Dossiê – Moda e Emoções na Cultura do Consumo
V.17, N.41 — 2024
DOI: http://dx.doi.org/10.5965/1982615x17412024016 E-ISSN 1982-615x
ModaPalavra, Florianópolis, V. 17, N. 41, p. 16-74, jan/jun. 2024
“Por que não posso fazer de mim uma
obra de arte?”: elaborações emocionais
nas performances de Elke Maravilha
Marlon Santa Maria Dias
Doutor, Universidade Comunitária da Região de Chapecó / marlon.smdias@gmail.com
Orcid: 0000-0002-0175-9217/ http://lattes.cnpq.br/0609735637044237
Rodrigo Duarte Bueno de Godoi
Mestre, Universidade do Vale do Rio dos Sinos / rodrigodurt@gmail.com
Orcid: 0000-0001-9846-8557/ http://lattes.cnpq.br/1370259390341368
Enviado: 31/07/2023/ Aceito: 03/11/2023
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“Por que não posso fazer de mim uma obra
de arte?”: elaborações emocionais nas per-
formances de Elke Maravilha
RESUMO
Investigou-se neste texto intersecções entre moda, emoções, consumo
e performance a partir de materiais midiáticos coletados sobre a vida
de Elke Maravilha. Alemã, a artista chegou ao Brasil aos seis anos
de idade e teve uma carreira meteórica, das passarelas à televisão.
Celebridade constituída na cena midiática, Elke chamava a atenção nas
passarelas pelo seu estilo único e pelo modo como se apresentava em
desles. Na TV, foi jurada de programas de calouros e teve seu próprio
programa. Orientados metodologicamente pelos estudos cartográcos,
produzimos, a partir de sensibilidades constituintes das cartograas
benjaminianas, quatro constelações: 1) eu quero é chamar a atenção;
2) sacerdotisa dionisíaca; 3) colar das maravilhas; 4) Elke no país do
artifício. Ao investigar a dimensão estética e performática de Elke,
compreendemos que a maneira como roupas e adereços eram usados
possibilitavam uma elaboração de si e expressão comunicativa.
Palavras-chave: Moda. Emoções. Cartograa.
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“Why can’t I make myself a work of art?”:
emotional elaborations in Elke Maravilha’s
performances
ABSTRACT
In this text, we investigate intersections between fashion, emotions,
consumption, and performance from media materials collected about
the life of Elke Maravilha. German, she arrived in Brazil at the age of six
and had a meteoric career, from runway fashion shows to television.
A celebrity established in the media scene, Elke drew attention on the
runways for her unique style and the way she presented herself in
fashion shows. On TV, she was a judge on talent shows and had her
own talkshow. The article is methodologically oriented by cartographic
studies. We produced, from the constituent sensibilities of Walter
Benjamin’s cartographies, four constellations: 1) I want to draw
attention; 2) Dionysian priestess; 3) necklace of wonders; 4) Elke in
the articial land. By investigating Elke’s aesthetic and performative
dimension, we understand that the way clothes and props were used
enabled an elaboration of the self and communicative expression.
Keywords: Fashion. Emotions. Cartograph.
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“¿Por qué no puedo hacerme una obra de
arte?”: elaboraciones emocionales en las
performances de Elke Maravilha
RESUMEN
En este texto, investigamos las intersecciones entre moda, emociones,
consumo y performance a partir de materiales mediáticos recopilados
sobre la vida de Elke Maravilha. Alemán, llegó a Brasil a los seis
años y tuvo una carrera meteórica, desde las pasarelas hasta la
televisión. Una celebridad establecida en la escena de los medios,
Elke llamó la atención en las pasarelas por su estilo único y la forma
en que se presentaba en los desles de moda. En la televisión, fue
jueza en shows de talentos y tenía su propio talkshow. Orientados
metodológicamente por los estudios cartográcos, elaboramos, a
partir de las sensibilidades constitutivas de las cartografías de Walter
Benjamin, cuatro constelaciones: 1) quiero llamar la atención; 2)
sacerdotisa dionisíaca; 3) collar de maravillas; 4) Elke en la tierra del
articio. Al indagar en la dimensión estética y performativa de Elke,
entendemos que la forma en que se utilizaron las vestimentas y los
accesorios permitieron una elaboración de sí mismo y la expresión
comunicativa.
Palabras clave: Moda. Emociones. Cartografía.
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1. INTRODUÇÃO
Elke Grünupp nasceu na Alemanha, em 22 de fevereiro de
1945, meses antes da Segunda Guerra Mundial acabar. Embora
sempre contasse em entrevistas que era de origem russa,
o relato de seu irmão e documentos comprovam que foi em
Leutkirch, e não em São Petersburgo, que veio ao mundo. Aos
seis anos de idade, chegou ao Brasil, junto da família em fuga,
uma vez que, com o m da guerra, seu pai era considerado
traidor da pátria russa. George e Liezelotte, seus pais, decidiram
que não queriam morar no sul do país, junto de outras colônias
europeias, mas sim num “Brasil de verdade”. Foi em Minas Gerais
que Elke cresceu, mais especicamente na região de Itabira, a
leste da capital do estado.
Décadas mais tarde, Elke perdeu o sobrenome e se tornou
conhecida como a “Mulher Maravilha”. Essa troca de identicação
muito se deu por aquilo que a fazia ser Elke de fato: a forma
como constituía, através daquilo que ornava seu corpo, uma
“obra de arte”1 ambulante. Modelo de sucesso na juventude,
talvez tenha sido uma das primeiras a sorrir nas passarelas.
A performance do corpo, que servia aos maiores estilistas da
época, atraía atenção pela irreverência. Na televisão, trabalhou
junto de Chacrinha e Silvio Santos, além de ter seu próprio
programa de entrevistas, um talkshow que trazia seu nome2.
A biograa midiática de Elke é atravessada por sua estética
única: para a modelo e apresentadora, mais era sempre mais,
e ela dizia: “Eu gosto do exagero, gosto de muito” (Elke, 2016,
8min05s). Contudo, os adereços e ornamentos não eram meras
peças escolhidas ao acaso, mas sim pensadas uma a uma pela
própria Elke3 e muitas vezes investidas de sentidos que contavam
alguma história pessoal.
Partindo dessa elaboração introdutória, este texto tem o
objetivo de investigar as intersecções entre moda, emoções e
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performance, a partir de materiais midiáticos diversos (vídeos,
fotos, biograas, recortes de jornais, museu virtual etc.) sobre
a vida de Elke Maravilha, celebridade reconhecida não só no
mundo da moda, mas de ampla visibilidade social. De modo
abrangente, partimos da percepção de que a elaboração pública
de Elke nos faz reetir sobre a forma como as performances de
si acionam o campo subjetivo de emoções a partir da maneira
como se constituem (e se apresentam) pelas vestimentas.
Metodologicamente, esta pesquisa se baliza pelas
orientações da cartograa, em especial a partir das indicações
de Walter Benjamin (2018). Tal orientação se articula com
acionamentos teóricos do campo da antropologia das emoções
e do consumo. Nesse sentido, procura-se pensar, com base na
cultura material, sobre as diferentes emoções acionadas a partir
do gesto de vestir-se, e como estas emoções se relacionam com
diversos momentos da vida e carreira de Elke.
Na busca por outros textos que tenham explorado
analiticamente a gura de Elke Maravilha, causou-nos surpresa
a escassez de materiais.4 Em geral, seu nome aparece em
trabalhos acadêmicos de maneira tangencial e pontual. Ela é
citada em análises focadas na vida da estilista Zuzu Angel, sua
amiga; em análises fílmicas referentes aos lmes que participou
como atriz ou mesmo sobre a cinebiograa de Zuzu; em textos
sobre imposições da maternidade Elke mencionara não ter
nascido para ser mãe e, por isso, zera abortos ou sobre a
sua condição de apátrida e; em pesquisas sobre os programas
do Chacrinha ou sobre o grupo musical Dzi Croquettes. Ou seja,
Elke é mencionada, mas quase nunca objeto de análise. Das
centenas de textos encontrados, apenas um deles realmente se
ocupa da análise de sua gura: um relatório de Pedro de Azevedo
Vasconcellos (2018) sobre a realização do documentário, de sua
autoria, ELKE ‘72, que aborda a prisão de Elke, em 1972, pelo
regime militar.
Entretanto, havia várias menções ao seu nome em
pesquisas nos estudos de gêneros e sexualidades, em especial
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sobre a arte drag. Em geral, esses textos argumentam que,
mesmo sendo uma mulher cisgênero e heterossexual, Elke
atuou como uma produtora da cultura gay (Bortolozzi; Areda,
2017), ao ser uma inspiração e referência artística, ao jogar
com as fronteiras do masculino e feminino e ao se apresentar
de modo extravagante. Assim, seria precursora no Brasil da arte
drag (Gomes, 2019; Souza; Ferreira; Merkle, 2017).
Diante de tal lacuna e, ao mesmo tempo, instigados por
essa relação corrente entre Elke e a arte drag, exploramos
essa gura midiática à luz de teorias que interseccionam as
performances de si e a elaboração das emoções no consumo de
moda. Na sequência, apresentamos a metodologia de trabalho.
2. A CARTOGRAFIA COMO MÉTODO
Quando se fala em cartograa, costuma-se relacionar
ao que a sua origem etimológica propõe: a escrita de uma
carta geográca, ou seja, de um mapa. É verdade também
que, nas últimas décadas, a noção de cartograa se expandiu
e foi apropriada por diferentes áreas, para além das ciências
geográcas. As ciências sociais e humanas, de modo geral, têm
se apropriado da cartograa como método e, na Comunicação,
mais especicamente, uma notável emergência embora
não se possa restringir a cartograa a uma perspectiva teórico-
metodológica única (Rosário; Coruja; Segabinazzi, 2021).
Neste trabalho, empreendemos uma cartograa inspirada
no projeto conceitual de Walter Benjamin. Apesar de o crítico
alemão nunca ter sistematizado formalmente a cartograa como
procedimento metodológico, sua obra oferece indícios para a
elaboração de um fazer cartográco, operacionalizado a partir
de uma geograa afetiva e intelectual. Chama-nos a atenção
o olhar fragmentário do método benjaminiano, “[...] não por
renunciar à totalidade, mas por procurá-la nos detalhes quase
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invisíveis” (Sarlo, 2015, p. 35). Assim, o que nos orienta aqui
não é a procura de um conjunto de recorrências para atestar
algo, mas sim um olhar mais microscópico para fragmentos que
deem a ver aspectos que iluminam as questões propostas.
Ao discutir as transformações da modernidade, Benjamin
se ocupava de uma dimensão mental – para ele, as mudanças
societais eram de ordem cognitiva, sensorial, emocional e
estética. O termo estética aqui se desloca de uma concepção
atrelada ao belo e ao sublime para referir uma experiência
sensorial – portanto, de ordem sensível, tal como uma emoção
corporicada.
Para tanto, acionamos três sensibilidades constituintes
da cartograa benjaminiana: a perambulação, a coleção e
a constelação (Dias, 2022). Em seu projeto inacabado das
Passagens (Benjamin, 2018), o autor elaborou a ideia de anar
pelas ruas da cidade como uma postura de abertura sensorial
e de apropriação a partir do que é experienciado e vivido. Na
mesma obra, a gura do colecionador aparece muito próxima a
uma ação imaginativa, em que se desliga o objeto colecionado
de suas funções primitivas e se produz algum tipo de relação com
aquilo que é, de alguma forma, semelhante. a constelação
aparece enquanto metáfora de uma estratégia de pensamento,
isto é, de aproximação e tensionamento dialético entre imagens,
que acionam imagens-pensamentos decorrentes do choque.5
Essas sensibilidades constituem nossa postura investigativa
ao observar o fenômeno Elke. Primeiramente, perambulamos por
entre um conjunto enorme de materiais, coletados sobretudo
no ambiente digital, mas também em arquivos físicos. É por
isso que o corpus desta pesquisa é de natureza variada. Não
se poderia compreender a gura de Elke considerando apenas
um tipo de material. A partir desse exercício, começamos a
organização: colecionar não é apenas coletar, mas sobretudo
organizar e investir os materiais de sentido. O próximo passo
foi constelar, isto é, entender como as imagens de Elke forjam
sua gura, usando as emoções e a performance como lentes. De
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tal forma, as coleções produzidas se guiam pela percepção de
que roupas, adereços, perucas e ornamentos são mecanismos
de elaboração da própria subjetividade de Elke, na medida em
que a partir dessa dimensão performativa é possível expressar
e produzir emoções.
3. EMOÇÕES E PERFORMANCES
No clássico texto A expressão obrigatória dos sentimentos,
publicado em 1921, Marcel Mauss (1979) argumenta que as
emoções se constituem enquanto linguagem. Ao analisar um ritual
fúnebre, o autor percebe que as manifestações dos sentimentos
correspondem a códigos culturais coletivos, inteligíveis para o
grupo social que os desempenha. Este estudo seminal oferece
uma compreensão que ainda nos parece válida: sendo linguagem,
as emoções são sociais. Ora, enquanto experiência de ordem
simbólica, a expressão de uma emoção precisa fazer sentido
para o outro.
Se as emoções são sociais, depreende-se que não podem
ser consideradas entidades universais atribuídas de qualquer
essência transcultural. Logo, temos que as emoções são
contextuais e devem, portanto, ser interpretadas como discursos
em contexto. Essa perspectiva é tributária das proposições de
Lila Abu-Lughod e Catherine Lutz (1990), que consideram as
emoções como discursos produtivos – inspiradas pela noção
foucaultiana de discurso e cujo estudo precisa ser relativo ao
seu contexto de enunciação.
A perspectiva contextualista renega dicotomias como
razão/emoção e mente/corpo, porquanto entende que tais
separações encobrem as complexidades que constituem o
estudo das emoções. Nesse sentido, compreende-se que as
emoções desempenham uma capacidade micropolítica, que
refere o “[...] seu potencial para dramatizar/alterar/reforçar a
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dimensão macrossocial em que as emoções são suscitadas e
vivenciadas” (Rezende; Coelho, 2010, p. 15). Signica, de tal
modo, que existe uma dimensão performativa e pragmática das
emoções porque são formadas e performadas em diferentes
contextos sociais e porque se referem a uma ação social com
efeitos sobre o mundo.
Das múltiplas formas de se manifestar, as emoções
encontram nas práticas corporais um lugar de inscrição profícuo.
É pelo corpo que expressamos e experimentamos as emoções e
é através dele que elaboramos distintos modos de constituição
de subjetividade. Por isso, nos parece instigante pensar a
expressão das emoções através da moda, entendendo-a
como um conjunto multifacetado de ornamentos, adereços e
vestimentas que, investidos de sentidos particulares, dão a ver
os construtos emocionais.
Elke Maravilha se apresenta como gura midiática exemplar
para pensar essas congurações emocionais por dois motivos.
Primeiro, porque se constituiu na cena midiática, atendendo
às premissas que caracterizam uma celebridade, gura-chave
das sociedades contemporâneas: “Diz de alguém que se torna
conhecido por muitas pessoas, reconhecido por aquilo que é
ou faz, cultuado enquanto uma certa excepcionalidade digna
de admiração e reverência” (França, 2014, p. 19). Diferente de
muitas celebridades que se encaixam em tipos, para permanecer
por mais tempo na cena midiática, Elke elaborou sua gura
deslocando-se do padrão de modelo de passarela e apresentadora
de TV para construir uma persona de fato singular.
O segundo aspecto diz respeito ao modo como essa
persona Elke se constituiu através da maneira como se
expressava corporalmente: roupas consideradas extravagantes,
sobreposição de adereços, perucas diversas, maquiagens
carregadas. Fugia das orientações da Moda – enquanto sistema
normativo e prescritivo para criar a sua própria moda, que
evidencia o jeito de ser Elke. Não se pode dizer que essa
construção era irreetida, anal, todo processo de consumo é
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investido de caráter simbólico e cultural que a ver a experiência
subjetiva. Por isso, pensamos nessas questões através da noção
de performance.
Os Estudos de Performance consideram, um
bom tempo, as subjetividades que se produzem tanto a
partir da materialidade do corpo quanto dos adornos que
ornamentam os corpos, e que, pela prática citacional, produzem
performatividades sociais (Butler, 2020). John Cowart Dawsey
(2011) nos informa que a virada performativa nas ciências
sociais teve como resultado duas principais vertentes. Uma,
de especial interesse para antropologia, com uma abordagem
“dramatista” da vida social, e outra, derivada de estudos
linguísticos e mais direcionada às análises de etnograa da fala e
de narrativas sociais. Essa mudança paradigmática rompia com
o estruturalismo e valorizava a observação sobre como “[...] os
sentidos do corpo são mobilizados para a signicação do mundo”
(Dawsey, 2011, p. 210).
Acionamos aqui uma perspectiva mais antropológica,
a partir de Richard Schechner (2003; 2010; 2015; 2017),
considerado, junto de Victor Turner, um dos precursores desse
campo de investigação. Ao longo de sua produção intelectual,
Schechner propõe o entendimento de performances enquanto
“comportamentos restaurados”, o que signica dizer que são
comportamentos, em algum grau, socialmente reconhecíveis e
experienciáveis, à medida que são reproduzidos. Sendo assim,
“[...] marcam identidades, dobram o tempo, remodulam e
adornam o corpo, e contam histórias” (Schechner, 2017, p. 28).
Essa perspectiva amplia o sentido teatral atribuído
comumente ao termo ‘performance’. Compreende que a vida
cotidiana é formada por porções de comportamentos culturais,
aprendidos e reproduzidos, variando em circunstâncias, contextos
e papéis sociais desenvolvidos. São ações físicas, verbais ou
virtuais, preparadas e ensaiadas, porque não “acontecem” pela
primeira vez. Schechner (2017) entende que, em grande parte,
as pessoas vivem uma tensão entre a aceitação e a rebelião em
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relação aos papéis sociais aprendidos desde a infância.
As performances de Elke parecem evidenciar essa tensão:
modelo que sorria na passarela, apresentadora que não seguia
um script, artista que “não se considerava atriz”, mas atuava
(Elke, 2022). O deslocamento de certos comportamentos,
códigos e práticas gerava estranhamentos, mas ao mesmo
tempo eram modos de expor subjetividades e de se constituir
corporalmente. Com base nessas orientações teóricas, buscamos
reconhecer, pelas observações dos materiais de referência,
algumas performances de Elke e sobretudo o modo como elas
se davam pelas roupas, ornamentos, maquiagem, acessórios,
modos de fala e de expressão.
4. ANÁLISE
Propomos neste texto, ao nos inspirarmos na obra de
Benjamin, que é possível pensar com as imagens, isto é, produzir
um pensamento por imagem. Esta é aliás uma noção recorrente
na obra do crítico alemão: imagens oníricas, imagens dialéticas,
imagens do pensamento e imagem das estrelas (constelação). A
partir das perambulações, produzimos coleções que orientaram
o pensamento constelacional. Nesse sentido, a Figura 1
apresenta o que chamamos aqui de Constelação-síntese Elke,
que abarca imagens que, em contato, nos ajudam a pensar e a
analisar essa gura midiática. Como será possível perceber na
análise que segue, o objetivo é, a partir das iluminações trazidas
pelas imagens, compreender, anal, de que maneira a moda e
as emoções se articulam na elaboração performática de Elke
Maravilha.
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Figura 1. Constelação-síntese Elke
Fonte: elaborada pelos autores a partir de materiais
midiáticos diversos.
4.1 Constelação 1: Eu quero é chamar a atenção
Nos primeiros anos de sucesso no mundo da moda, quando
havia deslado para Zuzu Angel, Clodovil e Dener, Elke
vivenciou algo que a marcaria para o restante da vida. Antes de
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caminhar pela Avenida Vieira Souto, num dia qualquer, ela abriu
o armário e viu que tudo o que havia lá eram roupas pretas. Por
um vislumbre, decidiu que, apesar de gostar, usar apenas preto
não dava mais. Esse talvez fosse o prenúncio do nascimento da
“Mulher Maravilha”. Ao usar só preto, Elke passaria despercebida
(Felitti, 2020).
“Peguei uma calça e rasguei toda, botei uma meia roxa,
enchi a cara de batom, desgrenhei o cabelo e fui encontrar uns
amigos” (Felitti, 2020, p. 46). Foi assim que, ao andar pelas
ruas da zona sul do Rio, ela foi vilipendiada por agressores que
não “entendiam” o que ela vestia. “Perguntaram: ‘tá vestida
de palhaço por quê, loirinha?’. Eu mandei tomar no cu” (Felitti,
2020, p. 46). Depois da resposta curta e direta, recebeu um
soco e foi parar no hospital. Seu biógrafo, Chico Felitti (2020, p.
47), adiciona um comentário ao caso: “ela dizia que estava
acostumada a tomar porrada desde criança, então nem ligava”.
Essa situação vivenciada por Elke é exemplar para
pensarmos uma ruptura de performance que é atravessada pela
moda e cujo impacto é balizado por uma dinâmica emocional
das relações sociais. É uma ruptura porque Elke repensa seu
modo de vestir, abandonando a cor preta e dando início àquilo
que viria a ser o seu estilo marcante – logo, constituinte de sua
subjetividade. Porém, ao sair na rua, ela é violentada, porque
seu corpo é lido como estranho. O desprezo e o asco, como
pontuaram alguns autores (Miller, 1997; Rezende; Coelho, 2010;
Ahmed, 2014), funcionam de modo a regular as hierarquias
sociais, classicando e discriminando corpos, discursos e práticas
a partir de uma lente moral.
William Ian Miller (1997) nos lembra que a instauração do
asco se numa via paradoxal, anal, aquilo que causa nojo
tende a nos repelir ao mesmo tempo em que captura a nossa
atenção. Há uma imposição que, de algum modo, nos faz olhar
de novo. O uso dos termos “palhaço” e “loirinha”, na fala de um
agressor, indicia esse desprezo – “loirinha” pode ser um termo
de galanteio, mas também aponta a superioridade de quem
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o enuncia, sobretudo pelo uso do diminutivo, nesta situação,
assim como “palhaço” remete a uma estética do exagero e, de
maneira corrente, é utilizado como um xingamento. Ao revidar,
Elke apanha e tem seu corpo marcado pela violência, como uma
atitude de correção e uma tentativa de demarcação do poder.
Em entrevista ao documentário Elke no país das maravilhas
(2002, 2min22s), ela diz: “Eu não quero ser bonita, eu quero
é chamar a atenção”. Para alguém que estava no sistema
da Moda, essa iniciativa é também disruptiva se pensarmos
na gura da modelo, a intenção é quase sempre que ela
chame menos atenção possível para que possa deixar qualquer
extravagância para a passarela, ou seja, seu corpo ca à serviço
da Moda, enquanto fachada.
Outro acontecimento na vida da artista que indicia essas
rupturas que constituíram Elke Maravilha é o primeiro desle
para um grande estilista, Guilherme Guimarães, no Copacabana
Palace, em 1969:
Depois de uma hora ansiosa, ela tomou uma
decisão que carregaria para a vida. “sabe de
uma coisa? Eu vou ser eu mesma.” Elke
seguiu as instruções: rodou com o vestido e
parou no m da passarela, as mãos na cintura,
encarando as convidadas com o semblante
sério. Depois de uns segundos imóvel, Elke
se rebelou. Mexeu os músculos do rosto e
abriu um sorriso. Gargalhou. Aquilo era uma
revolução. Modelo fazendo cara de vida”, dizia
o colunista social Zózimo Barrozo. E foi assim
que ela percorreu o caminho de volta na
passarela, com um sorriso no rosto. Naquela
época, modelo não sorria. Quando ela abriu a
boca para mostrar os dentes, a plateia abriu a
boca em choque. Elke voltou para o camarim
sem saber direito o que tinha acontecido. “Eu
estava bêbada de adrenalina. lembrava
que uma salva de palmas a encobriu quando
ela voltou para a passarela. (Felitti, 2020, p.
45, grifo nosso).
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Esse trecho faz pensar numa ruptura com performances
do mundo da Moda: abrir um sorriso e, por consequência,
gerar espanto na plateia é uma rebelião com o papel social,
nos termos de Schechner (2017). Elke, pela forma como se
apresentou na passarela, sorrindo, “era ela mesma”, sendo no
aqui-agora da performance. A risada alta e o sorriso, muitas
vezes apresentado por uma boca muito vermelha, tornaram-se
sua marca. Mexendo em arquivos de revistas, é comum encontrar
fotograas de Elke gargalhando com os dentes à mostra; os
títulos remetiam a esse aspecto por operadores como “Elke, o
riso maravilha”6 ou “Elke Maravilha: ‘eu quero morrer de rir’”7,
por exemplo.
O riso corporica a alegria, remetendo a emoções de
satisfação e gozo. Ao agregar o riso à sua performance, Elke se
constrói como uma persona feliz. Esse aspecto condiz com uma
fala recorrente sua: a de que não era uma gura dramática,
mas sim trágica – por isso, raramente chorava, mas pranteava.
O trágico conhece seu destino e se prepara para o irremediável,
por isso reelabora os sofrimentos, transformando a dor em
elemento de sua subjetividade. Aparentemente, Elke fez isso
consigo com maestria.
4.2 Constelação 2: Sacerdotisa dionisíaca
Segundo consta no material de divulgação da exposição
ELKE8, do Centro Cultural Vale Maranhão, Elke tomou consciência
da importância das roupas para a sua expressão quando, aos 12
anos, realizou a crisma. Foi a primeira vez que se viu montada
dos pés à cabeça, com uma roupa diferente das que usualmente
vestia. O vestido foi costurado pela avó da artista o que indicia
uma relação emocional com a roupa, visto que foi confeccionada
especialmente para ela por uma pessoa de seu círculo afetivo.
É simbólico, aliás, que essa sua percepção relativa à
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moda advenha de um acontecimento religioso, anal, a gura
de Elke Maravilha seria constituída, em certa medida, por uma
aura sincrética. Não à toa, a reconhecida psiquiatra Nise da
Silveira chamava Elke de “sacerdotisa dionisíaca”, alcunha algo
paradoxal para dar conta da gura complexa que ela era. Essa
contradição pode se ver também na música composta por Itamar
Assumpção em homenagem a Elke, A apátrida de Itabira, em
que ele a chama, dentre outras coisas, de uma deusa pagã, uma
pedra ogã, orixá do Irã, pomba-gira, Iansã, Iemanjá, bruxa que
fada vira. Além disso, o título do texto curatorial da exposição é
“Elke – sagrada, profana, santa, diaba”.
Esses indícios constroem uma constelação em que o
aspecto religioso e espiritual atua de maneira nuclear, ao ponto
de a própria Elke ser entendida como uma gura sagrada. E, de
tal forma, a construção de sua subjetividade se deu em grande
parte num movimento de sacralizar o profano e profanar o
sagrado. O choque das contradições acaba gerando aqui outra
coisa, como numa proposição dialética. Isso passava pelas
roupas e adereços que vestia por exemplo, uma peça que
mandou fazer a partir da toalha de altar de uma igreja mineira
ou mesmo as imagens de santos e budas que transformava em
colar.
Em entrevista para o documentário Elke (2007), a artista
menciona o encontro com uma pessoa que diz que ela, Elke, não
era nada do que parecia ser, anal, ela era tão extravagante, mas
ao mesmo tempo tão espiritualizada. Elke diz ter respondido que
a pessoa estava enganada e que uma coisa não tinha nada a ver
com a outra. Então, ela recorda de diferentes líderes religiosos e
do quanto as roupas e adereços são centrais na constituição de
sua gura: o papa católico, com suas batinas, mitras e anéis; o
líder dos cristãos ortodoxos, com roupas bordadas e suntuosas;
Dalai Lama e suas longas vestimentas alaranjadas e vermelhas;
os pajés e xamãs, cujos adereços os diferenciam dos demais
na comunidade. Ao citar esses líderes, Elke aponta o quanto as
vestimentas constituem elemento central para a compreensão
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do sagrado, para a construção da referência e para a organização
e performance dos rituais.
Sagrado e profano são coalescentes na elaboração
performática de Elke e talvez a frase que melhor resuma esta
reunião é uma atribuída a Álvaro de Campos, um dos heterônimos
de Fernando Pessoa: “ergo em cada canto de minha alma um
altar a um deus diferente”. Elke tinha em sua casa um quadro com
esta frase, que ela arma ter sido como se feita para descrever
ela própria. Em entrevista, ela arma ser uma politeísta e mostra
a sua casa, preenchida por objetos que, muitas vezes, remetem
a religiosidades múltiplas e sofrem a sua intervenção, como uma
peça de São Jorge matando o dragão, em que ele empunha uma
bandeira LGBTI+.9
Seja para o enfeite corporal, seja para a decoração
doméstica, os objetos aqui ocupam um lugar na composição
performática de Elke Maravilha, ao passo que são reorganizados
e investidos de outro afeto e, portanto, de outros sentidos. Isso
é, aliás, próximo da maneira como Benjamin (2018) concebia
o ato colecionista, que retira a carga funcional do objeto,
deslocando-o para outros campos de signicado. Entendendo,
em consonância com o pensamento de Diana Taylor (2013),
que a performance é uma episteme e, portanto, que pode ser
um modo de conhecer, temos a performance de Elke também
como um caminho que nos leva a conhecer não a ela, mas
as culturas que a constituem. Daí a pluralidade de objetos que
compõem seus adereços, rastros estes de uma subjetividade tão
múltipla quanto complexa.
4.3 Constelação 3: Colar das maravilhas
Em 2013, Elke recebeu a apresentadora Angélica em sua
casa, para uma matéria do programa Estrelas (Rede Globo)10. Ao
entrar no apartamento da artista, Angélica se mostra fascinada
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com o ambiente, cujas paredes vermelhas eram cobertas com
decorações diversas, entre fotograas, quadros, bonecos e
esculturas. A apresentadora aponta para o colar que Elke está
usando: “Isso que você está usando hoje aqui é um Buda. Era
um desses adornos, desses objetos, que você transformou em
um colar. Elke conrma, armando que o objeto cou trinta
anos em sua parede até um dia ela resolver transformá-lo em
um colar. Elke complementa dizendo: “Meu corpo é a minha
casa”.
O corpo é central em diferentes perspectivas teórico-
epistêmicas, por ser um lugar de inscrições múltiplas, de
investimento de sentido e de ação. A performance se efetiva no,
pelo e através do corpo, bem como as emoções, embora culturais,
se expressam e são experimentadas corporalmente. Daí a ideia
de que as emoções são corporicadas. Ao dizer que seu corpo é
sua casa, Elke indica, de certa forma, um motivo para cuidá-lo
e enfeitá-lo, anal, a casa é um signo de intimidade e proteção,
que deve ser preservado. Ademais, ao retirar um objeto de
decoração de sua parede para torná-lo adereço corporal, ela
mostra que corpo e casa se confundem e não podem e nem
precisam ser lidos de maneira apartada.
Naquele mesmo ano, Elke participou do programa de
entrevistas De Frente com Gabi (SBT)11. Na ocasião, foi também
questionada pela apresentadora Marília Gabriela (Gabi) sobre o
colar que usava. Pela singularidade do adereço, Gabi mal soube
como nomeá-lo. Elke aponta elemento por elemento do adereço
e responde: “É um colar do meu jeito, né. Isso aqui é uma
homenagem a minha avó. Esse eu comprei na Coréia [apontando
para um rosto de madeira que ocupa o centro do adereço]. Isso
aqui na Liberdade [apontando para os elos com formato de ovos
pintados]. [Esse] aqui na Grécia. Minha avó gostava de pintar
ovos, ela era, sabe... então, esse vai ser pra vovó”.
Na entrevista com Angélica, os colares de Elke são
tematizados e ela mostra à apresentadora um colar que estava
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produzindo quarenta anos. Ela brinca: “tem até uma chave
de cemitério”. Embora cause surpresa na apresentadora, que
ri, Elke fala a verdade. Aliás, esse objeto é também mote da
abertura de um texto de Roberto Kaz (2008, on-line), publicado
na revista piauí:
Elke Maravilha carrega no pescoço a chave de
um cemitério, e não se trata de linguagem
gurada. A chave é real e o cemitério existe.
‘É o de Colatina, no Espírito Santo. tenho
onde cair morta’, ela conta. É sempre uma
preocupação a menos.
Composto por uma corrente de prata e cujo primeiro
adereço foi uma mãozinha fazendo ga, o colar biográco de
Elke tem, entre outras tantas coisas: medalhas da Grécia e do
Nepal; brincos trazidos de Israel e do Egito; uma garra de onça,
presente de um indígena; moedas indianas; um símbolo da
cabala; uma imagem da Virgem; uma de bolo herdada da
mãe; um símbolo da maçonaria, por conta do pai; miniaturas
de animais; muitos peixes; pedaço de osso; pata de águia
empalhada; broches; anjo de asa quebrada etc.
Os colares de Elke especialmente esse seu colar biográco
urdido há décadas – corroboram a ideia já defendida por outros
autores (Appadurai, 2008; Douglas; Isherwood, 2004) de que o
signicado dos objetos é contextual e atribuído pelas pessoas a
partir de seus usos e apropriações. Nessa perspectiva, a noção
de consumo se desloca de uma ideia meramente econômica
ou mesmo moralizante – e passa a ser interpretado a partir das
relações sociais que se instituem através dos objetos.
Os elementos que compõem o colar de Elke advêm de
diferentes lugares, ganhando novo signicado quando incluídos
como adereços. Cada um deles carrega uma história, que se
entrelaça a outras tantas no momento em que Elke tece suas
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memórias. Logo, o consumo desses bens é ritualizado (Douglas;
Isherwood, 2004) e o colar funciona como uma narrativa que não
se constrói por palavras, mas pela justaposição dos elementos.
Demonstra, assim, como a cultura material é importante para a
compreensão, não apenas de um povo, mas também de histórias
particulares, como dessa gura midiática.
Ademais, o colar não deixa de ser um elemento de memória
importante e disparador narrativo, anal, embora compreendido
de maneira individual, convoca uma explicação – Elke conta o
que signica cada elemento através da rememoração narrativa.
Da mesma forma, o colar é um disparador emotivo, anal,
existe porque sentimentos foram investidos em sua concepção
e elaboração. Aliás, Elke dizia que a elaboração do colar teria
m quando morresse, mas que não pretendia ser enterrada
com ele, o que aponta que o objeto continuaria em circulação,
sendo reinvestido de sentidos a partir de suas novas/possíveis
trajetórias.
4.4 Constelação 4: Elke no país do artifício
Se nas ruas Elke havia sido agredida pelo seu visual, nas
passarelas despertava curiosidade. Sentidos de originalidade,
singularidade e autenticidade interessavam ao sistema da Moda.
A partir de seu lugar de autoridade simbólica e de atribuição
sobre o que é vanguarda e tendência mercadológica, estilistas
exploravam o que, de certa forma, gerava estranheza, mas ao
mesmo tempo evocava a imagem de alguém que era aquilo que
exibia, não apenas vestia ou apresentava.
O estilo próprio de Elke trouxe mais do que
agressões. A mesma performance que ela
fez no desle de Guilherme Guimarães, em
que mostrou as roupas gargalhando, cativou
outros criadores. Os estilistas aproveitavam
o personagem exótico de Elke. Ela era
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modelo de si mesma. [...] A partir de 1971,
ela adotou o hábito de perguntar o que o
estilista queria que ela zesse na passarela.
Se a ideia era deslar séria, ou com cara de
fome, como ela falava, nada feito. Chegava
a recusar convites para desles, se a
roupa não conversasse com seu estilo
ou se a marca exigisse uma atitude sisuda
na passarela. “eu falava: ‘Ah, meu amor. Mas
isso várias outras fazem. Chame uma delas’”.
(Felitti, 2020, p. 47, grifo nosso).
A postura crítica de Elke diante da maneira como o sistema
da Moda esperava algum tipo de performance pode dar a
impressão de que ela não aderia a comportamentos ensaiados.
Schechner (2003; 2017) alerta que mesmo uma performance
de vanguarda, disruptiva, tem como base outras performances
sociais – comportamentos observados em outros espaços e
contextos. Orientada por um sentido de originalidade, parece
que Elke performava uma mescla de tudo o que acreditava ser
ela mesma. O ser, aí, era o performar – ou vice-versa. A moda
era o que mediava essa elaboração de si.
A estética de Elke se resume a uma regra:
mais é mais. Quanto maior fosse a peruca,
mais alta fosse a bota e mais aparente fosse
a maquiagem, melhor. “Eu quero aparecer
e não vou ngir que não quero”, ela
explicava. “No dia em que eu não chamar
mais atenção, eu prero morrer”. (Felitti,
2020, p. 96, grifo nosso).
A condição de visibilidade que Elke conquistava à medida
que sua carreira avançava era intrínseca à forma pela qual
encarava a própria vida. O modo como se expunha, pela Moda,
acabava mobilizando leituras exóticas sobre ela. Inclusive,
midiaticamente, muitas entradas se deram via essa leitura de
excentricidade e extravagância, o que, por efeito de sentido,
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a colocava inclusive num lugar de estrangeira, anal, Elke não
ocupava um lugar-comum.
Foi assim que Elke Maravilha passou a se apresentar em
programas de auditório, como de Chacrinha e depois de Silvio
Santos. Tornou-se nacionalmente conhecida e seu carisma lhe
garantiu a afeição do público. Vejamos o que diz Elias dos Santos
(2014, p. 110-111, grifo nosso), em análise sobre a performance
de Elke no programa de Chacrinha:
Em termos simbólicos, a força da performance (corpo
e voz) de Elke Maravilha nos remete a um “Chacrinha
de saias”: apresenta-se fantasiada e fortemente
maquiada como uma vedete de teatro de revista
ou uma artista de circo, tem personalidade,
presença de espírito e de palco, senso de humor,
perspicácia e liderança, simboliza um tropicalismo
fruto da mistura da sua origem europeia com sua
paixão pelo Brasil, é sempre ovacionada pela plateia
e faz questão de colocar-se de quando vai falar
algo, tem liberdade e iniciativa de beijar o Chacrinha
inclusive deixando sua marca de batom praticamente
incorporada à imagem do Velho Guerreiro. Esta marca
de batom é tão forte que cou incorporada no cenário
xo do programa (cabeça gigante do Chacrinha que
aparece no início e m de todos os programas e faz
parte do cenário). Elke tem um papel importante
no programa, devido à sua carreira artística, à sua
maturidade, à sua voz forte e ao seu corpanzil.
A partir dessa descrição, inferimos que os atos
performáticos de Elke se constituem também por ela integrar
o circuito midiático. Mais especicamente, o circuito televisivo,
cuja estética tecnicolor demanda uma efusão colorida ainda
mais em programas de auditório, que emulavam circos e nos
quais a xação da atenção é garantida pela oferta contínua
de estímulos. Nesse sentido, Elke realmente funcionava como
um contraponto ao apresentador Chacrinha, não só por sua
performance no palco ao cantar e dançar, mas pelos vínculos
que criava com o público. Era a jurada “boazinha”, que sempre
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dava nota dez aos calouros e que se comunicava de modo
afetuoso com o público – que respondia à altura, efusivamente.
Uma relação emocional que se mantinha graças ao manejo de
um meio discursivo midiático – a televisão.
Sua presença no programa, bem como a sua atitude nas
passarelas, garantiram a Elke autenticidade. Cremos aliás –
reforçando as contradições em Elke que essa autenticidade
era reforçada pelo articialismo estético. A maquiagem
extravagante, as roupas volumosas, os sapatos enormes e cheios
de brilho, as perucas chamativas, os adereços diversos – um
elogio ao artifício que sustenta a singularidade de sua imagem.
Lembremos aqui do que Denilson Lopes (2016, p. 3) fala acerca
do artifício, enquanto uma “categoria conceitual sócio-histórica,
estética e articuladora de diferentes produtos culturais”: longe
de ser “uma simples oposição à realidade”, o artifício deve ser
pensado “como um dissolvente da dualidade real versus irreal”.
Nesse sentido, o artifício é uma categoria possível
para pensar a fabricação performática de Elke Maravilha.
A compreensão da gura de Elke se nesse limiar entre a
percepção sensível e os esquemas de inteligibilidade que nos
coloca em um estado de suspeição e fascínio. Numa entrevista
concedida para um grupo de estudantes da ‘TV Univercidade’
(Elke, 2022), a primeira pergunta feita por uma aluna à Elke
foi sobre o seu cotidiano: “Você acorda e se embeleza toda
assim, ou ca de chinelo?”. Elke diz que jamais usava chinelo.
Ou usava botas, ou cava descalça.
Eu nunca fui uma pessoa igual a todo mun-
do, eu nasci diferente. Isso aqui não é uma
fantasia, é a minha realidade. Fantasia é
o que: “ah, agora quero me vestir disso no
Carnaval, porque é o que eu não sou. Agora
quero me vestir de chinês. Agora quero ser
baiana”. Não é o meu caso, eu sou desse
jeito. (6min30s, grifo nosso).
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Para ela, esse era o seu modo de ser, o que a faz evidenciar,
pela fala, que não se coloca numa posição de objeto fantasioso
– sobre-humano, irreal, ilusório –, mas de representação do
real, de si. Isto é, os excessos performáticos elaborados pelo
artifício rearmam o real, não o denegam. É interessante, aliás,
notar a curiosidade da aluna pelo cotidiano de Elke, que parece
ser despertada por um tipo de leitura que não compreendia
esse corpo e, portanto, o atribuía a um lugar incomum. Talvez
houvesse imbuída nessa pergunta uma tentativa de compreender
o que existiria por trás da “fachada” performática. Contudo, Elke
relata que não só acessava, mas principalmente produzia o que
acreditava ser seu verdadeiro eu, pela forma como adornava e
expunha o corpo.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em uma pesquisa sobre o sistema de dádivas (trocas e
reciprocidades), Maria Claudia Coelho (2006, p. 43) conta a
história de uma interlocutora que cou irritada ao receber de
uma amiga um presente indesejado: “Quando eu abri, era um
brinco, que você não podia imaginar, eu acho que começava na
orelha e devia acabar no peito. Pendurado, entendeu, uma coisa
assim, bem colorida, bem tchan, tipo assim, Elke Maravilha [...]”.
A mulher se sentiu insultada, porque, através das características
do objeto, entendeu que a amiga a interpretava como exagerada.
A situação descrita pela antropóloga chama a nossa
atenção aqui por um aspecto: segundo a interlocutora, “só Elke
Maravilha poderia usar um brinco desses”. Embora o brinco fosse
um insulto para ela, a armação demarca um lugar para Elke
no imaginário social e cultural: uma referência para o exagero.
“Só Elke poderia usar” indicia uma singularidade, porquanto sua
imitação remeteria à gura de Elke. E é por ter essa singularidade
tão demarcada que a gura de Elke nos convoca à reexão.
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Neste texto, buscamos evidenciar esses traços da
autenticidade de Elke Maravilha, cuja elaboração subjetiva
se por atos performáticos que remetem a um conjunto
de congurações emocionais. Partimos de uma pesquisa de
caráter indiciário, seguindo pistas deixadas em diferentes
materialidades, de modo a cartografar essas performances em
arquivo para usar os termos de Taylor (2013). Recuperamos
o que de Elke ainda sobrevive nas fotograas, nos vídeos, nas
entrevistas, nos textos sobre ela, na fala de quem a conheceu.
Esses vestígios nos ajudam a reconstruir e a compreender a
performance. De acordo com Schechner (2017) e em diálogo
com Taylor a performance não mais se restringe ao aqui-agora
de sua produção, mas se mantém em permanência ao passo
que é levada adiante, em que é armazenada – seja na memória
coletiva, seja nos arquivos das gravações. É o que ele chama de
performance em aftermath.
As coleções que criamos acerca de Elke encaminharam a
construção de quatro constelações, nas quais demarcamos certos
traços de denotam tal singularidade: a estética do exagero, que
tanto fascina quanto repele; as relações entre o sagrado e o
profano; a memória armazenada nos adereços; a autenticidade
construída pelo artifício. Tal leitura foi feita com acionamentos
teóricos que articulam a performance e as emoções categorias
não estáveis, mas exíveis como o próprio objeto analisado.
A pesquisa captura uma imagem de Elke Maravilha, ao
mesmo tempo que deixa em aberto lacunas que direcionam para
trajetos possíveis, anal, como uma gura midiática exemplar,
Elke é tão complexa quanto múltipla. Percebemos, por m,
que os vestígios demonstram que Elke Maravilha, falecida em
2016, ainda sobrevive12, não só nos arquivos a que ainda temos
acesso, mas também no repertório cultural e midiático (Taylor,
2013) nos rastros performáticos das drag queens, nos sorrisos
que as modelos hoje expõem nas passarelas, nos jurados que
ainda persistem em programas de auditórios, nas interações
jocosas de artistas que brincam com a plateia, nas gargalhadas
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daqueles que ainda acreditam que mais é sempre mais.
AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordena-
ção de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil
(CAPES) - Código de Financiamento 001.
Notas de m de texto
¹ Expressão utilizada pelo jornalista Paulo Cesar Pereio, durante uma entre-
vista com Elke, transmitida em 2007 pelo Canal Brasil. Disponível em: <ht-
tps://www.youtube.com/watch?v=QcHvzQUeKnE&t=1022s>. Acesso em:
10 mar. 2023. Aliás, o título deste artigo, que também remete a essa ideia,
é uma fala da própria Elke no documentário Elke (2007), de Julia Rezende.
² Os dois primeiros parágrafos foram elaborados com base em Felitti (2021).
3 “Eu não compro roupa, eu faço em casa” (ELKE, 2016, 6min 55s).
4 Realizamos uma pesquisa no Portal de Periódicos da Capes, na Biblioteca
Digital de Teses e Dissertações e na plataforma Scielo. Nos três, o descritor
“Elke Maravilha” não retornou nenhum resultado. Na busca realizada no Goo-
gle Acadêmico, retornaram 336 resultados.
5 Para ver mais sobre a cartograa benjaminiana e a proposição destas três
sensibilidades investigativas, ver texto de Dias (2022).
6 ‘Elke, o riso maravilha’. Manchete, RJ, 1973. Disponível em: < https://bit.
ly/3Kl5Kl2>. Acesso em: 31 jul. 2023.
7 “Elke Maravilha: ‘eu quero morrer de rir’”. Manchete, RJ, 1978. Disponível
em: <https://bit.ly/3DzoJEA>. Acesso em: 31 jul. 2023.
8 ELKE. Instituto Cultural Vale. Disponível no link a seguir: <https://ccv-ma.
org.br/programacao/exposicoes/e-l-k-e>. Acesso em: 31 de jul. 2023.
9 “Elke Maravilha mostra sua coleção de bonecos e esculturas”. Publicado
pelo canal Quem. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=_
NBdHehSjyE>. Acesso em: 31 jul. 2023.
10 “Elke Maravilha e Angélica /Estrelas 2013”. Publicado pelo canal Super!.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=82eZEY0kNYU>. Aces-
so em: 31 jul. 2023.
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11 “De frente com Gabi (22/09/13) - Elke Maravilha – Parte 1”. Publicado pelo
canal SBT. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=HBShPTj-
dbp4>. Acesso em: 31 jul. 2023.
12 Elke permanece no imaginário social e na moda. Exemplo disso foram
as homenagens que seus amigos, os estilistas Walério Araújo e Dudu Ber-
tholini, zeram a ela no Baile da Vogue de 2017 e 2018, respectivamente.
Ambos vestiram gurinos que eram de Elke. Dudu, inclusive, foi usando os
“anéis de sol e de lua” da artista, que guarda consigo, embora não se sinta
o dono dos objetos, mas sim “guardião de um patrimônio cultural brasileiro”,
como armou em entrevista ao programa Casa GNT em 2021. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=WDXWIaGlkkM>. Acesso em: 25
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Dossiê – Moda e Emoções na Cultura do Consumo
V.17, N.41 — 2024
DOI: http://dx.doi.org/10.5965/1982615x17412024016 E-ISSN 1982-615x
ModaPalavra, Florianópolis, V. 17, N. 41, p. 16-74, jan/jun. 2024
“Why can’t I make myself a work of art?”: emotional
elaborations in Elke Maravilha’s performances
Marlon Santa Maria Dias
PhD, Universidade Comunitária da Região de Chapecó / marlon.smdias@gmail.com
Orcid: 0000-0002-0175-9217/ http://lattes.cnpq.br/0609735637044237
Rodrigo Duarte Bueno de Godoi
Master, Universidade do Vale do Rio dos Sinos / rodrigodurt@gmail.com
Orcid: 0000-0001-9846-8557/ http://lattes.cnpq.br/1370259390341368
Enviado: 07/31/2023 / Aceito: 11/03/2023
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“Why can’t I make myself a work of art?”:
emotional elaborations in Elke Maravilha’s
performances
ABSTRACT
In this text, we investigate intersections between fashion, emotions,
consumption, and performance from media materials collected about
the life of Elke Maravilha. German, she arrived in Brazil at the age of six
and had a meteoric career, from runway fashion shows to television.
A celebrity established in the media scene, Elke drew attention on the
runways for her unique style and the way she presented herself in
fashion shows. On TV, she was a judge on talent shows and had her
own talkshow. The article is methodologically oriented by cartographic
studies. We produced, from the constituent sensibilities of Walter
Benjamin’s cartographies, four constellations: 1) I want to draw
attention; 2) Dionysian priestess; 3) necklace of wonders; 4) Elke in
the articial land. By investigating Elke’s aesthetic and performative
dimension, we understand that the way clothes and props were used
enabled an elaboration of the self and communicative expression.
Keywords: Fashion. Emotions. Cartograph.
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“Por que não posso fazer de mim uma obra
de arte?”: elaborações emocionais nas
performances de Elke Maravilha
RESUMO
Investigamos neste texto intersecções entre moda, emoções, consumo
e performance a partir de materiais midiáticos coletados sobre a vida
de Elke Maravilha. Alemã, a artista chegou ao Brasil aos seis anos
de idade e teve uma carreira meteórica, das passarelas à televisão.
Celebridade constituída na cena midiática, Elke chamava a atenção nas
passarelas pelo seu estilo único e pelo modo como se apresentava em
desles. Na TV, foi jurada de programas de calouros e teve seu próprio
programa. Orientados metodologicamente pelos estudos cartográcos,
produzimos, a partir de sensibilidades constituintes das cartograas
benjaminianas, quatro constelações: 1) eu quero é chamar a atenção;
2) sacerdotisa dionisíaca; 3) colar das maravilhas; 4) Elke no país do
artifício. Ao investigar a dimensão estética e performática de Elke,
compreendemos que a maneira como roupas e adereços eram usados
possibilitavam uma elaboração de si e expressão comunicativa.
Palavras-chave: Moda. Emoções. Cartograa.
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“¿Por qué no puedo hacerme una obra de
arte?”: elaboraciones emocionales en las
performances de Elke Maravilha
RESUMEN
En este texto, investigamos las intersecciones entre moda, emociones,
consumo y performance a partir de materiales mediáticos recopilados
sobre la vida de Elke Maravilha. Alemán, llegó a Brasil a los seis
años y tuvo una carrera meteórica, desde las pasarelas hasta la
televisión. Una celebridad establecida en la escena de los medios,
Elke llamó la atención en las pasarelas por su estilo único y la forma
en que se presentaba en los desles de moda. En la televisión, fue
jueza en shows de talentos y tenía su propio talkshow. Orientados
metodológicamente por los estudios cartográcos, elaboramos, a
partir de las sensibilidades constitutivas de las cartografías de Walter
Benjamin, cuatro constelaciones: 1) quiero llamar la atención; 2)
sacerdotisa dionisíaca; 3) collar de maravillas; 4) Elke en la tierra del
articio. Al indagar en la dimensión estética y performativa de Elke,
entendemos que la forma en que se utilizaron las vestimentas y los
accesorios permitieron una elaboración de sí mismo y la expresión
comunicativa.
Palabras clave: Moda. Emociones. Cartografía.
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1. INTRODUCTION
Elke Grünupp was born in Germany, on February 22,
1945, months before the end of World War II. Although she
always said in interviews that she was Russian, her brothers
account and documents prove that she was born in Leutkirch,
and not in Saint Petersburg. At six years old, she arrived in
Brazil, with her eeing family. With the end of the war, her father
was considered a traitor to the Russian homeland. George and
Liezelotte, her parents, decided that they did not want to live in
the south of the country, next to other European colonies, but
rather in a “real Brazil”. It was in Minas Gerais that Elke grew up,
more specically in the Itabira region, east of the state capital.
Decades later, Elke lost her last name and became known
as “Wonder Woman.This change in identication was largely due
to what made her truly Elke: the way in which she constituted,
through what adorned her body, a walking “work of art”1. A
successful model in her youth, she was perhaps one of the rst
to smile on the runaways. Her body’s performance, which served
the greatest fashion designers of the time, attracted attention
due to its irreverence. On television, she worked with Chacrinha
and Silvio Santos, in addition to having her own interview
program, the talkshow Elke2.
Elke’s media biography is crossed by her unique aesthetic:
for the model and tv host, more was always more, and she
said: “I like exaggeration, I like a lot” (Elke, 2016, 8min05s).
However, the props and ornaments were not mere pieces chosen
at random, but rather designed one by one by Elke3 herself and
often invested with meanings that told a personal story.
Starting from this introductory opening, this text aims
to investigate the intersections between fashion, emotions
and performance, based on various media materials (videos,
photos, biographies, newspaper clippings, virtual museum, etc.)
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about the life of Elke Maravilha, celebrity recognized not only in
the fashion world, but also with wide social visibility on Brazil.
We think that Elke’s public elaboration makes us reect on the
way in which self-performances trigger the subjective eld of
emotions based on the way they are constituted (and presented)
by clothing.
This research is methodologically guided by cartography
guidelines, especially based on the recommendations of Walter
Benjamin (2018). This orientation is articulated with theoretical
approaches from the eld of anthropology of emotions and
consumption. In this sense, we try to think, based on material
culture, about the different emotions triggered by the gesture
of getting dressed, and how these emotions relate to different
moments in Elke’s life and career.
In the search for other texts that have already analytically
explored the gure of Elke Maravilha, we were surprised by the
scarcity of materials4. In general, her name appears in academic
works in a tangential and punctual manner. She is mentioned in
analyzes focused on the life of designer Zuzu Angel, a friend of
hers; in lm analyzes referring to the movies she participated
in as an actress or even about Zuzu’s biopic; in texts about the
impositions of motherhood – Elke had already mentioned that
she was not born to be a mother and, therefore, had abortions
or about her stateless condition and; in research on Chacrinha
programs or the Brazilian musical group Dzi Croquettes. In
other words, Elke is mentioned, but almost never analyzed. Of
the hundreds of texts found, only one of them actually deals
with the analysis of his gure: a report by Pedro de Azevedo
Vasconcellos (2018) on the making of his documentary, ELKE
‘72, which addresses Elke’s arrest, in 1972, by the military
dictatorial regime.
However, there were several mentions of her name in
research on gender and sexual studies, especially on drag art.
In general, these texts argue that, even though she was a
cisgender and heterosexual woman, Elke acted as a producer of
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gay culture (Bortolozzi; Areda, 2017), by being an inspiration and
artistic reference, by playing with the boundaries of masculine
and feminine and by presenting herself extravagantly. Thus, she
would be a precursor of drag art in Brazil (Gomes, 2019; Souza;
Ferreira; Merkle, 2017).
Faced with such an academic gap and, at the same time,
instigated by this current relationship between Elke and drag
art, we explore this media gure in the light of theories that
intersect the performances of the self and the elaboration of
emotions in fashion consumption. In the following, we present
the methodology.
2. CARTOGRAPHY AS A METHOD
When cartography its a subject of debate, it is usually
related to meanings of its etymological origin: the writing of a
geographical chart, that is, a map. It is also true that, in recent
decades, the notion of cartography has expanded and been
appropriated by different areas, beyond geographic sciences.
Social and human sciences, in general, have appropriated
cartography as a method and, in Communication, more
specically, there is a notable emergence although cartography
cannot be restricted to a single theoretical-methodological
perspective (Rosário; Coruja; Segabinazzi, 2021).
In this text, we undertake cartography inspired by Walter
Benjamin’s conceptual project. Although the German critic never
formally systematized cartography as a methodological procedure,
his work offers clues for the elaboration of cartographic work,
operationalized from an affective and intellectual geography. The
fragmentary look of the Benjaminian method draws our attention,
“[...] not because it renounces totality, but because it seeks it
in almost invisible details” (Sarlo, 2015, p. 35). Therefore, what
guides us here is not the search for a set of recurrences to attest
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to something, but rather a more microscopic look at fragments
that reveal aspects that illuminate the proposed questions.
When discussing the transformations of modernity,
Benjamin dealt with a mental dimension for him, societal
changes were cognitive, sensorial, emotional and aesthetic. The
term aesthetics here moves away from a conception linked to the
beautiful and the sublime in direction to a sensorial experience –
therefore, of a sensitive nature, such as an embodied emotion.
With these objectives, we operate three constituent
sensibilities of Benjaminian cartography: wandering, collection
and constellation (Dias, 2022). In his unnished The Arcades
Project, Benjamin (2018) elaborated the idea of wandering
through the streets of the city as a posture of sensorial openness
and appropriation based on what is experienced. In the same work,
the gure of the collector appears very close to an imaginative
action, in which the collected object is disconnected from its
primitive functions and some type of relationship is produced
with what is, in some way, similar. The constellation appears
as a metaphor for a thinking strategy, that is, of approximation
and dialectical tension between images, which trigger thought-
images arising from the shock5.
These sensibilities constitute our investigative stance when
observing the Elke phenomenon. Firstly, we wandered through a
huge set of materials, collected mainly in the digital environment,
but also in physical archives. This is why the corpus of this
research is varied in nature. One could not understand Elke’s
gure considering just one type of material. From this starting
point, we begin the organization: collecting is not just gathering
materials, but above all organizing and investing meaning on
the materials. The next step was to constellate, that is, to
understand how Elke’s images forge her gure, using emotions
and performance as lenses. In such a way, the collections
produced are guided by the perception that clothes, props, wigs
and ornaments are mechanisms for the elaboration of Elke’s own
subjectivity, to the extent that from this performative dimension
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it is possible to express and produce emotions.
3. EMOTIONS AND PERFORMANCES
In the classic text The obligatory expression of feelings,
published in 1921, Marcel Mauss (1979) argues that emotions
are constituted as language. When analyzing a funeral ritual, the
author realizes that the manifestations of feelings correspond
to collective cultural codes, intelligible to the social group that
performs them. This seminal study offers an understanding that
still seems valid to us: emotions are language and therefore are
also social. Now, as a symbolic experience, the expression of an
emotion needs to make sense to the other person.
If emotions are social, it follows that they cannot be
considered universal entities attributed with any transcultural
essence. Therefore, we have that emotions are contextual and
they must be interpreted as speeches in context. This perspective
is derived from the propositions of Lila Abu-Lughod and Catherine
Lutz (1990), who consider emotions as productive discourses
inspired by Foucault’s notion of discourse. Thus, the study needs
to be relative to emotions’ context of enunciation.
The contextualist perspective denies dichotomies such
as reason/emotion and mind/body, as it understands that such
separations hide the complexities that constitute the study of
emotions. In this sense, it is understood that emotions have a
micropolitical capacity, which refers to “[...] their potential to
dramatize/change/reinforce the macrosocial dimension in which
emotions are raised and experienced” (Rezende; Coelho, 2010,
p. 15). It means, therefore, that there is a performative and
pragmatic dimension to emotions – because they are formed
and performed in different social contexts and because they
refer to a social action with effects on the world.
Of the multiple ways of manifesting themselves, emotions
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nd a fruitful place of inscription in bodily practices. It is
through the body that we express and experience emotions and
it is through it that we develop different ways of constituting
subjectivity. Therefore, it seems intriguing to us to think about
the expression of emotions through fashion, understanding it as
a multifaceted set of ornaments, accessories and clothing that,
invested with particular meanings, reveal emotional constructs.
Elke Maravilha presents herself as an exemplary media
gure to think about these emotional congurations for two
reasons. First of all, because she constituted herself in the media
scene, considering the premises that characterize a celebrity, a
key gure in contemporary societies: “It says of someone who
becomes known by many people, recognized for what it is or it
does, worshiped as a certain exceptionality worthy of admiration
and reverence” (França, 2014, p. 19). Unlike many celebrities
who t into types, in order to remain on the media scene for
longer, Elke created her gure by moving away from the fashion
model and TV host to build a truly unique persona.
The second aspect concerns the way in which this Elke
persona was constituted through the way she expressed herself
bodily: clothes considered extravagant, overlapping accessories,
different wigs, heavy makeup. She avoids fashion guidelines as
a normative and prescriptive system to create her own fashion,
which highlights Elke’s way of being. It cannot be said that this
construction was unreective, after all, the entire consumption
process is invested with a symbolic and cultural character that
reveals the subjective experience. Therefore, we think about
these issues through the notion of performance.
Performance Studies has considered, for a long time now,
the subjectivities that are produced both from the materiality of
the body and from the adornments that adorn the bodies, and
which, through citational practice, produce social performativities
(Butler, 2020). John Cowart Dawsey (2011) informs us that the
performative turn in social sciences resulted in two main aspects.
One, of special interest to anthropology, with a “dramatist”
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approach to social life, and the other, derived from linguistic
studies and more focused on ethnographic analyzes of speech
and social narratives. This paradigmatic change broke with
structuralism and valued the observation of how “[...] the body’s
senses are mobilized for the meaning of the world” (Dawsey,
2011, p. 210).
We use a more anthropological perspective here, based on
Richard Schechner (2003; 2010; 2015; 2017), considered, along
with Victor Turner, one of the precursors of this eld of research.
Throughout his intellectual production, Schechner proposes
the understanding of performances as “restored behaviors”,
which means that they are behaviors, to some degree, socially
recognizable and experienceable, as they are reproduced.
Therefore, “[...] they mark identities, bend time, reshape and
adorn the body, and tell stories” (Schechner, 2017, p. 28).
This perspective expands the theatrical meaning commonly
attributed to the term ‘performance’. Understands that everyday
life is made up of portions of cultural behaviors, learned and
reproduced, varying in circumstances, contexts and developed
social roles. These are physical, verbal or virtual actions, prepared
and rehearsed, because they do not “happen” for the rst time.
Schechner (2017) understands that, for the most part, people
experience tension between acceptance and rebellion in relation
to social roles learned since childhood.
Elke’s performances seem to highlight this tension: a
model who smiled on the runaways, a TV host who did not
follow a script, an artist who “didn’t consider herself an actress”,
but acted (Elke, 2022). The displacement of certain behaviors,
codes and practices generated strangeness, but at the same
time they were ways of exposing subjectivities and constituting
oneself bodily. Based on these theoretical guidelines, we sought
to recognize, through observations of reference materials, some
of Elke’s performances and above all the way they were given
through clothes, ornaments, makeup, accessories, modes of
speech and expression.
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4. ANALYSES
We propose in this text, by being inspired by Benjamin’s
work, that it is possible to think with images, which means to
produce a thought through images. This is, in fact, a recurring
notion in the German critic’s work: dream images, dialectical
images, images of thought and images of stars (constellation).
From our wanderings, we produced collections that guided
constellation thinking. In this sense, Figure 1 presents what we
call here the Elke Synthesis Constellation, which encompasses
images that, in contact, help us think and analyze this media
gure. As it will be possible to see in the analysis that follows,
based on the illumination brought by the images, the objective is
to understand, after all, how fashion and emotions are articulated
in the performative elaboration of Elke Maravilha.
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Figura 1. Elke Constellation-synthesis
Source: produced by the authors from various media materials.
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4.1 Constellation 1: “I want to attract attention”
In her rsts successful years in the fashion world, when
she had already modeled for Zuzu Angel, Clodovil and Dener,
Elke experienced something that would mark her for the rest
of her life. Before walking along Vieira Souto Avenue, on any
day, she opened her closet and saw that she had a lot of black
clothes. For a glimpse, she decided that, although she liked it,
wearing only black was no longer possible. This was perhaps
the harbinger of the birth of “Wonder Woman”. By wearing only
black, Elke would go unnoticed (Felitti, 2020).
“I took a pair of pants and ripped them all apart, put on a
purple sock, covered my face with lipstick, messed up my hair
and went to meet some friends” (Felitti, 2020, p. 46). That’s
how, when walking through the streets of the south zone of Rio
de Janeiro, she was vilied by attackers who didn’t “understand”
what she was wearing. “They asked: ‘why are you dressed as a
clown, blonde girl?’. I said them ‘go fuck yourself’” (Felitti, 2020,
p. 46). After the short and direct answer, she was punched and
ended up in the hospital. Her biographer, Chico Felitti (2020, p.
47), adds a comment to the case: “she said she was used to
being beaten since she was a child, so she didn’t care.
This situation experienced by Elke is exemplary for us
to think about a rupture in performance that is crossed by
fashion and whose impact is marked by an emotional dynamic
of social relations. It is a rupture because Elke rethinks her
way of dressing, abandoning the color black and initiating what
would become her striking style therefore, a constituent of her
subjectivity. However, when she goes out on the street, she is
assaulted, because her body is seen as strange. As some authors
have already pointed out (Miller, 1997; Rezende; Coelho, 2010;
Ahmed, 2014), contempt and disgust function to regulate social
hierarchies, classifying and discriminating bodies, discourses
and practices from a moral lens.
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William Ian Miller (1997) reminds us that the onset of
disgust occurs in a paradoxical way, after all, what causes disgust
tends to repel us at the same time that it captures our attention.
There is an imposition that, in some way, makes us look again.
The use of the terms “clown” and “blonde girl”, in the speech of
an aggressor, indicates this contempt – “blonde girl” may be a
term of irtation, but it also points to the superiority of whoever
utters it, especially due to the use of the diminutive, in this
situation, just as “clown” refers to an aesthetic of exaggeration
and, commonly, is used as an insult. When Elke ghts back, he
is beaten and his body is marked by violence, as an attitude of
correction and an attempt to demarcate power.
In an interview with the documentary Elke in Wonderland
(2002, 2min22s), she says: “I don’t want to be beautiful, I
want to attract attention”. For someone who was already in the
Fashion system, this initiative is also disruptive if we think
about the model’s gure, the intention is almost always for her
to attract as little attention as possible so that she can leave any
extravagance for the runaway, in other words, her body remains
at the service of Fashion, as a frontstage.
Another event in the artist’s life that indicates these
ruptures that constituted Elke Maravilha is the rst fashion show
for a great designer, Guilherme Guimarães, at the Copacabana
Palace Hotel, in 1969:
After an anxious hour, she decided that she would carry
with her for the rest of her life. You know what? I’m
going to be myself.Elke followed the instructions:
she walked around in the dress and stopped at the end
of the runaway, hands on her hips, facing the guests
with a serious face. After a few seconds motionless,
Elke rebelled. She moved the muscles in her face and
smiled. She laughed. “That was a revolution. Model
looking good”, said social columnist Zózimo Barrozo.
And thats how she walked back down the runaway,
with a smile on her face. At that time, models didn’t
smile. When she opened her mouth to show her teeth,
the audience opened their mouths in shock. Elke
returned to the dressing room without really knowing
what had happened. “I was drunk on adrenaline.” She
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only remembered that a round of applause greeted
her when she returned to the runaway. (Felitti, 2020,
p. 45, emphasis added).
This excerpt makes us think about a break with performances
in the world of Fashion: a smile and, consequently, generating
astonishment in the audience – is a rebellion with social role, in
Schechner’s terms (2017). Elke, the way she presented herself
on the runaway, smiling, “was herself, being in the here-
and-now of the performance. Her loud laugh and smile, often
presented by a very red mouth, became her trademark. Going
through magazine archives, it is common to nd photographs of
Elke laughing with her teeth showing; the titles referred to this
aspect through operators such as “Elke, the wonderful laughter”6
or “Elke Maravilha: ‘I want to die laughing’”7, for example.
Laughter embodies joy, referring to emotions of satisfaction
and enjoyment. By adding laughter to her performance, Elke
builds herself as a happy persona. This aspect is consistent with
a recurring statement of hers: that she was not a dramatic gure,
but rather a tragic one – that is why she rarely cried, but rather
mourned. The tragic knows his destiny and prepares for the
irremediable, which is why he reworks suffering, transforming
pain into an element of his subjectivity. Apparently, Elke did this
to himself masterfully.
4.2 Constellation 2: dionysian priestess
According to the promotional material for the ELKE8
exhibition, at the Cultural Center Vale Maranhão, Elke became
aware of the importance of clothes for her expression when, at
the age of 12, she receive Conrmation. It was the rst time
she saw herself assembled from head to toe, in clothes different
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from the ones she usually wore. The dress was sewn by the
artist’s grandmother which already indicates an emotional
relationship with the clothing, as it was made especially for her
by a person in her close circle.
It is symbolic, in fact, that this perception of her regarding
fashion comes from a religious event, after all, the gure of
Elke Maravilha would be constituted, to a certain extent, by a
syncretic aura. In this sense, the renowned psychiatrist Nise
da Silveira called Elke a “Dionysian priestess”, a somewhat
paradoxical nickname to account for the complex gure she
was. This contradiction can also be seen in the song composed
by Itamar Assumpção in honor of Elke, A apátrida de Itabira,
in which he calls her, among other things, a pagan goddess,
an ogã stone, orixá of Iran, pomba-gira, Iansã, Iemanjá, witch
who becomes a fairy. Furthermore, the title of the exhibition’s
curatorial text is “Elke – sacred, profane, holy, devil”.
This evidence builds a constellation in which the religious
and spiritual aspect acts in a nuclear way, to the point where Elke
herself is understood as a sacred gure. And, in this way, the
construction of her subjectivity took place largely in a movement
of sacralization of the profane and profanation of the sacred.
The clash of contradictions ends up generating something more
here, as in a dialectical proposition. This included the clothes
and accessories she wore for example, a piece she had made
with an altar cloth from a church in Minas Gerais or even the
images of saints and buddhas that she turned into a necklace.
In an interview for the documentary Elke (2007), the
artist mentions a meeting with a person who said that Elke was
nothing like she seemed to be, after all, she was so extravagant,
but at the same time so spiritual. Elke responded that the person
was mistaken, and that one thing had nothing to do with the
other. Then, she remembers different religious leaders and how
central their clothes and adornments are in the constitution of
their gure: the Catholic Pope, with his cassocks, miters and
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rings; the leader of the Orthodox Christians, with embroidered
and sumptuous clothes; Dalai Lama and his long orange and
red robes; the shamans, whose adornments differentiate them
from others in the community. When citing these leaders,
Elke points out how clothing constitutes a central element for
understanding the sacred, for the construction of reference and
for the organization and performance of rituals.
Sacred and profane coalesce in Elke’s performative
elaboration and perhaps the phrase that best summarizes this
meeting is one attributed to Álvaro de Campos, one of Fernando
Pessoa’s heteronyms: “I build in every corner of my soul an
altar to a different god”. Elke had a painting in her house with
this phrase, which she claims was meant to describe herself.
In an interview, she claims to be a polytheist and shows her
house, lled with objects that often refer to multiple religions.
She modies some objects, such as a piece of Saint George
killing the dragon, in which he holds an LGBTI+ ag.9
Whether for body decoration or domestic decoration, the
objects here occupy a place in Elke Maravilha’s performative
composition, while they are reorganized and invested with
other affects and, therefore, other meanings. This is, in fact,
close to the way Benjamin (2018) conceived the collecting act,
which removes the functional load from the object, moving it
to other elds of meaning. In line with the thoughts of Diana
Taylor (2013), we agree that performance is an episteme and,
therefore, that it can be a way of knowing. We also have Elke’s
performance as a path that leads us to know not only her, but
the cultures that constitute her. Hence the plurality of objects
that make up her adornments, traces of a subjectivity that is as
multiple as it is complex.
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4.3 Constellation 3: the wonder woman necklace
In 2013, Elke received at home the TV host Angélica, for a
television show named Estrelas (Rede Globo)10. Upon entering the
artist’s apartment, Angélica was fascinated by the environment,
whose red walls were covered with various decorations, including
photographs, paintings, dolls and sculptures. The presenter
points to the necklace that Elke is wearing: “What you are wearing
here today is a Buddha. It was one of those adornments, those
objects, that you turned into a necklace.Elke conrms, stating
that the object stayed on her wall for thirty years until one day
she decided to turn it into a necklace. Elke adds: “My body is my
home.
The body is central in different theoretical-epistemic
perspectives, as it is a place of multiple inscriptions, of investment
of senses and action. The performance takes place in and through
the body, and emotions, although cultural, are expressed and
experienced bodily. Hence the idea that emotions are embodied.
By saying that your body is your home, Elke indicates, in a
way, a reason to care for and decorate it, after all, the home
is a sign of intimacy and protection, which must be preserved.
Furthermore, by removing a decorative object from her wall to
turn it into a body accessory, she shows that body and home are
confused and cannot and do not need to be read separately.
That same year, Elke participated in the television show
De Frente com Gabi (SBT)11. At the time, she was also asked
by TV host Marília Gabriela (Gabi) about the necklace she wore.
Due to the uniqueness of the prop, Gabi barely knew how to
name it. Elke points out element by element of the ornament
and responds: “It’s a necklace in my style, right. This is a tribute
to my grandmother. I bought this one in Korea [pointing to a
wooden face that occupies the center of the prop]. This is here
in Liberdade Village [pointing to the links shaped like painted
eggs]. [This one] here in Greece. My grandmother liked to paint
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eggs, she was, you know... so, this one will be for grandma.
In the interview with Angélica, Elke’s necklaces are
themed and she shows in the presentation a necklace that she
produced forty years ago. She jokes: “it even has a cemetery
key”. Although it surprises the TV host, who laughs, Elke tells
the truth. In fact, this object is also the opening theme of a text
by Roberto Kaz (2008, online), published in Piauí magazine:
Elke Maravilha carries the key to a cemetery around
her neck, and this is not gurative language. The key is
real and the cemetery exists. ‘It’s Colatina, in Espírito
Santo. I already have a place to fall dead,she says.
It’s always one less thing to worry about.
Composed of a silver chain and whose rst accessory
was a little hand making ngers, Elke’s biographical necklace
contains, among many other things: medals from Greece and
Nepal; earrings brought from Israel and Egypt; a jaguar claw,
a gift from an indigenous person; Indian coins; a symbol of the
Kabbalah; an image of the Virgin; a cake paddle inherited from
her mother; a symbol of Freemasonry, because of her father;
animal miniatures; a lot of shes; piece of bone; stuffed eagle
paw; brooches; broken wing angel etc.
Elke’s necklaces – especially this biographical necklace
woven throw decades corroborate the idea already defended
by other authors (Appadurai, 2008; Douglas; Isherwood, 2004)
that the meaning of objects is contextual and attributed by people
based on their uses and appropriations. From this perspective,
the notion of consumption moves from a merely economic – or
even moralizing – idea and begins to be interpreted based on
the social relations that are established through objects.
The elements that compose Elke’s necklace come from
different places, gaining new meaning when included as
accessories. Each of them carries a story, which is intertwined
with many others as Elke weaves her memories. Therefore, the
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consumption of these goods is ritualized (Douglas; Isherwood,
2004) and the necklace functions as a narrative that is not
constructed through words, but through the juxtaposition of
elements. It thus demonstrates how important material culture
is for understanding not only a people, but also particular stories,
such as this media gure.
Furthermore, the necklace is still an important memory
element and narrative trigger, after all, although understood
individually, it calls for an explanation Elke tells what each
element means through narrative recollection. In the same
way, the necklace is an emotional trigger, it only exists because
feelings were invested in its conception and elaboration. In fact,
Elke said that the creation of the necklace would end when she
died, but that she did not intend to be buried with it, which
indicates that the object would continue in circulation, being
reinvested with meanings based on its new/possible trajectories.
4.4 Constellation 4: Elke in the artice land
If on the streets Elke had already been attacked for her
appearance, on the runaways she caused curiosity. Senses of
originality, singularity and authenticity were of interest to the
Fashion system. From their place of symbolic authority and
attribution over what is avant-garde and marketing trend,
designers explored what, in a certain way, generated strangeness,
but at the same time evoked the image of someone who was
what they showed, not just dressed or presented.
Elke’s own style brought more than aggression. The
same performance she did at the Guilherme Guimarães
show, in which she showed off her clothes while
laughing, captivated other creators. Designers took
advantage of Elke’s exotic character. She was
a model of herself. [...] From 1971 onwards, she
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adopted the habit of asking what the designer wanted
her to do on the runaway. If the idea was to parade
seriously, or with a hungry face, as she said, nothing
was done. She would even refuse invitations to
fashion shows if the clothes didn’t match her
style or if the brand required a serious attitude on
the runaway. “I said: ‘Oh, my love. But many others do
this. Call one of them.’” (Felitti, 2020, p. 47, emphasis
added).
Elke’s critical posture towards the way the Fashion system
expected some type of performance may give the impression that
she did not adhere to rehearsed behaviors. Schechner (2003;
2017) alert that even an avant-garde, disruptive performance
is based on other social performances – behaviors observed in
other spaces and contexts. Guided by a sense of originality, it
seems that Elke performed a mixture of everything she believed
to be herself. Being, then, was performing or vice versa.
Fashion was what mediated this self-elaboration.
Elke’s aesthetic comes down to one rule: more is
more. The bigger the wig, the higher the boots and the
more visible the makeup, the better. “I want to show
up and I’m not going to pretend I don’t want
to,” she explained. “The day I no longer attract
attention, I would rather die.” (Felitti, 2020, p. 96,
emphasis added).
The status of visibility that Elke achieved as her career
progressed was intrinsic to the way in which she viewed her
own life. The way she exposed herself, through Fashion, ended
up mobilizing exotic readings about her. In fact, in the media,
many entries were made through this reading of eccentricity and
extravagance, which, by effect of meaning, even placed her in a
foreign position, after all, Elke did not occupy a common place.
This is how Elke Maravilha started to perform in auditorium
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programs, such as Chacrinha and later Silvio Santos. She became
nationally known and her charisma earned her the public’s
affection. Lets see what Elias dos Santos (2014, p. 110-111,
emphasis added) says in an analysis of Elke’s performance on
the Chacrinha TV show:
In symbolic terms, the strength of Elke Maravilha’s
performance (body and voice) reminds us of a
“Chacrinha in skirts”: she is dressed up and
heavily made up like a revue star or a circus
artist, she has personality, presence of spirit and
stage, sense of humor, insight and leadership,
symbolizes a tropicalism resulting from the mixture of
her European origin with her passion for Brazil, she is
always applauded by the audience and makes a point
of standing up when she is going to say something,
she has freedom and initiative to kiss Chacrinha, even
leaving his lipstick mark practically incorporated into
the image of the Old Warrior. This brand of lipstick is
so strong that it was incorporated into the program’s
xed scenery (Chacrinha’s giant head that appears
at the beginning and end of all programs and is part
of the scenery). Elke has an important role in the
program, due to her artistic career, her maturity, her
strong voice and her large body.
From this description, we deduce that Elke’s performative
acts are also constituted by her being part of the media circuit.
More specically, the television circuit, whose technicolor
aesthetic demands a colorful effusion – even more so in auditorium
programs, which emulate circuses and in which the xation of
attention is guaranteed by the continuous supply of stimuli. In
this sense, Elke really worked as a counterpoint to TV presenter
Chacrinha, not only because of her performance on stage when
singing and dancing, but because of the bonds she created
with the public. She was the “good” judge, who always gave
the freshmen an A and who communicated affectionately with
the audience who responded in kind, effusively. An emotional
relationship that was maintained thanks to the management of
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a discursive media medium – television.
Her presence on the show, as well as her attitude on
the runaway, assured Elke of modesty. We rmly believe
reinforcing the contradictions in Elke that this improvement was
reinforced by aesthetic articialism. The extravagant makeup,
the voluminous clothes, the huge, shiny shoes, the ashy wigs,
the various accessories a compliment to the artice that
sustains the singularity of her image. Let us remember here what
Denilson Lopes (2016, p. 3) says about the artice, as a “socio-
historical, aesthetic and conceptual category that articulates
different cultural products”: far from being “a simple opposition
to reality”, the artice must be thought of “as a dissolver of the
real versus unreal duality”.
In this sense, artice is a possible category to think about
the performative production of Elke Maravilha. Understanding
Elke’s gure takes place in these limits between sensitive
perception and intelligibility schemes which places us in a
state of suspicion and fascination. In an interview given to a
group of students from ‘TV Univercidade’ (Elke, 2022), the rst
question asked by a student to Elke was about her daily life:
“Do you wake up and get all dressed up like this, or do you wear
ip-ops?”. Elke says she never wore ip-ops. Either she wore
boots, or she went barefoot.
I was never a person like everyone else, I was born
different. This is not a fantasy, it is my reality.
Fantasy is what: “ah, now I want to dress like this
at Carnival, because thats what I’m not. Now I want
to dress like a Chinese. Now I want to be Bahian.
It’s not my case, I’m like that. (6min30s, emphasis
added).
For her, this was her way of being, which makes her
demonstrate, through her speech, that she does not place herself
in the position of a fantasy object superhuman, unreal, illusory
–, but rather a representation of the real, of herself. That is, the
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performative excesses created by artice reafrm the real, they
do not deny it. It is interesting, in fact, to note the student’s
curiosity about Elke’s daily life, which seems to be aroused
by a type of reading that did not understand this body and,
therefore, attributed it to an unusual place. Perhaps there was
an attempt to understand what existed behind the performative
“frontstage” in this question. However, Elke reports that she not
only accessed, but mainly produced what she believed to be her
true self, through the way she adorned and exposed her body.
5. FINALS CONSIDERATIONS
On research about the gift system (exchanges and reciprocities),
Maria Claudia Coelho (2006, p. 43) tells the story of an interlocutor
who was irritated when she received an unwanted gift from a friend:
“When I opened it, it was an earring, which you couldn’t imagine, I
think it started in the ear and ended in the chest. Hanging, you know,
something like that, very colorful, very tchan, like, Elke Maravilha
[...]”. The woman felt insulted, because, through the characteristics
of the object, she understood that her friend interpreted her as
exaggerating.
The situation described by the anthropologist draws our attention
here for one aspect: according to the interlocutor, “only Elke Maravilha
could wear an earring like that. Although the earring was an insult
to her, the statement marks a place for Elke in the social and cultural
imagination: a reference to exaggeration. “Only Elke could use it
indicates a singularity, as an imitation of it would refer to the gure
of Elke. And it is because this singularity is so clearly dened that the
gure of Elke invites us to reect.
In this text, we seek to highlight these traits of Elke Maravilha’s
authenticity, whose subjective elaboration occurs through performative
acts that refer to a set of emotional congurations. We started following
clues left in different materialities, in order to map these performances
in the archive to use Taylor’s terms (2013). We recover what of Elke
still survives in photographs, videos, interviews, texts about her, and in
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the speeches of those who knew her. These traces help us reconstruct
and understand the performance. According to Schechner (2017) and
in dialogue with Taylor the performance is no longer restricted to the
here-and-now of its production, but remains permanent as it is carried
forward, in which it is stored whether in collective memory, whether
in the recording les. This is what he calls aftermath performance.
The collections we created about Elke led to the construction of
four constellations, in which we demarcate certain traits that denote
such singularity: the aesthetics of exaggeration, which both fascinates
and repels; the relationships between the sacred and the profane; the
memory stored in the props; the authenticity constructed by artice.
This reading was done with theoretical approaches that articulate
performance and emotions categories that are not stable, but exible
like the analyzed object itself.
The research captures an image of Elke Maravilha, at the same
time as it leaves open gaps that point to possible paths. After all, as
an exemplary media gure, Elke is as complex as she is multiple.
Finally, we realized that the traces demonstrate that Elke Maravilha,
who passed away in 2016, still survives12, not only in the archives to
which we still have access, but also in the cultural and media repertoire
(Taylor, 2013) in the performance traces of drag queens, in the
smiles that models today display on the runaway, in the judges who
still persist in TV shows, in the joking interactions of artists who joke
with the audience, in the laughter of those who still believe that more
is always more.
AKNOWLEDGEMENTS
This work was carried out with the support of the Coordination
for the Improvement of Higher Education Personnel - Brazil (CAPES)
- Financing Code 001.
End text notes
¹ Expression used by Paulo Cesar Pereio, during an interview with Elke,
broadcast in 2007 by Canal Brasil. Available at: <https://www.youtube.com/
watch?v=QcHvzQUeKnE&t=1022s>. Accessed on: 10 Mar. 2023. In fact, the
title of this article, which also refers to this idea, is a speech by Elke herself
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in the documentary Elke (2007), by Julia Rezende.
² The rst two paragraphs were prepared based on Felitti (2021).
3 “I don’t buy clothes, I make them at home” (ELKE, 2016, 6min 55s).
4 We carried out a search on the Capes Periodicals Portal, the Digital Library of
Theses and Dissertations and the Scielo platform. In all three, the descriptor
“Elke Maravilha” did not return any results. In the search carried out on
Google Scholar, 336 results returned.
5 To see more about Benjaminian cartography and the proposition of these
three investigative sensibilities, see text by Dias (2022).
6 ‘Elke, the wonderful laughter’. Manchete, RJ, 1973. Available at: < https://
bit.ly/3Kl5Kl2>. Accessed on: 31 July. 2023.
7 “Elke Maravilha: ‘I want to die laughing’”. Manchete, RJ, 1978. Available at:
<https://bit.ly/3DzoJEA>. Accessed on: 31 July. 2023.
8 ELKE. Vale Cultural Institute. Available at the following link: <https://ccv-
ma.org.br/programacao/exposicoes/e-l-k-e>. Accessed on: Jul 31. 2023.
9 “Elke Maravilha shows her collection of dolls and sculptures”. Published
by Quem channel. Available at: <https://www.youtube.com/watch?v=_
NBdHehSjyE>. Accessed on: 31 July. 2023.
10 “Elke Maravilha and Angélica /Estrelas 2013”. Published by the Super!
channel. Available at: <https://www.youtube.com/watch?v=82eZEY0kNYU>.
Accessed on: 31 July. 2023.
11 “De Frente com Gabi (09/22/13) - Elke Maravilha Part 1”. Published
by the SBT channel. Available at: <https://www.youtube.com/
watch?v=HBShPTjdbp4>. Accessed on: 31 July. 2023.
12 Elke remains in the social imagination and in fashion. An example of this
were the tributes that her friends, fashion designers Walério Araújo and Dudu
Bertholini, paid to her at the Vogue Ball in 2017 and 2018, respectively. Both
wore costumes that belonged to Elke. Dudu even used the artists “sun and
moon rings”, which he keeps with him, although he does not feel like the
owner of the objects, but rather “guardian of a Brazilian cultural heritage”, as
he stated in an interview with the TV program Casa GNT in 2021. Available
at: <https://www.youtube.com/watch?v=WDXWIaGlkkM>. Accessed on: 25
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