“Tinha a profissão de cantora”: o Conservatório de Música do Rio de Janeiro e a profissionalização feminina no meio sacro (1853-1873)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5965/2525530409012024e0104

Palavras-chave:

conservatório de música do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro século XIX, Mulheres trabalhadoras na música, festividades religiosas, devoção de Santa Cecília

Resumo

O trabalho fazia parte do cotidiano de mais da metade das mulheres que viviam no Rio de Janeiro durante o século XIX. Esta pesquisa tem como objetivo principal analisar o impacto da criação das cadeiras de Rudimentos e Canto para o Sexo Feminino e de Canto do Conservatório de Música na formação e profissionalização de mulheres no meio sacro durante os anos de 1853 a 1873, além de compreender especificamente as suas redes de sociabilidades e sua ligação com entidades de classe. Tendo como referenciais Edward Thompson, Claude Dubar e Jean Sirinelli, utilizando como fontes periódicos da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, documentos institucionais, registros do site FamilySearch e estudos recentes, conclui-se que esta instituição promoveu formação profissional para mulheres de camadas menos favorecidas, propiciando que atuassem como cantoras em igrejas, ocupassem postos de liderança na Devoção de Santa Cecilia, desenvolvendo uma identidade profissional e pessoal, bem como relações de sociabilidades mediadas por princípios cristãos, obtendo, para além de sua subsistência, visibilidade e ascensão social.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Clara Fernandes Albuquerque, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Clara Fernandes Albuquerque é doutora em Música pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO, mestra em Musicologia pela UFRJ, bacharel em Cravo pela mesma instituição e tem Licenciatura em Educação Artística com habilitação em Música pela UNIRIO. É professora concursada de Educação Musical do Colégio Pedro II desde 2008 e cravista acompanhadora da Escola de Música da UFRJ desde 2010. Vem atuando no curso de Extensão da UFRJ como professora de cravo e de Teoria e Percepção Musical. Participa do grupo de pesquisa GEPEAMUS. Suas áreas de atuação e investigação são Ensino e Execução de Cravo, Performance Historicamente Informada, Educação Musical, Percepção Musical, História da Educação Musical e Estudos de Gênero e Música.

Referências

ACERVO CLEOFE PERSON DE MATTOS. Dados da Capela Imperial de 1809 até 1849 - com anotações de Cleofe Person de Mattos. Caixa 15, ACPM 15-02-01. Disponível em: http://www.acpm.com.br/CPM_15.htm Acesso 10 maio 2024.

ACERVO CLEOFE PERSON DE MATTOS. Relação de Despesas com a Capela Imperial de 1850 até 1889 - com apontamentos feitos por Cleofe Person de Mattos. Caixa 15, ACPM 15-03-01. Disponível em: http://www.acpm.com.br/CPM_15.htm Acesso 10 maio 2024.

ACERVO CLEOFE PERSON DE MATTOS. Conta dos professores de música instrumentistas de fora que se convidaram para tocarem no Te Deum que se fez na Imperial Capela no dia 23 de julho de 1842. 25 de julho de 1842. Documento manuscrito. ACPM 15-02-01-314.

ACERVO CLEOFE PERSON DE MATTOS. Importe da orquestra para as Exéquias de D. Amelia, Imperatriz viúva. 12 de julho de 1873. Documento manuscrito. ACPM 15-03-01-316.

ACERVO CLEOFE PERSON DE MATTOS. Conta paga aos músicos contratado para a Capela Imperial nos meses de julho, agosto e setembro de 1873. Alunos do Conservatório. Documento manuscrito. ACPM 15-03-01-320.

ACERVO CLEOFE PERSON DE MATTOS. Interrupção da prática dos alunos do Conservatório por Hugo Bussmeyer. 23 de agosto de 1875. Documento manuscrito. ACPM 15-03-01-357.

ALBUQUERQUE, Clara Fernandes. Filhas do Conservatório de Música: a institucionalização do ensino musical profissionalizante e a atuação de professoras de música no Rio de Janeiro oitocentista (1853-1873). Tese (Doutorado em Música). Programa de Pós Graduação em Música, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, UNIRIO, Rio de Janeiro, 2023.

AMORIM, Humberto. O ensino de música nas primeiras décadas do Brasil oitocentista

(1808-1822). Opus, v. 23, n. 3. p. 43-66, dez. 2017. Disponível em:

http://dx.doi.org/10.20504/opus2017c2303. Acesso 10 maio 2024. P.43-66

ANDRADE, Ayres de. Francisco Manuel da Silva e seu tempo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967. 2 v. (Coleção Sala Cecília Meireles, v. 1).

BATALHA, Claudio H. M. Sociedades de trabalhadores no Rio de Janeiro do século XIX: algumas reflexões em torno da formação da classe operária. Cad. Ael, v. 6, n. 10/11, 1999. Disponível em: https://ojs.ifch.unicamp.br/index.php/ael/article/download/2478/1888 . Acesso em 10 maio 2024. P. 42-68.

BIBLIOTECA ALBERTO NEPOMUCENO. Livro de Matrículas dos alunos do

Conservatório de Música. Rio de Janeiro: Escola de Música da UFRJ, 1848 (início dos

registros).

BRASIL. Ministério dos Negócios do Império. Relatório da Repartição dos Negócios do

Império do ano de 1855 apresentado a Assembleia Geral Legislativa na 4ª sessão da 9ª

legislatura pelo respectivo Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Império Luiz

Pedreira do Couto Ferraz. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1856.

BRASIL. Ministério dos Negócios do Império. Relatório da Repartição dos Negócios do Império do ano de 1856 apresentado a Assembleia Geral Legislativa na 1ª sessão da 10ª Legislatura pelo respectivo Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Império Luiz Pedreira do Couto Ferraz. Rio de Janeiro: Typographia Universal de Laemmert, 1857.

BRASIL. Ministério dos Negócios do Império. Relatório do Diretor do Conservatório de Música Thomaz Gomes dos Santos apresentado em 28 de abril de 1871. Documento anexo ao Relatório apresentado à Assembleia Geral na Terceira Sessão da Décima Quarta Legislatura pelo Ministro e Secretário do Estado dos Negócios do Império Dr. João Alfredo Correa de Oliveira. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1871.

BRASIL. Ministério dos Negócios do Império. Relatório do Vice-Diretor da Academia Imperial das Belas Artes Conselheiro Dr. Ernesto Gomes Moreira Maia apresentado em 1884. Documento anexo ao Relatório da Repartição dos Negócios do Império apresentados à Assembleia Geral Legislativa na Quarta Sessão da Décima Oitava Legislatura pelo Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Império Francisco Antunes Maciel. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1884.

BRASIL. Recenseamento do Brasil em 1872. 12 volumes. Município Neutro (volume 5). Rio de Janeiro, Typ. G. Leuzinger, [1874 ?]. Disponível em https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv25477_v5_mn.pdf Acesso 10 maio 2024.

BRASIL, Rio de Janeiro, Registros da Igreja Católica, 1616-1980. Data base com imagens, FamilySearch. Joanna Maria de Oliveira (registro de casamento, 24 de março de 1877). Arquidiocese do Rio de Janeiro, Paróquia Nossa Senhora da Glória, Laranjeiras, Rio de Janeiro, Brasil. Matrimônios, 1874-1878. Rio de Janeiro, 22 de julho de 2023. Imagem 66 de 107. Disponível em: https://www. https://www.familysearch.org/ark:/61903/1:1:6X8G-CJLB. Acesso em 10 abril 2024.

BRASIL, Rio de Janeiro, Registro Civil, 1829-2012. Data base com imagens, FamilySearch. Candida de Assumpção da Soledade (registro de óbito, 17 de maio de 1889). Corregedor Geral de Justicia. Registro Civil da 6ª Circunscrição, Rio de Janeiro, Brasil. Imagem 56 de 205. Rio de Janeiro, 24 de julho de 2023. Disponível em:

https://www.familysearch.org/ark:/61903/1:1:WYFG-17N2 . Acesso em 10 abril 2024.

BRASIL, Rio de Janeiro, Registro Civil, 1829-2012. Data base com imagens, FamilySearch. Antonio Dias Lopes (registro de casamento de Albertina Ferreira Dias, 28 de julho de 1900). Registro Civil da 6ª circunscrição, Rio de Janeiro, Brasil. Imagem 625 de 744. Disponível em: https://www.familysearch.org/ark:/61903/1:1:XJ3J-LXH . Acesso em 10 abril 2024.

BRASIL, Rio de Janeiro, Registro Civil, 1829-2012. Data base com imagens, FamilySearch. Antonio Dias Lopes (registro de óbito, 10 de março de 1905). Corregedor Geral de Justicia. Registro Civil da 10ª Circunscrição. Óbitos set 1904 – 1905. Imagem 176 de 204. Rio de Janeiro, 9 de abril de 2020. Disponível em:

https://www.familysearch.org/ark:/61903/1:1:WYJG-ZMZM Acesso em 10 abril 2024.

BURKE, Peter (org.). A Escrita da História: Novas Perspectivas. Tradução de Magda Lopes. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1992.

CABRAL, Roberta Mourim. Monina Távora: a pedagogia de uma artista. Tese (Doutorado em Música). Programa de Pós Graduação em Música. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2022.

CARDOSO, André. A música na Capela Real e Imperial do Rio de Janeiro. Rio de

Janeiro: Academia Brasileira de Música, 2005.

CERTEAU, Michel de. A Invenção do Cotidiano. 3a Edição. Tradução de L’invention du cotidien. 1980. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1998.

CRUVINEL, Flavia Maria. O habitus cortesão bragantino nos trópicos: a formação

musical como estratégia de reprodução do poder monárquico no Rio de Janeiro oitocentista. Tese (Doutorado em Educação). Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2018.

CUNHA, Luiz Antonio. O ensino de ofícios artesanais e manufatureiros no Brasil

escravocrata. São Paulo: Editora Unesp, Brasilia, DF: Flacso, 2000.

DUBAR, Claude. A construção de si pela atividade de trabalho: a socialização profissional. Trad. Fernanda Machado. Cadernos de pesquisa, v. 42, n. 146, p. 351-367, maio/ago 2012.

FAMILYSEARCH. A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, c2023.

Disponível em: https://www.familysearch.org/pt/about/ . Acesso em maio de 2024.

FUBINI, Enrico. La estética musical desde la Antiguedad hasta el siglo XX. Version

castellana, prólogo e notas de Carlos Guillermo Pérez de Aranda. Madrid: Alianza Editorial, 2ª ed., 2005.

GONDRA, José Gonçalves; SCHUELER, Alessandra. Educação, poder e sociedade no Império brasileiro. Biblioteca básica da história da educação brasileira. São Paulo: Cortez, 2008.

HAHNER, June Edith. Mulheres da Elite. Honra e distinção das famílias. In: PINSKY, Carla Bassanezi; PEDRO, Joana Maria Pedro (orgs). Nova História das Mulheres no Brasil. 1ª ed., 3a reimpressão. São Paulo: Contexto, 2018, p. 43-64.

HAZAN, Marcelo. The Sacred works of Francisco Manuel da Silva (1795-1865). Tese (Doutorado em Filosofia). Faculdade do Departamento de Musicologia da Escola de Música da Universidade Catóica da América, Washington, D.C., 1999.

LEEUWEN, Alexandra van. O canto feminino na América portuguesa: diálogos e

intersecções na representação colonial de La modista raggiratrice de Paisiello. Tese

(Doutorado em Música). Programa de Pós-Graduação em Música, Instituto de Artes da

UNICAMP, Campinas, São Paulo, 2014.

LOURO, Guacira Lopes. Mulheres na sala de aula. In: PRIORE, Mary del. (org.); PINSKY, Carla Bassanezi (coord. de textos). História das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2017. 10. ed., 5ª reimpressão. p. 443-481.

MARTINS, Monica de Souza N. Entre a cruz e o capital: as corporações de ofícios no Rio de Janeiro após a chegada da Família Real 1808- 1824. Rio de Janeiro: Editora Garamond, 2008.

MATTOS, Ilmar Rohloff de. O Tempo saquarema. São Paulo: HUCITEC; Brasília, DF: INL, 1987.

MEYER, Anne Christina Duque Estrada. Entidades de classe dos músicos no Rio de

Janeiro (1784-1941): Uma historiografia analítica. Irmandade de Santa Cecilia (1784-1824), Sociedade Beneficência Musical (1833-1896) e Centro Musical do Rio de Janeiro (1907- 1941). Tese (Doutorado em Música). Programa de Pós Graduação em Música, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, UNIRIO, Rio de Janeiro, 2023.

OLIVEIRA, Anderson José Machado de. Devoção e Caridade. Irmandades religiosas no Rio de Janeiro imperial (1840-1889). Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal Fluminense, Niterói, 1995.

PORTO ALEGRE, Manuel de Araujo. A música sagrada no Brasil. ÍRIS. Rio de Janeiro: Typographia do Íris, tomo 1, p.47-50, 15 de fevereiro de 1848.

ROCHA, Inês de Almeida. Canções de Amigo: Redes de Sociabilidade na correspondência de Liddy Chiaffarelli Mignone para Mario de Andrade. Rio de Janeiro: Quartet, Faperj, 2012.

SCHUELER, Alessandra F. M de. Ensaios de História Social da Educação: escolas primárias e professores na Corte imperial. Momento. Rio Grande, n. 18, p. 11-33, 2006/2007.

SILVA, Francisco Manuel da. Compêndio de princípios elementares de música para uso do Conservatório do Rio de Janeiro. Alemanha: Casa de B. Schott Hijos –impressores de música, 4ª edição, s/d

SILVA, Janaina Girotto da. O Florão mais Belo do Brasil: O Imperial Conservatório do Rio de Janeiro 1841-1865. Dissertação (Mestrado em História Social). Programa de Pós Graduação em História Social, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.

SIRINELLI, Jean-François. Os intelectuais. In: RÉMOND, René. Por uma história política. Tradução Dora Rocha. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003.

THOMPSON, Edward. A formação da classe operária inglesa. Trad. Denise Bottman. 1ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

VELON, Marcela da Silva. Ação e obra de três coletivos de mulheres músicas na cidade do Rio de Janeiro: análise feminista e decolonial. Tese (Doutorado em Música). Programa de Pós Graduação em Música da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2022.

VILLELA, Heloisa de O. S. O mestre-escola e a professora. In: LOPES, Eliane Marta

Teixeira; FILHO, Luciano Mendes Faria; VEIGA, Cynthia Greive (org.). 500 anos de

Educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. 2ª Edição. p. 95-134.

Referências – Periódicos da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

ALMANAK LAEMMERT. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e

Downloads

Publicado

2024-09-19

Como Citar

ALBUQUERQUE, Clara Fernandes. “Tinha a profissão de cantora”: o Conservatório de Música do Rio de Janeiro e a profissionalização feminina no meio sacro (1853-1873). Orfeu, Florianópolis, v. 9, n. 1, p. e0104, 2024. DOI: 10.5965/2525530409012024e0104. Disponível em: https://revistas.udesc.br/index.php/orfeu/article/view/25696. Acesso em: 23 dez. 2024.