Dossiê
SER
PROFESSOR DE MÚSICA DE PROJETO SOCIAL: Narrativas musicobiográficas
TO
BE A TEACHER IN MUSIC SOCIAL PROJECT: Musicbiographic
narratives
Karina Firmino Vieira
karinamusics@gmail.com
UnB, Brasil
Delmary Vasconcelos de Abreu delmaryabreu@gmail.com
UnB, Brasil
Revista Orfeu
Universidade do Estado de Santa Catarina, Brasil
ISSN: 2525-5304
Periodicidade: Continua
vol. 7, núm.
1, 2022
revistaorfeu@gmail.com
URL: https://periodicos.udesc.br/index.php/orfeu/article/view/20848
Autores mantém os
direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação.
Este trabalho está sob uma Licença Internacional Creative Commons Atribuição 4.0.
Resumo: Este
trabalho é um recorte de uma pesquisa de Mestrado concluído, no Programa de
Pós-Graduação em Música da Universidade de Brasília (PPGMUS-UnB), cujo objetivo
constituiu-se em compreender o que é ser professor de música, no bojo de
projetos sociais. O trabalho dialoga com pesquisadores da área de Educação
Musical em projetos sociais, com foco na qualidade da formação/ constituição do
docente. O referencial teórico parte de conceitos inerentes ao ensino de música
e suas implicações na aprendizagem, em uma perspectiva mais transformadora que
reprodutiva, como Biografização na contemporaneidade
e com reflexões sobre processos de constituição do sujeito e os conceitos de
Lugar. A pesquisa se inscreve na perspectiva teórico-metodológica
(Auto)Biográfica, cuja fonte foi uma entrevista, dessa natureza, com o
professor de música Valdécio Fonseca, idealizador do
projeto social “Música e cidadania”, realizado em Varjão (DF). A análise
interpretativa prioriza a subjetividade do sujeito, a observação dos processos
de reflexividade do agir e narrar sobre si do colaborador da pesquisa. Ao fazer
uma escuta atenta, da palavra dada pelo professor, que aqui configura-se como
de um outro-Autor, o professor Valdécio fez emergir,
em seus discursos narrativos, as posturas, as escolhas, as tomadas de decisões
e sua avaliação sobre acontecimentos escolhidos e narrados por ele. As
conclusões indicam uma epistemologia do sujeito biográfico, o qual enlaça, nas
narrativas da experiência, as razões e emoções capazes de levar um professor de
música de projeto social a fazer o que fez. Na pesquisa (auto)biográfica em
Educação Musical, o professor não conta como faz, mas o que fez de sua vida.
Palavras-chave: História de vida de
Professor de música, Projeto social, Entrevista Narrativa (Auto)biográfica.
Abstract: This work
is an excerpt
from a completed Master’s research of Programa de
Pós-Graduação em Música da Universidade de Brasília (PPGMUS-UnB), whose objective was to understand
what it is to be a music
teacher, in the midst of
social projects. The work
dialogues with researchers
in the field of Music Education
in social projects, focusing
on the quality of teacher training/constitution.
The theoretical framework is
based on concepts inherent to the teaching of music and its implications for learning, in a more transformative
than reproductive
perspective, such as Biographization
in contemporary times and with
reflections on processes of
constitution of the subject
and the concepts of Place.
The research is inscribed in the theoretical-methodological
(Auto)Biographic perspective, whose
source was an interview of this nature, with the music teacher Valdécio
Fonseca, creator of the social project
“Music and citizenship”, held
in Varjão (DF). The interpretative analysis prioritizes the subjectivity of the subject, the observation of the reflexivity
processes of acting and narrating
about himself of the research collaborator. By listening carefully
to the word given by the teacher, which here appears
as another-Author, teacher Valdécio brought out, in his narrative speeches, postures, choices, decision-making and his evaluation of events chosen and narrated by him. The conclusions
indicate an epistemology of the biographical subject, which links, in the narratives of the experience, the
reasons and emotions capable of leading a social project music teacher
to do what he did. In (auto) biographical research in Music Education, the teacher does not tell how he
does it, but what he did with
his life.
Keywords: Music teacher’s
life story, Social project, Interview, (Auto)biographical narrative.
Introdução
O que é ser professor? Essa foi a primeira pergunta feita ao
entrar no curso de mestrado acadêmico, no Programa de Pós-Graduação em Música
da Universidade de Brasília (PPGMUS-UnB) no ano de 2015. Eu me lembro de que no
prólogo da dissertação havia uma epígrafe do poema Catar feijão de João Cabral
de Melo Neto. E aquele poema fazia-nos lembrar de todas as dificuldades de
escrever sobre determinado assunto, porque não é apenas escrever ou descrever.
Mas escrever o quê? E sobre isso, o poeta orienta-nos: “Vamos, pegue seu
feijão! Comece a catar, escreva o como se compreende e o que boiar no papel ou
o que não estiver de acordo com o como sente, ou se compreende, jogue fora. É simples.”
(MELO NETO, 2002, p. 23). Escreva
somente o que sente, o que faz você se apaixonar. Sim, às vezes, corre-se o
risco de encontrar as pedras ou outras coisas difíceis de mastigar. O poema nos
alerta sobre isso também. Então, faça dessa escrita mais do que uma receita e
sim uma deliciosa refeição. Um feijão saboroso com ingredientes únicos que deixam-no com um aroma irresistível. Posso dizer que, para
catar meu feijão, tive, primeiro que pensar em alguns ingredientes
constituintes (passado e presente) de minha vida. Minha jornada foi o
ingrediente fundamental para a escrita da dissertação.
Em certas ocasiões, questionamo-nos para que vivemos e qual o
objetivo dessa caminhada. O grande inquietante “por quê?” (PASSEGGI, 2016). As pessoas costumam dizer
que o tempo ou a vida ensina. Se isto é verdade, quer dizer que ela nos educa.
Mas como? Para quê? Se a vida e o tempo são professores pelo fato de nos
ensinarem, depende de nós sermos bons alunos? São questionamentos os quais nos
inspiram pensar no processo de ensino e aprendizagem a partir da história de
vida de professores. Será que para essa compreensão preciso viver mais,
construindo uma história de vida de professora, para dar sentido ao Tempo e a
Vida como um sujeito do conhecimento e da experiência? Dito de outro modo, um
sujeito epistêmico e que se reconhece no sujeito (auto)biográfico?
Catar feijão nem sempre é fácil, pois nem sempre nós
questionamos o trajeto e acontecimentos até que o feijão esteja pronto para ser
servido à mesa. Portanto, refazer esse caminho é o desafio para o qual lanço-me
agora, tendo em vista o que afirma Delory-Momberger (2008, p. 527), “seguir atores” é
dar-se a compreender os fatos narrados pelos professores constituídos
professores de música em/de projetos sociais.
Existem dois bagos essenciais que influenciam no sabor do nosso
feijão – a vida e o tempo – A vida de professores e o tempo da experiência.
Trago a mesa, junto com a minha, a História de Vida profissional do professor
de música, Valdécio Fonseca, idealizador do projeto
social “Música e Cidadania” localizado no Distrito Federal. Está servido?
Quem é o professor de música Valdécio
Fonseca, idealizador do projeto social Música e Cidadania, localizado no
Distrito Federal? Por que contar essa história de vida profissional como
professor de música de projeto social? E qual seria a contribuição disso para a
área de Educação Musical? Espero, ao final das narrativas, apreender e sentir
os sabores da experiência e da vida de professor de música de projeto social.
Selecionando os grãos: objetivos tecidos pelo estado do
conhecimento
Ao me propor contar uma história, abro este tópico com a frase
de DeloryMomberger
(2008, p. 35): “não fazemos narrativa porque temos uma história, temos uma
história porque fazemos narrativa”. Mas para contar esta história,
primeiramente, entendo que devo dialogar com outros que já contaram histórias
parecidas, até para não ser redundante e trazer novidade. Para tanto, dialoguei
com a literatura da área de Educação Musical com foco na temática música e
projetos sociais, para assim tecer o meu objeto de estudo, que é a história (de
vida) do professor de música Valdécio Fonseca no
projeto social, Música e Cidadania do Distrito Federal.
Ressalto que esse tema entrelaça-se com
a minha história nesses contextos, tanto como professora, quanto como aluna de
música em projetos sociais. Somos conhecedores e apontamos, de acordo com Padronav e Freitas
(2013, p. 120), que um tema de pesquisa poderá surgir de diferentes
maneiras, seja pela curiosidade científica, da análise feita na leitura de
outros trabalhos, de uma dificuldade prática encontrada pelo pesquisador, ou
até mesmo de sua experiência de vida. Abarquei todas essas possibilidades na
construção da temática, até chegar aos objetivos estabelecidos.
Começo pelas experiências pessoais adquiridas no contexto de
projetos sociais. Pois, de acordo com Jossô (2004),
as narrativas de experiências de formação possibilitam explicitar
singularidades, vislumbrar o universal e perceber o caráter processual da
formação e da vida. Isso ocorre por meio da articulação entre espaços, tempos e
nas diferentes dimensões de nós mesmos, em busca de uma sabedoria de vida.
Também permite que a utilização das experiências pessoais transforme-se
em recurso para reflexão científica.
Eu me lembro dos momentos iniciais da paixão por fazer curso de
música. Sentada no jardim, sempre acompanhava minha avó em um café. Ela sabia
que nesse mesmo horário, meninos vestidos de uniforme, trazendo uma pasta nas
mãos e uma flauta doce, passariam pela rua.
Já naquela época, minhas brincadeiras preferidas eram ligar o
rádio, no volume máximo, e fazer minhas interpretações musicais, com um
microfone feito de escova de cabelo, cujo público e plateia eram meus ursos de
pelúcia. Minha avó associou essa prática à dos meninos flautistas que desciam a
rua. Certa vez, ela ficou na frente da casa esperando os meninos passarem, e
abordando-os, perguntou para onde iam todas as tardes. Eles responderam que era
para a escola de música. Logo mais, minha avó tomou-me pelas mãos e, juntas, seguimos
até a escola de música. Ao chegarmos, deparamo-nos com alguns jovens tocando
diversos instrumentos musicais presentes numa orquestra. As diferentes
sonoridades envolveram-nos completamente, e, por isso, a minha avó não hesitou
e procurou imediatamente o professor que se chamava Luís, para matricular-me.
Desse modo, em pouco tempo de curso, eu sabia ler, solfejar e tocar flauta
doce. Passei a ser um desses meninos e meninas que desciam a rua da minha avó,
com uma pasta e uma flauta doce nas mãos. E tempos depois, com um instrumento
escolhido por mim, ou seja, uma flauta transversal. Dessa maneira, as minhas
tardes passaram a ser preenchidas com a música.
Fui crescendo e vendo crianças como eu aparecerem na escola
querendo participar do projeto social. E, do mesmo modo, elas ganhavam
uniformes, pasta e flauta doce. Porém, tendo a mesma oportunidade e igualdade
de condição de tocar flauta fui percebendo que eu queria muito mais que
aprender. Eu queria também ensinar! Foi assim que me tornei “monitora júnior”
do professor Luís. O professor propôs que eu o ajudasse nas aulas e, em
contrapartida, a escola me daria uma bolsa integral como incentivo.
Assim, o professor Luís se preocupava em encaminhar ou criar
oportunidades para os jovens que se mantivessem comprometidos com a
aprendizagem musical. Da mesma maneira como fez com outros jovens, ele ajudou
no meu desenvolvimento como pessoa tanto quanto como profissional da área de
música. Fui aprendendo e ensinando, ao mesmo tempo, inclusive alguns valores
para a vida. O tempo passou e o projeto social ao qual nos referimos continuou,
porém com algumas diferenças substanciais no agir de seus mentores.
No decorrer desse projeto, mudaram-se os professores e esses
outros pareciam mais preocupados com a manutenção da orquestra do que com as
pessoas que a compunham. Não havia mais o mesmo acolhimento para os jovens.
Nesse âmbito, não bastava ensinar a tocar, era preciso mais. O conservatório da
capital do estado do Pará (Belém) doava instrumentos musicais, uniformes e outros
materiais. Mas, isso não era o suficiente, os jovens daquele lugar precisavam
suprir outras necessidades para poder fazer música.
Com a evasão, foi natural a falta de visibilidade desses jovens
nas apresentações musicais em eventos, principalmente de grandes empresas. A
invisibilidade é pior que a fome. Como afirma Bauman (2009, p. 666), “as mudanças vêm e vão e muita
gente está convencida de que existem alternativas, mas que são invisíveis
porque ainda estão muito dispersas”. Com a falta de incentivo, de patrocínios,
a responsabilidade social tudo se torna vulnerável. E, como diria Bauman (2009, p. 666),
“os compromissos tendem a ser evitados, a menos que venham acompanhados de uma
cláusula de até nova ordem”.
Comecei a perceber que o incentivo para fazer música ia muito
além da vontade dos jovens envolvidos em querer tocar um instrumento. Era
preciso criar condições para que eles continuassem aprendendo música. Então,
sem exibicionismo nenhum, posso dizer que tive essa condição, em detrimento de
muitos. Meus pais levaram-me para estudar em um conservatório de música, na
capital do estado do Pará. Mas uma pergunta é latente: e aqueles outros jovens
que lá ficaram? Qual foi o rumo que tomaram?
Passei grande parte da minha juventude estudando no
conservatório. Lá aprendi a incomodar-me com o modo de ensinar música. Também,
passei a testar-me, em relação à essas práticas de ensino, trabalhando como
voluntária em projetos sociais. Verifiquei, então, que os métodos de ensino
tinham os mesmos fundamentos, porém a minha forma de ensinar continuava como
daquela monitora júnior de projeto social, preocupada com o sujeito aprendiz.
Assim, constatei que no conservatório a preocupação é com a técnica. E diante
disso, tornei-me técnica em flauta transversal. O curso técnico em música do
conservatório e a licenciatura em música legitimaram-me como profissional, mas
era da profissão professor de música de projeto social que eu sentia saudades.
Dessa saudade alimentei-me. Pois, eu havia sido preparada, na
infância e juventude, por um professor de música de projeto social. Tive o
privilégio de ter um professor que ensinava em uma perspectiva humana e que
fazia tudo o que podia para prover as faltas de seus alunos, a falta do que
comer, do que vestir, do sapato e da flauta doce, do afeto e do acolhimento.
Pois, aquele era um professor que sentava do nosso lado para nos ensinar lições
de música e lições de vida. Essas lembranças foram decisivas. Assim eu queria
ser e fazer! Voltei, então, a dar aulas em projetos sociais.
Não há dúvidas de que estar em grandes orquestras fazia meus
olhos brilharem, mas ser professora de música de projetos sociais me
emocionava, fazia sentir-me útil. Era como agradecer a oportunidade que tive
antes, devolvendo-a aos outros. Observar os meus alunos tocando juntos, a
sorrir e a sonhar com as mesmas orquestras que, um dia, eu sonhara, era mais
que satisfatório, era uma realização. Se seriam bons músicos, eu não tinha
certeza, contudo, notadamente, percebiam-se como família, compartilhavam o pão,
a água, a partitura, sons e sonhos. Meus alunos eram indivíduos tão jovens, mas
que sabiam o valor da partilha e da amizade.
Hodiernamente, como professora licenciada em música, compreendo,
de forma ampliada, que no âmbito dos projetos sociais, tem-se como premissa o
fator social do aluno procurando promover melhores condições de vida por meio
da música. Saber tocar bem um instrumento musical pode assegurar a oferta de caminhos
profissionais. Isso é fato. Porém, saber tudo isso, e, ainda, comprometer-se
com cuidados sobre as vidas dessas pessoas é uma escolha bem válida. Percebe-se
que há muitos com uma trajetória semelhante a minha, e
que iniciaram seus estudos de música em projetos sociais, e após serem
legitimados, reconhecidos socialmente como músicos e professores de música,
muitas vezes, escolhem voltar para esse lugar, como eu escolhi.
Falar sobre isso, dessa maneira, significa, conforme aponta DeloryMomberger
(2012, p. 535), recorrer ao “topoi biográfico”.
Dito de outra forma, constituir-se professor de música com o lugar de fala.
Nesse sentido, ser professor de música em projetos sociais é o que me intriga,
ao longo desse tempo de experiência nesses contextos.
Tenho claro que somente narrar minha experiência formativa
nesses contextos não daria conta de fertilizar tais sementes para germinar a
construção de uma problemática de pesquisa. É preciso mais. Por isso, buscam-se
na literatura da área de educação musical ressonâncias com esse assunto.
A área de Educação Musical possui história consolidada. E, nesse
escopo, são vários os pesquisadores que se propuseram a constituir e a contar
essa história. E é com eles que sigo, catando meus feijões, fertilizando-os, no
intento de chegar aos objetivos desta pesquisa.
Na peneira, o que dizem pesquisadores da área de Educação
Musical sobre projeto sociais
A Educação Musical faz-se cada vez mais presente no contexto dos
projetos sociais e, dessa forma, instiga novas pesquisas e com mais
aprofundamentos. Isso nos leva a pensar nas escolhas e preferências de
professores de música por atuarem nesses contextos socioeducativos. Tanto a
literatura de Educação Musical, quanto da Educação e da Sociologia sinalizam
para a existência de uma força motriz que leva alguns professores de música a
atuarem nesses contextos e de se posicionarem como agentes sociais. E dessa
forma, esses professores promovem, no ensino-aprendizagem da música, uma relação
entre pessoas e músicas como um meio de transformação social.
Dentre alguns autores que dissertam sobre projeto social e
Educação Musical, citam-se: Arroyo (2000);
Muller (2004); Kleber (2008); Gohn (2011); Queiroz (2013); Nascimento (2014). Porém, eu escolhi fazer
uma aproximação com as ideias de Kater (2004), por entender que o professor de música de
projetos sociais é capaz de propiciar movimentos para uma Educação Musical
humanizadora, como ele afirma.
Os projetos sociais, segundo Vasconcelos
(2007), são idealizados por um grupo de pessoas com intuito de mudar uma
realidade social. Pois, os projetos são como uma ligação entre o desejo e a
realidade. Assim sendo, buscam diagnóstico sobre um problema real específico,
agem sobre ele e, assim, contribuem para o desenvolvimento social. Para esse
autor, a educação musical em projetos sociais envolve diversas perspectivas de
ensino, tanto musical como social, pois o ensino é um processo social. E, nesse
sentido, se o ensino é um processo social, existe relação dessas perspectivas
com o meio ambiente e contexto onde vivem e criam significações.
Dessa maneira, esses projetos sociais, geralmente, são pensados
e propostos para solucionar um problema ou uma necessidade social. Seus
objetivos são definidos em função de um problema, “oportunidade ou interesse de
uma pessoa, grupo ou organização” (MAXIMINIANO,
1997, p. 20).
Desse modo, pode-se afirmar que a área de Educação Musical tem
um papel significativo na sociedade, especialmente nos contextos socioeducacionais,
como é o caso dos projetos sociais. Essa responsabilidade leva-nos a pensar na
figura do professor de música que atua nesses contextos sócio educativos como
um profissional que se constrói com o lugar. E, assim, comprometido com ações
pedagógico-musicais implicadas com a vida, com as relações humanas, criando
laços de pertencimento.
A relação das pessoas com o ensino de música em projetos sociais
envolve diversas situações, perpassando pelas relações sonoras e não sonoras.
Isso significa dizer que os problemas que envolvem as relações de pessoas e
música, nos aspectos de apropriação e transmissão do conhecimento musical,
passam por questões humanas também. Isso é o que Kater (2004)
propõe e discute, ao longo dos anos. Para ele, uma epistemologia de Educação
Musical deve partir da perspectiva de Educação Musical para a vida, com ensino
de música pensando no ser humano como o centro das reflexões. As ideias de Kater (2004) vão
na direção de uma Educação Musical humanizadora.
Ao dialogar com Kater (2004), procuro fazer uma aproximação com o
conceito de gestão biográfica de Delory-Momberger (2012). Isso porque, ao construir a
gestão biográfica com o lugar, o professor de música constrói relações de
pertencimento com os projetos sociais, cuja história de vida profissional está
imbricada com esse contexto socioeducacional. Talvez, isso amplie compreensões
para algumas inquietações de Kater (2004) sobre a “qualificação da formação pessoal
do próprio educador, com enfoque humanizador da Educação Musical [...] como
meio de conscientização pessoal e do mundo” (KATER,
2004, p. 43).
A respeito dessa conscientização pessoal e do mundo, bem como da
qualidade da formação pessoal do próprio educador, como Kater (2004)
menciona, e no olhar de Delory-Momberger
(2012), tratando das relações de pertencimento do professor de música nos
projetos sociais, eu esclareço que compreendo a figuração de um professor como
parte do próprio projeto social, estando diretamente imbricado com o contexto.
Nesse sentido, há uma retroalimentação do sujeito com o contexto. Ou seja, agir
biograficamente com o lugar – projeto social – é construir representações de si
e do próprio projeto social – “topoi biográfico” (DELORY-MOMBERGER, 2012. p. 535). Essas
construções são tidas como lugares de reconhecimento e chaves de interpretação
de si.
Segundo Kater
(2004), tanto a música quanto a educação são produtos da construção humana
e, por meio dessa conjunção, surge uma ferramenta que possibilita o
conhecimento e o autoconhecimento. Desse modo, é possível compreender que a
educação musical em projetos sociais possui a função de promover no indivíduo a
consciência de si e do mundo, de forma mais abrangente e criativa, pois entre as
funções da educação musical “teríamos a de favorecer modalidades de compreensão
e consciência de dimensões superiores de si e do mundo, estimulando uma visão
mais autêntica e criativa da realidade” (KATER,
2004, p. 44). Portanto, o foco é “proporcionar resultados educativos de
grande valor, não só no que concerne à formação musical, mas também no
referente a outras dimensões da formação humana” (SANTOS, 2006, p. 06).
Como se nota, segundo Kater (2004, p. 46), a Educação Musical possui “tanto a
tarefa de desenvolvimento da musicalidade e da formação musical quanto o
aprimoramento humano dos cidadãos pela música”. Portanto, esses projetos devem
apresentar propostas consistentes, centradas numa concepção
sociotransformadora, compreendendo e valorizando as diferentes realidades
socioculturais de cada contexto.
Esse diálogo com a literatura, especificamente, com Kater (2004),
encaminhou-me para as seguintes questões: Como um professor de música de
projeto social constrói o seu processo formativo com esses contextos? O que
leva esse profissional a escolher ser professor de música de projetos sociais?
Como as experiências da formação o tornam um professor de projeto social? De
que modo esse profissional se coloca numa posição de agir na e para a
transformação social, por meio da sua relação com a música? Para responder
essas questões tomei como objetivo geral compreender o que é ser professor de
música em projetos sociais. E os desdobramentos consistiram em entender o que
leva esse profissional a escolher ser professor de música de projetos sociais,
e, assim, fazer emergir as experiências da formação desse profissional do
contexto de projeto social, na sua reflexão sobre o modo como se coloca numa
posição de agir na / para a transformação social por meio da música.
Diante disso, norteada pelos objetivos da pesquisa, apresento de
forma sucinta os conceitos que reforçaram as reflexões construídas ao longo
desta pesquisa.
A representação de si no movimento das experiências
constitutivas
Ao refletir com a filosofia da Educação Musical, na perspectiva
de Wayne Bowman (2001,
2002, 2005, 2007,
2012, 2014), e da Biografização
do sujeito na contemporaneidade, discutida por Christine Delory-Momberger
(2008, 2012), promove-se um princípio de juntabilidade de conceitos que dão sentido e significados
da representação de si, do sujeito no movimento de suas experiências que o
constitui. Esses princípios requerem compreensões de que tipo de pessoa e
sociedade se quer e se necessita. Isso leva-nos a uma questão central da
Educação Musical: Que tipo de pessoas desejamos ser por intermédio da música? E
essa questão nos faz pensar sobre que tipo de professores desejamos ser e que
tipo de pessoas desejamos formar, por intermédio da música, e se isto está
condescendente para o desenvolvimento de uma sociedade melhor, por meio da
Educação Musical. Essas são questões fundamentais que nortearam a pesquisa.
Ao contextualizar sobre a música e seu valor, o filósofo da
Educação Musical Wayne Bowman (2001, 2002,
2005, 2007, 2012,
2014) acredita ser de suma importância
que a área de Educação Musical discuta temas que envolvam o ensino de música e
suas implicações de aprendizagem numa perspectiva mais transformadora do que
reprodutiva. Há uma preocupação do autor com uma Educação Musical que pense
como as pessoas compreendem música e a partilham. Nesse sentido, a Educação
Musical não trata somente sobre música, mas, sobre alunos, professores e “tipos
de sociedades que juntos esperamos construir” (BOWMAN, 2005, p. 75, tradução nossa). Esse
autor defende que a filosofia da educação musical, além de abordar a natureza,
o valor e o significado da música, precisa falar do “tipo de pessoas que
desejamos ser através da educação musical” (BOWMAN,
2005, p. 75, tradução nossa).
O mesmo autor, ainda, chama a atenção para a necessidade de
refletirmos sobre princípios éticos educativos-musicais. Pois, o problema parte
do ato de ensinar música a um indivíduo detentor de problemas sociais que o
afetam diretamente e que tem algum tipo de relação com fenômenos
sociopolíticos, muitas vezes podendo ser refletidos, pensados e/ou solucionados
por meio da música, como meio de alcance, resolução, reflexões dos problemas e
das relações dos indivíduos com a sociedade (BOWMAN,
2007).
Portanto, como pensar a formação de pessoas por meio da música
como um fato, fenômeno e construção social coexistindo com problemas sociais?
Esses processos formativos são construídos na responsabilidade social de um
ensino de música justo e detentor de equidade para todos os envolvidos neste
processo formativo?
Na perspectiva de Bowman (2007, p. 117, tradução nossa), as “fronteiras
devem ser porosas”, cujos processos formativos do sujeito sejam globais, por
meio de uma Educação Musical humanizadora. O autor adverte, porém, que o
professor deve expandir seus horizontes, instigando seus alunos a desejarem
construir conhecimento coletivamente, com a pluralidade de singularidades.
Isso significa dizer que as epistemologias da Educação Musical
contemporânea abarcam pluralidades e diversidades de sujeitos, que nas suas
singularidades compõem o que chamamos de social, cultural, musical e educativo
musical em projetos sociais. Essas ligaduras entre o que somos e o que fazemos,
nessas diferentes perspectivas, são feitas pelo sujeito, que na sua condição
biográfica no mundo contemporâneo, se constitui com o lugar.
O lugar pode ser o “espaço-tempo” que permite várias formas de
deslocamento “onde se pensa, questiona e produz a profissão” (DELORY-MOMBERGER, 2012, p. 78). A autora
parte do pressuposto que o lugar do indivíduo é onde ele se reconhece, sendo
que podem ser vários lugares simultâneos uma vez que, “homens habitam os
espaços e os espaços os habita; eles constroem o espaço e o espaço os constrói;
eles fazem significar o espaço, e o espaço confere sentido aos seus e à sua
ação” (DELORY-MOMBEGER, 2012, p. 70).
Assim, é possível pensar, com a autora, que o professor constitui novos
lugares, portanto, novas construções de si com o lugar.
Nesse caso, o lugar pode ser compreendido como a própria obra
arquitetônica em que funcionam as atividades sociomusicais
do projeto social, assim como a pessoa física do professor que, ao propor
movimentos sociomusicais, torna-se um lugar de
constituição, orientação de organização para o ensino de música no projeto
social. Também, o projeto social pode ser entendido como um lugar constituído
pela experiência, valores, constituições e significações do professor de
música, agindo com e no projeto social com reflexões e por práticas que, no
caso da música, possibilitam uma formação sócio musical (DELORYMOMBERGER, 2012).
Dessa forma, tais perspectivas tratadas pelos autores
supracitados revelam a necessidade de compreendermos o processo de musicobiografização – conceito tratado por Abreu (2019, 2020)
– de um professor de música, como é o caso, pois a musicobiografização
permite emergir seus questionamentos e reflexões a respeito das relações entre
a construção de “[um] si mesmo como um outro” (RICOEUR, 2014, p. 12) com a refiguração de sentidos de sua história de vida com e no
projeto social. O que significa trazer à tona a música como processo de sua biografização. Trata-se de compreendermos que no processo
de musicobiografização o professor constrói, na
narrativa, a figura de si, constituindo-se a própria condição biográfica no
projeto social. Assim, o processo de biografização
produz, por meio de um capital biográfico, material biográfico (DELORY-MOMBERGER, 2012).
Por fim, compreende-se, por meio dos conceitos aqui
apresentados, que o sujeito constitui lugar em si mesmo e que, dessa maneira,
na reflexividade e na historicização de sua experiência é que poderá religar o
mundo na figura de si.
A Pesquisa (Auto) Biográfica: aspectos teórico-metodológico e
perfil biográfico
Esta pesquisa se inscreveu na perspectiva teórico-metodológica
(Auto) biográfica, de Delory-Momberger (2008, 2012),
a qual “analisa os efeitos da educação sobre os processos de biografização, no campo de tensão entre as disposições e
condutas individuais e os âmbitos estruturais da socialização”, com ênfase nas
histórias de vida, na vertente da pesquisa narrativa (auto)biográfica (DELORY-MOMBERGER, 2008, p. 25).
Os caminhos metodológicos empregados para alcançar os objetivos
da pesquisa comungaram do pensamento de Delory-Momberger (2012), de que a postura da Pesquisa
(Auto)biográfica é “mostrar como a inscrição forçosamente singular da
experiência individual, em um tempo biográfico, situa-se na origem de uma
percepção e de uma elaboração peculiar dos espaços da vida social” (DELORY-MOMBERGER, 2012, p. 524).
As dimensões narrativas dizem respeito às fontes de informações,
ao registro do percurso, que é constitutivo da produção de informações e ao
modo de produzir conhecimento. Isso ocorre uma vez que as informações dos
sujeitos das pesquisas são produzidas, de forma reflexiva, a partir das
narrativas escritas pelo pesquisador. A Pesquisa (Auto)biográfica é relevante
para se compreender as posições e papeis ocupados pelos indivíduos na estrutura
social. Portanto, reconstruímos o sentido de nossas vidas narradas, quando
relacionamos o mundo com as nossas construções biográficas e as compreendemos
nas relações de ressonância com a nossa própria experiência biográfica (DELORYMOMBERGER, 2008). Para a autora, a
forma de expressão mais imediata para demonstrar a representação mental, pré-escritural de uma biografia são as narrativas. A autora
esclarece que os princípios do discurso narrativo, além de orientar quanto aos
objetivos do sujeito em narrar determinados fatos, consistem em organizar a
sucessão dos fatos, as sintaxes das ações e das funções, a dinâmica
transformadora entre sequências de aberturas e de fechamento dos
acontecimentos. Nesse sentido, a narrativa apresenta-se como a linguagem do
fato biográfico, como o discurso no qual escrevemos nossa vida.
Assim, ao narrar a sua própria história, o indivíduo age e
produz ação. E essa ação deixa rastros de conhecimentos produzidos e de
experiências adquiridas. Portanto, no ato de contar a sua história é possível
produzir narrativas formativas refletidas no texto. O relato não é somente o
produto de um ato de contar, ele tem também o poder de produzir efeitos sobre
aquilo que relata.
A história de vida que se desenvolve pela narrativa
(auto)biográfica, no ato de narrar é o momento em que o sujeito forma-se, elaborando e experimentando a sua história de
vida, por meio da inteligibilidade biográfica, refletindo sobre como esse
sujeito apreende e compreende sua vida ao recontá-la. O objetivo da narrativa
(auto)biográfica não é apenas descrever fatos narrados pelo sujeito da
pesquisa, e muito menos “reduzir a narrativa a premeditados interesses do
pesquisador, mas seguir os personagens procurando as formas de existência do
narrador” (DELORYMOMBERGER, 2008. p. 57-138).
O perfil biográfico do professor Valdécio
Fonseca, foi traçado por meio de fontes documentais e da entrevista narrativa
(auto)biográfica. Sua vida é traçada com o projeto social Música e Cidadania,
fundado por ele no ano de 2007, no Varjão, região administrativa de Brasília
(DF). Ele fundou a Associação Comunitária com 40 alunos, utilizando instrumentos
musicais do seu acervo pessoal.
Atualmente, o projeto atende crianças e jovens de 07 a 18 anos,
ofertando cursos de instrumentos sinfônicos. As instalações do espaço contam
com: cinco salas de aula com revestimento acústicos; uma sala de instrumentos
para uso diário e também para empréstimos aos alunos do projeto que não possuem
instrumento próprio. Possui também uma sala de ensaio ampla; copa e cozinha
disponível aos alunos e professores do projeto.
Os grupos musicais do projeto são cinco: 1) “Banda Primeiros
Sons”, formada por alunos iniciantes nos instrumentos de sopro e percussão; 2)
“Orquestra Primeiros Sons”, formada por alunos iniciantes nos instrumentos de
cordas; 3) “Banda Tocando Sonhos”, formada por alunos avançados nos
instrumentos de sopro e percussão; 4) “Orquestra Tocando Sonhos”, formada por
alunos avançados nos instrumentos de cordas; 5) “Brasília Sopro Sinfônica
Tocando Sonhos” (grupo mais avançado do projeto social “Música e Cidadania”),
formado pelos alunos mais avançados do projeto, bem como pelos jovens da
“Escola de Música de Brasília” e formandos em Música da “Universidade de
Brasília” que participam do projeto como alunos ou professores.
O ensaio da “Brasília Sopro Sinfônica Tocando Sonhos” funciona
no Teatro Dulcina de Moraes, localizado em Brasília
(DF). E nesse teatro, o professor de música Valdécio
Fonseca concedeu-me a entrevista. Enquanto os seus alunos ensaiavam para uma
apresentação, nos dirigimos para fora do teatro, de maneira que não atrapalhasse
o decorrer do ensaio. Posteriormente, fiz a transcrição da entrevista
evidenciando temáticas que dão lugar a uma boa história narrativa, que mantêm o
caráter narrativo na pesquisa, pois conforme aponta Bolivar (2012, p. 92), “o forte tratamento
categorial analítico deixa de ser narrativo”.
Embora tenha feito, nesta pesquisa, uma análise interpretativa
fundamentada na compreensão das interpretações e ressignificações que o sujeito
da pesquisa fez de si, optei trazer, para este trabalho, uma narrativa
rearranjada, porém contada por ele mesmo, explorando a capacidade de abstração
do professor Valdécio Fonseca colocando-o como um
especialista e teórico de si mesmo. Um sujeito que se coloca numa posição de mudar
o fazer, com tomadas de posições avaliativas, ajustando sua ação com a
realidade, de produzir teorias musicobiográficas
capazes de ajudar, em nossa concepção, na transformação social.
A musicobiografização do professor Valdécio Fonseca narrada por ele mesmo
No início deste artigo, eu contei a minha história com o projeto
social, a partir do entendimento de que o pesquisador, muitas vezes, se
apropria de sua experiência como tema para dialogar com autores e o autor da
história de vida investigada. Neste caso, a História de vida do professor de
música Valdécio Fonseca, no projeto social Música e
Cidadania do Distrito Federal. As narrativas produzidas foram, por mim,
encadeadas em forma de intriga, tanto que, em alguns momentos, trago minhas
reflexões para o diálogo com ele e com aqueles produzidos anteriormente, com
outros autores. Mas, a narrativa (auto)biográfico foi produzida pelo próprio
autor.
Nascido na periferia de Belo Horizonte, Minas Gerais, o
professor Valdécio, quando ainda aprendiz,
frequentava o projeto social do Maestro Guimarães que se dedicava a ensinar
música para os meninos da periferia. Valdécio quis,
então, seguir os passos daquele, pois foi quem lhe deu forças para fazer o que
faz hoje. As marcas iniciais da narrativa são constituídas com o lugar, os
primeiros investimentos musicobiográficos. Como bem
esclarece Delory-Momberger
(2012), o lugar está “em si mesmo e não pode se religar ao mundo a não ser
por meio da reflexividade e na historicidade da sua experiência” (DELORY-MOMBERGER, 2012, p. 144).
A música e a figura do professor do entrevistado foi o marco
inicial para gerar sentidos e significados na vida dele. Ele nos convida a
pensar na relação das experiências formativas de professores, como algo
desafiador e instigante, porque ao narrar as experiências formativas
constrói-se possibilidades de perceber o sujeito da experiência como um desafio
de construção da sua musicobiograficidade. Cumpre,
nesse sentido, compreender que o saber necessário para sermos docentes é aquele
que está unido a nós, que nos constitui, que está incorporado.
Ao tornar-se professor de música de projeto social, Valdécio Fonseca se constitui como sujeito da experiência com
o outro. Ou seja, como um professor que incorpora na profissão aquilo que fez
sentido na experiência do outro. E essa experiência do outro, no caso do seu
professor, o maestro Guimarães, é o que Valdécio
Fonseca aplica em suas práticas como, por exemplo, “montar uma banda, ensinar
meninos da periferia, participar da vida do aluno e o cuidado na formação
humana e musical” desses jovens. Essa narrativa de Valdécio
Fonseca encontra ressonâncias nas palavras do maestro Levino
Ferreira de Alcântara, fundador da Escola de Música de Brasília, que uma
entrevista concedida a Abreu (2016, p. 133)
aponta: “os jovens precisam acreditar em si mesmos, para saber que vão
influenciar outras pessoas. Para pensar um mundo melhor, deve-se iniciar pelas
crianças”.
No entanto, para a produção dessas práticas exigem-se
singularidades próprias, alguém que tenha um jeito próprio de ensinar, como
exemplificado por ele, Valdécio Fonseca: “O maestro
aplicava primeiro a teoria musical e depois a prática instrumental. Eu já faço
diferente, primeiro o menino sopra, experimenta o instrumento e o seu som. Se o
menino está confortável e quer estudar, tocar, eu ensino. Tenho o meu próprio
jeito”. Há, nesse sentido, formas para educar musicalmente, isto é, o aluno
expressa jeitos de aprender. Isso pode significar que um professor constrói o
seu modo de ensinar a partir do modo como pode experienciar durante a sua
formação.
Na singularidade do professor de música estão os conteúdos,
metodologias e práticas musicais que podem ser reproduzidas ou trabalhadas de
forma parecida com a do aprendizado porém, a
experiência dessa prática é única, uma vez que cada delas é formativa e faz
parte do processo de musicobiografização de cada
profissional da área.
A preocupação do professor Valdécio,
em relação aos seus alunos, vai além de apenas ensinar tocar um instrumento ou
executar bem um exercício musical. Ele entende que é preciso ter disciplina
para tocar um instrumento, mas ao mesmo tempo é o aluno quem decide ter essa
disciplina, ou não. Isso pode ser aclarado no relato que trata da época em que
era aluno e de suas escolhas por se manter na banda: “A leitura musical era
chata e enfadonha e os alunos iam desistindo. De uma turma de cem alunos
restaram apenas três, eu e mais dois, da primeira turma formada pelo maestro
Guimarães no projeto social”. Esse, portanto, é um relato que mostra a
persistência em querer continuar sua aprendizagem musical com banda. A
persistência, tanto dele como dos outros dois colegas e do professor, tornou
possível a idealização e concretização de um projeto musical com bandas de
música.
O que é possível perceber nesse relato é o querer, a vontade de
continuar com o projeto do vir a ser músico, como bem esclarece Queiroz (2015) quem defende que os jovens
que querem continuar fazendo música, ao longo de suas vidas, trazem na
construção desse projeto de si a música não apenas como uma atividade
cotidiana, mas como um projeto de vida profissional (QUEIROZ, 2015, p. 130)
E isso é o que o professor Valdécio
escolheu para a sua vida. Ainda no início de sua juventude, esse projeto
delineou-se cada vez mais, e de forma mais contundente como músico de banda, a
partir de sua entrada no serviço militar. E, na sequência sua carreira como
músico de banda do Exército, o que ocorreu anos mais tarde. Depois de algum
tempo, Valdécio conta que foi transferido para
Brasília (DF).
Assim que chegou na Capital Federal, Valdécio
relata que foi transferido para Tefé (AM) e naquele espaço adquiriu experiência
na formação de bandas com ações socioeducativo-musicais. Para ele, uma
experiência de formação musical de jovens “emocionante
porque aprenderam a tocar, tanto que, quando fui embora, os meninos tocaram; e
a banda está lá até hoje”. Ou seja, além de formar músicos, foi
consolidada a permanência de uma banda naquela cidade.
E, com essa primeira experiência, Valdécio
foi se tornando professor de música de projetos sociais. Pensando no professor
de música de projeto social como sujeito da experiência, encontramos em Passeggi (2016)
estudos que elucidam como esse sujeito se constitui. Para a autora, o sujeito
se constitui como epistêmico e biográfico. Neste caso, “o sujeito epistêmico
detém um conhecimento musical e sujeito biográfico é aquele que tem uma
vida-formação com a música, podendo constituir-se, desse modo, como sujeito da
experiência” (PASSEGGI, 2016, p. 80).
Ao tratar da constituição de Valdécio,
como professor de música de projeto social, trago as narrativas que elucidam
esses acontecimentos. Ele contou que elaborou um projeto de implementação de
banda, tendo oferecido, primeiramente, para as “escolas públicas e particulares
e também para outros órgãos públicos”. Mas, nem sempre seus argumentos foram o
bastante para o convencimento dos dirigentes desses locais. Segundo Valdécio, ele recebeu muitos “nãos”. Desse modo, os
desafios foram enormes, mas ele não desistiu da ideia, como ele próprio narrou:
“aquilo era o meu sonho, e quer saber de uma coisa vou começar com o que eu
tenho mesmo, vamos ver no que vai dar”.
Foi, então, com a ajuda de um amigo, que o professor Valdécio montou seu primeiro projeto social em uma pequena
comunidade chamada de Varjão, no Distrito Federal. Ele contou também que,
quando chegou àquele lugar, chamado Varjão, e verificou as necessidades das
crianças, lembrou-se de que também tinha vindo “de um lugar longe, e não tinha
nada, mas que alguém abriu as portas para a música”. E, por “praticamente ter
se agarrado nisso”, o professor compreendeu que poderia dar essa contribuição à
comunidade, pois como narra: “o pouco que eu sou, devo a música; não é justo eu
ficar com isso para mim; é um conhecimento adquirido que não dá para ficar só
com você”.
E foi assim, com esse agir progressivo que ele iniciou os seus
trabalhos como professor de música no projeto social de Varjão (DF). Iniciou o
projeto dispondo de poucos recursos materiais, e com seus próprios instrumentos
musicais: “um sax, um clarinete e um sousafone que
havia ganhado”. E para dar sustentação ao projeto ele conta que criou uma
“Associação de Moradores”. O seu agir estratégico de envolver a comunidade,
como ocorreu na experiência adquirida na implementação da banda de música, na
cidade de Tefé (AM), se configurou no projeto de Varjão (DF).
Assim, o professor tomou a inciativa de instituir o projeto
social, via Associação de Moradores, reconhecendo nesse procedimento o
fortalecimento não só do seu trabalho, mas também da comunidade. Essa atitude
cria um sentido de lugar no sujeito que pode ser construído por diversas
maneiras, haja vista que a singularidade profissional do professor de música se
constitui por meio de suas experiências tornando-a única e pessoal. E desse
modo, reconhece, as experiências do sujeito como “topoi”,
construindo-se com base nas opções, nas escolhas, nos motivos recorrentes, nas
práticas, nas negociações e confrontos do seu “topoi
biográfico” (DELORY-MOMBERGER, 2012, p. 535),
como professor de música de projeto social. O professor Valdécio
toma o conhecimento adquirido como experiência, como um processo de musicobiografização da experiência, mediante a sua ação e
tendo a música como objeto. Em outras palavras, o modo que Valdécio
escolheu para se aproximar e ajudar a quem precisava, foi pelo ensino de
música, criando grupos musicais como bandas e orquestras, com apoio de vários colaboradores.
Com o passar do tempo e os ensinamentos, “a qualidade técnica
foi melhorando; o grau de dificuldade das músicas também foi aumentando”. E
para montar a orquestra, o professor conta que “a POUPEX providenciou o que
precisava, enquanto instrumentos musicais de boa qualidade”. Isso sempre foi
considerado por ele como “a meta na criação do projeto social, pois acredito na
transformação das pessoas por meio da música”. Ele segue compreendendo que “não
são todos que se transformam, seria muita pretensão achar isso, mas essa
transformação torna o projeto um porto seguro de alguma forma”.
Para esses “alguns” o professor vê “na música a possibilidade de
crescimento”. Consciente das dificuldades, ele deixa-se afetar pelos problemas
das pessoas e do projeto social. E, ao tomar para si a responsabilidade, busca
meios para encontrar soluções dos problemas articulando a música com a via
possível.
A atitude do professor, de chamar para si a responsabilidade dos
problemas do outro, é o que Ricoeur (2014) chama de solicitude, valor que faz cada
pessoa ser insubstituível em nossa afeição e em nossa estima. A “solicitude
responde à estima do outro por mim” (RICOEUR,
2014, p. 213).
Esse modo de querer proteger o aluno demonstra a construção do
sentimento de mutualidade, de reciprocidade. Essa mutualidade os une em uma
relação de alteridade. A alteridade “é caracterizada pela relação de uma pessoa
com outra, ou entre um grupo de pessoas, em que se faz necessário aceitar as
diferenças ali existentes” (OTERO, 2015, p.
97). De forma que, essas pessoas possam compreender suas diferenças,
aprendendo com elas por meio do respeito entre si. Pois havendo mutualidade e
alteridade um sujeito agrega-se a outro, e ambos constituem a si mesmos.
Entendo que suas narrativas representam a inclusão de si com outro, pois é o
que Bowman (2007,
p. 123) nos leva a pensar, quando chama de reconfiguração o termo “nós”.
Para esse autor, a identidade profissional, tradicionalmente, ainda está ligada
as preocupações com a musicalidade, dificultando as reflexões sobre
responsabilidade social. (BOWMAN, 2007).
Entendo que Valdécio tenta fazer essa
mudança ao qual Bowman
(2007) nos propõe. O professor de música Valdécio
sabe que essa busca pela mudança “é muito difícil”. Mas, isso não o faz
desistir, pelo contrário, tenta, quer “fazer mais, mesmo que não consiga”.
Mesmo que, por conta das muitas dificuldades, ele sinta, às vezes, “com vontade
de desistir, não pela música, mas pela desigualdade [social] que a gente tem”.
Devo dizer que ele narrou isso de maneira muito emocionada. E
como entrevistadora, pude aferir tal emoção, por ver brotar de seus olhos
lágrimas, ao narrar tais acontecimentos. E foi com essa emoção que ele, em um
gesto de confiança, olhou no fundo dos meus olhos, como se quisesse demonstrar
a importância do seu propósito de vida, e disse: “É triste! Mas, um dia a gente
chega lá”. Compreendi que, até aquele momento da entrevista narrativa
(auto)biográfica, que esses sentimentos e sensações eram para ele um sentimento
ainda inconsciente pois, na narrativa possibilita desenvolver sentimentos e
emoções percebida por meio de todos os nossos sentidos, pelas nossas
experiências (DELORY-MOMBERGER, 2012).
Nessa narrativa, foi possível perceber a força e a vontade de Valdécio, em continuar seu trabalho com o ensino de música,
formando músicos e criando bandas a partir dessa constituição de si. Dessa
maneira, enxergando o outro no eu próprio processo de musicobiografização.
O processo, em que o professor de música se biografiza
com o outro, por meio do saber-poder fazer música com e para o outro,
constitui-se um contínuo. Nele se produz para si e para seus alunos
manifestações mentais assim como verbais, corporais, comportamentais de sua
existência, utilizando, a música com linguagem, como símbolo e como discurso. A
música, para o professor Valdécio, traduz-se, como um
comprometimento ético.
A partir das narrativas de Valdécio,
em consonâncias com as compreensões de autores com os quais venho dialogando, e
também, na relação com a minha própria experiência formativa em projetos
sociais, entendo que se não há mutualidade, alteridade e solicitude entre
professor e aluno não há ensino de música, tanto quanto não há aprendizado. Pois,
isso só é possível quando o sujeito vive a música com alteridade. Ricoeur (2014)
diz que para haver alteridade, a ação deve enriquecer não só ao indivíduo, mas
também o outro.
Tomando as narrativas neste processo de análise e interpretação,
torna-se possível considerar que o professor de música Valdécio
é o que Ricoeur
(2014, p. 290) chama de “homem do ágape” e ao
mesmo tempo é o “homem da justiça”. Pois, o homem ágape é aquele que dá
generosamente sem esperar nada em troca. O homem da justiça é aquele que
retribui que repõe o equilíbrio.
As narrativas até aqui figuram um processo de musicobiografização que conta como Valdécio
Fonseca foi se tornando professor de música de projeto social. É um sujeito que
se coloca numa posição de agir para que ocorram mudanças e transformações, no
contexto em que se insere.
Nesse modo de produzir análise de narrativas (auto)biográficas,
é possível evidenciar que a musicobiografização dos
sujeitos relacionados à música é aferida por um sujeito epistêmico, o qual gera
conhecimentos musicais, com a sua biografia significando aquilo que ele faz e
fez de sua vida vivida. Ou seja, um autor que fala sobre acontecimentos ou
situações incorporadas, que não poderiam existir, se ele não contasse.
A partir do caráter reflexivo e da historicidade do
entrevistado, tornou possível evidenciar um sujeito epistêmico, mas
principalmente musicobiográfico, que se coloca em
cena contando acontecimentos que não poderiam existir, se ele não contasse,
transpondo-se de autor para agente social. Ou melhor, uma pessoa que se coloca
numa posição para mudanças e transformações. Essas narrativas levaram-nos à
compreensão de Valdécio, constitui-se um professor
que se musicobiografiza como um agente social, uma
vez que se coloca em posições avaliativas de mudanças, quanto ao fazer,
ajustando, de maneira ética, suas ações de acordo com a necessidade e com a
realidade.
Isso pode ser compreendido pelo fato de chamar para si, em um
processo que envolve mutualidade, alteridade e solicitude, a responsabilidade
social, preocupando-se com a qualidade do ensino de música no projeto social e,
ao mesmo tempo, com a vida dos indivíduos em sociedade. Essas preocupações, em
estabelecer maneiras de ajudar o outro – biografizando-se
como homem ágape – e de refletir sobre como pode, com a música, melhorar a
sociedade para as novas gerações – musicobiografizando-se
como o homem da justiça – fazem-se claras nas ressignificações de Valdécio. Haja vista que também se fazem presente em sua
vida, diariamente. E “é nesse sentido que se pode falar de conscientização” (PASSEGGI, 2016, p. 83).
Por fim, esperei o momento em que ele sinalizou que a narração musicobiográfica havia terminado. E no silêncio,
demonstrou-se emocionado, ao ouvir seus alunos, dentro do teatro, tocando
Villa-Lobos. Ele fez uma pausa, e, com a voz embargada, disse: “agradeço por
ter escutado a minha história; agora venha comigo ver o ensaio; você vai ver e
respirar a alegria deles”. Depois, caro leitor, eu o convido, com prazer, a
assistir a uma apresentação da “Brasília Sopro Sinfônica neste link[3]” (VALDÉCIO FONSECA, 2016).
Algumas compreensões…
A partir do exposto, com as narrativas do professor de música Valdécio Fonseca, em consonâncias com a literatura,
compreendi que os processos formativos musicais nem sempre garantem a
transformação de um ser socialmente inserido. Há de se pensar em uma formação
musical, social e humanística alcançada pelo próprio sujeito.
E essas compreensões resultam do processo de musicobiografização
de um professor de música de projeto social, o qual se coloca numa posição de
agir na e para a transformação social por meio da sua relação com a música. O
que levou Valdécio Fonseca a escolher ser professor
de música de projeto social foi o seu próprio processo de biografização,
com projetos sociais ao longo da sua história de vida. Essa história é reconfigurada
por ele, nas narrativas (auto)biográficas, mostrando as tomadas de decisões que
o levam a constituir uma vida de professor de projeto social.
A compreensão advinda das narrativas (auto)biográficas de Valdécio Fonseca contribuem com indagações que ele mesmo
levantou como professor de música de projeto social. As questões e
problemáticas são de quem as vive. Assim, os pesquisadores podem, nesse tipo de
pesquisa, narrar e produzir conhecimento com aqueles que vivem o contexto e com
ele se constituem. O potencial da qualidade dessa constituição está no sujeito
que se dispõe para se constituir com o outro.
Pela complexidade das relações e da interação com o lugar de
constituição biográfica, o que importa, afinal, é encontrarmos, como área de
conhecimento, diferentes maneiras de compreender o que é e como é ser professor
de música de projetos sociais. Isso não significa reconhecer e considerar a
história de vida de um único sujeito como referência, mas a força narrativa
desta história com o lugar, ou melhor, como lugar. Portanto, se o potencial da
situação está no coletivo de uma área, assim como a força da água está no
relevo, o nosso desafio, com as teorias biográficas, está no potencial desta
força na fertilização.
Comecei a pesquisa com um poema sobre catar feijão, que causou
reflexão sobre as dificuldades da escrita da escolha sobre o que escrever e
como o fazê-lo. Procurei escrever sobre como me sentia e como me via como
pessoa e como professora de música. Comecei a escrever como me compreendia, o que
sentia, o que fazia eu apaixonar. Fiz da minha escrita história de vida. E a
História de Vida de Valdécio Fonseca como professor
de música de projeto social, agora, faz parte da minha história com esse
contexto e de muitos outros professores que se reconhecem a partir desse lugar.
Como professora de música que iniciou sua trajetória de vida musical em
projetos sociais, sigo com a intenção de começar minha constituição como
pesquisadora para continuar constituindo-me musicobiograficamente
com o campo da Educação Musical.
Retomo o poema “Catar Feijão” de João Cabral de Melo Neto,
trazendo compreensões de que “catar feijão se limita com o escrever: jogam-se
os grãos na água do alguidar e as palavras na folha de papel” (MELO NETO, 2002, p. 23). Assim, como
catador de feijões, seleciona-se os melhores grãos, a fim de construir a
palavra dada ao leitor que poderá com o texto redesenhar horizontes de
possibilidades.
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(Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Serviço Social, Universidade Federal
de Pernambuco, Recife, 2007.
Notas
1 Karina Firmino Vieira
possui graduação em Licenciatura Plena em Música pela Universidade do Estado do
Pará (2011) e Mestrado em Música pela Universidade de Brasília (2017).
Atualmente é docente na graduação em música da Universidade de Brasília
2 Delmary
Vasconcelos de Abreu. Docente de música da Universidade de Brasília (UnB), com
doutorado em música pela UFRGS, mestrado em linguagem (UFMT), graduação em
letras (Unemat) e graduação em música (IPA/RS).
Possui pós-doutorado em educação na linha cultura, escrita e linguagens pela UFPel. Atualmente é coordenadora do Programa de
Pós-Graduação em Música da UnB e líder do grupo de pesquisa Educação Musical e
Autobiografia
3 Banda Sopro Sinfônica
disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=bA589dEHawo.
Autor notes
Karina Firmino Vieira possui graduação em Licenciatura Plena em
Música pela Universidade do Estado do Pará (2011) e Mestrado em Música pela
Universidade de Brasília (2017). Atualmente é docente na graduação em música da
Universidade de Brasília
Delmary
Vasconcelos de Abreu. Docente de música da Universidade de Brasília (UnB), com
doutorado em música pela UFRGS, mestrado em linguagem (UFMT), graduação em
letras (Unemat) e graduação em música (IPA/RS).
Possui pós-doutorado em educação na linha cultura, escrita e linguagens pela UFPel. Atualmente é coordenadora do Programa de
Pós-Graduação em Música da UnB e líder do grupo de pesquisa Educação Musical e
Autobiografia.