Pesquisa performativa: o corpo como meio de investiga��o

 Performative Research: the body as a way of investigation

 Nailanita Prette

Mestranda em Artes na linha de pesquisa em Artes da Cena pela Universidade Federal de Minas Gerais, graduada em licenciatura e bacharelado em Dan�a pela Universidade Federal de Vi�osa, t�cnica em Dan�a pela Escola T�cnica de Arte Municipal Santa Cec�lia�  nailanitaprette@outlook.com   �  https://orcid.org/0000-0002-6217-2997 

 

Bya Braga (Maria Beatriz Braga Mendon�a)

professora associada do Departamento de Artes C�nicas da UFMG, com atua��o na Gradua��o em Teatro e na P�s-Gradua��o em Artes/Linha de Pesquisa Artes da Cena da Escola de Belas Artes, da mesma Universidade. �

 byabraga@gmail.com https://orcid.org/0000-0002-4420-6786 



Resumo

Este texto apresenta a pesquisa performativa como metodologia de estudo pr�tico e criativo em uma investiga��o de mestrado acad�mico com base nos di�logos do corpo. Compartilhamos aqui os processos iniciais de pesquisa em andamento, nos quais s�o estudados os procedimentos pedag�gicos corporais de Jacques Lecoq para o artista c�nico, denominados como Sete N�veis de Energia. Apresentamos como a pesquisa performativa abra�a nossas proposi��es para os estudos pr�ticos realizados e tamb�m para a constru��o da escrita que emana dos laborat�rios de pesquisa, constru�da por meio de di�rio de bordo. A pesquisa performativa aqui � entendida conforme os preceitos de Brad Haseman (2015) e tamb�m de pesquisadores e artistas brasileiros que desenvolveram seus estudos nesta perspectiva, como Ciane Fernandes (2014).

Palavras-chave: Lecoq, Jacques, 1921-1999. Artes c�nicas - Metodologia. Improvisa��o (Representa��o teatral).

 

Abstract

This text presents performative research as a practical and creative study methodology in an academic master's research based on the dialogues of the body. We share here the initial ongoing research processes in which Jacques Lecoq's bodily pedagogical procedures are studied for the scenic artist known as Seven Levels. We present how performative research embraces our propositions for the practical studies carried out and also for the construction of writing that emanates from research laboratories, built through a logbook. The performative research here is understood according to the precepts of Brad Haseman (2015) and also of Brazilian researchers and artists who developed their studies in this perspective, such as Ciane Fernandes (2014).

Keywords: Lecoq, Jacques, 1921-1999. Performing arts - MethodologyImprovisation (Acting).

 

DOI: http://dx.doi.org/10.5965/1808312915252020e0029

Recebido em: 09/06/2020

Aceito em: 20/07/2020

 

O fazer art�stico performativo se fundamenta em habilidades diversas e, sendo assim, baseia-se na inter-rela��o de conhecimentos. Aqui apresentamos um percurso metodol�gico norteado pelos pressupostos da pesquisa performativa para a investiga��o do objeto de estudo Sete N�veis de Energia de Jacques Lecoq, em nossa pesquisa acad�mica atual[1]. A ideia central de nossa investiga��o estudar como se elabora uma cria��o est�tica e art�stica do corpo para a cena por meio desse procedimento espec�fico do Teatro F�sico de Jacques Lecoq, proporcionando ao performer meios de improvisa��o e composi��o performativas nos quais as din�micas corporais s�o evidenciadas em tens�es musculares distintas.

A pesquisa performativa, como proposi��o metodol�gica, � apresentada pelo professor e pesquisador Brad Haseman (Queensland University of TechnologyAustr�lia), autor do Manifesto Pela Pesquisa Performativa (2015). Ela � uma metodologia guiada-pela-pr�tica que surge do universo das artes, compreendendo as emerg�ncias do fazer art�stico que muitas vezes n�o eram abra�adas pelos outros segmentos metodol�gicos, e das necessidades que os pesquisadores sentiam de validar suas pr�ticas art�sticas em suas pesquisas. A pesquisa performativa n�o se enquadra nos moldes da pesquisa qualitativa e quantitativa. Portanto, pode-se dizer que ela � uma outra categoria de investiga��o. Nela, a pr�tica art�stica � entendida, em si, como pesquisa e n�o como instrumento, atividade ou resultado; atrav�s da pr�tica que o pesquisador chega a suas quest�es, hip�teses, conclus�es, refer�ncias e tudo que permeia um estudo. �Pesquisadores guiados-pela-pr�tica constroem pontos de partida emp�ricos a partir dos quais a pr�tica surge. Eles tendem a �mergulhar�, come�ar a praticar para ver o que emerge. Eles reconhecem que o que emerge � individualista e idiossincr�tico.� (HASEMAN, 2015, p. 44). Portanto, � uma abordagem metodol�gica que sustenta uma pr�tica como pesquisa de maneira particular, considerando o contexto de seu pesquisador.

Os laborat�rios pr�ticos da pesquisa de mestrado aqui apresentada exploram os Sete N�veis de Energia, em um primeiro momento, de forma convencional. Encaramos como convencional a forma que aprendemos, por transmiss�o oral referenciada na Escola Jacques Lecoq, e experimenta��o pr�tica art�stica, seguindo um determinado plano de a��es para exerc�cios improvisacionais que era apresentado em acordo com a aprendizagem originalmente obtida das atividades de primeiro ano da referida escola[2].

Posteriormente, os laborat�rios incorporam uma nova perspectiva e outros planos de a��es aos dos Sete N�veis de Energia, experimenta��es e estudos que v�o sendo descobertos ao decorrer do percurso.Consideramos os laborat�rios de pesquisa como �[...] um espa�o de experi�ncias, de elogio dos processos criativos [...]� (BRAGA, 2013, p. 79), e � onde conseguimos de fato pesquisar e construir um trabalho autoral. Os laborat�rios de pesquisa aqui tratados aconteceram no espa�o f�sico da FUNARTE MG. Em 2019, apresentamos uma proposta de experimento performativo relacionado aos Sete N�veis de Energia ao edital �Laborat�rio da Cena 2019 FUNARTE MG�, que foi aprovada. O edital propiciou uma investiga��o pr�tica com dura��o de seis meses, de setembro de 2019 a fevereiro de 2020. Nesse mesmo semestre, no �mbito de uma disciplina do Programa de P�s-Gradua��o em Artes da UFMG, �Processos Interdisciplinares nas Artes da Cena - Ateli� Artesania de Atriz - Ator � Performer�, foram aprofundados alguns aspectos da pesquisa, pois a docente respons�vel por essa disciplina � tamb�m a orientadora da pesquisa e autora Bya Braga.

A primeira quest�o apresentada por Braga (2006, p. 78) no texto Raspas e Restos me interessam, �Porque estudamos o processo de cria��o?�, tem como resposta um pensamento que argumenta em favor do pesquisar de modo pr�tico criativo nas artes da cena. Diz Braga: �A primeira [resposta] � o valor da arte teatral como um fen�meno que transcende o objeto art�stico. Isso significa que a arte adquire maior amplitude como experi�ncia humana, como pr�xis, relacionando-se com um maior n�mero de elementos e expondo-os para o p�blico.� (2006, p. 78). Com isso, acreditamos que, assim como o teatro, as artes da cena em geral tamb�m podem transcender o fazer acad�mico mais comumente conhecido na atividade de pesquisa, usando o fazer art�stico como meio de valida��o e trabalho metodol�gico das quest�es apresentadas e potencialidades de investiga��o. Ainda de acordo com o pensamento da referida autora (BRAGA, 2006), estudar o processo criativo ou se valer do pr�prio processo como caminho metodol�gico dentro da pesquisa acad�mica se torna fundamental para especula��es, argumenta��es, experimenta��es criativas e, inclusive, valida��es do objeto de estudo.

Encaramos, portanto, a pesquisa performativa como uma metodologia que potencializa as artes perform�ticas, pois sua proposta de estudo se utiliza do pr�prio fazer art�stico como base para a escrita dos processos criativos e seus resultados.

Todo processo de cria��o � um processo vivo e cheio de surpresas, renovando-se continuamente. Al�m disso, pode e deve se abrir para uma inter-rela��o de conhecimentos. Todos esses fatores s�o, portanto, levados em considera��o na pesquisa performativa (SERRANO, 2013). No caso da nossa abordagem, n�o buscamos estabelecer uma receita de trabalho mas, sim, um ponto de partida que se desdobre em um fazer art�stico dentro mesmo de uma pesquisa acad�mica. A pr�pria escolha da proposta da pesquisa performativa para investigar os Sete N�veis de Energia tende a oferecer, no nosso caso, uma abordagem que se aproxima das reflex�es de Serrano (2013), ou seja, que se forma a partir das experi�ncias nas quais o corpo � quem dita as constru��es de caminho.

Entendendo que cada corpo carrega consigo uma hist�ria, uma trajet�ria, uma diversidade, ent�o cada corpo prop�e o seu caminho de atua��o,

 

[...] o corpo � autor, criador e pesquisador; estudo, estudado e estudante, � o meio, � o fim; tema e m�todo, quem, o qu�, como e onde (FERNANDES apud SERRANO, 2013, p. 29)

 

[...] assim, permite que, nas artes c�nicas, aquilo que seria �objeto� seja visto como sujeito num corpo em movimento, o que permite a (re) apropria��o de uma consci�ncia em mudan�a constante (SERRANO, 2013, p. 29).

 

 

����������� Para Serrano (2013), refletir sobre estruturas de pesquisas din�micas n�o � pensar que o processo � inacabado, mas sim que a pesquisa sempre se reciclar� e estar� em movimento. Nessa perspectiva, a pesquisa tende a se tornar uma proposta descolonial, apresentando outras vari�veis de constru��o do saber, �[...] conhecimento das corporeidades, suas possibilidades, est�ticas e po�ticas [...]� (SERRANO, 2013, p. 30). A utiliza��o de metodologias advindas de outras �reas de conhecimento � algo poss�vel e habitual no campo das artes da cena, mas s�o sistematiza��es que n�o necessariamente foram ou est�o estruturadas por pensadores artistas. At� as pesquisas qualitativas advindas do campo das Humanidades, metodologias que muitas vezes s�o utilizadas no campo das artes, tendem a guardar um pensamento l�gico que pode considerar a teoria como um conhecimento a priori, ao contr�rio da pesquisa performativa, que encara o fazer art�stico como a priori. Desse modo, percebe-se que a cultura da pesquisa acad�mica tende a ser pautada em um modo de ci�ncia positivista. Mas, com o advento da ci�ncia p�s-estruturalista, as pesquisas se abriram para uma dinamicidade, ou seja, tudo est� em constante movimento, at� as verdades mais enraizadas (FERNANDES, 2014).

Podemos, portanto, fazer uso de metodologias que se apoiem mais diretamente em um processo criativo art�stico e que contribuam de modo mais singular na composi��o de nossas pesquisas pr�ticas-te�ricas. As abordagens de uma pesquisa guiada-pela-pr�tica trabalham com uma realidade din�mica que se pauta nas rela��es criativas que emanam do conhecimento do sens�vel. Em suma, tais pesquisas apresentam a pr�tica art�stica performativa como forma de conhecimento e aprendizagem, tratando-a como um ponto de partida para a escrita dos processos e resultados como em disserta��es e teses acad�micas, bem como artigos. O saber que vem pela pr�tica art�stica fortalece, no mundo acad�mico, o conhecimento sobre e da pr�tica. A pr�tica n�o est�, ent�o, ilustrando o trabalho, ela � o trabalho em si, o meio de estudo (FERNANDES, 2013). Al�m disso, a pesquisa performativa se faz relevante, pois pode ser modificada no fluxo da experi�ncia pr�tica art�stica, constru�da e desconstru�da de acordo com o fazer do pesquisador, que recria e recria-se a cada nova etapa.

Cada corpo que vivencia o modo da pesquisa performativa, falando aqui especificamente das pesquisas em artes do corpo, � uma vida distinta, permeada por suas experi�ncias, suas percep��es, e corporeidades (FERNANDES, 2014).

Analisando a hist�ria das artes do corpo no Brasil, � percept�vel que cursos de gradua��o e p�s-gradua��o em artes - focando na �rea das artes do corpo na dan�a, teatro, performance - s�o de certa forma recentes se comparados � forma��es similares em outras �reas. � percept�vel tamb�m que pesquisas no campo c�nico precisaram se valer de outras �reas do saber para serem validadas (FERNANDES, 2014). Como pesquisadoras-artistas-educadoras acreditamos que

[...] atualmente, as discuss�es sobre o corpo como obra de arte e nas artes conquistaram um lugar definitivo. Desde a legitima��o da dan�a como �rea de conhecimento se sofisticam as rela��es interdisciplinares e transdisciplinares, realidade que salienta a relev�ncia de revis�es cr�ticas, de novas perspectivas sobre o corpo/sujeito que, direta e indiretamente, provocam e desafiam o entendimento das pr�xis de fazeres art�sticos, sociais e pol�ticos (PRETTE, 2017, p. 666).

 

Ciane Fernandes (2014), pesquisadora em dan�a, apresenta a pesquisa Som�tico-Performativa, metodologia que une os pressupostos da pesquisa performativa com os saberes e fazeres do corpo, pois ambas as metodologias defendem a ideia da pr�tica como pesquisa e da pesquisa guiada-pela-pr�tica. Para ela, um dos grandes marcos de legitima��o da pesquisa Som�tico-Performativa � que ela � realizada por meio do corpo como objeto art�stico de pesquisa. Dialogando com a pesquisa de Fernandes (2014), incorporamos as seguintes concep��es: a arte, no caso o corpo, � o eixo da pesquisa; todo conhecimento adv�m do fazer art�stico desse corpo; em nossa pesquisa das pr�ticas laboratoriais dos Sete N�veis de Energia, toda a parte escrita da pesquisa nasce com base nos laborat�rios que realizamos, ou seja, a defini��o de cada conceito e reflex�o emerge dos conhecimentos pr�ticos do corpo.

Entender que a pesquisa tamb�m � um fazer art�stico, n�o estabelecer dicotomias na pesquisa em arte �, assim, entender que a pr�pria pesquisa � arte, elaborando uma escrita criativa que contemple todo o processo de constru��o pr�tico-te�rico. Estamos buscando tal perspectiva continuamente.

A especificidade do estudo art�stico potencializa o seu percurso, atrav�s do conhecimento sens�vel e tamb�m dos saberes subjetivos ou n�o (RAMOS, 2015). Mas em concord�ncia com o professor e pesquisador Luiz Fernando Ramos (2015), o Brasil � um pa�s com enormes car�ncias, especialmente as educacionais; portanto, a frui��o presencial do conhecimento art�stico, proposta por algumas pesquisas, � um ato complexo, dif�cil e nada pol�tico, j� que tal conhecimento muitas vezes n�o chega onde deveria chegar. O trabalho escrito, ent�o, � de extrema relev�ncia, j� que sua difus�o � mais f�cil e permanente. Nesse sentido, problematizamos a proposta de escrita da pesquisa performativa apresentada por Brad Haseman, visto que ele apresenta a parte escrita de uma pesquisa performativa como algo mais baseado em um relat�rio, um texto mais descritivo. Entendemos, por�m, que quanto mais uma escrita, fruto de uma pesquisa performativa, conseguir captar e passar o maior n�mero de informa��es, percep��es e afetos do processo art�stico desenvolvido na investiga��o, mais consolidado tende a se tornar o fazer art�stico fruto desta investiga��o no �mbito de uma pesquisa acad�mica.

����������� Por outro lado, reconhecemos que a difus�o da experi�ncia pr�tica art�stica de uma pesquisa, para al�m da escrita (performativa ou n�o) que dela se origina, na maior parte das vezes fica limitada a apenas uma determinada rede de pessoas. Assim, a mem�ria do processo da pesquisa na forma escrita, apresentando os resultados finais de uma investiga��o, em texto cujo car�ter pode ser de estilo mais performativo ou n�o, ainda se faz necess�ria. Percebemos que o trabalho escrito da pesquisa � potencialmente um grande ve�culo de difus�o do conhecimento e acessibilidade, por v�rios meios. Isso n�o deve ser desconsiderado.

Mas, no decorrer de nossas investiga��es, uma quest�o importante que tem se apresentado �: como revelar em uma escrita todo o processo de frui��o e viv�ncias que a pr�tica art�stica da pesquisa proporciona? Para n�s, uma abordagem que chega perto dessa pot�ncia � a fenomenologia da percep��o do fil�sofo franc�s Maurice Merleau-Ponty - vale ressaltar que Haseman n�o cita a fenomenologia da percep��o em nenhum de seus escritos sobre a pesquisa performativa e essa � uma coloca��o nossa que nasceu da necessidade de levar para a palavra tudo que aprendemos e constru�mos com o nosso fazer art�stico. A fenomenologia � uma corrente filos�fica que tem por excel�ncia a descri��o densa das rela��es. Esse campo defende que as �coisas partam delas mesmas� � �de volta �s coisas mesmas�. A esse respeito, a professora Marina Marcondes Machado nos diz que:

O germe do pensamento merleau-pontiano est� em filosofar sobre o corpo, com o corpo, no corpo; trabalhar com a importante no��o da tradi��o da Fenomenologia de Husserl, a consci�ncia intencional; pensar os enigmas da percep��o e escrever sobre eles; construir um projeto filos�fico pessoal a partir da import�ncia da linguagem e da sua significatividade (MACHADO, 2010, p.15).

 

Ou seja, diante disso entendemos a necessidade de um pesquisador performativo enraizar-se na pr�tica e a partir dela criar suas pr�prias observa��es, compreens�es, interpreta��es e consequentemente descri��es, a seu modo, em estilo pr�prio. A fenomenologia defendida por Merleau-Ponty nos convida a buscar totalidades e n�o dicotomias (MACHADO, 2010), uma escrita que nasce da pr�tica e caminha junto com ela. �� tamb�m fundamental levar em conta o organismo em situa��o, sem nunca separar o campo motor e o campo perceptivo� (MACHADO, 2010, p. 20).

����������� Como fazemos, ent�o, uma escrita a partir da pr�tica da pesquisa que desenvolvemos? Durante dois ou tr�s dias da semana s�o realizadas as atividades de laborat�rio pr�tico c�nico, com tr�s a quatro horas de dura��o em cada dia. Trata-se de estabelecer um ritual experimental que � primordial da pesquisa, no qual o fazer art�stico processual acontece. Todas as atividades pr�ticas s�o filmadas, por meio de c�mera de celular. Ao final de um dia laboratorial, as percep��es e outras quest�es surgidas s�o anotadas no di�rio de pesquisa. Depois, estabelecemos momentos de releitura deste di�rio e procuramos encontrar ali quais s�o as quest�es latentes que n�o conseguimos resolver. Fazemos isso paralelamente � atividade de pesquisa de refer�ncias e de orienta��es regulares, observando as anota��es que surgem por meio delas.

Um exemplo de quest�o surgida em laborat�rio � sobre a rela��o energia e tens�o. Para al�m da pesquisa conceitual sobre este tema, a pr�tica laboratorial nos levou a buscar melhor compreens�o sobre a no��o de tens�o. � importante dizer que a nomea��o de Sete N�veis de Energia, que adotamos em acordo com o que aprendemos dela dentro de uma abordagem espec�fica na pedagogia de Lecoq, s�o mencionados (oralmente) por alguns de seus ex-alunos como Sete N�veis de Tens�o/Tonicidade.

No decorrer dos laborat�rios da pesquisa, nos propusemos a estudar, na pr�tica, a partir das refer�ncias obtidas, como o corpo estava pesquisando os Sete N�veis de Energia. O que poderia ser tens�o e n�o a energia citada por Lecoq nos �sete n�veis�? Os �sete n�veis�, mais comumente assim conhecidos por artistas e ex-alunos da Escola Jacques Lecoq, s�o subdivididos em Subdescontra��o, Desconstru��o, Economia, Firmeza, Alerta, Irrita��o, Asfixia (SACHS, 2013).

Chegamos a essa reflex�o n�o por meio de textos sobre os Sete N�veis, mas pelo pr�prio corpo, performando com ele. � importante mencionar que das pesquisas de refer�ncia que fazemos sobre esse procedimento da pedagogia de Lecoq, os estudos sobre isso s�o restritos e geralmente bastante esquem�ticos, priorizando-se uma listagem dos referidos n�veis sem um acompanhamento de reflex�o mais aprofundada sobre essa pr�tica dentro do pr�prio conjunto pedag�gico lecoquiano.

No nosso processo de pesquisa performativa, com o aux�lio tamb�m das orienta��es acad�mico-art�sticas recebidas, em determinado momento laboratorial percebemos que o corpo exigiu uma resposta a algo que anteriormente parecia simples, ou seja, discutir o corpo energ�tico do performer. Mas, esse corpo estava trabalhando, de fato, a tens�o muscular ou a energiza��o corp�rea?

Com essa indaga��o, que veio da pr�tica, retomamos uma pesquisa de refer�ncia espec�fica, ainda n�o realizada com tal foco. E iniciamos um percurso de melhor defini��o a respeito de energia e tens�o que pudesse englobar nossas percep��es advindas das atividades laboratoriais da pesquisa.

Com o aprofundamento na pesquisa de refer�ncia, buscando compreender cada conceito por meio de outros artistas pedagogos, inclusive, voltamos para a atividade pr�tica e para os experimentamos novamente. Nesse momento, focamos a experi�ncia ora no que compreendemos sobre estados tens�o, ora em estados de energia corporal. O corpo em pesquisa pareceu dar algumas respostas. E, com isso, temos criado um estilo de compartilhamento escrito desses resultados iniciais registrados em di�rios de bordo e relatos para as atividades de orienta��o. Fazemos, portanto, uma busca de registro de um di�logo de investiga��o n�o hier�rquico entre as experi�ncias performativas pr�ticas e os estudos em refer�ncias outras.

����������� A escrita tamb�m � uma pr�tica. A escrita de pesquisa gera um estilo. Nos primeiros laborat�rios as palavras apareciam soltas nos registros feitos, como anota��es esparsas de sensa��es. Mas, depois de um tempo volt�vamos a ler os registros feitos e cri�vamos interroga��es com desenhos, ou ainda faz�amos destaques no texto produzido como uma esp�cie de bricolagem textual e imag�tica. Isso nos ajudaria a ver, ali, alguns detalhes da experi�ncia laboratorial e a falar posteriormente um pouco mais sobre algumas reflex�es e sensa��es surgidas na escrita e no corpo. Sim, para n�s o corpo tamb�m fala como um todo! � preciso treinamento n�o somente para a express�o dele, mas tamb�m para a sua escuta. Com o tempo a escrita da pesquisa vem se tornando mais fluente.

De modo mais resumido, podemos dizer que o percurso da pesquisa em andamento nasce, especialmente, dos laborat�rios pr�ticos que fazemos e que, em um primeiro momento, passam da viv�ncia corporal em estado expressivo, da auto-experimenta��o da proposi��o lecoquiana dos Sete N�veis de Energia, para o di�rio de bordo. Nele, s�o escritas todas as impress�es percebidas, reconhecidas, aquilo que foi sentido no ato das experimenta��es, bem como anotado o que o corpo apresentou de novo. A escrita da experi�ncia performativa laboratorial no di�rio n�o segue normas nem padr�es, e �s vezes vem acompanhada de desenhos, ou seja, � uma escrita expandida na qual se agregam tamb�m colagens imag�ticas. As palavras ali dispostas podem se apresentar em v�rias dire��es, pois n�o racionalizamos a escrita em sua ordem ocidental neste momento, da esquerda para a direita e uma linha horizontal, em p�gina pautada. Para um novo dia de laborat�rio, voltamos �s escritas anteriores e tamb�m fazemos ilustra��es ou marca��es do que acreditamos ser relevante no processo de investiga��o. O di�rio tamb�m � trabalhado e ampliado no dia a dia, n�o somente nos dias de laborat�rio, registrando-se ali marcas da pesquisa de refer�ncia em andamento e outros. Se, em alguns dias aleat�rios, ocorrem impress�es sobre a pesquisa, corremos para o di�rio e anotamos ou complementamos alguma reflex�o com esses devires. Seguem alguns trechos do di�rio em processo:

������������������������������ ��������������Subdescontra��o: corpo bal�o, encontrar o estado de flutua��o desse corpo. Trabalhei exerc�cios de respira��o, tentando levar a respira��o para todas as partes do corpo, mas tenho algum bloqueio nas pernas, os p�s est�o enraizados a respira��o n�o est� chegando e estou com mais de 10% de energia ou tens�o, as pernas em tens�o o p� em energia, preciso perder essas qualidades na Subdescontra��o. Pr�ximo trabalho para esse n�vel: encontrar alguma piscina dispon�vel, e me desvincular da gravidade, acredito que assim chegue ao corpo bal�o.

 

��������������������� �����������������������[...] Asfixia: est� muito falso!!! Corpo na forma, apenas. N�o entendi aquela m�o, corpo em �rvore: legal � manter, mas como chegar nesse corpo. Asfixia � ser ar, preciso segurar o ar at� o m�ximo e deixar o corpo fazer esse estado sozinho ou ficar sem ar algum. Preciso desligar e parar de ser prepotente com meu corpo. Pr�ximo laborat�rio: ficar o m�ximo de tempo sem respirar, se conseguir a piscina, fazer isso na piscina�. (Dia 28 de outubro de 2019)[3]

 

Esse � um trecho da primeira parte do laborat�rio do dia 28 de outubro. Outros trechos cont�m tamb�m desenhos e colagens, com algumas bexigas e desenho de piscinas.

A abordagem da pesquisa performativa nos prop�e entrar no campo de estudo sem os �culos te�ricos somente e a pesquisa de refer�ncia realizada tende tamb�m a transcender a pesquisa bibliogr�fica (em materiais f�sicos como livros), expandindo-se n�o somente para a webgr�fica em textos virtuais, mas especialmente imag�ticas, audiovisuais. De modo geral, ainda somos incentivados na pesquisa acad�mica, por meio de algumas metodologias, a investigar partindo-se de materiais te�ricos que, sem d�vida, s�o mais acess�veis a um processo de investiga��o. Mas a pesquisa performativa, ao estimular uma n�o hierarquiza��o de saberes, tende a contribuir para fazermos um trabalho que chamamos de org�nico e autoral em seu sentido tamb�m pr�tico art�stico.

Outra perspectiva de investiga��o para al�m das fontes e refer�ncias te�ricas, como j� mencionado mais acima, s�o bem-vindas e necess�rias no caso de nossa investiga��o, pois se apoiam na refer�ncia da pr�tica laboratorial, algo que dialoga muito bem com tem�ticas de pesquisa que tamb�m se apoiam em oralidades e saberes pedag�gicos constru�dos na pr�tica, como o � o trabalho na Escola Jacques Lecoq.

Toda vez que relemos o di�rio de bordo da pesquisa, novas impress�es nos ocorrem. No momento, para al�m das discuss�es entre energia e tens�o, bem como os estudos sobre os estados do corpo propostos em cada etapa dos Sete N�veis, os estados de presen�a, tomam lugar tamb�m as reflex�es surgidas sobre interculturalidade e descolonialismo.

Se os Sete N�veis de Energia s�o parte de uma pedagogia espec�fica, n�o temos como deixar de pensar sobre a forma��o do artista c�nico no processo da investiga��o. Isso tamb�m surge da atividade de laborat�rio em conex�o direta com os processos de orienta��o vividos neste percurso.

Quando nos deparamos com a hist�ria da forma��o t�cnica de ator no Brasil, de modo independente da aprendizagem mediada pela literatura dram�tica para a realiza��o dos trabalhos de improvisa��o ou mesmo de composi��o de a��es f�sicas, podemos perceber que ela tamb�m possui influ�ncia europeia importante. A aprendizagem por meio das proposi��es pedag�gicas de Jacques Lecoq � uma perspectiva europeia, baseada em uma linhagem de ensino, transmiss�o e experi�ncias que partem da escola francesa de Jacques Copeau (1879-1949). Ao pesquisarmos sobre ela, por meio da abordagem t�cnica c�nica dos Sete N�veis de Energia, n�o queremos, por�m, refor�ar seu aspecto colonial. Assim, tratamos de perceber tal pedagogia em suas marcas coloniais, criticando-a e a transformando para sua aplica��o no Brasil. Uma das autoras deste texto, Bya Braga, desde o final dos anos 90 transmite elementos da pedagogia de Jacques Lecoq em suas aulas na Gradua��o em Teatro da Universidade Federal de Minas Gerais, fazendo isso de modo cr�tico. Busca praticar, assim, um trabalho descolonial na rela��o com a pedagogia de Lecoq, especificamente nos conte�dos sobre o jogo de ator e a improvisa��o, em trabalhos de jogo m�mico, M�scara Neutra, Commedia dell�Arte e Buf�o. Braga criou, inclusive, para o jogo com a M�scara Neutra, a confec��o de m�scaras que n�o possuam uma �nica colora��o. Para jogos com m�scaras, incluindo Commedia dell�Arte e Buf�o, s�o propostos ainda por ela, estudos associados de mascaramentos brasileiros e da carnavaliza��o; para jogos m�micos e a improvisa��o pelo movimento s�o tamb�m consideradas refer�ncias da gestualidade cultural brasileira, bem como a din�mica expressiva dos brincantes em manifesta��es espetaculares festivas brasileiras. E, portanto, mesmo em trabalhos de ensino-aprendizagem cujo sil�ncio vocal se faz presente em algum momento, Braga n�o incentiva o silenciamento e a exclus�o da expressividade dos corpos diversos presentes, por exemplo, em nosso pa�s.

No caso espec�fico dos Sete N�veis de Energia, ao reconhec�-los como base importante para o jogo da improvisa��o silenciosa, o compreendemos integrado �s buscas descoloniais que Bya Braga faz para uma pedagogia corporal c�nica. A experimenta��o da transmiss�o do jogo lecoquiano dos Sete N�veis de Energia que fazemos atualmente, nos revela que n�o se trata de uma pr�tica que acentua a coloniza��o dos corpos no sentido de apresentar a eles alguma t�cnica f�sica ou uma codifica��o espec�fica de movimento para o aprendiz. Os Sete N�veis de Energia trabalham com o que o corpo do aprendiz possui, respeitando sua diversidade e sua materialidade particular. Ou seja, trata-se, tamb�m, por meio dele, de uma pr�tica que estimula a improvisa��o autoral, de car�ter performativo em especial, pois n�o se vincula a uma dramaturgia textual, al�m de valorizar aspectos imag�ticos f�sicos, permitindo a apari��o de matrizes corporais culturais, ancestrais e tradicionais, ainda que dentro de uma estrutura sequenciada de movimentos, roteirizada em sete n�veis de energia por Lecoq, para o acontecimento improvisacional.

Diante disso, concordamos com Mignolo (2003; 2005) sobre a necessidade de percebermos as marcas de colonialidade dentro dos saberes com os quais lidamos, inclusive os saberes c�nicos pr�ticos, podendo, assim, nos relacionar com tais marcas de modo bastante cr�tico e propositivo. �Os processos de cria��o nas artes da cena podem ser pensados, portanto, como um laborat�rio para a viv�ncia, o ensino e a aprendizagem de saberes outros, pela via do corpo, regidos por uma �tica de respeito �s diferen�as.� (BEL�M, 2016, p. 126).

No que tange ainda � escrita da pesquisa, acreditamos que o di�rio de bordo, ao conter uma escrita visceral, � um modo potencial de escritura para estimular um estilo diferente de apresenta��o de uma disserta��o ou mesmo outro resultado escrito de pesquisa. E entendemos isso tamb�m como um processo descolonial no mundo dos saberes e dos modos de pesquisa hegem�nicos. H� que se treinar, portanto, tamb�m esta descoloniza��o.

Atualmente, ainda estamos em processo de composi��o de um estilo de escrita da pesquisa a fim de melhor compreendermos se j� ter�amos condi��es de mostr�-la em modo mais performativo. A escrita imediata que fazemos ap�s as atividades de laborat�rio realizadas, somadas a outros tipos de estudos, revelam uma escrita que percebemos fresca. Por�m, ela pode ainda n�o ser uma composi��o pass�vel de melhor compreens�o dos processos da pesquisa. Na composi��o dessa escrita de resultados da pesquisa, ainda que parciais, sempre recorremos ao di�rio de bordo como fonte importante de material, e a partir dele desenvolvemos uma escrita, mesmo que de forma considerada em estilo mais acad�mico. Mas � nos registros do di�rio de bordo que toda a vivacidade da pesquisa e de seu processo parecem melhor se apresentar. Isso, sem d�vida, poderia servir para uma composi��o de imagens da escrita final da pesquisa, por�m gostar�amos que houvesse, de fato, um texto performativo como resultado escrito da pesquisa. O momento, ent�o, � de laborat�rio tamb�m para a composi��o dessa escrita performativa. Felizmente, cada vez mais, escritas consideradas vivas e org�nicas, performativas, textos oriundos da produ��o pr�tica art�stica da pesquisa, s�o valorizadas no campo das artes. Com a pesquisa performativa, isso nos parece importante de se considerar e exercitar. Pois isso nos coloca presentes na escrita de forma diferente e de modo que o leitor possa sentir e visualizar algo importante, o processo criativo da pr�pria pesquisa, al�m dos registros de seus resultados finais.

IMAGEM 1: Foto de Nailanita Prette.[4]

IMAGEM 2: Foto de Nailanita Prette.

IMAGEM 3: Foto de Nailanita Prette.

IMAGEM 4: Foto de Nailanita Prette.[5]

 

Experimentar, vivenciar, colocar o corpo � prova e produzir conhecimento a partir dele, com ele, nos alimenta como artistas das artes da cena e, assim, todas essas rela��es alimentam a nossa escrita.

Estamos, portanto, apresentando um processo cinest�sico que trabalha o corpo em sua totalidade, com suas mem�rias, afetos, desejos e, no caso dos Sete N�veis de Energia, que � uma metodologia de improvisa��o, n�o existem padr�es de movimenta��es a seguir, mas sim protocolos de a��es que n�o visam induzir ao certo ou ao errado. Existe, nessa abordagem, a experi�ncia corporal expressiva e n�o se tem um objetivo definido a cumprir em cada n�vel lecoquiano. Existem percep��es a realizar a partir das indica��es dadas, das imagens fornecidas em cada n�vel, em di�logo com jogos de imagina��o e jogos mim�ticos. Com isso, o percurso de experimenta��o individual nos Sete N�veis de Energia se abre distintas percep��es, ainda que exista uma po�tica comum realizada a partir de motiva��es espec�ficas na condu��o dos exerc�cios.

Ramos (2015) aponta a constata��o de Haseman, segundo a qual muitos pesquisadores da arte n�o pesquisam um problema ou uma solu��o para o problema, mas que na maioria das vezes eles s�o movidos pelo entusiasmo do fazer art�stico. No caso dos Sete N�veis de Energia, esse entusiasmo nasce da vontade de pensar essa abordagem em um corpo brasileiro, diverso, pois os Sete N�veis de Energia emergem de uma escola francesa de teatro como acima j� abordamos. Jacques Lecoq teve toda sua forma��o na Europa, em especial na Fran�a e It�lia, e seu trabalho tamb�m teve influ�ncia de formas teatrais japonesas como o teatro N�. Ou seja, ao experimentar esse trabalho no corpo, os Sete N�veis de Energia, que s�o uma abordagem de improvisa��o, uma metodologia que n�o apresenta uma t�cnica codificada, nossa vontade � ver como o corpo de quem pesquisa, na pr�tica, reage a esse jogo. E, posteriormente, se poss�vel, como outros corpos diversos tamb�m reagem a tais proposi��es. Isso, certamente, realizando uma atividade tamb�m importante de pesquisa que � apresentar no Brasil um estudo mais aprofundado sobre esta abordagem lecoquiana.

Outro aspecto importante que consideramos na pesquisa � a possibilidade de os Sete N�veis transcenderem o trabalho de pedagogia teatral e se ampliarem para uma pedagogia de performer.

����������� Na pesquisa acad�mica, a abordagem de investiga��o performativa, ou as pesquisas guiadas-pela-pr�tica, podem se unir e se contaminar tamb�m das pesquisas pr�ticas art�sticas, em si, dos profissionais das artes da cena. Trazemos aqui como exemplo uma artista mineira com forte e ampla experi�ncia, Dudude Herrmann, artista esta que Nailanita Prette teve o privil�gio de conhecer e fazer aulas regulares. Dudude Herrmann � bailarina, core�grafa, professora, artista da dan�a e uma das grandes refer�ncias da dan�a contempor�nea e improvisa��o em dan�a no Brasil, com uma carreira que se estende para o �mbito internacional tamb�m. Ela j� se apresentou e ministrou aulas em diversos pa�ses europeus. Estudou com grandes personalidade da dan�a como Marilene Martins, Angel Vianna, Klauss Vianna, Ivaldo Bertazzo, entre outros (RETTORE, 2010). Mencionamos isso porque, durante as aulas, nos parece evidente a somat�ria de conhecimentos de Herrmann e como todo seu processo de aprendizagem e experi�ncia torna-se material de pesquisa art�stica nela e com ela.

Herrmann inicia sua pesquisa e a��o de ensino art�stico pelo movimento e, durante suas aulas, as explica��es e quest�es emergem do corpo, o que � bem not�rio quando nos deparamos com seu livro Ela sentou na cadeira (2019), no qual a artista gentilmente compartilha conosco seus textos sobre pr�ticas de improvisa��o e seus escritos po�ticos. A partir dele nos deparamos com sua forma de trabalho, que � um trabalho do corpo por excel�ncia, e a escrita � performativa, fruto da pr�tica art�stica e de um modo distinto de pesquisa performativa, levando-nos para uma leitura de seus poemas e de seus textos dentro da compreens�o de que toda sua escrita nasce do corpo em movimento expressivo. Dudude Herrmann apresenta o caderno de registro de suas atividades art�sticas como parte do seu processo de cria��o e a influ�ncia direta que ele exerce em seu fazer art�stico, dizendo: �meu caderno � meu corpo, meu corpo de riscar.� (RETTORE, 2010, p. 117).

Por fim, nosso ponto de vista � que a pesquisa performativa vem fortalecer e legitimar a pesquisa dos artistas independentes e acad�micos da �rea, que pesquisam por meio do fazer arte. N�o defendemos, aqui, que a pesquisa performativa � a melhor metodologia de investiga��o em artes c�nicas, mas � a que escolhemos e entendemos como mais um passo para a legitima��o efetiva e o reconhecimento das artes no campo dos saberes.

A pesquisa performativa tende, assim, a atuar na defesa das artes c�nicas como �rea de conhecimento, reconhecendo os estudos art�sticos pr�ticos como meio e tamb�m resultado de processos criativos de investiga��o. Existimos e resistimos, portanto, com e para a afirma��o do corpo art�stico-po�tico na pesquisa acad�mica e, em especial, na rela��o com pedagogias corporais para o artista c�nico.

 

 

REFER�NCIAS

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DOI: https://doi.org/10.20396/conce.v2i1.8647709.  Dispon�vel em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/conce/article/view/8647709. Acesso em: 5 set. 2019.



[1] A pesquisa em andamentoum Mestrado Acad�mico realizado na Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Belas Artes, Programa de P�s-Gradua��o em Artes, Linha de pesquisa Artes da Cena, com a orienta��o da Prof� Dr� Bya Braga.

[2] Aqui nos referimos � aprendizagem obtida na Universidade Federal de Vi�osa, dentro das atividades did�ticas do Curso de Licenciatura e Bacharelado em Dan�a, no ano de 2016, na disciplina de Atua��o Teatral, ministrada pela Prof.� Dr.� Christina G. Fornaciari.

[3] Anota��es em di�rio de bordo de Nailanita Prette.

[4] As imagens 1 e 2 s�o registros das atividades do laborat�rio de pesquisa em experimenta��o pr�tica art�stica dos Sete N�veis no estado de Tens�o. Data: 3 de setembro de 2019. Local: Departamento de Artes C�nicas, Escola de Belas Artes da UFMG. Imagem do arquivo de Nailanita Prette. Cr�dito da foto: Nailanita Prette.

[5] A imagem 4 � registro das atividades do laborat�rio de pesquisa, estudando os Sete N�veis no estado de Energia. Data: primeira foto, 17 de outubro de 2019; segunda foto 12 de novembro de 2019. Imagem do arquivo de Nailanita Prette. Locais: imagem 3: Departamento de Artes C�nicas, Escola de Belas Artes da UFMG, imagem 4: galp�o 6 da FUNARTE MG. Cr�dito da foto: Nailanita Prette.

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