Chamada de Trabalhos para o Dossiê MÚSICAS DE BORDA - PROPOSTAS PARA PENSAR A NOÇÃO DE CENTRO E A PERIFERIA NO CAMPO DA MÚSICA CONTEMPORÂNEA NA ACADEMIA

2024-12-18

A revista ORFEU convida pesquisadores/as e compositores/as a submeterem artigos para o nosso próximo dossiê, intitulado Músicas de Borda. Com o objetivo de criar um campo de pesquisa que mapeie e reflita sobre a produção de música experimental e eletroacústica latino-americana, e assim construir um acervo de bibliografias e materiais fonográficos disponíveis para as universidades, pretende-se promover uma integração regional e congregar visões e propostas artísticas que contribuam para reconstruir o olhar e a escuta sobre essas produções. Nesse sentido, esse dossiê forma parte de uma série de atividades que, o grupo de pesquisa “Música Contemporâneas de Bordas. Formas de habitar o tempo no sul global” vem desenvolvendo através da publicação do livro “Seminários Dispersos em Criação Musical. Primeiras Conversas” (apoio Faperj, edital editoração 2023) e publicado em 2025.

O conceito de "borda" abrange o concreto, o simbólico e o social. Pensar em termos de borda em sua dupla acepção é considerar a fronteira que é, evidentemente, uma borda, uma linha ou um muro que delimita e separa duas coisas. Mas "borda" também funciona no sentido metafórico do termo, ou seja, como algo que está, de alguma forma, afastado do centro. Veiculado como uma zona de indefinição, que pode ser tanto geográfica e física quanto simbólica, o ato de estar na borda é também estar em um lugar de potencial "desbordamento" ou transbordamento, de contágio, travessia e fronteira. A dimensão simbólica e histórica, assim como as condições materiais para sustentar certa estabilidade e senso comum, costumam estar atravessadas por algum tipo de disputa. As invasões começam pelas bordas e pelas fronteiras, mas também os intercâmbios e as conexões. “Come-se pelas bordas” e a pele é a borda de contato com o outro. O lado de cá ou o lado de lá de uma borda está definido pela dinâmica de encontros, identificações e intercâmbios expressados; no caso da música, naquilo que chamamos de “cena”. Uma borda nos define no sentido de lugar e ao mesmo tempo nos limita, mas, também nos contém. É aquilo que não é facilmente identificado e por diversas formas, é invisível e inaudível, todavia, se revela pelo contraste com o centro momentâneo, o modelo padrão e hegemônico. É algo que corta e separa territórios, línguas, pessoas e ideias, é também, limite de um tecido, de um bordado, algo que se afinca no concreto e no simbólico.

Contornar a borda de uma pesquisa na composição experimental e eletroacústica na América Latina é tornar visíveis e audíveis compositoras e compositores em programas de concertos, bases de dados de pesquisa e currículos acadêmicos. Nesse sentido, o dossiê busca articular um transbordamento da realidade atual de escassez de repertório e referências históricas nesse campo, destacando a necessidade de sistematização e visibilidade dessas produções para incluir outras narrativas e enunciações nos espaços acadêmicos e culturais. A proposta também enfatiza o papel de intercâmbios culturais e a valorização da diversidade, enfrentando disparidades de gênero e representação.

Este dossiê é um convite para repensar a noção de borda no mapeamento da produção musical experimental e eletroacústica no Brasil inserido em uma trama complexa de pensamento Latino-americano, propondo uma cartografia musical e acadêmica que inclua vozes e narrativas até então relegadas.

Convidamos, então, autores e autoras a refletir sobre a criação de redes de colaboração, a promoção de espaços de formação, a valorização da produção artística na nossa região, através dos estudos de caso, cartografias, entrevistas com artistas, que busquem problematizar a criação e a análise musical neste campo e como a possibilidade de enunciação das minorias se manifestam as estruturas universitárias e culturais.

Os trabalhos devem ter entre 6.000 e 12.000 palavras, incluindo título, resumo, palavras-chave e referências. Podem ser escritos em inglês, francês, espanhol ou português. As diretrizes para autores estão disponíveis no seguinte link:

https://periodicos.udesc.br/index.php/orfeu/about/submissions

Data final para submissão de trabalhos ao Dossiê: 30 de março de 2025