mitos compartilhados (Gonçalves,
2021).
Construção de significados e valores: a AI analisa como as pessoas produzem sentidos e atribuem valores
aos seus ambientes. Isso pode incluir mitos e narrativas que explicam a relação
entre os seres humanos e o meio ambiente, bem como símbolos culturais
relacionados à natureza (Durand, 2012). A EH converge nesse aspecto e também
reconhece a importância dos valores e significados atribuídos à natureza na
tomada de decisões relacionadas ao uso dos recursos e à conservação da
biodiversidade (Boff, 2001). Ambas as disciplinas se interessam pela forma como
esses significados e valores moldam as atitudes e comportamentos em relação à
vida.
Influência
do biológico, do social e da cultura: tanto a EH
quanto a AI reconhecem que a relação dos seres humanos com a natureza é mediada
por fatores biológicos, culturais, sociais e até estéticos (Cesário, 2004). A
EH humana, a exemplo da Antropologia do Imaginário, considera as estruturas
sociais, as normas culturais e os sistemas de crenças como fatores que influenciam
os padrões de uso dos recursos e as práticas de gestão ambiental (Marques,
2017). Nos aspectos biológicos, tanto a EH quanto a AI enxergam o ser humano
como uma espécie capaz de moldar sua capacidade e limitações físicas e mentais
ao ambiente natural e à cultura em que está inserido. Esses fatores biológicos,
ou pulsões, desempenham um papel importante em sua capacidade de se adaptar e
produzir sentidos sobre a natureza (para a AI, seriam as intimações do meio
cósmico, a formação do schèmes,
arquétipos e mitos presentes na constituição do sapiens) e como esses fatores influenciam as práticas sociais e
culturais relacionadas ao meio ambiente, ou seja, uma formação biopsicosocial
ou, na visão de Durand, um Trajeto Antropológico.
Interdisciplinaridade: tanto os autores da Ecologia Humana quanto da Antropologia do Imaginário reconhecem a colaboração e a integração de conhecimentos de diversas áreas, como Antropologia, Sociologia, Economia, Psicologia, Biologia e Ecologia. Em outras palavras, ambos os campos combinam perspectivas epistemológicas de diversas áreas de conhecimento para uma compreensão mais completa das relações entre os seres humanos e a natureza.
Além disso, é fundamental reconhecer e abordar as desigualdades socioeconômicas e
culturais que afetam a capacidade das comunidades de responderem aos desafios
ambientais.
Nesse quadro, a Ecologia Humana
pode ser compreendida, segundo sugere Tapia (1993), como “uma ética para a
vida”, ou simplesmente uma forma de entender e enxergar o cotidiano como um
grande espaço de interações, naturais e culturais, o que exige de nós um pouco mais de
atenção para esse ambiente constituído pelas imagens, haja vista que é nesse
ambiente que está todo o processo de criatividade humana. Pensar não só na
nossa relação de produção das coisas, mas, sobretudo, pensar também na nossa
relação de produção de símbolos e como ela pode, a nosso ver, estimular estudos
mais complexos sobre as inter-relações entre Ecologia Humana e todos os campos
do conhecimento.
5
Considerações finais
Considerando as reflexões
apresentadas ao longo deste artigo sobre a Ecologia Humana e as convergências
com a Antropologia do Imaginário, pressupomos que o principal ponto de
convergência entre a EH e AI está relacionado à
compreensão de como as representações simbólicas influenciam nossas práticas e
percepções com o meio ambiente. Por exemplo, poderíamos estudar como as
representações simbólicas e imaginárias das comunidades humanas influenciam
suas práticas e relações com o ambiente natural. Ou ainda, como as percepções
ecológicas influenciam a construção dos imaginários sociais. Nesse
quadro, Durand enfatiza a importância de considerar o homem não apenas como um
ser isolado, mas como parte de um ecossistema mais amplo. Essa perspectiva
ressoa fortemente com as bases da Ecologia Humana, uma área que busca
compreender a relação complexa entre os seres humanos e o ambiente natural em
que vivem. Ao adentrar na obra de Durand, somos levados a explorar a simbiose
entre cultura e natureza, destacando como os sistemas simbólicos, mitos e
rituais humanos se enraízam profundamente na experiência e na percepção da
natureza.
A Ecologia Humana, por sua vez,
oferece ferramentas teóricas e metodológicas para analisar como essas sensações
são estruturadas e como moldam a forma como os seres humanos percebem,
interagem e se adaptam ao ambiente ao longo do tempo. A abordagem da AI é
enriquecida pela sua busca incessante por arquétipos e padrões centrais
presentes nas diversas culturas humanas. Essa busca se alinha com o princípio
da Ecologia Humana, que também se dedica a identificar padrões recorrentes de
comportamento, adaptação e relação com o ambiente.
Além disso, a trajetória
antropológica de Durand nos estimula a refletir sobre a relação entre o
imaginário coletivo e o meio ambiente. Ao estudar os mitos e símbolos presentes
nas sociedades humanas, o antropólogo francês demonstra como eles são
frequentemente reflexos dos cenários naturais e dos desafios enfrentados pelos
grupos humanos em seu ambiente específico. Essa perspectiva simbólica também
complementa a Ecologia Humana ao enfatizar a importância da cultura na
construção de narrativas e estratégias adaptativas em resposta às mudanças
ambientais. Em suma, a relação do trajeto antropológico de Gilbert Durand com
as bases da Ecologia Humana é uma conexão enriquecedora que nos convida a
mergulhar profundamente na complexa interação entre o ser humano e o meio
ambiente. Suas abordagens convergentes nos permitem compreender melhor como a
cultura e a natureza estão entrelaçadas e como a percepção humana do mundo é
moldada por essa relação intrincada.
A partir dessa sinergia, somos
instigados a buscar soluções mais harmoniosas para os desafios globais que
enfrentamos em nosso planeta. Dessa forma, nosso estudo abre a discussão para
pesquisas com foco nas dimensões míticas e simbólicas da espécie humana e suas
relações ecológicas e socioculturais, compreendendo que não podemos entender o
espírito ecológico contemporâneo sem procurar entender o homo symbolicus que
habita em todos nós.
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[1] Jung (1964 - 2000) define o arquétipo
como a zona matriarcal da ideia - uma forma primordial e inata de caráter
universal, presente no inconsciente coletivo da humanidade. Ele compara os arquétipos às molduras
originais desprovidas de substância consciente, determinada quanto à forma e
nunca quanto ao conteúdo.
[2] As
a discipline Human Ecology is both science and art; as an applied discipline,
it seeks to identify the forces which enhance human development, actualize
human potential, optmizing human functioning and improve the quality life of
people (Cesário, 2004, p. 42).
[3] Para o desenvolvimento do método de
estudo do imaginário, Durand valeu-se dos estudos sobre os “reflexos
dominantes” de Betcherev, que foram descobertos na escola russa de
reflexologia, ao tempo dos trabalhos de Pavlov (que descobriu o reflexo
condicionado). Wladimir Mikhailovitch Betcherev, com sua equipe, que depois
seria conhecida como Escola de Leningrado, percebeu existirem três reflexos
básicos comuns a alguns animais e aos seres humanos, envolvendo o despertar da
sensório-motricidade de cada um (Cavalcante, 2021, p. 23).
[4] O Rio São
Francisco tem sua nascente histórica no alto do Parque Nacional da Serra da
Canastra, em Minas Gerais, no município de São Roque de Minas, região
considerada um grande berço de rios. Contudo, segundo o Ministério do Meio
Ambiente, foi determinado que a nascente geográfica do Rio São Francisco se
encontra no município de Medeiros, em Minas Gerais. O rio liga as regiões
Nordeste e Sudeste do Brasil, desaguando no Oceano Atlântico, na divisa dos
estados de Alagoas e Sergipe (Souza, 2013).