Volume Escrita Performativa
Outubro
2020
Esta publicação é resultado de uma chamada aberta para pesquisadoras
e pesquisadores de pós-graduação em artes visuais, artes cênicas, teatro, dança
e performance para a criação de um dossiê cujos temas são: as metodologias que inventamos; a relação de duas mãos entre modo e
conteúdo; as atualizações e alternativas aos formatos tradicionais; as
reflexões sobre nossa postura frente às práticas de pesquisa e a escrita
acadêmica.
Se a arte é, entre tantas coisas, um modo de apreender o mundo,
tem movimento próprio, “produz sempre e cada vez mais suas palavras [...] cunha
os conceitos que ela mesmo critica” (ROCHA, 2016, p. 28); e na academia, assim
como outros âmbitos, há formas organizacionais que perpetuam relações de poder
colonizadoras, heteronormativistas, então o
que pode (ou deve) ser uma pesquisa em artes?
Defendemos que a pesquisa em artes pode ser uma procura metódica e
consciente, seguindo critérios próprios (indefiníveis enquanto generalização).
Estamos tratando de processos, subjetividades e suas implicações. Há,
certamente, preocupações sobre hibridação das artes cênicas contemporâneas, mas
temos insistindo “na natureza híbrida do artístico, na transgressão de
definições, e na necessidade de outros olhares conceituais para pensar os
fenômenos cênicos atuais” (CABALLERO, 2016, p.18).
Este volume parte da possibilidade de elaboração, através de uma
ação conjunta de escrita seja ela prática, crítica e política, tema, método e
ação, de pessoas pesquisadoras e artistas - a abertura de um espaço de escrita
também dos dissonantes, dos dissidentes e dos discrepantes. Por se tratar de um
volume especial, as normas de submissão da Revista DaPesquisa estiveram
suspensas. Entendemos aqui o texto como espaço investigativo em todos os seus
desdobramentos, tais como os que acontecem nas inúmeras possibilidades de intersecção
entre palavra e imagem.
Este volume propõe um espaço de experimentação
teórico-metodológica de escritas nas pesquisas em artes na universidade. De
caráter performativo, estas escritas vêm sendo desenvolvidas nos últimos 15
anos em diversas universidades brasileiras. Buscamos com este volume a democratização do conhecimento pelas reflexões, perguntas,
estratégias e condições que se apresentam nos textos, por outras práticas
conceituais.
Se forma e conteúdo são intrínsecas em arte, e de mútua influência,
por que a forma de pesquisá-la deve ser estabelecida à priori? Podemos pensar
uma escrita que seja coerente com nossos temas e modos de pesquisa. Que a
escrita aqui seja um ato, uma des-coberta de existências, mais do que uma
descrição ou justificativa de nossas pesquisas. Desse modo, esta publicação
propõe um potencial de desdobramentos, um espaço de seguir vestígios e pistas
que não cabem no texto dito “acadêmico”. Através do questionamento, enquanto
tema e modos, dos próprios modos de como a academia produz, gerencia e replica
epistemologias. Nossa escrita performativa também está no design das páginas,
está marcada nos fragmentos de imagem deixados. Nas palavras da nossa designer
Joana Brandenburg, “onde há silêncio, há enigma".
O Corpo Editorial desse volume foi um trabalho de parceria entre a
revista DAPesquisa, a colaboração e supervisão de duas professoras do Programa
de Pós Graduação em Teatro da UDESC, e o trabalho editorial e de design
do Coletivo Escrita Performativa,
composto por discentes matriculados na pós graduação em Teatro e Artes Visuais
do CEART- UDESC.
Nossos sinceros agradecimentos às autoras e autores que
pacientemente trabalharam conosco nessa construção, também àqueles que
participaram de etapas dessa longa caminhada: Daniela Rosante, Paulo Ramon,
Flávio Gonçalves, João Mulato, Edgar Quintanilha, pela colaboração, e à prof.
Dra. Vera Collaço pela leitura atenciosa. À equipe da Revista DAPesquisa, em
especial à Luciana Perozin, pela imensa dedicação. Além disso, agradecemos às
pessoas doutoras que contribuíram como pareceristas ad hoc: Ana Alonso,
Antonio Monteiro, Daniel Fraga de Castro, Drica Santos, Henrique Bezerra,
Julianna Rosa, Marta Martins, Melissa da Silva Ferreira, Milene Lopes Duenha,
Natasha Centenaro, Patrícia Silveira, Renata Roel, Rita de Aquino, e Verônica
Muller.
Franciele
Aguiar,
Ines Saber,
Joana Kretzer
Brandenburg,
Jussara Belchior,
Luane
Pedroso,
Lucas Dalbem,
Matheus Abel,
Tereza
Franzoni,
Monique Vandresen.
REFERÊNCIAS
CABALLERO, Ileana Dieguez. Cenários
liminares: teatralidades, performances e política. Uberlândia: EDUFU, 2011.
ROCHA, Thereza. O que é
dança contemporânea? Salvador: Conexões criativas, 2016.