Dança na escola no Rio Grande do Sul: percursos históricos e
pesquisas acadêmicas
Dance in
the schools in Rio Grande do Sul: historical pathways and academic research
Josiane Franken Corrêa
Doutora em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS) – josianefranken@gmail.com –
http://orcid.org/0000-0003-3983-0215
Vera Lúcia Bertoni dos Santos
Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS) – bertonica@gmail.com – http://orcid.org/0000-0002-0708-0942
Resumo
Objetiva mapear a produção acadêmica sobre Dança na Escola
no contexto do Rio Grande do Sul, utilizando-se de metodologia qualitativa a
partir de revisão de literatura e pesquisa documental. Parte de uma retomada de
aspectos históricos, leis e documentos referentes à Dança na Escola no Brasil,
seguida de uma contextualização sobre o tema no território sul-rio-grandense, e
enfoca o desenvolvimento de pesquisas acerca da temática em relação a fatores
que influenciam o surgimento de novas propostas pedagógicas, artísticas e
científicas no campo em questão. Discute-se a implantação dos cursos de
Graduação em Dança no Estado e a criação de programas de pós-graduação que
acolhem investigações sobre o assunto, assim como a criação e manutenção de
canais de divulgação de pesquisas desta natureza. Como referências principais
da investigação, têm-se o trabalho de autores como Hoffmann (2015) e Valle
(2016), dentre outros.
Palavras-chave: Dança. Dança na educação. História da dança.
Educação Básica.
Abstract
Objective
to map the academic production about Dance in the Schools in the context of Rio
Grande do Sul, using a qualitative methodology based on literature review and
documentary research. Is based on a resumption of historical aspects, laws and
documents related to Dance in the Schools in Brazil, followed by a
contextualization on the subject in the territory of Rio Grande do Sul, and
focuses on the development of research on the subject in relation to factors
that influence the emergence of new pedagogical, artistic and scientific
proposals in the field in question. It discusses the implantation of the
courses of Graduation in Dance in the State and the creation of Graduate
Programs that welcome investigations on the subject, as well as the creation
and maintenance of channels of dissemination of research of this nature. As
main references of the investigation, have the work of authors like Hoffmann
(2015) and Valle (2016), among others.
Keywords:
Dance. Dance in education. Dance story. Basic Education.
Recebido
em: 13/06/2018
Aceito em: 20/03/2019
1 INTRODUÇÃO
Este texto propõe-se a pontuar aspectos históricos que dizem
respeito à Dança na Escola no contexto sul-rio-grandense, mapear as
investigações sobre a temática realizadas em programas de pós-graduação strictu
sensu e identificar meios de divulgação da produção acadêmica sobre a temática
desenvolvidos no Rio Grande do Sul.
Originário de uma pesquisa de Doutorado centrada no tema da docência em Dança nas
escolas públicas estaduais do Estado do Rio Grande do Sul (RS), o texto leva em
consideração a ampliação das pesquisas referentes ao tema no Brasil
(FALKEMBACH, 2017), ocorrida a partir da década de 1990, momento que antecede a
promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL,
1996) e a criação de diversos cursos de
Graduação em Dança no país, enfatizando investigações elaboradas entre 1990 e
2017.
A investigação é de abordagem qualitativa, através de
revisão de literatura e pesquisa documental, levando em consideração o recorte
do contexto selecionado e a consulta a obras de teóricos do campo da dança,
dentre os quais se destacam Carmem Anita Hoffmann (2015), Flávia Pilla do Valle
(2016) e Andréa Bittencourt de Souza (2015), dentre outros. Considera, também,
trabalhos publicados pelas autoras anteriormente (CORRÊA; NASCIMENTO, 2013;
CORRÊA; SANTOS, 2019), situando a pesquisa como um estudo contínuo e evolutivo.
Num primeiro momento, foram rastreadas as pesquisas de
Mestrado e de Doutorado disponíveis na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e
Dissertações (BDTD), tendo o termo
“Dança na Escola” inserido no campo “assunto” como o denominador para a busca.
A fim de conferir a existência de outras pesquisas que, por algum motivo, não estão
listadas no portal da BDTD, no momento seguinte, realizou-se uma busca do mesmo
assunto nos repositórios de teses e dissertações de diferentes instituições de
ensino superior do RS. O rastreamento encerrou-se num terceiro momento, com a
visita a periódicos acadêmicos da Área de Artes disponíveis em meio virtual, em
sites de instituições sul-rio-grandenses, o que propiciou identificar canais de
divulgação que incentivam e costumam publicar artigos científicos sobre o tema
da Dança na Escola no Rio Grande do Sul.
2 ENSINO SUPERIOR EM DANÇA NO RIO GRANDE DO SUL E MOVIMENTOS
DECORRENTES: UMA BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO
Refletir a respeito da Dança no ambiente escolar implica
considerar a formação do profissional habilitado para o seu ensino: o professor
Licenciado em Dança. De fato, assim como como ocorre nas demais disciplinas do
conhecimento, o ensino da dança no meio educacional formal exige um
profissional com uma formação específica de nível superior.
Tal colocação, que para os pesquisadores ligados ao campo de
estudo denominado Dança na Escola pode constituir uma obviedade, para o senso
comum, inclusive o senso comum escolar, muitas vezes soa como uma novidade. Na
realidade das nossas escolas de Educação Básica, a presença de um professor de
Dança à frente do componente curricular denominado “Arte” é mesmo uma raridade,
e o que se observa, na maior parte das instituições, é a prevalência de
professores licenciados em Artes Visuais e, em menor número, os licenciados em
Dança, em Música e em Teatro, e ainda alguns remanescentes da extinta formação
polivalente em Artes (que pretensamente estariam aptos a lecionar nas quatro
frentes). Poucos são os professores licenciados em Dança que atuam nas escolas,
cujo trabalho suscita uma série de dúvidas e questionamentos e implica desafios
à inserção dos seus conteúdos no currículo escolar, à compreensão dos seus
propósitos educacionais e ao pleno desenvolvimento das suas ações pedagógicas.
Conforme apontam Corrêa e Santos (2019), as razões dessa
ausência de profissionais licenciados em Dança nas escolas brasileiras,
refletida na falta de referências sobre o seu ensino no contexto escolar,
justificam-se historicamente em função da emergência tardia dos cursos de
formação universitária para professores de Dança. Salienta-se que, o primeiro
Curso de Graduação em Dança, na Universidade Federal da Bahia (UFBA), entrou em
atividade somente em 1956, de forma que essa iniciativa formativa pioneira se
fez isolada no tempo, sendo seguida por outras poucas universidades somente no
decorrer da década de 1980.
Na década de 1990, impulsionados pelas demandas da Educação
Básica, para adequar-se às exigências da LDB 9.394/1996 (BRASIL, 1996), os
Cursos Superiores de Dança no Brasil apresentaram crescimento mais evidente;
porém, somente a partir dos anos 2000 essa formação se expandiu
consideravelmente, principalmente em função da implantação do Programa de Apoio
a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI) .
No Rio Grande do Sul, o primeiro curso de Licenciatura em
Dança inicia as suas atividades em 1998, na Universidade de Cruz Alta
(UNICRUZ), na cidade de Cruz Alta (RS), localizada a 360 quilômetros da
capital, Porto Alegre. Durante quatro anos (1998 – 2002), a UNICRUZ figura como
única Instituição de Ensino Superior a ofertar um Curso nesses moldes no
estado. Mas o pioneirismo da iniciativa e a importância do trabalho acadêmico
voltado à formação de professores de Dança, não são suficientes para garantir o
funcionamento do Curso da UNICRUZ, frente aos desafios de uma política
institucional adversa à manutenção de suas atividades.
A tese de doutorado de Hoffmann (2015, p. 138), explica as
razões para o encerramento das atividades acadêmicas do Curso de Dança da
UNICRUZ:
O primeiro motivo pela interrupção estava associado à
política institucional, que previa abertura de novas turmas a partir de um
número mínimo de alunos matriculados, o que não ocorreu em 2003 e 2004. O outro
motivo estava relacionado à migração e adequação dos alunos, que ingressaram
nesse período, em turmas em andamento.
A partir de 2002, outras Universidades sul-rio-grandenses
criaram seus cursos de Graduação em Dança, o que contempla uma demanda
crescente de profissionais interessados na formação específica de professor de
Dança nesse contexto. Atualmente, o Rio Grande do Sul destaca-se no cenário
nacional como um dos dois estados brasileiros (ao lado de São Paulo) com maior
número de Cursos de Graduação em Dança – ao todo existem sete: um Bacharelado,
um Tecnológico e cinco Licenciaturas.
O Curso de Bacharelado é ofertado pela Universidade Federal
de Santa Maria (UFSM), em Santa Maria (RS); o Curso Tecnológico, pela
Universidade de Caxias do Sul (UCS), em Caxias do Sul (RS); e os Cursos de
Licenciatura são oferecidos pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), em
Canoas (RS) , pela Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), em
Montenegro (RS), pela Universidade Federal de Pelotas, em Pelotas (RS), pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre (RS), e pela
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em Santa Maria (RS).
Esse aumento exponencial da quantidade de cursos de
Graduação em Dança reflete-se na qualificação do debate em torno de questões
específicas da Área e no crescente número de pesquisadores que a ela se
dedicam, motivando a organização do Encontro Estadual de Graduações em Dança.
As metas desse importante evento de natureza artística e científica são:
[...] aproximar as graduações em dança (acadêmicos,
egressos, professores e amigos) do Rio Grande do Sul para fortalecer uma
identidade de classe; promover atividades de pesquisa acadêmica em dança,
colaborando para a qualificação e circulação; divulgar trabalhos artísticos de
nível acadêmico; promover discussões de temáticas relevantes na área da dança
propondo, se necessário, ações políticas por meio de manifesto, carta aberta
etc. (VALLE, 2016, p. 23).
Com um formato itinerante, o Encontro teve sua primeira
edição no ano de 2009, em Canoas (RS), município que sedia também a segunda
edição do evento, ocorrida em 2011. A terceira edição do Encontro ocorreu em
2012, na cidade de Pelotas (RS); a quarta edição realizou-se em 2014, em
Montenegro (RS); e a quinta edição, ocorreu no ano de 2016, teve sua sede na
capital, Porto Alegre. O evento destaca-se também pela produção coletiva de
documentos de cunho reivindicatório, elaborados com base em necessidades evidenciadas
na ação pedagógica e na prática investigativa dos profissionais do ensino da
Dança, e que são endereçados a entidades políticas e a órgãos públicos. Um
exemplo significativo dessa ação política da categoria, são as cartas
elaboradas a partir do Encontro realizado em agosto de 2011, que solicitam ao
Governo Estadual a criação de vagas para professores de dança na Rede Pública
do Rio Grande do Sul.
É possível constatar os efeitos dessas cartas no quadro de
vagas docentes aberto pelo Edital do Concurso Público para o Magistério
Estadual (Edital 01/2011 SEDUC RS), para concorrência ao cargo de professor do
componente curricular Ensino de Arte, no qual consta a menção às quatro
formações na área: Artes Visuais, Dança, Música e Teatro; numa perspectiva inédita
de contemplar as quatro linguagens artísticas. O relato de Flávia Pilla do
Valle (2016, p. 24), professora do Curso de Licenciatura em Dança da UFRGS, e
uma das organizadoras do Encontro das Graduações, reflete sobre essa importante
conquista dos profissionais do ensino da Dança:
Na segunda “Carta”, redigida ao então Secretário da Educação
José Clóvis de Azevedo, alertou-se para a importância da dança ser prevista nas
vagas do edital a ser lançado para professores da Rede Estadual do Ensino. E,
de fato, quando saiu, houve vagas para essa formação [referindo-se à dança].
A movimentação decorrente das demandas criadas a partir da
elaboração dos novos cursos de Graduação em Dança, e do crescente número de
profissionais deles egressos, gera uma série de iniciativas que resultaram em
oferta de trabalho, mesmo que de maneira ainda tímida. A partir de 1998, se
destacam períodos com intensificação dessas ofertas e outros em que elas decaem
drasticamente, evidenciando altos e baixos ocasionados pela instabilidade
política do Brasil e do Rio Grande do Sul.
Assim, é possível inferir que estes altos e baixos
acompanham as iniciativas políticas relacionadas ao campo, ou seja, toda vez
que um governo se propõe a criar um concurso com vagas específicas para
licenciados em Dança, por exemplo, está expandindo consideravelmente a oferta
de trabalho para estes profissionais. Dessa maneira, medidas importantes, como
a sanção de uma Lei que torna obrigatório o ensino de Dança nas escolas, a
criação de uma Base Nacional Comum Curricular, para orientar os princípios
norteadores para o ensino dos diferentes componentes curriculares em todo o
território brasileiro, e outros documentos referenciais, bem como a busca
permanente por parte da categoria dos professores estaduais pelo diálogo com o
governo do estado, têm se mostrado aspectos condicionantes para a configuração
do Ensino de Arte no ensino básico no contexto da investigação.
Também, o reconhecimento inicial pela formação em
Licenciatura em Dança, assim como a necessidade de trabalho legalizado,
responsáveis pela manutenção da profissão no estado, mostram-se como
consequências da reunião de profissionais atuantes no campo da Dança, em
debates políticos e atuação propositiva perante os órgãos responsáveis, assim
como da busca e criação de espaços de trabalho, ações realizadas pelos próprios
professores recém-formados (CORRÊA; NASCIMENTO, 2013; CORRÊA; SANTOS, 2019).
Segundo a professora Andréa Bittencourt de Souza (2015, p.
41) “[...] esses recentes cursos de Graduação em Dança – e todos os movimentos
acadêmicos que deles decorrem – [...] impulsionaram a abertura de concursos
públicos para o licenciado em Dança no Estado do RS”. Além da oferta de vagas
nos concursos públicos do magistério estadual, acontecem, ainda na década de
2000, importantes iniciativas de Prefeituras Municipais, a exemplo dos
municípios de São Leopoldo e Montenegro, entre outros.
Nessa busca por reconhecimento e abertura de frentes de
trabalho, por parte da florescente comunidade de professores licenciados em
Dança, salienta-se, a elaboração dos Referenciais Curriculares Estaduais para o
Ensino de Dança Lições do Rio Grande (RCE) (RIO GRANDE DO SUL, 2009), documento
com objetivo de nortear o ensino de Dança na escola pública estadual a partir
da apropriação sul-rio-grandense dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)
(BRASIL, 1997a, 1997b, 1998). Segundo consta no RCE, trata-se da apropriação
contextual dos PCN, considerados “[...] necessariamente amplos e, por essa
razão, insuficientes para estabelecer a ponte entre o currículo proposto e
aquele que deve ser posto em ação na escola e na sala de aula” (RIO GRANDE DO
SUL, 2009, p. 11). Assim como os PCN, os RCE possuem uma das suas partes
dedicada ao ensino e aprendizagem da Dança, tendo como temas estruturantes para
a prática docente: criação, elementos do movimento, relações em dança,
apreciação e contextualização.
Com a série de acontecimentos ocorridos desde a promulgação
da LDB (BRASIL, 1996), tendo como principais eventos a elaboração dos
Parâmetros Curriculares Nacionais, a criação do Curso de Dança da UNICRUZ, a
ampliação do número de Licenciaturas em Dança no Brasil e no RS, a publicação
dos RCE e a realização de concursos com vagas para professores licenciados em
Dança, é possível verificar uma cadeia de ações, na qual cada novo movimento
impulsiona e fortalece o campo de estudo relacionado à Dança na Escola (CORRÊA;
SANTOS, 2019). Enfatizam-se as pesquisas de Pós-Graduação que, também em função
das implicações históricas mencionadas, ocasionam uma mudança na perspectiva,
vislumbrando cada vez mais a Dança como uma possibilidade concreta de prática
artística na escola, e como um campo de conhecimento autônomo, mas nem por isso
isolado ou destituído de aspectos interdisciplinares, muito antes pelo contrário:
um campo que se fortalece e se reinventa constantemente na interação com outros
campos do conhecimento.
3 PESQUISAS ACADÊMICAS SOBRE DANÇA NA ESCOLA NO RIO GRANDE
DO SUL
Ao analisar os Anais do Encontro Estadual de Graduações em
Dança do RS, em suas diferentes edições (2009, 2011, 2012, 2014, 2016), é
possível encontrar reflexões acerca das práticas de dança no ambiente escolar.
De modo geral, observa-se um aumento de trabalhos sobre o tema no evento e um
crescimento na participação dos acadêmicos das Licenciaturas em Dança do
estado. Na primeira e na segunda edição do evento, prevalecem os trabalhos de
profissionais já formados: como textos resultantes de trabalho de conclusão de
um curso de Educação Física, com reflexões sobre a dança na escola (CHAVES;
GARCIA, 2009; ROSA; GARCIA, 2009) e uma pesquisa de pós-graduação em andamento
(FRANKEN, 2011). A partir do terceiro encontro, nota-se a participação dos
futuros professores, aspecto considerado positivo na constituição da cultura
profissional que vem se consolidando no estado. Além das pesquisas de graduação
(SOUZA; BOMFIM; GUARAGNA; FRAGA; VALLE, 2014; LESSA; JESUS, 2014; FREITAS;
SOUZA, 2016; GRANADO; PÓLVORA; CORRÊA, 2016), há textos de professores
universitários e estudantes de pós-graduação (CARVALHO; DIAS, 2016).
Numa busca mais ampla sobre as pesquisas acerca da Dança na
Escola em nível nacional, desenvolvida a partir do acesso on-line à Biblioteca
Digital Brasileira de Teses e Dissertações, é possível encontrar em torno de
setenta trabalhos, realizados em programas de pós-graduação de universidades
federais, estaduais e privadas, situadas em diferentes regiões do país.
Considerando o período entre 1990 e 2017, a maior parte das
pesquisas realiza-se em cursos de mestrado, localizados na região sudeste do
Brasil e aborda o tema sob diferentes enfoques, sendo os dois principais: a
dança inserida na escola, como disciplina curricular obrigatória e pertencente
à Área de Artes e a dança no contexto escolar desenvolvida em práticas com
diferentes objetivos, tais como, realização de projetos em turno inverso (ou
contra turno) às atividades de classe, integração nos conteúdos de Educação
Física, realização de parcerias entre escolas de ensino formal e instituições
(academias, escolas estúdios e conservatórios) de ensino não formal de dança,
entre outras possibilidades.
Ao reduzir o foco para o contexto do Rio Grande do Sul, é
possível encontrar oito pesquisas de Pós-Graduação Strictu Sensu que abordam o
tema, sendo cinco dissertações de Mestrado e três teses de Doutorado.
De modo geral , a análise do conteúdo das investigações
elaboradas em nível de mestrado, considera que os dois trabalhos desenvolvidos
na década de 1990, quando o estado ainda não contava com Cursos de Licenciatura
em Dança, enfocam o ensino de Dança como integrante da disciplina de Educação
Física. Ou seja, tanto a dissertação de Márcia Gonzalez Feijó (1996) como a de
Sybelle Regina Carvalho Pereira (1997), ambas desenvolvidas no Programa de
Pós-Graduação em Ciência do Movimento Humano da Universidade Federal de Santa
Maria (UFSM), compreendem a Dança na Escola como conteúdo e não como uma
disciplina autônoma – possibilidade concretizada em alguns contextos, somente
depois da promulgação da LDB (BRASIL, 1996) e da publicação dos PCN (1997a,
1997b).
Na década de 2000, tem-se a dissertação de Sueli Salva
(2003), desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), tendo por base uma pesquisa qualitativa e
etnográfica acerca das significações relativas à dança em um grupo de
estudantes de uma escola pública municipal de Porto Alegre, reunidos para essa
prática artística no turno inverso ao das atividades de classe. E a dissertação
de Ângela Ferreira da Silva (2007), defendida no Programa de Pós-Graduação em
Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS),
tendo como foco os significados construídos a partir da aprendizagem da dança,
por alunos de uma escola pública municipal de Porto Alegre, envolvidos num
projeto extraclasse. Observa-se que apesar desses dois trabalhos situarem-se no
contexto da educação formal, ambos enfocam a Dança como atividade extraclasse,
cuja prática tem caráter facultativo.
A abordagem da Dança como disciplina curricular da Educação
Básica é contemplada somente a partir da década de 2010. Nesse sentido, são
verificados quatro trabalhos sobre o tema desenvolvidos no Rio Grande do Sul:
uma dissertação de mestrado e três teses de doutorado. A pesquisa em nível de
mestrado, realizada no Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas UFRGS, tem
autoria de Josiane Franken Corrêa (2012), uma das autoras deste texto, e
investiga o processo de construção dos corpos dançantes na escola de ensino
formal, problematizando as relações entre os saberes teóricos e práticos que
envolvem a disciplina de Dança no meio escolar.
Duas teses de Doutorado sobre o assunto no contexto
sul-rio-grandense foram defendidas no Programa de Pós-Graduação em Educação da
UFRGS, realizadas por Andréa Bittencourt de Souza (2015), cuja investigação
enfoca a constituição da identidade do professor de Arte/Dança na escola
sul-rio-grandense, diante do recente processo de inserção curricular da
disciplina e por Maria Fonseca Falkembach (2017, p. 11), a qual ancorada
metodologicamente na Etnografia Performativa, na Cartografia e na Genética
Teatral, analisa o modo como seis professoras graduadas em dança compõem suas
práticas artístico-pedagógicas no sistema formal de ensino de escolas públicas
no Rio Grande do Sul.
A terceira tese de Doutorado é a pesquisa da qual se
originam as reflexões deste artigo. Defendida no Programa de Pós-Graduação em
Artes Cênicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no ano de 2018,
mapeia a docência em Dança nas escolas públicas estaduais do Rio Grande do Sul
(RS), evidenciando possibilidades, limites e estratégias para o ensino de Dança
na Educação Básica. Para tanto, contou com a colaboração de cinco professoras
licenciadas em dança, atuantes em escolas públicas estaduais do RS.
A busca empreendida e a breve análise dos trabalhos indicam
não haver, no contexto selecionado, um aumento considerável no número de
investigações sobre o assunto em questão, embora se verifique uma mudança de
foco nas investigações. Tal mudança demonstra, por parte da comunidade
acadêmica sul-rio-grandense, a validação do ensino de dança na Educação Básica
perpassa a dança como conteúdo da disciplina de Educação Física, a dança como
oficina de turno inverso às atividades de classe e a dança como uma das
especificidades que compõem a disciplina de Ensino de Arte na instituição
escolar, como já comentado. A alteração identificada no percurso das pesquisas
sobre o tema no estado é resultado de transformações de ordem social e política
do país e do ambiente em que as pesquisas se concretizam.
No momento atual, a educação brasileira vive a recente
promulgação da Lei 13.278/2016 (BRASIL, 2016), que inclui as quatro linguagens
artísticas (artes visuais, dança, música e teatro) no currículo das escolas e
se encontra em período de adaptação por parte das instituições de ensino. A
inclusão, já orientada pelos PCN em 1997, agora é tornada obrigatória, situação
que terá grandes consequências para o campo da Dança na Escola no país.
Outra situação que influencia de maneira direta a prática a pesquisa
em Dança na Escola no país, é a publicação da Base Nacional Comum Curricular
(BNCC) , que normatiza a organização e o funcionamento do currículo das
instituições escolares .
Além desses aspectos, a divulgação dos trabalhos por meio da
publicação de artigos em periódicos científicos de cada área específica também
interfere no volume de pesquisas e no modo como a produção acadêmica é
organizada. Atualmente grande parte dos programas de pós-graduação no Brasil
possui revista própria de divulgação científica, responsabilizando-se por
receber, avaliar em sistema de colaboração entre pares e publicar artigos de
pesquisadores no intuito de contribuir com as discussões e participar do avanço
do seu campo de conhecimento ao compartilhar os resultados das suas
investigações. Com a facilidade de acesso proporcionada pelos portais digitais,
é possível o envio de textos armazenados em “computadores de uso pessoal”
diretamente aos canais de publicação de diferentes instituições, localizadas em
diferentes regiões do país e para periódicos internacionais.
Nesse cenário virtual de produção e disseminação acadêmica,
considera-se relevante identificar as universidades, instituições e programas
de pós-graduação situados no Rio Grande do Sul, com iniciativas relacionadas à
divulgação de pesquisas da área de Artes Cênicas, especialmente os que abarcam
trabalhos relacionados ao tema da Dança na Escola.
Conforme a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES), os principais periódicos da área de Artes ligados a instituições
sul-rio-grandenses são: a Revista Brasileira de Estudos da Presença (FACED
UFRGS); a Revista Educação (Centro de Educação UFSM); a Revista Cena (PPGAC
UFRGS); a Revista da FUNDARTE (FUNDARTE); a Revista Movimento (ESEFID UFRGS); a
Revista Educação (PPGE PUCRS); a Revista Conexão: comunicação e cultura (CCSO
UCS); e a Revista Paralelo 31 (PPGAV UFPel).
Esses periódicos caracterizam-se por apresentarem
importantes reflexões originadas de pesquisas sobre e em Artes, com enfoque em
múltiplas questões relacionadas às diferentes linguagens artísticas, discutidas
sob diversas perspectivas e envolvendo aspectos estéticos, pedagógicos,
filosóficos, históricos, antropológicos, dentre outros. Porém, as discussões a
respeito da relação entre a arte e o ambiente escolar são encontradas em maior
número na Revista da FUNDARTE.
Ao considerar os trabalhos publicados entre o primeiro
número da Revista, em 2001, e o seu 34º número, em 2017, é possível identificar
mais de 40 artigos publicados referentes à área da Dança, além de um bom número
deles relacionarem a Dança e as questões envolvidas na inserção da arte no
currículo escolar.
Ao longo dos seus 16 anos de existência, a Revista da
FUNDARTE destaca-se por divulgar trabalhos com foco específico no tema Dança na
Escola, e outros que, de diferentes formas, se aproximam das discussões
relacionadas a processos de Dança na educação de crianças e jovens, a exemplo
das pesquisas de Marques (2001), Bins e Valle (2005), Lopes (2006), Vieira e
Lima (2008), Tomazzoni (2008), Icle, Costa e Lopes (2009), Parisoto, Pinto e
Lopes (2014), Ulrich, Rhoden e Schoellkopf (2014), Corrêa, Martins e Santos
(2017), Moojen, Wolffenbuttel e Narvaz (2017), para citar algumas.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A julgar pela realidade das universidades
sul-rio-grandenses, os dados apresentados nesse texto estão ainda longe de
sinalizar uma incidência satisfatória de cursos de Licenciatura em Dança, que
possam, mesmo num longo prazo, formar a quantidade necessária de profissionais
para legitimar a sua atuação nas instituições de Educação Básica.
A Lei 13.278 (BRASIL, 2016), ao tornar obrigatório o ensino
de Artes Visuais, Dança, Música e Teatro no contexto escolar brasileiro,
resulta em expectativas positivas por parte dos cursos de formação superior,
porém, ao mesmo tempo, gera preocupação em razão do baixo número de
profissionais habilitados para assumirem as vagas, no caso de efetiva oferta,
para professores com formação específica nas diferentes linguagens artísticas.
No que se refere ao outro aspecto abordado no texto,
compreendido a partir dos dados referentes às produções acadêmicas relacionadas
à Dança na Escola, cabe destacar que, apesar de constituir-se recentemente como
campo, evidencia importantes avanços no sentido da discussão de suas múltiplas
questões, propiciando reflexões e diálogos sobre diversas formas de abordagem
dos seus conteúdos, favorecendo a ampliação conceitual, epistemológica,
metodológica e processual dos seus conhecimentos, desenvolvidos em
diversificados contextos e perspectivas.
REFERÊNCIAS
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