e-ISSN 1984-7246
Inteligência artificial e
tecnologias: desafios para o desenvolvimento das competências docentes na
educação em Moçambique
Joana
André Machuza Matenga*
Escola Superior de Jornalismo (ESJ)
Maputo - Moçambique
Universidade Estadual Paulista “Júlio
Mesquita Filho” (Unesp)
Marília, SP - Brasil
lattes.cnpq.br/1123475039871858
Cecílio
Merlotti Rodas **
Instituto Federal de São Paulo (IFSP)
Votuporanga, SP - Brasil
lattes.cnpq.br/4652647090897148
Inteligência artificial e
tecnologias: desafios para o desenvolvimento das competências docentes na
educação em Moçambique
Resumo
A inteligência artificial (IA) é uma área da
computação que desde a sua origem preocupa-se com a manipulação dos
computadores de forma inteligente, ou seja, em fazer com que possuam
capacidades e habilidades que antes cabiam aos seres humanos. Nesse sentido, é
importante que o docente, como facilitador da aprendizagem, faça o uso dessa
inteligência de modo a tornar o processo de ensino e aprendizagem mais
dinâmico, interativo e colaborativo, assim como divulgar informações relevantes
aos seus alunos de acordo com os seus interesses e anseios. O presente trabalho
propõe-se a refletir sobre os desafios para o desenvolvimento das competências
docentes no uso da IA e tecnologias na educação em Moçambique. Trata-se de uma
pesquisa qualitativa, com objetivo de auxiliar os profissionais da educação,
especificamente os docentes, no desenvolvimento de competências para o uso da
IA na educação. Para a recolha de dados, recorreu-se à pesquisa bibliográfica e
documental. Em Moçambique, a IA ainda é um grande desafio para todos os
setores, inclusive para a educação, destacando-se a inexistência dos sistemas
educacionais que se utilizam das tecnologias da IA, a inexistência de
infraestruturas adequadas para suportar essa tecnologia, o acesso limitado à
Internet e a falta de docentes qualificados para o seu uso. Assim, considera-se
o estabelecimento de parcerias com os outros países que já tenham implementado
a IA na educação como suporte ao processo de ensino e aprendizagem, como uma
estratégia para a materialização deste processo, e capacitação dos docentes com
vista ao desenvolvimento de competências digitais para o uso da IA.
Palavras-chave: inteligência
artificial; tecnologias; competência digital; docente.
Artificial intelligence and technologies: challenges
for the development of teaching skills in education in Mozambique
Abstract
Law nº 14,285/21 has
empowered Brazilian municipalities to regulate permanent preservation areas Artificial
intelligence (AI) is an area of computing that since its origin has been
concerned with manipulating computers in an intelligent way, that is, making
them possess capabilities and abilities that were previously the responsibility
of human beings. In this sense, it is important that the teacher, as a learning
facilitator, makes use of this intelligence in order to make the teaching and
learning process more dynamic, interactive and collaborative, as well as
disseminate relevant information to his students according to their interests
and desires. This work aims to reflect on the challenges for developing teaching
skills in the use of AI and technologies in education in Mozambique. This is
qualitative research, with the aim of assisting education professionals,
specifically teachers, in developing skills for the use of AI in education. To
collect data, bibliographic and documentary research was used. In Mozambique,
AI is still a major challenge for all sectors, including education,
highlighting the lack of educational systems that use AI technologies, the lack
of adequate infrastructure to support this technology, limited access to the
Internet and the lack of qualified teachers for its use. Therefore, the
establishment of partnerships with other countries that have already
implemented AI in education to support the teaching and learning process is
considered, as a strategy for the materialization of this process, and to train
teachers with a view to developing digital skills for the use of AI.
Keywords: artificial intelligence; technologies; digital
competence; teacher.
___________________________
Contribuições de
autoria
* conceituação, curadoria de dados, análise formal,
aquisição de financiamento, investigação, metodologia, administração do projeto,
recursos, visualização, escrita, escrita – análise e edição.
** Conceituação, recursos, software, supervisão, validação,
escrita – análise e edição.
1 Introdução
A Inteligência Artificial (IA) é um ramo de
conhecimento que tem sido cada vez mais usado para a resolução de problemas em
diversas esferas da economia e da pesquisa científica e tecnológica, também com
várias aplicações bem-sucedidas na gestão pública e em atividades que levem a
benefícios sociais (Cerri; Carvalho, 2017). Trata-se de uma tecnologia avançada
que consiste no uso de máquinas e programas inteligentes para a realização de
tarefas que apenas os humanos executariam pela sua capacidade cognitiva.
Segundo Gomes (2010), a IA é uma área da
Ciência da Computação cujo interesse é fazer com que os computadores pensem ou
se comportem de forma inteligente. Por ser um tópico muito amplo, a IA também
está relacionada com a psicologia, biologia, lógica matemática, linguística,
engenharia, filosofia, entre outras áreas científicas. É nesse sentido que este
artigo propõe-se a refletir sobre os desafios para o desenvolvimento das
competências docentes no uso da IA e de tecnologias na educação em Moçambique,
considerando que para o desenvolvimento das competências no uso da IA faz-se
necessário primeiro possuir competência digital para o uso correto da
tecnologia digital, assim como a competência em Informação (CoInfo) para saber
selecionar, organizar e difundir a informação útil aos alunos.
Portanto, esta pesquisa procurou responder a
seguinte questão: “Quais são os desafios para o desenvolvimento das
competências docentes no uso da IA e tecnologias na educação em Moçambique?”
Em Moçambique, a IA ainda constitui um grande
desafio no que diz respeito à aquisição da tecnologia apropriada e formulação
de leis, políticas e estratégias do seu funcionamento. Entretanto, para o
desenvolvimento das competências docentes no uso da IA e de tecnologias na
educação é necessário que se criem infraestruturas adequadas que suportem a
tecnologia, a sua aquisição, assim como capacitação de docentes em competências
digitais e uso da IA, além do seu engajamento e responsabilidade em aprender ao
longo da vida, visto que as tecnologias estão em constante transformação e
desenvolvimento.
2 Inteligência artificial
A origem da inteligência artificial (IA) está
diretamente ligada à história da computação. Segundo Russell e Norving (2013), a
IA é um dos campos mais recentes em ciências e engenharia, tendo o trabalho
começado logo após a Segunda Guerra Mundial, e a designação criada em 1956, na
primeira conferência sobre inteligência artificial. O termo “inteligência
artificial” foi criado para essa conferência, que deu início aos estudos e
pesquisas específicas sobre o assunto, e a partir desse período, vários estudos
e artigos surgiram, e o campo começou a florescer a partir de seus resultados,
ao longo das décadas de 1950 e 1960 (Oliveira, 2018).
Nos últimos anos, com o avanço da capacidade
de processamento dos computadores, a IA tem sido utilizada em diversos campos.
O principal objetivo é dotar de inteligência as máquinas. Desde a sua origem, a
IA veio com um caráter multidisciplinar e congregou áreas como Filosofia,
Psicologia, Lógica, Matemática e a Ciência da Computação. Recentemente, a IA
tem sofrido influências de novas áreas, como Biologia e Neuro-ciências, entre
outras (Vicari, 2018). Para o autor, o termo IA pode ser definido como a arte
de se construir programas que se adaptem e aprendam, com a finalidade de
prolongar o seu ciclo de vida.
Na visão de Russell e Norving (2013), a IA
tenta não apenas compreender, mas também construir entidades inteligentes.
Atualmente, ela abrange uma enorme variedade de subcampos, do geral
(aprendizagem e percepção) até tarefas específicas, como jogos de xadrez,
demonstração de teoremas matemáticos, criação de poesia, direção de um carro em
estrada movimentada e diagnóstico de doenças. A IA é relevante para qualquer
tarefa intelectual, pois é verdadeiramente um campo universal. A partir dessa
análise, Russell e Norving (2013) abordam a IA em duas dimensões dos seres
humanos: a dimensão do pensamento e raciocínio; e a do comportamento.
Na dimensão do pensamento e raciocínio, ao
considerar-se que um dado programa pensa como um ser humano, deve-se primeiro
determinar como os seres humanos pensam. Para tal, é necessário considerar a
penetração nos componentes reais da mente humana através da introspecção; experimentos
psicológicos; e imagens cerebrais. No entanto, somente após a criação de uma
teoria da mente suficientemente precisa é que será possível expressar a teoria
como um programa de computador, pois se os comportamentos de entrada e saída e
sincronização do programa coincidirem com os comportamentos humanos
correspondentes, isso será a evidência de que alguns dos mecanismos do programa
também podem estar operando nos seres humanos (Russell; Norving, 2013).
Na dimensão do comportamento, o computador precisaria
ter as capacidades de processamento de linguagem natural para permitir que ele
se comunique com sucesso em um idioma natural; de representação de conhecimento
para armazenar o que sabe ou ouve; de raciocínio automatizado para usar as
informações armazenadas com a finalidade de responder a perguntas e tirar novas
conclusões; de aprendizado de máquina para se adaptar a novas circunstâncias e
para detetar e extrapolar padrões (Russell; Norving, 2013).
Numa outra abordagem, encontramos Ovanessoff
e Plastino (2017, p. 10) afirmando que “hoje, a IA refere-se a diferentes
tecnologias que podem ser combinadas de diversas formas para perceber,
compreender e agir”, dentre os quais:
·
Perceber corresponde à visão computacional e
de processamento de áudio. Por exemplo, são capazes de reconhecer ativamente o
mundo ao seu redor por meio da aquisição e processamento de imagens, sons e
voz.
·
Compreender indica o processamento de
linguagem natural e os mecanismos de inferência que permitem que os sistemas de
IA analisem e entendam a informação coletada.
·
Agir corresponde ao sistema de IA que pode
agir por meio de tecnologias como sistemas especialistas e mecanismos de
inferência ou adotar ações no mundo físico.
Essas três habilidades são sustentadas pela
capacidade de aprender com a experiência e se adaptar com o tempo (Ovanessoff;
Plastino, 2017). Nesse sentido, a IA funciona com base na interpretação e
experiência adquiridas em função das diferentes aplicações em um determinado
período de tempo. Entretanto, entende-se que para o uso da IA é importante
possuir, além da competência digital, a competência em Informação (CoInfo) para
saber selecionar, organizar e difundir a informação útil aos alunos. Essas
competências, nos propusemos a abordar nas seções posteriores.
2.1 Competência em informação
De um modo geral, entende-se por competência
o conjunto de conhecimentos habilidades e atitudes que um profissional deve
possuir para o exercício das suas funções. Segundo Pintro, Varvakis e Inomata
(2017), quando se apresentam definições de competência, existem três dimensões
clássicas que são citadas: conhecimentos (saber acumulado pelo indivíduo);
habilidades (saber fazer uso produtivo do conhecimento); e atitudes (saber ser,
relacionado a aspetos sociais e afetivos no trabalho). Essas três dimensões da
competência compõem a tríade conhecida como “CHA” (C – conhecimentos / H –
habilidades / A – Atitudes).
Para Rangel, Mocarzel e Pimenta (2016), as
competências envolvem a compreensão e formação de juízo de valor. O que indica
que não se trata apenas de saber e reunir informações sobre algo, mas também
utilizar essas informações para julgar, discernir entre certo e errado em
situações concretas do quotidiano. Além disso, essas competências necessitam
ser avaliadas frente a um cenário de mudanças constantes, em que surgem novas
metodologias e paradigmas sobre como ensinar e como aprender. Avaliar
competências visa melhorar todos os processos que envolvem seu desenvolvimento
e, se necessário, a partir dessas avaliações, criar meios, que se alinhem às
demandas atuais da sociedade.
Portanto, no contexto da Ciência da
Informação (CI), o discurso da CoInfo está centrado no acesso efetivo e na
operacionalização da informação pelo indivíduo, e isso tem levado a debates
sobre o que é essa competência e como deve ser descrita e praticada na
sociedade contemporânea (Belluzzo, 2020).
Existem defensores que conceituam essa
competência como um aprendizado baseado em habilidades, o qual é equiparado às
habilidades informacionais exigidas no processo de busca de informações. Por
outro lado, a competência em informação é conceituada como um fenômeno
complexo, que atua como um catalisador para a aprendizagem. Na maioria das
vezes, isso reflete os processos de pesquisa e pensamento crítico, que são compreendidos
por diferentes profissionais da informação e educadores. Da mesma forma, também
existem debates na literatura especializada sobre como a competência em
informação deve ser ensinada: incorporada em disciplinas ou como uma
especialidade autônoma (Belluzzo, 2020).
Por outro lado, Santos (2014) explica que a
CoInfo relaciona-se aos modos de uso de habilidades de distintas naturezas para
a captação de resultados significativos, focando no aprimoramento de
habilidades profissionais e pessoais. Para os profissionais da informação, a
capacitação deveria ser efetivada periodicamente, seguindo as inovações
relacionadas à informação e seus suportes.
Na visão de Belluzo (2013), a CoInfo deve ser
compreendida como uma das áreas que requer um aprendizado, e se constitui num
processo contínuo de interação e interiorização de fundamentos conceituais
quanto à compreensão da informação, sua articulação e abrangência em busca da
fluência e das capacidades necessárias à geração de novos conhecimentos.
Belluzo (2013) destaca que a natureza do
campo de estudo da CoInfo envolve conjuntos de ideias em relação ao
conhecimento aplicado para interpretar e compreender situações ou fenômenos e
se fundamenta, em especial, em teorias da CI, da Educação, dos Estudos de
comunicação e na Sociologia. No entanto, é possível identificar três requisitos
fundamentais para a CoInfo na sociedade contemporânea:
1. Competência
em Informação para a cidadania: compromisso ativo com a comunidade, política e
desenvolvimento global mediante o livre acesso e o uso crítico de dados e
informação.
2. Competência
em Informação para o crescimento económico: fomento do desenvolvimento de
empresas já existentes e de nova criação mediante o uso criativo e intensivo do
conhecimento e a combinação eficiente dos serviços de informação.
3. Competência
em Informação para a empregabilidade: educação, formação e desenvolvimento
contínuo de todos os conhecimentos, habilidades e estratégias necessárias para
o acesso e o êxito económico (Belluzzo, 2013, p. 68-69).
Numa outra vertente, Santos (2014) descreve
que ao ampliar a visão sobre a CoInfo compreende-se que sua atuação também
ocorre no ambiente organizacional e não apenas no ambiente acadêmico. Os
conhecimentos, competências e habilidades requisitados a um indivíduo para uso
de recursos informacionais tornam-se mais exigidos e considerados em ambientes
de trabalho. Pois,
Nesse espaço o profissional deve
possuir as ferramentas adequadas para trabalhar, assim como utilizar seu
conhecimento como um diferencial em seu trabalho, fator que demonstrará
competência, criatividade, pro-atividade, perspicácia, pensamento ágil, entre
outras características profissionais para sua atuação na atualidade. Além
disso, as habilidades tecnológicas são obrigatórias em qualquer área de
atuação. Na área de Ciência da Informação muitos pesquisadores afirmam que a
competência é a porta de acesso para o uso eficiente da informação (Santos,
2014 p. 94).
A competência em informação é uma concepção
em construção, propondo como um de seus principais objetivos, incentivar o
indivíduo a utilizar informação, não restringindo a uma área profissional,
instituição, ambiente etc. As competências e habilidades relacionadas à
informação são para qualquer pessoa que queira tê-las e utilizá-las. É um
elemento que faz a diferença no desenvolvimento pessoal e profissional (Santos,
2014).
Portanto, aliado às tendências atuais da
sociedade contemporânea de busca pela informação em diferentes ambientes, quer
sejam físicos ou virtuais, Belluzzo (2020) considera que os paradigmas
comunicacionais e educacionais emergentes, alinhados à pesquisa virtual apoiada
na Internet com seus vários sites de busca, permitem encontrar informações
sobre todas as áreas do conhecimento em grande quantidade. Nesse processo, podem-se
criar novos problemas informacionais de grande complexidade para saber buscar,
selecionar e utilizar essas informações na construção de conhecimento com
aplicabilidade à inovação e ao desenvolvimento social.
Nesse contexto, surge a necessidade da CoInfo,
que no ambiente virtual enfrenta novos problemas e desafios, dando origem à
necessidade da competência digital (Belluzzo, 2020), que será discutida na
seção a seguir.
2.2 Competência digital
O movimento de inter-relação entre a CoInfo e
a competência midiática tem sido impulsionado por um conjunto de tecnologias
disruptivas como robótica, inteligência artificial, realidade aumentada, big
data, nanotecnologia, impressão 3D, biologia sintética e IoT (Internet das
Coisas) em que, cada vez mais, dispositivos, equipamentos e objetos são
conectados uns aos outros por meio da Internet (Belluzzo, 2020). Para a autora,
muitas dessas tecnologias estão ainda em fase inicial e seu real potencial não
foi explorado em sua totalidade, mas, de fato, criam-se novas demandas sociais
e ocupacionais e, em decorrência disso, cada vez mais a CoInfo e a competência
midiática têm sido consideradas como condição indispensável para que a
cidadania e o aprendizado ao longo da vida possam ser exercidos com a sua
totalidade de oportunidades e benefícios à sociedade.
O conceito de competências digitais surge num
período em que a sociedade está em plena exploração tecnológica. Entretanto, de
caráter dinâmico, acompanha a evolução das tecnologias e a sua utilização na
sociedade (Silva; Behar, 2019a). Silva e Behar (2019b, p. 15) explicam que
as competências digitais estão ligadas
ao domínio tecnológico, mobilizando um conjunto de conhecimentos, habilidades e
atitudes (CHA) com o objetivo de solucionar ou resolver problemas em meios digitais.
Cabe ressaltar a vinculação das competências digitais a um contexto específico
e perfil de sujeitos (Silva; Behar, 2019b, p. 15).
Assim, torna-se importante que a sociedade em
geral procure buscar essas competências digitais para o exercício das suas
atividades, pois a falta de competências digitais pode tornar-se um novo meio
de exclusão social, já que é incontornável que a aplicação de produtos e
serviços das TIC se torne mais difundida em todos os setores e profissões e
continue a evoluir significativamente, tanto em quantidade como em qualidade.
Assim, é exigido um aumento constante do nível de literacia digital a todos os
cidadãos, de forma a não correr o risco de terem uma posição frágil no mercado
de trabalho e na comunidade e serem excluídos da sociedade digital (Patrício;
Osório, 2016).
Para Patrício e Osório (2016) a literacia
digital é uma habilidade necessária para conseguir utilizar de forma segura,
crítica e criativa as TIC, criando valor para o trabalho, a aprendizagem, a
comunicação, o lazer e a vida pessoal e em comunidade. E, envolve a
interpretação, a representação, a partilha de informação e a colaboração em
rede. A falta de conhecimentos e a incapacidade de utilizar as TIC tornou-se
efetivamente uma barreira para a integração, participação e inclusão social de
todos os indivíduos em todos os aspectos da sociedade do século XXI.
Na mesma perspectiva, Belluzzo (2020)
enfatiza que aqueles que não tiverem boas habilidades de informação e que não
fizerem uso de tecnologias digitais, serão marginalizados na vida privada e
pública. Assim sendo, novos aprendizados também são reconhecidos como
essenciais para o desempenho social, uma vez que a coleta de informações,
manipulação e aplicação são atividades- chave em qualquer tipo de organização
(Belluzzo, 2020). Na educação, esses aprendizados podem auxiliar o trabalho do
docente que, além de facilitar o processo de ensino e aprendizagem, é um
disseminador da informação e necessita buscar conhecimento para o uso da IA e
de outras tecnologias.
2.3 Docente no uso da inteligência artificial
Desde o surgimento da humanidade, o docente
sempre foi visto como a figura detentora do conhecimento que ensina os alunos
em salas de aula. Porém, com a evolução da sociedade, esse cenário vem se
transformando e abrindo espaço para o aluno também poder participar de forma
ativa na sua aprendizagem. É nesse sentido que autores como Rodrigues, Moura e
Testa (2011) se dedicaram ao estudo da didática tradicional e moderna para
explicar que o docente, hoje, é aquele que ensina o aluno a aprender e a
ensinar aos outros o que aprendeu. O docente é incentivador, orientador e
controlador da aprendizagem. Trata-se de um ensino ativo, no qual o aluno é
sujeito da ação, e não sujeito-paciente. Em última instância, fica evidente que
o docente, agora, é o formador e, como tal, precisa ser autodidata, integrador,
comunicador, questionador, criativo, colaborador, eficiente, flexível, gerador
de conhecimento, difusor de informação e comprometido com as mudanças desta
nova era.
Nesta perspetiva, é importante que o docente,
como disseminador da informação e do conhecimento esteja capacitado a lidar com
as novas exigências da mídia eletrônica, envolvendo o computador, a telemática,
a Internet, o bate-papo on-line (chat), o correio eletrônico (email), a lista
de discussão, a teleconferência, que podem colaborar significativamente para
tornar a aprendizagem eficaz, mais motivadora e envolvente (Rodrigues; Moura;
Testa, 2011).
Além disso, destaca-se o uso da IA para
orientar os alunos na sua aprendizagem, uma vez que os programas educativos
devem incluir os conhecimentos e habilidades que permitam aos cidadãos do
século XXI desenvolver as competências necessárias para viver na sociedade
digital. Para os alunos desenvolverem essas competências é necessário que as
tecnologias se integrem de forma eficaz nos centros educativos e que os
docentes possuam as competências necessárias para as poderem desenvolver nos
alunos (Meirinhos; Osórios, 2019).
No entanto, cabe ao docente fazer o uso dessa
IA através do aprendizado de máquina (machine learning) que é um recurso
decorrente da IA baseado no aprendizado estatístico. Segundo Cerri e Carvalho
(2017), o aprendizado de máquina (AM) é uma área da Ciência da Computação que
busca a construção de métodos computacionais capazes de aprender, baseados em
experiência (treinamento utilizando-se conjuntos de dados), a executar tarefas.
Trata-se de uma área de pesquisa
multidisciplinar que engloba inteligência artificial, probabilidade e
estatística, teoria da complexidade computacional, teoria da informação,
filosofia, psicologia, neuro-biologia, entre outros. Exemplos de tarefas de
aprendizado de máquina são: classificação e agrupamento de dados, e previsão de
séries temporais (Cerri; Carvalho, 2017, p. 298).
As técnicas de AM são orientadas a dados,
isto é, aprendem automaticamente a partir de grandes volumes de dados. Os
algoritmos de AM geram hipóteses a partir dos dados. A inferência indutiva é um
dos principais métodos utilizados para derivar conhecimento novo e predizer
eventos futuros (Ludermir, 2021). Para a autora, é por meio do AM que o
computador está adquirindo novas habilidades. As suas técnicas permitem que o
computador aprenda por exemplos, ou seja, aprenda por meio dos dados.
Assim, o docente pode usar essa tecnologia
para lançar os dados dos alunos, desde a sua identificação pessoal ao perfil
acadêmico, assim como a informação e os conteúdos que se pretendem fazer chegar
ao mesmo de forma personalizada e de acordo com as dificuldades em particular,
e programar o sistema de tal forma que explique detalhadamente os objetivos que
se pretendem alcançar e a essência do assunto apresentado como forma de
auxiliar o aluno em sua aprendizagem.
Nesse processo, é fundamental que o docente
conheça os seus alunos, as suas aspirações e motivações de aprendizagem para
que possa inserir o maior número possível de referências de modo a permitir que
a informação disseminada responda efetivamente aos seus anseios. Isso porque a
capacidade que um sistema de AM possui está diretamente relacionada à
quantidade de informações de que é alimentada, isto é, quanto mais detalhes
forem inseridos no sistema, maior é a chance de obtenção de resultados
relevantes e satisfatórios.
Contudo, há uma necessidade de se qualificar
os docentes para fazerem o uso dessas tecnologias. Meirinhos e Osório (2019)
abordam referenciais de competências digitais para a formação de professores,
destacando desse modo o referencial comum de competência digital docente. Nele,
existem cinco áreas de competências apresentadas a seguir:
I.
Informação e alfabetização informacional -
consiste em identificar, localizar, armazenar, recuperar, organizar e analisar
a informação digital, avaliando a sua finalidade e relevância;
II.
Comunicação e colaboração - visa comunicar em
ambientes digitais, partilhar recursos através de ferramentas em linha,
conectar e colaborar com outros através de ferramentas digitais, interagir e
participar em comunidades e redes; consciência intercultural;
III. Criação
de conteúdo digital - consiste em criar e editar conteúdos novos (textos,
imagens, vídeos, etc.), integrar e reelaborar conhecimentos e conteúdos
prévios, realizar produções artísticas, conteúdos multimídia e programação
informática, aplicar os direitos de propriedade intelectual e suas licenças;
IV. Segurança
- centra-se essencialmente na proteção pessoal, proteção de dados, proteção da
identidade digital, utilização segura e sustentável;
V.
Resolução de problemas - procura identificar
necessidades e recursos digitais, tomar decisões sobre ferramentas digitais
apropriadas de acordo com a finalidade ou necessidade, resolver problemas
conceituais através de meios digitais, resolver problemas técnicos, utilizar
criativamente a tecnologia, atualizar a competência própria e a dos outros (Meirinhos;
Osório, 2019, p. 1012).
Assim, é importante que o docente possua
essas competências como um mecanismo de inserção e participação ativa no seio
da sociedade para auxiliar os alunos na aprendizagem com base na IA e em outras
tecnologias. O desenvolvimento dessas competências por parte dos docentes
requer, em última instância, a integração das TIC em contextos de aprendizagem
e em sintonia com as exigências da nova sociedade (Meirinhos; Osório, 2019).
Além disso, é importante que os alunos tenham
noção de como a IA pode moldar comportamentos por meio da mediação que fazem
através das redes sociais, por exemplo, com a personalização da informação.
Pesquisas mais recentes mostram que as aplicações da IA tendem a estar mais
focadas em ambientes de aprendizagem inteligentes que consideram o aluno como o
centro das atenções e promovem ferramentas inteligentes que auxiliam o processo
de aprendizagem, sendo esse processo guiado pelo aluno e pelas ferramentas
(Carmona; Furtado; Cortes, 2021).
3 Metodologia
Nesta pesquisa foi desenvolvido um estudo
exploratório, de natureza qualitativa, do tipo bibliográfico e documental. As
pesquisas exploratórias constituem a primeira etapa de uma investigação mais
ampla, e têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar
conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou
hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores. Essas pesquisas são
desenvolvidas com o objetivo de proporcionar visão geral, de tipo aproximativo,
acerca de determinado fato e habitualmente envolvem levantamento bibliográfico
e documental, entrevistas não padronizadas e estudos de caso (Gil, 2008).
Em relação à pesquisa qualitativa, Prodanov e
Freitas (2013) afirmam que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o
sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a
subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. Os dados
coletados nessas pesquisas são descritivos, retratando o maior número possível
de elementos existentes na realidade estudada, e preocupa-se muito mais com o
processo do que com o produto.
No que concerne à pesquisa bibliográfica, é
baseada na consulta de todas as fontes secundárias relativas ao tema que foi
escolhido para realização do trabalho. Abrange todas as bibliografias
encontradas em domínio público como: livros, revistas, monografias, teses,
artigos de Internet (Castilho; Borges; Pereira, 2017). Esta pesquisa
permitiu-nos discutir as diferentes formas de utilização da IA, a CoInfo
necessária para tal, assim como a competência digital na educação com base nas
diferentes fontes de informação como livros, artigos de periódicos, em especial
a base de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO BR). Isso porque
se trata de uma base que indexa, disponibiliza e dissemina trabalhos completos
de periódicos científicos de todas as áreas de conhecimento em acesso aberto,
atendendo o caráter multidisciplinar do nosso objeto de estudo.
A partir das buscas realizadas nessa base de
dados, foram encontrados 268 artigos a partir do uso das palavras-chave
“inteligência artificial”, destacando-se os trabalhos de Russel e Norving
(2013), Ovanessoff e Plastino (2017) e Oliveira (2018); 131 para a “competência
em informação” com evidência às discussões de Belluzzo (2013), Santos (2014),
Rangel, Mocarzel e Pimenta (2016) e Belluzzo (2020); e 21 para “competência
digital na educação”, com ênfase nas abordagens de Rodrigues, Moura e Testa
(2011), Cerri e Carvalho (2017), Meirinhos e Osório (2019) e Carmona, Furtado e
Cortes (2021).
Dos trabalhos encontrados, foram selecionados
artigos científicos publicados no período compreendido entre 2010 e 2021, sem
definição específica do idioma. Ademais, a seleção dos artigos obedeceu à
lógica da leitura dos títulos e palavras-chave, resumos para a verificação da
aderência com a nossa pesquisa, e por fim, a leitura e análise dos artigos
completos, tendo em conta os objetivos propostos.
Em vista disso, a pesquisa documental
possibilitou-nos obter informações relativas aos desafios para o desenvolvimento
das competências docentes no uso da IA e tecnologia na educação em Moçambique.
Segundo Castilho, Borges e Pereira (2017), esta pesquisa
se baseia na coleta de dados, de
documentos escritos ou não, através das fontes primárias, realizadas em
bibliotecas, institutos e centros de pesquisa, museus, acervos particulares
(igrejas, escolas, bancos, postos de saúde, cartórios, hospitais) e públicos
(documentos de órgãos oficiais como ofícios, leis, escrituras) e outros como
fontes estatísticas, fontes do direito, livros de apuração, ICMS, balancetes
contábeis e financeiros e comunicações realizadas pelos meios de comunicação
orais, visuais e audiovisuais (rádio, televisão, filmes, mapas), etc.
(Castilho; Borges; Pereira, 2017, p. 19).
Nesta pesquisa, os dados foram coletados no
primeiro semestre de 2021 em documentos normativos, regulamentos, políticas e
leis para o funcionamento das tecnologias na educação em Moçambique. Dos
documentos consultados destacam-se: a Política de Informática (2000) que discute
a integração das tecnologias na educação em Moçambique; a Política para a
Sociedade de Informação (2018) que distingue o papel das tecnologias para
impulsionar o desenvolvimento da sociedade e do país; o Plano tecnológico da
educação 2011-2026 (2011) que visa melhorar a qualidade dos processos de ensino
aprendizagem e de gestão escolar baseados nas tecnologias; e a Política das
Tecnologias de Informação e Comunicação na Educação em Moçambique (2019), cujo
objetivo essencial é definir o papel das tecnologias no que concerne à
implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) relativamente
à Educação.
Em vista disso, para a análise dos dados foi
usada a análise de conteúdo, que segundo Bardin (2016), é um conjunto de
técnicas de análise de comunicações, podendo essas serem enunciações
linguísticas, conversações, documentação e base de dados, etc. Trata-se de um
método empírico que depende do tipo de informação a que se dedica e do tipo de
interpretação que se pretende como objetivo.
No entanto, esta foi usada para descrever e
analisar todos os dados obtidos a partir da pesquisa documental, tendo em conta
a fase da escolha dos documentos normativos sobre as competências do docente no
uso da IA e tecnologia na educação em Moçambique, o tratamento do material e a
transformação do seu conteúdo em dados para a pesquisa, a sua interpretação e
resultados, a partir do objetivo proposto e a revisão bibliográfica levantada.
4 Resultados
A IA em Moçambique ainda constitui um grande
desafio no que diz respeito à aquisição da tecnologia apropriada e da
formulação de leis, políticas e estratégias do seu funcionamento. Segundo
Chemane (2021), ao discutir em torno do papel das tecnologias na Promoção da
Unidade, Trabalho e Vigilância para o Desenvolvimento de Moçambique, explica
que os desafios no país incluem a formulação de políticas e estratégias para as
tecnologias emergentes como a Inteligência Artificial, Drones, Internet das
Coisas (IoT), Realidade Virtual e a Realidade Aumentada.
Porém, na educação, houve em 2000 a primeira
tentativa da integração das tecnologias com a criação da Política de
Informática (PI), que destaca a educação como um setor - chave para o
desenvolvimento de qualquer área e as tecnologias têm um papel importante a
jogar para uma melhor e mais eficaz prestação de serviços na área educacional
(Governo de Moçambique, 2000). Essa política apresentava como uma das
principais linhas de ação, a preparação dos docentes para serem promotores das
tecnologias nas escolas.
Assim, verifica-se a pertinência de se
possuir um corpo docente preparado e capacitado a usar a tecnologia na escola e
especificamente para promover o seu uso pelos alunos através da disseminação da
informação útil para os mesmos, tal como enfatizam Rodrigues, Moura e Testa (2011)
ao afirmarem que o docente, como formador, precisa ser autodidata, integrador,
comunicador, questionador, criativo, colaborador, eficiente, flexível, gerador
de conhecimento, difusor de informação e comprometido com as mudanças desta
nova era.
O Ministério da Ciência e Tecnologia
estabeleceu em 2005, a Rede de Educação e Pesquisa de Moçambique (MoRENet),
como parte da Estratégia de Implementação da Política de Informática. Essa é
uma rede de dados de âmbito nacional que interliga instituições acadêmicas de
ensino superior e de investigação, desenvolvendo atividades sem fins lucrativos
(Salimo; Gouveia, 2016).
A MoRENet é um dos membros fundadores da
Aliança UbuntuNet para as redes de Educação e Investigação. A rede se destina a
ser um meio para o intercâmbio rápido e eficaz dos dados do ensino e pesquisa
entre os seus membros e tem como filosofia principal aproveitar e fazer uso da
infraestrutura de fibra já implantada no país. A rede acomoda instituições
acadêmicas públicas e privadas e centros de pesquisa, e tem como um dos
principais objetivos promover serviços de formação em tecnologias (Salimo;
Gouveia, 2016). Na mesma senda, o Ministério da Educação (MINED, 2011, p. 10)
criou o Plano Tecnológico da Educação (PTE) visando, entre outros aspectos, permitir
“melhorar a qualidade dos processos de ensino aprendizagem com base na
tecnologia”.
Nesse processo, a introdução das tecnologias
na educação teve como enfoque a formação de docentes para utilização de
computadores em salas de aula (MINED, 2011). Assim, com o PTE verifica-se a
preocupação do governo em melhorar a qualidade de educação, desde a gestão
escolar aos processos de ensino e aprendizagem através das tecnologias,
distinguindo uma vez mais a capacitação dos docentes para dinamizar esses processos,
numa sociedade em evolução e desafiada pelas Tecnologias de Informação e
Comunicação (TIC).
Entretanto, aponta-se a limitação dessa
formação por apenas destacar o docente no uso da tecnologia em salas de aula,
como uma transposição do ensino tradicional baseado em papel. Não se verifica
um olhar para a abrangência das tecnologias, que podem ser utilizadas como
extensões das salas de aula presenciais para as híbridas ou virtuais,
promovendo conexão e interatividade, desde que os docentes sejam capacitados
para desenvolverem a CoInfo e a competência digital.
Meirinhos e Osório (2019) destacam a
informação e alfabetização informacional, comunicação e colaboração, criação de
conteúdo digital, segurança, e resolução de problemas como áreas de
competências digitais necessárias para a formação de docentes. Isso requer, em
última instância, a integração das TIC em contextos de aprendizagem e em
sintonia com as exigências da nova sociedade.
Nessa perspectiva, o Governo de Moçambique
revisou a PI dando origem à Política para a Sociedade da Informação em 2018,
que enfatiza o papel das tecnologias como impulsionadoras do desenvolvimento da
sociedade e do país. Nessa política, um
dos princípios orientadores é a Info-inclusão, na qual “o maior desafio está na
garantia do reforço da literacia digital para todos” (Governo de Moçambique,
2018, p.16).
Com base nessa política, a educação tem sido
uma das áreas de desenvolvimento da Sociedade da Informação (SI) que mais tem
evoluído. As tendências passam, sobretudo, pela aprendizagem por meios móveis
(mobile learning), que consiste no uso de dispositivos móveis como instrumentos
de ensino; e na computação em nuvem (cloud computing), que tem um efeito muito
positivo, não só em termos de partilha de informação, mas também da diminuição
dos custos dos equipamentos.
Nesse sentido, mesmo com a evolução das
tecnologias na educação, é notória a barreira da competência digital, visto que
o docente usa a tecnologia em suas atividades baseando-se apenas nas aulas
presenciais. Consequentemente, utiliza os mesmos métodos e técnicas do ensino
presencial, reduzindo o papel e impacto das tecnologias na educação. Importa
referir que essa evolução tecnológica é mais verificada nos grandes centros
urbanos, diferentemente de pequenas cidades e zonas rurais em que as condições
de acesso à tecnologia e Internet são escassas.
No mesmo diapasão, o Ministério de Educação e
Desenvolvimento Humano (MINEDH) (2019) criou a Política de Tecnologias de
Informação e Comunicação (PTI) na Educação em Moçambique, cujo objetivo
essencial é definir o papel das tecnologias no que concerne à implementação dos
ODS relativamente à educação.
De acordo com a PTI, o Plano Tecnológico da
Educação elaborado em 2011 pelo MINEDH não teve o êxito desejado, e os desafios
de implementar um programa de tecnologias na educação derivam dos problemas que
o setor enfrenta, que se relacionam com os elevados níveis de analfabetismo,
escolas e turmas lotadas, docentes sobrecarregados e pouco motivados, falta de
infraestruturas e de financiamento para o setor e poucos quadros qualificados,
o que resulta em dificuldades enormes para integrar as tecnologias no sistema.
A PTI considera que os docentes, educadores e
alfabetizadores não apenas sabem como também utilizam as tecnologias como meio
de ensino, além de produzirem conteúdos básicos para os alunos. Por isso, é
cada vez mais importante que os docentes dominem as tecnologias e saibam
utilizá-las para obter e reforçar os seus conhecimentos, através de recursos
educacionais abertos que ofereçam apoio no processo de ensino e aprendizagem
(PEA). Assim, estarão a estimular a aprendizagem dos seus alunos dentro e fora
da sala de aula.
Para tal, torna-se necessário o
desenvolvimento da CoInfo e competência digital. Por outro lado, assistiu-se
nos últimos tempos, com maior ênfase no período da pandemia da Covid-19, o uso
das tecnologias na educação em aulas ministradas virtualmente, sem
conhecimentos e habilidades necessárias e em meio a várias dificuldades e
desafios impostos pela situação.
A par disso, várias instituições de ensino
envidaram esforços no sentido de criar cursos e capacitações de curta duração
visando preparar os docentes para saber manipular as tecnologias e as
plataformas virtuais. Acredita-se que essa experiência pode ter impulsionado o
domínio do uso das tecnologias pelos docentes para a educação, embora o
desenvolvimento das competências digitais vá além da manipulação das
tecnologias e envolva entre outros aspectos, os conhecimentos, habilidades e
atitudes de resolução de problemas digitas (Silva; Behar, 2019), bem como a
seleção e uso ético da informação.
Nos últimos tempos, a utilização das
tecnologias, especificamente as aplicações da IA tendem a estar mais focadas em
ambientes de aprendizagem inteligentes que consideram o aluno como o centro das
atenções e promovem ferramentas inteligentes que auxiliam o processo de
aprendizagem, sendo esse processo guiado pelo aluno e pelas ferramentas
(Carmona; Furtado; Cortes, 2021).
Assim, em Moçambique, os desafios para o
desenvolvimento das competências docentes no uso da IA e tecnologias passam
pela inexistência dos sistemas educacionais que se utilizam dessas tecnologias,
a exemplo dos Sistemas Tutores Inteligentes Afetivos (STIs), os Learning
Management Systems (LMSs), os Massive Open Online Course (MOOCs), entre outros;
a consequente inexistência de infraestruturas adequadas para suportar essa
tecnologia; o acesso limitado à Internet, principalmente em zonas rurais; e a
falta de docentes qualificados para o seu uso, visto que o domínio do uso das
tecnologias não condiciona a competência digital e muito menos o conhecimento
de uso da IA.
Em Moçambique, soluções tecnológicas de base
digital ainda carecem de maturidade, mas existe um enorme potencial para a
criação de uma plataforma que permita a exploração e troca de informação, quer
do ponto de vista operacional, quer como suporte pedagógico, científico e de
exploração da vida acadêmica (Salimo; Gouveia, 2016).
Portanto, para o desenvolvimento das
competências docentes no uso da IA e das tecnologias na educação em Moçambique,
é necessário que se criem infraestruturas adequadas que suportem a tecnologia.
Isso passa pela aquisição da tecnologia necessária, desenho de currículos,
planos e políticas de orientação, controle e supervisão para o uso das mesmas,
capacitação de docentes em competências digitais e uso da IA. Além do
engajamento e responsabilidade em aprender ao longo da vida, visto que são
tecnologias em constante transformação e desenvolvimento. Ademais, destaca-se o
estabelecimento de algumas oportunidades e parcerias com os outros países que
já tenham implementado a IA na educação como suporte ao PEA, como uma
estratégia para a materialização desse processo.
5 Considerações finais
As mudanças estruturais e informacionais da
sociedade trouxeram consigo um conjunto de elementos, processos e conhecimentos
indispensáveis para a busca, processamento e difusão da informação. Um desses
elementos discutidos no texto é a IA que consiste no uso da tecnologia avançada
para fazer com que as máquinas realizem tarefas de forma inteligente. Assim, é
importante que a sociedade em geral esteja consciente dessas mudanças e busque
competências de modo a integrar-se, sob risco de ser marginalizada ou excluída
desse ambiente.
É nesse contexto que os docentes, como
facilitadores da aprendizagem, devem procurar desenvolver a CoInfo e
competências digitais para fazer o uso dessa tecnologia com vistas a tornar o
PEA mais dinâmico, interativo e colaborativo. Isso será possível através do uso dos sistemas educacionais da
IA, da disponibilização de conteúdos multimídia/digitais e da divulgação de
informações relevantes aos seus alunos de acordo com os seus interesses e
anseios. O AM é um grande veículo para tal, pois é um sistema que cria as próprias
regras a partir da análise de dados inseridos para chegar-se a um resultado,
cabendo ao docente inserir o maior número possível de dados dos alunos para que
o sistema os reconheça e disponibilize a informação de acordo com cada um dos
perfis.
Neste olhar para o contexto Moçambicano,
considera-se que a IA ainda é um grande desafio para todos os setores, e a
educação não está excluída desse universo. Esses desafios circunscrevem-se na
inexistência dos sistemas educacionais que se utilizam das tecnologias da IA e
principalmente a falta de docentes qualificados para o seu uso. Assim,
destaca-se o estabelecimento de algumas oportunidades de parcerias com outros
países que já tenham implementado a IA na educação, como uma estratégia para a
materialização deste processo em Moçambique. Nesse contexto, a prioridade deve
ser capacitar o docente com vista ao desenvolvimento de competências digitais
para o uso da IA na educação. Contudo, a partir desta pesquisa, esperamos que
novos debates, pesquisas e estudos empíricos sobre esta temática possam ser
desenvolvidos para o aprofundamento e busca de conhecimentos nesta área.
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