Dossiê
O dizível das pesquisas em educação
musical: abordagem (auto)biográfica na produção acadêmica
THE DESCRIBABLE OF RESEARCH IN MUSIC
EDUCATION: The (auto)biographical approach in academic production
Mônica Luchese Marques 1 monicaluchese@ufma.br
Universidade Federal do Maranhão, Brasil
Ana Ester Correia Madeira 2
ana_ecm6@hotmail.com
Universidade do Estado de Santa Catarina , Brasil
Silani Pedrollo 3
profsilani@hotmail.com
Universidade do Estado de Santa Catarina , Brasil
Teresa Mateiro 4
teresa.mateiro@udesc.br
Universidade do Estado de Santa Catarina , Brasil
Revista Orfeu
Universidade do Estado de Santa Catarina, Brasil
ISSN: 2525-5304
Periodicidade: Continuo
vol. 7, núm.
1, 2022
revistaorfeu@gmail.com
Recepção: 28 Fevereiro
2022
Aprovação: 26 Junho 2022
URL: https://periodicos.udesc.br/index.php/orfeu/article/view/21773
Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o
direito de primeira publicação.
Este trabalho está sob uma Licença Internacional Creative Commons Atribuição 4.0.
Resumo: Para
saber como as pesquisas (auto)bio-gráficas estão
sendo desenvolvidas na educação musical, analisamos 47 teses e dissertações por
meio de um estudo de estado do conhecimento. Neste artigo ressaltamos a análise
sobre o referencial teórico, a metodologia e os neologismos formados na
interface educação musical e (auto)biografia. Esses trabalhos refor-çam a autonomia da educação musical como área de
conhecimento, e mesmo diante da contribuição da Sociologia, Psicologia e
Filosofia, seus objetos de estudos centram-se em problemáticas e campos
empíricos específicos da edu-cação musical. A
metodologia dos tra-balhos revela uma pluralidade de
nomes utilizados que se misturam à abordagem de investigação – como narrativas,
bio-gráficas, histórias de vida, história oral –,
embora percebamos pouca variação de autores(as) para fundamentá-los.
Encontramos seis novos termos com conceitos delineados pelos(as) pesqui-sadores(as), que contribuem para o vo-cabulário da área de educação musical, mostram as
encruzilhadas conceituais da área e ampliam os caminhos investi-gativos
percorridos.
Palavras-chave: Estado do conhecimento,
Referencial teórico, Metodologia, conceitos.
Abstract: Seeking to
know how the (auto)biographical research are being developed in music education, we analyzed 47 theses and dissertations throughout a state of knowledge study. We highlight the analysis of the theoretical
framework, methodology and neologisms
constituted at the
interface between music education and (auto)biography. These works reinforce
the autonomy of music education as an area of knowledge, and even face to the contribution of sociology, psychology and philosophy, their objects of study focus on
specific issues and empirical fields of music education. The methodology of the studies reveals a plurality of names used that
merge with terms of research’ approaches: narratives,
biographical, life stories,
oral history, although we perceive few
variations between authors to substantiate.
We found six new terms with
concepts outlined by the researchers, which contribute to the vocabulary of music education’ area, showing the conceptual crossroads of the area and expanding the investigative paths
taken.
Keywords: State of knowledge,
Theoretical reference, Methodology, concepts.
Caminho
se conhece andando
Caminho
se conhece andando, então vez em quando é bom se perder
Perdido fica perguntando, vai só procurando e acha sem saber Perigo é se
encontrar perdido, deixar sem ter sido, não olhar, não ver Bom mesmo é ter
sexto sentido, sair distraído espalhar bem-querer (Chico César)
A canção “Deus me Proteja”5de Chico César, Francisco César Gonçalves, é quase uma
oração de proteção. O seu eu lírico usa de paradoxos para construir sua prece
nordestina. Escrevemos este artigo ao som das canções do compositor e cantor
paraibano nascido em 1964 e, inspiradas em suas letras poéticas, as associamos
ao desenvolvimento deste trabalho6. O caminho
que conhecemos da educação musical, como área de conhecimento, vem sendo
construído e discutido por autores como Kraemer (2000),
Nielsen (2008), Del-Ben (2001, 2010, 2014)
e Souza (1996, 2007, 2014,
2020). O nosso andar como
pesquisadoras e professoras de música segue o percurso já traçado e reconhecido
por sua comunidade. Desse modo, por já haver um corpo de ideias já aceitas,
evitamos o perigo de nos encontrarmos perdidas. Os que vieram antes de nós nos
protegem com suas pesquisas e experiências para, assim, continuarmos o trilhar
científico dos processos inerentes ao campo da educação musical ou da pedagogia
da música, como Kraemer e Nielsen se referem.
Reforçamos o pensamento de
Souza (2020, p. 15) ao afirmar que a
educação musical é uma área autônoma7 ou seja, “que ela não
está subordinada a outras áreas do conhecimento e que pode determinar sua
problemática teórica, bem como definir seus interesses e ter objeto próprio”.
Para Nielsen (2008), o ensino e a
aprendizagem em música, assim como concepções sobre formação musical, são o
objeto de análise. Kraemer
(2000, p. 52) destaca “as relações entre pessoa(s) e a(s) música(s) sob os
aspectos de apropriação e transmissão”. Souza
(2020, p. 15) concorda com Kraemer e reconhece
que a educação musical, como um campo autônomo, “não está subordinada aos
códigos da pedagogia (educação) e nem da música (musicologia no sentido mais
amplo da ciência da música)”. Para a autora, a autonomia de uma área significa
“ter seu próprio objeto, método e linguagens próprias” (p. 15).
Essa autonomia da educação
musical, que tem o conhecimento pedagógico-musical como objeto de interesse,
não a isola das demais áreas e nem a torna obrigatoriamente uma área
interdisciplinar (SOUZA, 2020). Ao
contrário, reforça a característica complexa dos fenômenos investigados,
criando subdisciplinas como Sociologia, Psicologia, História e Filosofia da
Educação Musical. Nas palavras de Souza (2020, p. 17), “A reflexão sobre as
especificidades do conhecimento pedagógico-musical pode contribuir para a
construção de teorias explicativas nessa área que partam de instrumentos e
práticas metodológicas próprias”. Dessa forma, sem perder o foco, torna-se
indubitável que as pesquisas em educação musical necessitam de uma teoria
associada e articulada a outras áreas. Essa complexidade é também apontada por Minayo (2010) nas
Ciências Humanas e Sociais, que partem de problemas da vida prática.
O debate epistemológico da
educação musical brasileira, segundo Souza (2020), está centrado na discussão
sobre a produção da área em levantamentos bibliográficos de estudos de estado
da arte e de conhecimento. Para a autora, “nesses estudos parecem ficar claros
os temas que têm sido explorados, delineando, assim, as especificidades do
nosso objeto e de que conhecimento trata a Educação Musical como ciência” (p.
14). Assim, destacamos os trabalhos de
Ramos, Oliveira e Santos (2017), Maffioletti e Abrahão (2017), Almeira (2019), Gontijo (2019) e Ropke e Monti (2021), que evidenciam as pesquisas
(auto)biográficas no campo da educação musical. Nos estudos desses(as)
autores(as), percebemos a forte presença da valorização dos processos de
formação pessoal, profissional e musical.
Com o intuito de colaborar
com essa discussão, este trabalho é parte do resultado de um projeto
intergrupos que teve como objetivo estudar os conceitos e a constituição da
pesquisa (auto)biográfica8em educação musical.
Estudantes de mestrado e doutorado, em música e educação, participantes de dois
grupos de pesquisa9, se reuniram para realizar
um estudo de estado de conhecimento (ROMANOWSKI;
ENS, 2006; MOROSINI; FERNANDES, 2014)
centrado em teses e dissertações. A finalidade desse levantamento se desdobrou
em três direções que convergem ao final: (1) ampliar o mapeamento realizado por
Gontijo (2019); (2) destacar o referencial teórico, metodológico e os termos
específicos das pesquisas que utilizam a (auto)biografia como abordagem
investigativa; e (3) identificar como os conceitos da pesquisa (auto)biográfica
têm sido desenvolvidos no campo da educação musical. Os resultados foram
apresentados no XXV Congresso Nacional da Associação Brasileira de Educação
Musical (MARQUES; PEDROLLO; MADEIRA, 2021; MADEIRA et al., 2021; PEDROLLO et al., 2021)10.
A aproximação da área da
educação musical às pesquisas (auto)biográficas retratam as possíveis
contribuições que essas podem revelar uma à outra, possibilitando novas vozes
serem escutadas e novos olhares sobre o processo de pesquisa e formação dos
fenômenos músico-pedagógicos em diversos contextos e campos empíricos. Assim, o
principal objetivo deste artigo é demonstrar como a produção acadêmica com abordagem
(auto)biográfica está sendo desenvolvida na educação musical, destacando
aspectos dos referenciais teóricos e metodológicos, bem como palavras criadas
para designar novos conceitos.
Pesquisa
(auto)biográfica: um espaço em expansão
Era uma
contemplação, como com lente que aumenta Era o espaço em expansão, e o tempo em
câmara lenta Era tudo em comunhão, com o um e tudo à solta Era uma outra visão,
das coisas à nossa volta (Carlos Rennó e Chico César)
Esse trecho de outra
canção de Chico César, composta em parceria com o paulistano Carlos Rennó,
“Experiência"11, enfatiza a comunhão do ser
com tudo à sua volta. A pesquisa biográfica contribui para a construção de um
sentido teórico, pois é entendida como a interface que possibilita ao
indivíduo, “nas condições de sua inserção sócio-histórica, integrar,
estruturar, interpretar as situações e os acontecimentos de sua vivência” (DELORY-MOMBERGER, 2012a, p. 75).
Percebemos que isso permite uma outra visão das coisas à nossa volta. Logo, ao
buscar compreender as trajetórias de vida e as experiências dos indivíduos por
meio de narrativas autobiográficas, segundo Delory-Momberger (2011), as pesquisas propiciam a
reflexão daquele que age, concedendo uma nova leitura e interpretação da ação
vivida.
Sobre a pesquisa
(auto)biográfica, Abrahão afirma que
[...] é uma forma de
história autorreferente, portanto plena de significado, em que o sujeito se desvela,
para si, e se revela para os demais. Produzir pesquisa (auto)biográfica
significa utilizar-se do exercício da memória como condição sine
qua non. A memória é o elemento-chave do trabalho com
pesquisa (auto)biográfica, em geral: Histórias de vida, Biografias,
Autobiografias, Diários, Memoriais. (ABRAHÃO,
2004, p. 202).
Essa reflexão sobre si
mesmo não deixa de ser “uma contemplação como com lente que aumenta” a
trajetória e as experiências vividas e memoráveis, sejam elas de professores,
estudantes em formação, músicos ou crianças. Para Abreu (2017a, p. 101), existe a
necessidade de a educação musical colocar em evidência, no sentido epistemológico,
“a reflexividade (auto)biográfica do sujeito que se forma e também dos que
formam outros na área”. A autora vê esse processo reflexivo como um fenômeno
antropológico na educação musical que, por meio das narrativas
(auto)biográficas, permite uma visão pós-disciplinar da área, interessada nos
processos pelos quais as pessoas se relacionam e dão sentido à música em se
tornar quem são.
Assim, percorrer os
caminhos de uma hermenêutica da relação das pessoas com a educação musical é
empreender um trabalho do sujeito, tanto do autor do relato, quanto dos que
contam os relatos dos outros […] também é possível considerar as narrativas
como fonte e método investigativo, indagando-se sobre práticas musicais, não
apenas para produzir conhecimentos sobre essas práticas, mas para perceber como
os sujeitos dão sentido a elas. E, por fim, fazer uso dessas narrativas como
dispositivo de investigação-formação-ação, instituindo o sujeito como um dos
maiores interessados no conhecimento que ele produz para si mesmo e para o
outro. (ABREU, 2017a, p. 101).
Ampliando o “espaço
expandido”, contemplando os processos subjetivos, Maffioletti e
Abrahão (2017, p. 73) afirmam que, assim como o método (auto) biográfico
oferece “ricas oportunidades à investigação em educação musical, […] a arte
como experiência e o significado da experiência sensível da música na vida das
pessoas é uma dimensão que amplia a compreensão ética e estética da existência
humana no campo do método autobiográfico”. Com este artigo, pretendemos fazer
jus a essa construção, apresentando o processo e os resultados de um estudo de
estado de conhecimento, concentrado nas produções acadêmicas brasileiras sobre
a pesquisa (auto)biográfica em educação musical.
O
dizer do indizível metodológico
Como a
onda tão etérea, e a partícula não tão Num ponto tal da matéria, tanto “tão
quanto não” tão Até que ponto resistem, a lógica e a razão Já que nas coisas
existem, coisas que existem e não O que dizer do indizível, se é preciso
precisão Pra quem crê no que é incrível, não devanear em vão (Carlos Rennó e Chico César)
Uma de nossas primeiras
perguntas, o que é um estado de conhecimento, foi respondida por Morosini e Fernandes
(2014, p. 155): é a “identificação, registro, categorização que levem à
reflexão e síntese sobre a produção científica de uma determinada área, em um
determinado espaço de tempo […]”. Assim, delimitamos que continuaríamos o
trabalho de Gontijo (2019), ampliando o
período de publicação das teses e dissertações até maio de 2021, já que nas
coisas existem coisas que existem e não. Expandimos também as categorias a
serem analisadas, contemplando fatores sociais e políticos, como o fomento de
pesquisas, órgãos de financiamento, regiões de defesa, campo de coleta de dados
e neologismos.
Gontijo (2019), em sua dissertação de
mestrado, realizou um levantamento bibliográfico de teses e dissertações
publicadas entre 2003 e janeiro de 2019. Analisou 31 trabalhos que foram
coletados via plataforma do banco de teses e dissertações da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e via Biblioteca Digital
Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD). As palavras-chave utilizadas foram:
“autobiografia + música, ((auto)biográfica) + (música), autobiografia + música,
autobiografia + história de vida, (autobiografia + história de vida),
autobiografia + história de vida” (p. 54). A partir desse primeiro mapeamento,
a autora buscou mais trabalhos, nessa perspectiva, no curriculum lattes das
professoras orientadoras indicadas nas pesquisas coletadas. Para dar continuidade,
seguimos os mesmos passos metodológicos supracitados, ou seja, mantendo o modo
de busca de Gontijo.
A organização dos nossos
dados se deu pela construção de uma tabela com as seguintes categorias: título,
autor(a), tipo de documento (tese ou dissertação), ano de defesa, programa de
pós-graduação, área do trabalho, financiamento, órgão de financiamento,
universidade, orientador(a) e co-orientador(a),
grupos de pesquisa dos(as) autores(as) dos trabalhos, lócus da pesquisa,
palavras-chave, referencial teórico, referencial teórico-metodológico,
abordagem metodológica, sujeitos, quantidade de sujeitos, coleta de dados,
análise de dados, resultados, significado da palavra (auto)biografia e novos
termos da educação musical na pesquisa (auto)biográfica. Por fim, depois de
realizadas as devidas verificações, mais 16 pesquisas foram adicionadas às
produções acadêmicas, sendo 12 dissertações e 4 teses, totalizando 47 trabalhos
(34 dissertações e 13 teses), conforme apresentado no Apêndice A, os quais correspondem
ao objeto de estudo analisado neste artigo.
Com esse total, percebemos
que a produção de trabalhos referente às pesquisas (auto)biográficas na
educação musical mantém-se em crescimento, conforme apontado em Gontijo (2019) e Röpke e Monti (2021). A primeira autora constatou que, do ano
de 2018 até a finalização de sua pesquisa, houve um aumento de 16% do total de
teses e dissertações produzidas e ressaltou uma continuidade ininterrupta
dessas a partir do ano de 2011. Röpke e Monti (2021) focaram
o levantamento de teses desenvolvidas entre os anos de 2015 e 2019 e
encontraram 16 trabalhos acadêmicos. Em nosso levantamento, percebemos o
aumento de 51,6% de pesquisas (auto)biográficas no período entre 2019 e janeiro
de 2021.
Na área da educação, os
mapeamentos de Souza e Meireles (2018) e
Ramos, Oliveira e Santos (2017) também
apontam para o crescimento de pesquisas (auto) biográficas. Para Passeggi e Souza
(2017), existem dois momentos significativos do movimento (auto)biográfico
que corroboram a discussão desse crescimento: o movimento autobiográfico, em
1990, e a expansão de trabalhos acadêmicos empregando os termos biográfico e
autobiográfico depois dos anos 2000. O segundo foi marcado também pela
realização do I Congresso Internacional de Pesquisa (Auto)biográfica (CIPA), em
2004. Ressaltamos que em 2021, na IX edição do CIPA, houve a presença da área
de educação musical em mesas, simpósios e apresentações de comunicações.
Neste artigo,
contemplaremos com nossa lente de aumento os seguintes pontos das pesquisas
(auto)biográficas mapeadas: a construção do conhecimento teórico e metodológico
dos trabalhos e seus neologismos. Em cada etapa apresentaremos o
desenvolvimento da pesquisa (auto)biográfica nas produções acadêmicas em
educação musical, dando ênfase aos resultados e reflexões que surgiram, fazendo
apontamentos e observando seus propósitos nas pesquisas da área. Tentaremos, ao
longo dos próximos tópicos, dizer do indizível e não devanear em vão.
Educação
musical em diálogo: no nível de um campo semântico
Era qual
uma lição, del viejo brujo don Juan Uma complexa
questão, sem nexo qual um koan Um signo sem tradução, no plano léxico-semântico Enigma,
contradição, no nível de um campo quântico (Carlos
Rennó e Chico César)
A construção do
conhecimento em educação musical é observada na sua relação com outras
disciplinas, assim como o índio mexicano da tribo Yaqui,
Don Juan de Matus, transmitiu seus conhecimentos para
o escritor e antropólogo Castaneda e modificou sua
percepção e compreensão de mundo. Buscamos em outras áreas, muitas vezes, um
suporte para não cairmos em ideias soltas, em perguntas sem respostas. Somos
levadas a pensar fora de nossa casa, como os koan
budistas, que não possuem razão, mas trazem ideias, reflexões e novas conexões. Kraemer (2000) analisa
esse processo destacando a frequência com que as ciências humanas são
exploradas na pesquisa em música. Como ciência, a educação musical se alimenta dessas
fontes e constrói ligações fundamentais para a música, assim como para a
formação e atuação do(a) educador(a) musical. Dentre as preocupações do autor,
estão: a análise dos discursos pedagógico-musicais, os caminhos metodológicos
que focam a construção do conhecimento dentro da área e os questionamentos de
ordem filosófica, focados em compreender questões éticas e antropológicas
fundamentais na pedagogia musical.
Há ainda aspectos que
estudam os detalhes históricos, psicológicos e sociológicos que se ocupam,
respectivamente, com o desenvolvimento da área, as ações do(a) professor(a)
durante a prática pedagógica e as condições socioeconômicas e institucionais de
uma educação musical. O que Kraemer (2000) apresenta é corroborado no trabalho de Bragança (2012, p. 74) no que diz respeito
à contribuição das ciências humanas em trabalhos científicos que envolvem a
(auto) biografia. Por um lado, vemos a presença frequente de áreas como “a
sociologia, a história, a antropologia, a psicologia e a filosofia, ou seja, as
ciências humanas”. Por outro, em países francófonos, por exemplo, são
identificadas referências a autores(as) e conceitos da área das ciências
biológicas.
Consideramos essa relação
no desenvolvimento de uma das partes deste projeto, onde realizamos o
mapeamento do referencial teórico de todos os trabalhos encontrados.
Ressaltamos que foi necessário revisitar cada pesquisa mais de uma vez, porque
foi um processo que exigiu cuidado e estudo frequentes da nossa parte, para que
os dados obtidos ficassem o mais claro possível, evitando o perigo de deixar
sem ter sido, não olhar, não ver. O resultado foi um detalhamento de 677 obras
referenciadas pelos autores(as), sendo elas publicadas de formas diversas, como
em livros, capítulos de livros, periódicos e anais de congressos.
Percebemos que as 47
pesquisas não possuem uma unificação de termos no que se refere à fundamentação
teórica e metodológica. Alguns trabalhos, por exemplo, destacam o “referencial
teórico” adotado na investigação, já no resumo, enquanto outros optam pelo
termo “referencial teórico-metodológico”. Por essa razão, vimos como necessária
a leitura detalhada da introdução e dos capítulos que apresentam desde o
referencial teórico até o metodológico para identificar se havia, ou não, essa
separação entre eles, buscando também fontes que fundamentam as opções
epistemológicas. A partir desse aspecto, concordamos com Gray (2012, p. 21) quando afirma que as
pesquisas baseadas em estruturas positivistas tendem a assumir essa separação
de maneira mais frequente, pois suas concepções teóricas estão relacionadas
diretamente com características da objetividade.
De maneira contrária, a
perspectiva construtivista e os estudos interpretativos defendem que a criação
da verdade e do sentido acontecem, de fato, nas interações do sujeito com o
mundo (GRAY, 2012). Entendemos que a
pesquisa (auto) biográfica se encaixa nessa perspectiva, pois aborda
experiências de pessoas por meio de fontes como “histórias de vida, relatos
orais, fotos, diários, autobiografias, biografias, cartas, memoriais,
entrevistas, escritas escolares e videográficas” (PASSEGGI et al., 2021, p. 5). Essa é uma
abordagem investigativa adotada recentemente em trabalhos de educação musical
(ver Apêndice A), porém já foi possível observar que as fontes teóricas, muitas
vezes, fundamentam o quadro teórico-metodológico, sem distinção.
De contemplar e buscar
compreender a construção do conhecimento na pesquisa (auto)biográfica em
educação musical, nossos olhares se voltaram para três aspectos que, mesmo
observados separadamente, foram encontrados em comunhão: teorias, metodologias
e neologismos. É como a canção de Rennó e César: tudo entrelaçado, individual
enquanto identidade, mas como um todo quanto à amplitude da educação musical.
Referencial
teórico: áreas, temáticas e suas conexões
Observamos que a maioria
dos trabalhos encontrados foi desenvolvida nas áreas de educação (43%) e música
(43%), o que era esperado, pois a nossa busca está centrada nos programas de
pós-graduação dessas áreas. Ao analisarmos os objetivos gerais e específicos de
cada investigação, chamou-nos a atenção a conexão das teses e dissertações com
o campo das Ciências Sociais, como foi o caso de Teixeira (2016), que se
fundamentou na Filosofia; de Oliveira (2020), que conversa com a Psicologia; e
de Torres (2003), que teve como fonte a Sociologia (Gráfico 1). Os pensamentos
de Kraemer (2000)
e de Souza (2020) são corroborados por meio desses exemplos, no que diz
respeito à construção teórico-científica da educação musical na sua relação com
outras áreas.
Essa relação da música com
as Ciências Sociais foi discutida por Bastian (2000). Para o autor, a área apresenta um leque
de possibilidades de conteúdos e métodos que destacam sua relevância. Na mesma
linha, Del-Ben (2001) afirma que a
educação é um fenômeno complexo, envolvido por diversas variáveis. É por essa
razão que fundamentos de áreas como a Psicologia, a Sociologia, a Filosofia e a
História podem contribuir para uma análise mais profunda. Nas palavras de
Del-Ben (2001, p. 69), “suas teorizações se constituem como discursos
disciplinares sobre dimensões ou aspectos particulares da educação, não sendo
suficientes para apreender e compreender as práticas educativas em sua
totalidade e concretude”. Entendemos, portanto, que nem sempre elas serão
capazes de orientar a prática educativa em música. Assim, é necessário
identificar esses limites para, então, definir o campo da educação musical.
Para Souza (2020), esses contornos são delimitados pelo olhar específico da
área, que é construído a partir da formação de pesquisadores, sua
institucionalização e organização.
Gráfico 1
produção das
autoras
A partir do Gráfico 1,
podemos identificar dados que legitimam a discussão que apresentamos neste
tópico. A Sociologia faz parte de 11% das pesquisas estu-dadas
(ABREU, 2011; ANDERS, 2019; LIMA, 2013; LOURO, 2004; MARQUES, 2016; MOTA, 2017;
PEDRINI, 2013; RECK, 2017; SANTANA, 2019; SANTOS, 2019; SILVA, 2020; TORRES,
2003). A contribuição dessa área cresceu consideravelmente, conforme apontam Kraemer (2000) e Souza (2003, 2004a, 2004b, 2007, 2008,
2014a, 2014b, 2015, 2020), pois desenvolve discussões que cumprem muitos dos
objetivos pautados nas pesquisas encontradas. Podemos citar temáticas em torno
das identidades, teorias sociais (Teoria do Cotidiano e Teoria Ator-Rede) e
sociologia da infância. Todas indicam a emergência de trabalhos cada vez mais
focados no sujeito, aspecto fundamental da pesquisa (auto)biográfica, conforme
menciona Passeggi (2020).
Ao mencionarmos as
temáticas encontradas, é relevante destacar que três dos trabalhos imersos na
área da Sociologia (ABREU, 2011; BRAGA, 2016; SANTOS, 2019) exploram a Teoria
Ator-Rede. Essa contribuição, baseada no sociólogo Bruno Latour, é essencial
quando o pesquisador se propõe a acompanhar os sujeitos (atores) dentro do seu
contexto social, a fim de compreender como o saber é construído dentro de
determinada comunidade. Aqui percebemos o quão indispensável é a observação do
ambiente de socialização, que alimenta a “acumulação de conhecimento” (ABREU,
2011, p. 43), reunindo novos elementos diariamente.
A rede, nessa teoria, está
na força da socialização que produz aliados e torna os atores indispensáveis na
realidade onde estão inseridos. As estratégias que o ator produz para convencer
seus pares da necessidade da sua presença é mais importante que o conhecimento
acumulado, conforme destacam as pesquisas supramencionadas baseadas em Latour.
Dominar a área não é suficiente, é preciso construir um ambiente de
convencimento que o reconheça no seu ambiente social. Abreu (2011), por exemplo,
explora essa construção do sujeito sociocultural como essencial na
profissionalização do(a) professor(a) de música.
As teorias do cotidiano e
identidades são outros dois aspectos da área da Sociologia que foram exploradas
em quatro trabalhos (TORRES, 2003; LOURO, 2004; MOTA, 2017; RECK, 2017). Louro
(2004) afirma que a identidade profissional do(a) professor(a) de música se
desenvolve com a presença de outras pessoas no seu espaço de trabalho e estudo.
Já Reck (2017, p. 49), associado às teorias do cotidiano,
parte dos estudos de Lucy Green ao considerar que a relação estabelecida nos
grupos sociais “é uma organização social da prática musical”, que gera
significado para a prática docente. Isso demonstra o quão determinante a
Sociologia é para conectar argumentações para a pesquisa (auto)biográfica, no
que diz respeito à valorização do sujeito na sua individualidade e a sua
relação com o grupo social onde está inserido.
Quando nos referimos às
áreas de Educação e Música, observamos o domínio de estudos sobre formação
docente no referencial teórico, seguidos pelo estudo da experiência do docente
e do discente, assim como do músico (musicista). A presença de temas como
formação, experiência, memória e prática docente indica o elo forte com a
pesquisa (auto)biográfica, marcando a valorização do sujeito pesquisado. Passeggi (2020)
afastou a concepção de “sujeito assujeitado”, dando ênfase ao sujeito da
experiência, que carrega consigo conhecimento e vivência suficientes para
construir saberes pedagógicos de formação enquanto está exercendo sua
profissão.
De igual modo, observamos
que a música também contempla, em sua maioria, trabalhos sobre formação docente
e musical. Isso nos levou a compreender que essa busca pode contemplar a
necessidade tanto da formação pedagógica como da formação musical. Mateiro
(2007, 2009, 2015) acompanha essa discussão, investigando como a formação
acadêmica, oferecida pelos cursos de Licenciatura em Música, tem preparado os
estudantes para o trabalho em sala de aula em escolas de educação básica.
Podemos encontrar essa relação em cinco trabalhos. Tomazi
(2019) e Torres (2003) realizaram suas pesquisas com professoras pedagogas e
indicaram que as experiências musicais, aliadas ao grupo de formação onde
estavam inseridas, foram essenciais no processo formativo, nas suas práticas
musicais e pedagógico-musicais, as quais se tornaram mais significativas.
Almeida (2016) e Gaulke (2013, 2017) focaram seus estudos
nos docentes de música, observando como a formação de um(a) professor(a) de
música está intrinsecamente conectada com a preparação musical e com a
pedagógica do sujeito.
Referencial
teórico: publicações, autores(as) e suas conexões
Para não devanear em vão,
atentamo-nos aos anais de congressos, periódicos, livros e capítulos de livros
como os tipos de publicações mais usados ao longo das teses e dissertações.
Partindo do que já existe, percebemos a presença considerável de livros tanto
na Educação como na Música, o que indica que ambas as áreas possuem estrutura
teórica para subsidiar o referencial de trabalhos no campo das
(auto)biografias. Identificamos as obras mais exploradas no referencial teórico
dos 47 trabalhos, as quais fundamentam discussões teórico-práticas sobre
formação docente e pesquisa (auto)biográfica. Essa informação converge com as
áreas mais exploradas – Educação e Música, conforme apresentado no Gráfico 1.
Procurando identificar a
grande rede de entrelaçamento de autores(as), analisamos que essa união
representa um caminho indispensável para a construção do pensamento teórico das
pesquisas (auto)biográficas em educação musical. Foi relevante identificar
os(as) autores(as) da área da Educação citados(as) ao menos três vezes ou mais
de cinco vezes. As mais citadas para fundamentar os processos biográficos foram
Marie-Christine Josso, Christine Delory-Momberger
e Maria da Conceição Passeggi. Já os autores Paulo
Freire, António Nóvoa e Jorge Larrosa costuram o processo
de construção profissional do(a) professor(a).
Verificamos que a
influência de autores(as) estrangeiros(as) na pesquisa (auto)biográfica
brasileira tem sua origem na Europa e na América do Norte. Passeggi e Souza
(2017) desenvolvem uma discussão sobre essa questão, confirmando a
informação, pois o movimento (auto)biográfico teve início em países como
França, Portugal e Canadá. Podemos mencionar aqui pesquisadores(as) como Gaston
Pineau, no Canadá, Marie-Christine Josso, na Suíça, e António Nóvoa,
em Portugal, pioneiros da primeira rede de pesquisas em histórias de vida em
Educação, que traçaram objetivos e princípios éticos no contexto da formação
continuada dos(as) professores(as).
Na área da Educação
Musical, realizamos o mesmo processo analítico e destacamos duas questões
fundamentais sobre representatividade feminina12,
dos(as) autores(as) encontrados(as), cinco são mulheres, quatro delas
brasileiras. Enquanto a pesquisa em educação musical se estruturava no Brasil,
no início dos anos 1990, autores homens e estrangeiros eram os mais explorados.
Entretanto, ao longo dos anos constatamos que autoras como Cláudia Bellochio, Jusamara Souza, Maura
Penna e Teresa Mateiro deixaram de estar presentes nas revisões de literatura
de trabalhos na área para fundamentá-los em temáticas como formação docente,
música na escola, formação continuada, aula de música e educação musical no
cotidiano.
O entrelaçamento da
Educação Musical com a Sociologia volta a aparecer, sublinhando-se os
pensamentos de Rudolf-Dieter Kraemer
e Jusamara Souza. A Filosofia, então denominada de
Filosofia da Educação Musical, está presente a partir das ideias de Wayne Bowman e Estelle Jorgensen. Identificamos, ainda, Ana Lúcia Louro e Delmary de Abreu, da Educação Musical, que desenvolvem
pesquisas (auto)biográficas há mais de 10 anos – muitas das teses e
dissertações selecionadas neste levantamento são oriundas de seus grupos de
pesquisas.
Os(as) autores(as) mais
citados(as) relativos à Filosofia, Sociologia, Geografia e Psicologia também
apareceram. Observamos que a Filosofia teve destaque em vários trabalhos com a
obra Tempo e Narrativa de Paul Ricoeur; a Sociologia,
com as identidades profissionais de Claude Dubar; e
os estudos culturais, com Stuart Hall. Destacamos o trabalho de Santana (2019),
que explorou as obras de Marilena Chaui, filósofa
brasileira, apresentando contribuições sobre a formação universitária. Na
Geografia, identificamos o conceito de lugar e espaço a partir de Yi-Fi Tuan. A Psicologia teve suas
contribuições nas temáticas sobre percepção e memórias docentes a partir de
Vygotsky, Bruner e Bosi.
É importante sublinhar que
a pesquisa (auto)biográfica em Educação Musical no Brasil contou não só com
autorias, mas também com coautorias. De todas as obras citadas com mais
frequência (cinco ou mais), apenas um livro apresenta a temática da formação
docente (PIMENTA; LIMA, 2017),
enquanto as outras quatro estão no campo da pesquisa (auto)biográfica,
configurando dois artigos científicos (ISAIA; BOLZAN, 2007; PASSEGGI; ABRAHÃO; DELORY-MOMBERGER, 2012)
e dois livros (PASSEGGI; SOUZA; VICENTINI,
2013; PASSEGGI; SOUZA, 2012). Essa informação indica o crescimento de
parcerias e troca de experiências registradas em trabalhos científicos da
pesquisa (auto)biográfica. Podemos afirmar que é um início promissor, um
crescimento expressivo de autores(as), indicando que a Educação e a Música
também contribuem na formação de novos(as) pesquisadores(as), conforme apontam Freitas e Souza (2018).
Processos
investigativos com intensificação e ampliação
E as coisas eram as
coisas, a folha, a flor e o grão O sol no azul e depois as estrelas no preto
vão E as coisas eram as coisas, com intensificação Que
as coisas eram as coisas, porém em ampliação (Carlos
Rennó e Chico César)
Ressaltamos as referências
que fundamentaram o conjunto de conceitos e proposições inter-relacionados e
apresentados com o propósito de explicar o processo investigativo das
pesquisas, afinal as coisas eram as coisas, mas cada uma se desenvolve de uma
maneira. A folha, a flor, o grão são coisas diferentes, mas ao mesmo tempo
estão todas relacionadas, têm o seu momento certo, técnicas e métodos a serem
desenvolvidos para se chegar aos seus resultados. No Gráfico 2,
apresentamos os autores(as) citados(as) em mais de seis trabalhos. Esse é um
dado que, embora represente apenas 4,8% das teses e dissertações, nos
possibilitou identificar de que forma as perspectivas epistemológicas e
ontológicas no campo da Educação Musical, em relação às pesquisas de abordagem
(auto)biográfica, foram sendo construídas e constituídas.
Gráfico 2
produção das
autoras
Ao analisar os capítulos
da metodologia, encontramos a presença frequente de autoras(es) como Delory-Momberger (21,4%), Josso
(15,5%), Bolívar (10,7%), Passeggi (9,5%), Abrahão
(8,3%), Clandinin e Connely
(7,1%), Ferrarotti (7,1%) e Pineau (7,1%). Assim como
na análise do referencial teórico, verificamos a influência francesa na área
(auto)biográfica. Um dos fatores desse destaque passa pela formação da
professora Maria da Conceição Passeggi, que se dedica
a essas produções desde a década de 1970. Além disso, a autora e outros(as)
pesquisadores(as) brasileiros(as) desenvolvem estudos fortalecendo as parcerias
entre Argentina, Brasil e França (SOUZA et
al., 2010), trabalhos esses reconhecidos que contribuem para a expansão e
divulgação do pensamento de origem francófona, lusófona e hispânica na pesquisa
(auto)biográfica no Brasil.
Consideramos importante
reiterar que essa ênfase não elimina os diálogos entre autores(as) não citados(as)
aqui, como, por exemplo, o artigo de Passeggi e Souza
(2017) ou o livro de Bolívar, Domingo e Fernández (2001). Mesmo que os(as)
nomeados(as) anteriormente tenham sido os(as) mais citados(as), os 47 trabalhos
analisados não deixaram de entrelaçar seu referencial com outros(as) que também
discutem sobre a pesquisa (auto)biográfica.
Métodos
investigativos: fontes (auto)biográficas
Considerando que a
pesquisa (auto)biográfica tem, entre outras fontes, as biografias,
autobiografias, “cinebiografias, fotobiografias, videografias,
webgrafias”, segundo Passeggi (2011, p.
28, tradução nossa), é importante diferenciar metodologia e fontes de
informação, detalhes nem sempre claros nos trabalhos analisados. Nesse sentido,
Souza esclarece que
A abordagem
(auto)biográfica tanto é método, devido à vasta fundamentação teórica no seu
processo histórico, quanto é técnica, pela utilização metodológica em vários
contextos. O uso do método (auto)biográfico está, por sua vez, inserido no
campo de pesquisas socioeducacionais, possibilitando, a partir da voz dos
atores sociais, remontar a singularidade das histórias narradas por sujeitos
históricos, socioculturalmente situados, garantindo o
seu papel de construtores da história individual/ coletiva intermediada por
suas vozes entre a unicidade (subjetividade) e o que é científico (SOUZA, 2006, p. 29).
Encontramos diversas
nomenclaturas quanto às abordagens investigativas, como biográfica,
autobiográfica, (auto)biográfica, narrativa, biográfico-narrativa, história de
vida e história oral. Röpke
e Monti (2021), em seu levantamento, constataram
que diversos termos epistêmico-metodológicos eram, muitas vezes, usados nos
trabalhos como sinônimos. Em nossa análise, os termos (auto)biografia e
autobiografia, por exemplo, apareceram com frequência, consolidando a afirmação
da pluralidade de usos da abordagem (auto)biográfica, conforme indica Souza (2006). Na área de Educação
Musical, percebemos que a (auto)biografia é uma abordagem teórica que permite
que o sujeito, inserido no seu contexto, entrelace as situações que vivencia de
forma integrada, estruturada e interpretada, em concordância com Delory-Momberger
(2012a). Destacamos que, em 19 trabalhos, o conceito de (auto)biografia foi
compreendido como um processo reflexivo dentro do processo de biografização do sujeito, o que enfatiza sua característica
epistemopolítica (PASSEGGI;
SOUZA, 2017).
Passeggi e Souza (2017), tendo como
foco tornar o ato autobiográfico objeto de estudo científico, propõem reflexões
sobre uma aposta tríplice. Primeiramente, epistemológica, colocando a
reflexividade autobiográfica do sujeito no centro, proporcionando a emancipação
e o empoderamento do indivíduo. Em seguida, pós-colonial, redirecionando uma
maneira de olhar antes elitista sobre a capacidade reflexiva e interpretativa
do(a) cidadão(ã) comum. E, por fim, pós-disciplinar, reflexão baseada na busca
por espaços de descobertas, onde os sujeitos se encontram a partir da liberdade
de ir e vir.
Identificamos em alguns
trabalhos o entrelaçamento entre Educação Musical e (auto)biografia, fazendo
uso da metodologia biográfica (TORRES, 2003; ABREU, 2011; GAULKE, 2013), da
narrativa (PEDRINI, 2013; RASSLAN, 2014; LEAL, 2019; PEREIRA, 2020), da
história oral (LOURO, 2004; MACHADO, 2012; JUNGES, 2013; WEISS, 2015; TEIXEIRA,
2016; SCHNEIDER, 2017; PENTEADO, 2019), da docu-mentação
narrativa (CORRÊA, 2019; OLIVEIRA, 2019; SANTOS, 2019), do estado da arte (GONTIJO,
2019) e da pesquisa documental (OLIVEIRA, 2019).
Com relação aos aportes
metodológicos, os termos empregados nas pesquisas foram: histórias de vida
(MACHADO, 2012; LIMA, 2013; ALMEIDA, 2019), método biográfico (LIMA, 2015;
NICODELLI, 2019; PENTEADO, 2019), narrativa (JUNGES, 2013; MOTA, 2017),
narrativas em formação (GAULKE, 2013), pesqui-sa-formação (ALMEIDA, 2016; ARAÚJO, 2017; CORREA, 2018;
TOMAZI, 2019; SANTOS, 2019; ROSA, 2020) e musicobiografização
(PITANGA, 2021). Destaque para a tese de Anders (2019), pois apenas nela a
(auto)biografia aparece descrita como um método de pesquisa.
Dentre as pesquisas, seis
delas têm como sujeitos licenciandos(as), seis alunos(as) da educação básica,
quatro instrumentistas, um(a) arte-educador(a), um(a) pesquisador(a) e um(a)
licenciando(a) e instrumentista. O Gráfico 3 demonstra que
os(as) professores(as) ocuparam lugar de destaque, uma vez que as investigações
estão centradas nas práticas educativas. Vale ressaltar que 54% desses(as) atuavam
na educação básica, 27% em universidades, 11% como professores(as) de
instrumento musical e 8% em projetos sociais.
Gráfico 3
produção das
autoras
Ao longo dos anos, pensar
e fazer pesquisa sobre a formação de adultos foi assumindo outras formas
investigativas, como a pesquisa-formação ou pesquisaformação
(MOTTA; BRAGANÇA, 2019). Sendo assim,
encontramos 10 pesquisas com características semelhantes:
pesquisa-ação-formação (ARAÚJO, 2017; CORRÊA, 2018; OLIVEIRA, 2018; SANTOS,
2019), pesquisa-formação (ALMEIDA, 2017; TOMAZI, 2019; ROSA, 2020),
investigação-formação (LEAL, 2019), ateliê musicobiográfico
de projeto (SOUZA, 2018) e biografia músico-educativa (ALMEIDA, 2019). Todas foram realizadas com
diferentes etapas de coletas de dados e de forma coletiva, com até 30 sujeitos.
A centralidade da música
no processo formativo dos sujeitos pesquisados auxiliou na adaptação e/ou
criação de novos termos necessários e específicos para o campo investigativo da
Educação Musical. Esses neologismos que, em alguns casos, se referem a métodos
de pesquisas ou conceitos teóricos tramam o entrelaçar entre teoria e método, a
abordagem teórico-metodológico das pesquisas, o “tanto ‘tão quanto não’ tão”.
Termos
e conceitos em ritmo caleidoscópico
Era qual
uma visão, de um milagre microscópico, o infinito num botão E em ritmo
caleidoscópico, ciclos de aniquilação e criação sucessiva Átomos em mutação,
cósmica dança de Shiva,Shiva,
Shiva, Shiva, Shiva, Shiva E as coisas ao nosso ver davam no fundo a impressão
De ser de ser e não-ser a sua composição (Carlos
Rennó e Chico César)
Um caleidoscópio precisa
de movimentos e feixes de luz externos para refletir em seus pequenos pedaços
de vidros coloridos, formando diversos desenhos para compor o efeito visual que
nos prende em um simples tubo, muitas vezes de papel. Da mesma forma,
percebemos em nosso levantamento a criação sucessiva de expressões que possuem
significados próprios, neologismos formados a partir das coisas que nós,
pesquisadores(as) da educação musical imbricados em conceitos da pesquisa
(auto)biográfica, vemos.
Podemos entender essas
novas palavras como “Unidade de Conhecimento Especializado” (SILVA, 2008 apud
COSTA, 2015, p. 62), que, ativas e inseridas em um contexto, expressam
conceitos significativos e frequentes em discursos especializados. Segundo
Benveniste
A história particular de
uma ciência se resume na de seus termos específicos. Uma ciência só começa a
existir ou consegue se impor na medida em que faz existir e em que impõe seus
conceitos, através de sua denominação […]. Denominar, isto é, criar um
conceito, é, ao mesmo tempo, a primeira e última operação de uma ciência. (BENVENISTE, 1989, p. 252).
A criação de um conceito e
a utilização deste de forma sistemática representam o discurso produzido por
uma área do saber, o qual não é isolado de seu contexto sociocultural. Assim,
os termos são “como unidades que atuam e propiciam o processo comunicativo no
mundo especializado e, sendo assim, não visam à padronização ou unificação
linguística” (COSTA, 2015, p. 44).
Encontramos seis termos
que indicam ser novos vocábulos, gerados na combinação entre música, educação
musical e (auto)biografia. São eles: autobiografias musicais, biografia
musical, biografia músico-educativa, escuta musical autobiográfica, musicobiografização e ateliê musicobiográfico
de projeto (AMBP). Cada vocábulo, definido por seus autores(as), é utilizado
com um sentido semântico claro nas pesquisas em questão (Figura
1). Apresentaremos cada um desses conceitos, conforme foram encontrados nos
trabalhos acadêmicos, procurando aprofundá-los a partir dos(as) autores(as) que
os criaram.
Figura 1
produção das
autoras
Autobiografias
musicais
Em 2003, na Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Maria Cecília Torres defendeu sua tese de
doutorado, a qual teve como objetivo conhecer, por meio das autobiografias
musicais, os aspectos que constituíram e constituem as identidades musicais de
20 estudantes do curso de Pedagogia. Conforme apontou no processo metodológico,
seu trabalho se situa nas pesquisas biográficas e narrativas de si. Assim,
expôs o conceito de autobiografia
[...] apresentado por
Roberts (2002) no glossário de sua obra Biographical Research, como o contar, por uma pessoa, sua vida de
forma oral ou escrita. Ao contar ou à narrativa podem-se acrescentar materiais
visuais, como fotografias, e a vida pode ser apresentada sob a forma de vídeo
ou CD. O autor destaca estudos da área da Sociologia, com os de Plummer (1983), Denzin (1989) e
Stanley e Morgan (1993), trabalhando com a noção de autobiografias como
representativas das condições de vida dos indivíduos. Para Stanley (1994), a
autobiografia “substitui o referencial e as afirmações dos escritores e
pesquisas ao focalizar nas escritas/falas das vidas e as complexidades de
ler/ouvir as mesmas” e complementa que “isto não são meramente as preocupações da auto/biografia, mas um achado do campo oral e também de
outras áreas”. (TORRES, 2003, p. 75).
Analisamos que, a partir
de uma combinação entre conceitos, foi gerado o termo especializado e
consideramos que compreender o significado de autobiografias trazido pela
autora é essencial para apreender o sentido atribuído ao termo “autobiografias musicais”.
Segundo a autora, a definição envolve as narrativas de si que estão imbuídas
nas memórias musicais que adquirimos ao longo da vida em etapas e espaços
sociais diversos, como “as lembranças de melodias, letras de músicas, shows de
bandas, rituais religiosos, aulas de instrumentos musicais, grupos de amigos e
familiares e práticas pedagógicas, dentre outras lembranças” (TORRES, 2003, p.
75).
Torres relaciona esse
conceito aos seus sujeitos de pesquisa. Contudo, percebemos que, ao revisitar
as narrativas de sua tese em artigo de 2017, adota a expressão (auto)biografias
musicais – com os parênteses no auto –, sem mudar sua conceituação. Essa
alteração também se encontra em artigo publicado em 2019, no qual desenvolve
uma pesquisa com licenciandos(as) de um curso de Graduação em Música mantendo o
conceito do termo nas memórias musicais.
Biografia
musical
Este termo está presente
na tese de Ana Lúcia Louro, a qual contou com narrativas de 16 professores(as)
de instrumento que atuavam em cursos em nível superior do estado do Rio Grande
do Sul. Defendeu sua pesquisa em 2004 na UFRGS e adotou como metodologia a
História Oral Temática. Louro baseou-se no autor italiano Demetrio
(1994 apud LOURO, 2004, p. 24) para citar autores(as) que recorrem às
metodologias biográficas em estudos que tratam de identidades e música,
afirmando que seus escritos “acenam para a música como uma influência possível
no modo de pensar dos indivíduos”. As ideias do referido autor, nas palavras de
Louro:
A biografia musical, mais
uma vez, é certamente a mais misteriosa, ela vai encontrar em que lugar a nossa
mente aprendeu a construir a si mesma como “pensamento” musical. Uma dimensão
que pode nos conduzir não só para saber escutar música, para produzi-la, para
comunicá-la, mas, sobretudo, que essa dimensão pode ser encontrada na forma que
assumiu ou está assumindo a nossa vida e o nosso modo de pensar. (DEMETRIO apud LOURO,
2004, p. 25).
Compreendemos que o
conceito desse termo está relacionado ao pensa-mento
musical, ao modo de pensar a vida com música e, dessa forma, torna-se diferente
do sentido utilizado por trabalhos da musicologia, por exemplo. Conforme
Brandão (2020), a utilização desse termo na musicologia está frequen-temente relacionada com pesquisas de caráter
histórico sobre a vida de músicos, compositores ou para análise de obras
musicais.
Biografia
músico-educativa
Jéssica de Almeida
defendeu sua tese na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) em 2019. Seus
sujeitos de pesquisa foram 12 licenciandos(as) de Música da Universidade
Federal de Roraima (UFRR) e seu objetivo foi compreender suas “biografias
músico-educativas” a partir das maneiras pelas quais produzem sentidos para
seus processos formativos na graduação. Fundamentou-se em Pierre Dominicé e Marie-Christine Josso,
que utilizam a biografia educativa para afirmar que a biografia
músico-educativa
[…] busca, justamente,
explorar sistematicamente uma abordagem (auto)biográfica de pesquisa e
formação, fazendo-se ouvir vozes e melodias tradicionalmente marginalizadas pelo
discurso musical, sobretudo quando tratam de experiências com a música em
contextos informais ou não formais, ou de repertórios que não aqueles
institucionalizados e historicamente aceitos pelos cursos superiores em música.
(ALMEIDA, 2019, p. 151).
Conforme explicam Almeida e Louro (2019), a expressão se
refere a um procedimento metodológico de pesquisa e formação. O termo foi
criado diante dos desafios encontrados para desenvolver biografias educativas
com licenciandos, com os seguintes objetivos: “a proximidade
pesquisadora-sujeitos, a duração do procedimento, a distância entre as leituras
levadas para o debate e a realidade dos acadêmicos e o aprisionamento das
narrativas ao visar o estímulo à construção de biografias educativas por meio
de questionamentos […]” (p. 101). Segundo as autoras, as metodologias de
pesquisa e formação são estudadas na área de Educação por Abrahão, Delory-Momberger, Josso, Passeggi, Nacarato e Passeggi, e Peres. A principal diferença em relação à
biografia músico-educativa é a memória centrada na música. Nas palavras de
Almeida e Louro, é “aquela que marca, que transforma, que leva a vida para
outros rios, que desenha modos de ser músico, ser estudante de música e
professor de música” (p. 102).
Escuta
musical autobiográfica
Edson de Oliveira
apresentou a expressão escuta musical autobiográfica a partir da ampliação do
termo escuta musical, em sua dissertação defendida em 2018 na Universidade de
Brasília (UnB). Utilizando os pressupostos teórico-metodológicos da
documentação narrativa de experiências pedagógicas e a (auto) biografia, o
autor objetivou compreender a constituição da experiência do violonista
acompanhador.
O termo expõe, por meio
dessa escuta autobiográfica, uma nova categoria de violonista acompanhador(a)
que “se configura e reconfigura abrindo-se para compor com o outro [...],
evidenciando assim resultados gerados da interação com narrativas musicais,
compreendendo certas habilidades e limitações do intérprete a ponto de criar um
acompanhamento personalizado” (OLIVEIRA, 2018, p. 91). O autor enfatizou que,
mediante a escuta musical autobiográfica, músicos/musicistas, professores(as) e
estudantes de música “podem ter uma percepção múltipla e plural que vai além da
escuta musical. É, pois, um nível de percepção mais profundo que possibilita
compreender nuances do intérprete e de outros que, porventura, venham a fazer
música em (com)junto” (p. 91).
Musicobiografização
O termo musicobiografização é mencionado pela primeira vez em um
artigo de Abreu (2017a, p. 1010), sendo
definido como “[…] instrumentos terminológicos e nocionais apropriados para a biografização do sujeito com música […]”. Em outro artigo,
a pesquisadora esclarece que a musicobiografização
são atos, narrativas e que nela
[…] podem-se encontrar
diferentes tipos de discursos em que a música é apresentada no ato de narrar, a
fim de descrever, explicar, argumentar e avaliar seus posicionamentos. Desse
modo, as narrativas com música tornam potencialmente acessíveis os sistemas de
tematização e de valorização utilizados pelo sujeito que faz narrativas de si
com música. (ABREU, 2017b, p. 221).
Observamos a construção do
termo, que envolve toda a relação de experiências e sentidos entre sujeito e
música (ABREU, 2017a). Segundo Delory-Momberger
(2012b), a palavra biografização é um neologismo
que destaca o caráter processual da atividade biográfica, designa “não a
realidade fatual do vivido, e sim o campo de representações e de construções
segundo as quais os seres humanos percebem sua existência […]” (p. 525).
Percebemos, assim, que a biografização e a musicobiografização estão relacionadas aos procedimentos e
fases do processo biográfico, articulando as partes com o todo e vice-versa.
A dissertação de Daniel
Pitanga defendida na UnB em 2021 envolveu os processos de formação com a música
a partir das histórias de vida de três músicos populares brasileiros por meio
da musicobiografização, como coleta e análise de
dados. Para o autor, o termo musicobiografização
apresenta um quadro estrutural apoiado no tripé: música, pesquisa
(auto)biográfica e metodologias. Desse modo, afirmou que “a musicobiografização
é um processo investigativo baseado em configurações narrativas de experiências
de vida em formação com a música que proporciona a construção de uma
compreensão sobre a identidade narrativa” (p. 51).
Segundo Pitanga, o
conceito vem sendo construído e organizado pelo grupo de pesquisa Educação
Musical Escolar e Autobiografia (GEMAB), coordenado pela prof.ª Dra. Delmary Vasconcelos de Abreu. O autor definiu a musicobiografização como “[…] uma atividade hermenêutica
prática e deliberada de construção de estruturas em seu sentido narrativo, que
deseja a criação de compreensões e significados para as experiências de vida
com a música” (PITANGA, 2021, p. 51).
Ateliê
musicobiográfico de projeto
O termo Ateliê Musicobiográfico de Projeto foi identificado na dissertação
de Hugo Souza, defendida em 2018 na UnB, que objetivou compreender as experiências
musicais formativas de estudantes do Instituto Federal, focando os sentidos que
a formação musical teve nos projetos de vida desses sujeitos. Construiu o
neologismo a partir do procedimento metodológico do Ateliê Biográfico de
Projeto de Delory-Momberger (2006).
Este conceito é utilizado
na condução da construção de experiências do sujeito e das histórias de vida em
uma dinâmica que liga a temporalidade do sujeito que, por meio do seu projeto
social, “visa fundar um futuro do sujeito” (DELORY-MOMBERGER, 2006, p. 366). O
Ateliê envolve momentos de narração, biografização e heterobiografização em encontros organizados e coordenados
pelo investigador e socializados em grupo. É possível utilizá-lo igualmente na
formação de adultos, dividido em seis etapas de execução, com até 12
participantes subdivididos em grupos menores de até três pessoas
Para Souza (2018), o Ateliê Musicobiográfico de Projeto é a materialização das ideias e
proposições na perspectiva musicobiográfica, isto é:
A perspectiva musicobiográfica da formação musical pode ser vista como
uma abordagem de pesquisa-formação que fornece subsídios conceituais, teóricos
e práticos que possibilitem o arranjo e a elaboração de projetos formativos musicobiográficos que tenham, nas narrativas
(auto)biográficas com música, o seu fio condutor. (SOUZA, 2018, p. 157).
A música possui um sentido
central nesse processo, no qual o investigador propõe práticas musicais
coletivas durante os encontros, estimulando o sujeito a reconhecer suas
experiências musicais formativas por meio da própria narrativa, do relato
escrito e oral. Na sequência, é convidado(a) a partilhar com os(as) demais
participantes de forma narrativo-musical, por ela mesma, discurso ou texto
(SOUZA, 2018).
Neologismos
Tendo como base os
conceitos desenvolvidos pelos(as) autores(as), afirmamos que os neologismos
criados resultam de palavras já existentes na pesquisa (auto)biográfica em
Educação. O sentido do termo biografia, “escrita de vida”, foi ampliado para
falarmos das experiências musicais, respeitando o caráter ontológico,
epistemológico e metodológico das pesquisas biográficas (DELORYMOMBERGER, 2012b, p. 525).
Do ponto de vista
epistemológico, as pesquisas demonstram uma preocupação com a constituição do
indivíduo musical, um ser social singular, histórico e cultural, a partir de
estudos relacionados com a fenomenologia e a hermenêutica. Na pesquisa
biográfica, o tempo biográfico se insere na percepção própria do indivíduo, um
processo que acontece dentro de uma razão narrativa, incluindo a experiência,
na “temporalidade das experiências e existências”, conforme explica Delory-Momberger (2012b, p. 524).
Identificamos uma
subjetivação específica de pensamento musical: nos significados dos termos
(auto)biografia musical (TORRES, 2017, 2019) e biografia musical (DEMETRIO,
1994 apud LOURO, 2004), os(as) autores(as) buscam relacionar a vida com a
música, tornando-a uma ferramenta para compreender o indivíduo. A expressão
escuta musical autobiográfica (OLIVEIRA, 2018) deriva do processo de escuta
profissional do músico.
Na perspectiva
metodológica, o objeto de pesquisa dos termos é a biografização.
Verificamos que o discurso narrativo sobre si foi apresentado de várias formas,
como a fala, escrita, imagens, sons, comportamentos, gestos. Essa pluralidade
de manifestações e seu entrecruzamento são necessários para potencializar a
narrativa, afirma Delory-Momberger (2012b). A música
torna-se o discurso narrativo nos neologismos apresentados nas pesquisas de
Educação Musical, sendo considerada em algumas como propulsora de narrativas
por meio de memórias musicais ou da própria expressão da experiência musical.
Compreendemos, assim, que a música é uma fonte (auto)biográfica. Ela permite ao
pesquisador uma ampliação da produção de conhecimentos sobre os sujeitos e sua
formação, bem como sua relação histórico-social.
Por meio dos termos
biografia músico-educativa (ALMEIDA, 2019), musicobiografização
(ABREU, 2017a) e Ateliê Musicobiográfico de Projeto
(SOUZA, 2018), percebemos que a pesquisa (auto)biográfica também é um
dispositivo formativo (PASSEGGI, 2011; DELORY-MOMBERGER, 2016). Essas pesquisas
estão centradas em dispositivos metodológicos que permitem propor práticas
formativas por meio de experiências musicais, indo além do processo de
compreender essas experiências nas histórias de vida dos sujeitos.
A partir dos neologismos,
identificamos e compreendemos que o olhar específico dado por pesquisadores(as)
da área de Educação Musical a essa terminologia atribui um significado único
que é compartilhado por seus pares, sejam estudantes, professores(as) e
investigadores(as). O uso e a ampliação desses termos permitem à Educação
Musical a criação de um vocabulário próprio, que proporciona união e identidade
em sua comunidade científica, além de sua validação. No entanto, compreendemos
que, por estarem inseridos na abordagem de pesquisa (auto)biográfica, são pouco
explorados pelo fato de este tipo de pesquisa ser pouco utilizado no meio
científico, embora com crescente presença.
Indo
por entre, por dentro, aprendendo a apreensão
E as
coisas eram as coisas, com intensificaçãoQue as
coisas eram as coisas, porém em ampliação Era como se as víssemos, entrando
nelas então Com sentidos agudíssimos, desvelando seu desvãoIndo por entre, por dentro, aprendendo a apreensão De
tudo bem dês do centro, do fundo, do coração (Carlos Rennó e Chico César)
A realização de um estudo
do tipo estado do conhecimento reserva em si um trabalho incansável que sempre
tem algo para acrescentar. Os participantes do projeto intergrupos têm revelado
esse esforço. Tentamos adentrar, estudar os conceitos e a constituição da
pesquisa (auto)biográfica na Educação Musical indo por entre, por dentro, aprendendo
a apreensão de seus pesquisadores e pesquisadoras.
Desvelamos que cada etapa
desenvolvida no projeto reforça que a Educação Musical é uma área estruturada e
autônoma (SOUZA, 2020), ou seja, não subordinada a outras áreas do conhecimento
para determinar sua problemática, seus objetivos e seu objeto de estudo. Ao
mesmo tempo, percebemos a necessidade do diálogo com outras áreas, pois
enriquecem a pesquisa ao olhar de uma forma integral para o contexto em
questão, construindo uma rede de conhecimentos ainda mais significativos para
nosso campo de estudo. Concordamos com Souza que esse diálogo da Educação
Musical com outras áreas, mesmo que crie subdisciplinas como a Sociologia, a
Psicologia, a Filosofia ou a História, está sempre conectado à Educação Musical,
como ciência-mãe.
Nas metodologias das
pesquisas, encontramos uma diversidade de fontes e observamos que nem sempre a
diferenciação entre metodologia e fontes de informações está clara nos
trabalhos. Esse dado reforça as escolhas dos pesquisadores, tendo em vista as
opções de diálogos com diversas fundamentações e, especialmente, a conexão que
há entre suas questões de pesquisa, escolha dos sujeitos e contexto empírico.
Essa pluralidade é constatada nos referenciais que destacam a (auto)biografia
tanto como método quanto como técnica ou instrumento, mas que, por finalidade,
busca a subjetividade acompanhada da reflexão crítica, por meio das narrativas
individuais ou coletivas, que tornam a pesquisa legitimamente científica.
Para além de uma
ferramenta metodológica, encontramos as palavras (auto) biografia ou
autobiografia na maioria dos trabalhos e verificamos que, nos últimos anos, os
pesquisadores da área de Educação Musical têm se aproximado dessa perspectiva,
dentro de uma abordagem teórico-metodológica. Essa relação permite o surgimento
de termos e conceitos que contribuem para a construção de um glossário
especializado que colabora para o reconhecimento de seu campo de saber e de
seus pares, que possuem esses vocábulos em seu cotidiano acadêmico. Podemos
inferir sobre o papel central da música nesses termos, enfatizando que as
experiências musicais, ao longo das histórias de vida, têm vários sentidos e
significados para a construção e formação de diferentes sujeitos. Sublinhamos
que é a partir de conceitos definidos que surgem as teorias.
Assim, terminamos este
artigo diferentemente de como termina a música “Experiência”, de Chico César.
Nela, apesar da vivência das coisas que eram qual foram e são, os pés dos
protagonistas terminam um tanto fora do chão. Ao adentrarmos com intensificação
nas teses e dissertações (auto)biográficas produzidas na área de Educação
Musical, sentimos nossos pés cada vez mais firmes e seguros em nosso caminhar,
nos aproximamos de nossa rede de proteção, como na primeira música mencionada,
nos sentimos protegidas de nós mesmas, “da maldade de gente boa [e] da bondade
da gente ruim”.
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como espaço de formação em educação musical: uma investigação-formação a partir
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2014b
TORRES, Maria Cecília de Araújo R. Narrativas de uma professora
de um curso de Licenciatura em Música: entrelaçando memórias e práticas
musicais. Ouvirouver, Uberlândia, v. 15, n. 1, p.
72-84, 2019.
TORRES, Maria Cecília de Araújo R. Narrativas dos movimentos de
uma tese: apresentar as entrevistadas e narrar o narrado. Ouvirouver,
Uberlândia, v. 13, n. 2, p. 644-657, 2017
Notas
APÊNDICE A
APÊNDICE A
AUTORES(AS) |
INSTITUIÇÃO |
ANO |
DISSERTAÇÕES |
||
ALMEIDA, Jéssica de |
UFSM |
2016 |
ARAÚJO, Gustavo |
UnB |
2017 |
BRAGA, Eudes |
UnB |
2016 |
CARDOSO, Vinicius Nicolodelli |
UDESC |
2019 |
CORREA, Alessandro Ferreira |
UnB |
2018 |
FIGUEIRÔA, Arthur de Souza |
UnB |
2017 |
GAULKE, Tamar Genz |
UFRGS |
2013 |
GONTIJO, Millena Brito Teixeira |
UnB |
2019 |
JUNGES, Fernanda |
UFSM |
2013 |
LIMA, Diogo Baccio |
UFSM |
2015 |
LIMA, Janaína Machado |
UFSM |
2013 |
LOPES, Mariana Fonseca |
UFSM |
2014 |
MACHADO, Renata Beck |
UFSM |
2012 |
MARQUES, Olivia Augusta Benevides |
UnB |
2016 |
OLIVEIRA, Edson Barbosa de |
UnB |
2018 |
OLIVEIRA, Jonathan de |
UFPB |
2020 |
OLIVEIRA, Raimundo Vagner Leite de |
UnB |
2019 |
PEDRINI, Juliana Rigon |
UFRGS |
2013 |
PENTEADO, Nicole Roberta de Mello |
UDESC |
2019 |
PEREIRA, Elineide Soares Braga |
IFPI |
2020 |
PITANGA, Daniel Martins |
UnB |
2021 |
QUEIROZ, Andrea Matias |
UnB |
2015 |
RASSLAN Simone Nogueira |
UFRGS |
2014 |
SANTANA, Elizane Priscila Silva |
UFPB |
2019 |
SANTOS, Leandro Francisco dos |
UnB |
2019 |
SCHNEIDER, Jade da Rosa |
UFSM |
2017 |
SILVA, Mara Pereira da |
UnB |
2015 |
SILVA, Rodrigo Lisboa de |
UFPB |
2020 |
ROSA, Dyane |
UDESC |
2020 |
SOUZA, Hugo Leonardo Guimarães |
UnB |
2018 |
TOMAZI, Ana Carla Simonetti Rossato |
UFSM |
2019 |
VIEIRA, Karina Firmino |
UnB |
2017 |
WEBER, Vanessa |
UFSM |
2014 |
WEISS, Douglas Rodrigo Bonfante |
UFSM |
2015 |
Dos autores
APÊNDICE A
APÊNDICE A
AUTORES(AS) |
INSTITUIÇÃO |
ANO |
TESES |
||
ABREU, Delmary Vasconcelos de |
UFRGS |
2011 |
ALMEIDA, Jéssica de |
UFSM |
2019 |
ANDERS, Fernanda |
UFSM |
2019 |
CORRÊA, Juliane Riboli |
UFSM |
2018 |
GAULKE, Tamar Genz |
UFRG |
2017 |
LEAL, Ester Rodrigues Fernandes |
UNIRIO |
2019 |
LOURO, Ana Lúcia |
UFRGS |
2004 |
MOTA, Lúcius Batista |
UFSM |
2017 |
MOTA, Lúcius Batista |
UFAM |
2019 |
RECK, André Müller |
UFSM |
2017 |
TEIXEIRA, Ziliane Lima de Oliveira |
UFSM |
2016 |
TORRES, Maria Cecília |
UFRGS |
2003 |
WEISS, Douglas |
UFSM |
2020 |
dos autores
1 Professora da
Universidade Federal do Maranhão, doutoranda no Programa de Pós-Graduação em
Música da UDESC e mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Música da
Universidade de Brasília, UnB.
2 Professora de música
na Educação Infantil, doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Música da
UDESC e mestra em Música, Educação Musical.
3 Professora de música
na Educação Infantil e mestranda no Programa de Pós-Graduação em Música da
UDESC, com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
– Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001. Graduada no curso de
Licenciatura em Música na mesma instituição (2019) e em Pedagogia pela
Universidade Paranaense, UNIPAR (2001).
4 Professora associada
do Departamento de Música (DMU) da Universidade do Estado de Santa Catarina
(UDESC). Atua nos Programas de Pós-Graduação, Mestrado em Música (PPGMUS) e
Mestrado Profissional em Artes (PROF-ARTES) na mesma instituição. Foi
professora de música em escolas, públicas e privadas, de educação básica.
Desenvolve pesquisas na área de Formação Docente privilegiando temas como
prática pedagógica, programas curriculares, conhecimento profissional, práticas
musicais escolares, estudos transculturais e pesquisa (auto)biográfica em
educação musical.
5 Gravada no CD
Francisco, forró y frevo, de 2008. Escute a música em:
https://www.youtube.com/watch?v=E79ZV7rLeeA
6 Convidamos os
leitores a apreciarem as músicas citadas neste artigo. Utilizamos da imaginação
material definida por Gaston Bachelard (1978), na
qual as imagens das canções suscitadas em nós conduziram a escrita deste
artigo. A imaginação, segundo o autor, é um elemento fundamental à criação
científica, sendo a linguagem poética “um produto direto do coração, da alma,
do ser do homem tomado na sua atualidade” (p. 188).
7 É importante apontar
alguns autores que ampliam o conceito de autoridade e autonomia de um campo
científico, como Gadamer (1997), com sua discussão sobre a virada ontológica
hermenêutica nas ciências do espírito (humanas e sociais), e Santos (1987), em
seu livro Um discurso sobre as Ciências, que gerou várias discussões e
respostas no meio acadêmico.
8 Utilizaremos a
palavra autobiográfica ou (auto)biográfica respeitando a forma de escrita de
cada autor(a) citado(a). Porém, quando não for em citação, nossa opção será
pelo termo (auto)biográfica, tendo como suporte a autora Passeggi
(2011), que enfatiza a utilização dos parênteses na palavra como forma de
chamar atenção aos dois tipos de fontes utilizadas nesta abordagem: biográfica
e autobiográfica (p. 29).
9 Grupo de Estudos e
Pesquisas (Auto)Biográficas em Educação Musical (GEPAEM/UFRR), coordenado pela
Prof.ª Dra. Jéssica de Almeida, e Grupo de Pesquisa Educação Musical e Formação
Docente (ForMusi/UDESC), coordenado pela prof.ª Dra.
Teresa Mateiro.
10 Este artigo é uma
revisão ampliada dos trabalhos publicados nos anais desse congresso.
11 Todas as demais
epígrafes que seguem neste artigo são trechos da letra da música “Experiência”,
lançada no CD Respeitem meus cabelos brancos em 2002. Escute a música em: https://www.youtube.com/watch?v=D8_aThsYkb0
12 Mesmo destacando a
representatividade feminina, optamos por não alterar a escrita em relação ao
gênero, estando cientes de que essa decisão poderá despertar polêmicas.
Autor notes
1
Professora da Universidade Federal do Maranhão, doutoranda no Programa de
Pós-Graduação em Música da UDESC e mestra pelo Programa de Pós-Graduação em
Música da Universidade de Brasília, UnB.
2
Professora de música na Educação Infantil, doutoranda no Programa de
Pós-Graduação em Música da UDESC e mestra em Música, Educação Musical.
3
Professora de música na Educação Infantil e mestranda no Programa de
Pós-Graduação em Música da UDESC, com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001.
Graduada no curso de Licenciatura em Música na mesma instituição (2019) e em
Pedagogia pela Universidade Paranaense, UNIPAR (2001).
4
Professora associada do Departamento de Música (DMU) da Universidade do Estado
de Santa Catarina (UDESC). Atua nos Programas de Pós-Graduação, Mestrado em
Música (PPGMUS) e Mestrado Profissional em Artes (PROF-ARTES) na mesma
instituição. Foi professora de música em escolas, públicas e privadas, de
educação básica. Desenvolve pesquisas na área de Formação Docente privilegiando
temas como prática pedagógica, programas curriculares, conhecimento
profissional, práticas musicais escolares, estudos transculturais e pesquisa
(auto)biográfica em educação musical.