Experimenta��o de texturas: o (des) construir das experi�ncias art�sticas com crian�as

Texture experimentation: the (de) construction of artistic experiences with children

Adriana Moreira

Professora do Curso de Teatro da Universidade Federal do Amap� (UNIFAP) e Doutoranda em Teatro pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Enquanto atriz, me dedico a investigar as artes performativas; enquanto professora, sigo atravessada pelo meu interesse pela crian�a, por seu modo de ser e estar na arte e na vida. O que podemos fazer de Teatro com crian�as t�o pequenas?� A resposta: TUDO.

drika_talentos@hotmail.com - https://orcid.org/0000-0001-6036-5405

 

 

Resumo

Este texto demonstra a busca por encontrar modos de refletir e escrever sobre a experi�ncia art�stica denominada Experimenta��o de Texturas. Essa experi�ncia consiste em uma pr�tica que foi realizada em 2014 com crian�as de 2 a 5 anos de idade em uma escola da rede particular de ensino.A pr�tica, que tem momentos distintos em sua elabora��o, ganha for�a ao sair do espanto perante o Caos e assumir que uma perspectiva ca�tica pode expressar os modos de a crian�a reelaborar o seu fazer art�stico. Conceitos emergidos da Teoria do Caos, como auto-organiza��o, imprevisibilidade, complexidade e sistemas, s�o pontos de an�lise, de (des) constru��o e reelabora��o dessa experi�ncia realizada dentro do espa�o escolar. O texto est� organizado em blocos de ideias e caixas de textos: blocos que exp�em as ideias centrais do processo pr�tico e caixas de textos com pensamentos que expressam o percurso pr�tico da cria��o art�stica na forma de cita��es, relatos, narrativas e imagens. Trata-se de um modo de elaborar uma escrita menos linear, mais fragmentada e aberta a interpreta��es das leitoras e leitores, trazendo, assim, respingos ca�ticos tamb�m para a forma textual.

 

Palavras-chave: Artes c�nicas e crian�as. Escrita e arte. Textura (Arte)

 

 

Abstract

This essay demonstrates the search for ways to reflect and write about the artistic experience called Texture Experimentation. This experiment was carried out in 2014 with children from 2 to 5 years old in a private school. The practice, which has distinct moments in its elaboration, gains strength when it comes out of the astonishment before the Chaos and assumes that a chaotic perspective could express the child's ways of re-elaborating his artistic work. Concepts emerged from the Chaos Theory, such as self-organization, unpredictability, complexity and systems are points of analysis, of (de) construction and re-elaboration of this experience carried out within the school space. The text is organized in blocks of ideas and text boxes: blocks that expose the central ideas of the practical process and text boxes with thoughts that express the practical path of artistic creation in the form of quotes, reports, narratives and images. This is a try to write in a less linear, more fragmented and open to the interpretations of readers way, thus bringing chaotic splashes also to the form of the text.

 

Keywords: Performing arts and children. Writing and art. Creation (Literary, artistic, etc.)

 

DOI: http://dx.doi.org/10.5965/1808312915252020e0016

Recebido em: 06/08/2020

Aceito em: 09/09/2020

 

 

Organizar as ideias. Escrever. Reescrever. Reinventar. Ter medo de reinventar.Como � poss�vel construir uma escrita que d� conta da emerg�ncia que sinto sobre a necessidade de repensar as pr�ticas art�sticas realizadas com crian�as dentro dos espa�os escolares?A pr�tica aqui relatada se (des) construiu pela aproxima��o e afinidade com o Caos. E, na escrita, como inscrev�-lo e torn�-lo parte da forma e do modo de expor as ideias?O texto aqui apresentado � o debru�ar sobre minha pr�tica art�stico-pedag�gica, que ocorreu em 2014 em uma escola de Educa��o B�sica da rede particular de ensino na cidade de Uberl�ndia (MG). Atualmente, tal pr�tica tornou-se o foco de an�lise e investiga��o da minha pesquisa de doutorado em Teatro. Aqui ela est� exposta tal qual ela se configura atualmente: em blocos de ideias difusas, que est�o e s�o interligadas, mas que nesse momento precisam ser apartadas para que eu consiga mergulhar e perceber as sutilezas de uma pr�tica que j� aconteceu e que, agora, corre o risco de ser tra�da pelo distanciamento entre pr�tica, reflex�o e escrita.

Nessa pr�tica, que chamo de Experimenta��o de Texturas, tudo aconteceu ao mesmo tempo, foram simult�neos: meu desejo por um novo modo de fazer teatro com crian�as pequenas; meu encontro com os escritos de Anna Marie Holm; os planejamentos para se come�ar aquele ano (2014) e a mudan�a de espa�o f�sico da escola onde a pr�tica ocorreu.Aqui na escrita eu tento me reorganizar a partir da mem�ria, dos di�rios, das fotos, dos v�deos e dos cadernos de planos de aula. Tento retra�ar nosso percurso, meu e das crian�as, a partir, claro, da minha vis�o sobre como tudo ocorreu. �s vezes, isso me parece injusto e incoerente com a pr�pria investiga��o, mas h� um desejo maior de gritar para o mundo que podemos ter junto �s crian�as outros tipos de experi�ncias art�sticas, distintas daquelas com as quais estamos habituados. Ent�o, sigo� Sigo relutante, a princ�pio, em escrever este texto. Sigo incentivada pelas pessoas envolvidas na organiza��o deste volume da revista DAPesquisa e sigo esperan�osa de encontrar a melhor ou a mais adequada forma de imprimir aqui uma parte essencial do que foram essas experi�ncias com as crian�as de 2 a 5 anos de idade.

Em 2014 eu era professora de Artes na Educa��o Infantil e estar em sala de aula com as crian�as sempre me deu a sensa��o de estar mais pr�xima do caos. Isso gerava em mim um inc�modo e um desconforto. At� que encontrei uma tranquilidade na pr�pria Teoria do Caos, que como um sopro me fez enxergar que tudo que eu vinha chamando de caos � no sentido ruim, de bagun�a, confus�o, falta de controle � tinha uma enorme pot�ncia art�stica.

 

Que al�vio!

 

Fico aliviada em saber que se as crian�as tiverem liberdade e que se eu confiar em seus modos de criar, esse caos n�o atrapalha; ao contr�rio, ele me mostra a capacidade de auto-organiza��o das crian�as, de lidarem com a imprevisibilidade e de estarem sempre sens�veis �s condi��es iniciais.Nesse processo me rendi a uma pr�tica que n�o s� deu mais liberdade �s crian�as, mas tamb�m desestabilizou o meu modo de olhar para elas, para o espa�o, para os materiais que nos rodeavam, enfim, para toda uma experi�ncia art�stica que ali j� se estabelecia. De maneira aberta, imprevis�vel, sem certezas e sem grandes planejamentos de aulas, fui apenas convivendo e enxergando na crian�a e em seus pr�prios modos de ser e estar no mundo as potencialidades est�ticas, art�sticas e subjetivas que tornavam aquelas experimenta��es �nicas. H� nessa experi�ncia art�stica com as crian�as, inerentemente, uma outra forma de organiza��o:

Mais ca�tica,

Menos previs�vel,

Menos ordenada e organizada.

Essas caracter�sticas me permitiram perceber essa pr�tica por meio de uma �tica investigada pela Teoria do Caos, cujo pressuposto � estudar os sistemas que n�o seguem padr�es previs�veis e/ou repetitivos � tais como as a��es, intera��es e rela��es que as crian�as estabeleciam ali. Por isso, compreender e aceitar a presen�a do caos nessa experi�ncia � dar margem �s potencialidades que emergem no e pelo caos.

Aqui j� me refiro ao caos no sentido compreendido pelas pesquisas cient�ficas acerca da Teoria do Caos e n�o como antagonista de ordem e organiza��o � tal como costuma ser entendido. A Teoria do Caos trata justamente de considerar as varia��es que modificam bruscamente o estado inicial das coisas.

O caos n�o � aus�ncia de ordem...

O caos n�o � aus�ncia de ordem...

O caos n�o � aus�ncia de ordem...

O caos n�o � aus�ncia de ordem...

O caos n�o � aus�ncia de ordem...

O caos n�o � aus�ncia de ordem...

O caos n�o � aus�ncia de ordem...

,,, mas sim excesso de complexidade. Ou seja, excesso de muitas informa��es advindas das diversas intera��es, respondendo �s in�meras interfer�ncias e se retroalimentando com o meio o tempo todo. Nessa pr�tica, o caos foi uma forma de as crian�as se colocarem, de produzirem e experienciarem a pr�pria Arte.

Agora busco modos de refletir sobre essa experi�ncia e dialog�-la com os conceitos da Teoria do Caos. Como fazer? Como elaborar uma escrita condizente com essa pr�tica ca�tica? Como manter os elementos ca�ticos na escrita de modo que se fa�am entend�veis para leitoras e leitores? O equil�brio entre o linear (acad�mico) e a n�o linearidade (ca�tica) me assombra e, por isso, aqui me disponho a organizar meus pensamentos de um modo que julgo manter a minha liberdade de escrita, sem deixar de apresentar os elementos fundamentais que constitu�ram a pr�tica: minhas percep��es acerca do fazer art�stico com as crian�as; os questionamentos e d�vidas que me cercaram naquele percurso de elabora��o da pr�tica; os conceitos que a fundamentaram; fatos, situa��es e as hist�rias que exemplificam o modo como a Experimenta��o de Texturas foi se desenrolando e, por fim, as novas perspectivas acerca do fazer teatral com crian�as pequenas, apresentando como possibilidade o di�logo e a aproxima��o entre a Arte e a Ci�ncia �especificamente, os estudos acerca da Teoria do Caos.

Essa liberdade pode ser vista no modo de estrutura��o desta escrita (fragmentos textuais, narrativas, cita��es de textos, relatos pessoais) que aparecem de forma h�brida, ora mais po�ticas, ora mais acad�micas. Tal escrita est� estruturada em blocos de ideias que apresentam os pontos centrais da reflex�o acerca da elabora��o da pr�tica Experimenta��o de Texturas. Esses blocos est�o subdivididos em caixas de textos que est�o organizadas no seguinte formato:

 

 

 

ENCONTRAM-SE OS T�TULOS QUE EVIDENCIAM A DISCUSS�O QUE ESTAR� PRESENTE NAQUELE BLOCO DE IDEIAS.

 

 

ESTAR�O AS PALAVRAS DESTACADAS DAS CAIXAS TEXTUAIS. PALAVRAS QUE EVIDENCIAM E REFOR�AM AS IDEIAS MAIS SIGNIFICATIVAS DA REFLEX�O DAQUELE BLOCO.

 


���������������������������������������������������������������������������������������

 

Estas ser�o as caixas textuais e trar�o as ideias em forma de: cita��es, relatos e narrativas referentes � discuss�o daquele bloco.

 

 

 

 

 

 


Assim sendo, proponho um compartilhamento n�o somente de uma experi�ncia art�stica com crian�as, mas de um modo de escrita que aqui se inicia e assim como a pr�pria pr�tica, lan�a possibilidades de (des) constru��o quanto � sua elabora��o. Essa � a primeira tentativa de aproxima��o do modo de escrita com a Teoria do Caos e a fa�o, especialmente, por meio do conceito de auto-organiza��o.Esse conceito refere-se, segundo a pesquisadora liter�ria Vanessa Ferreira (2008), � capacidade dos sistemas de criarem novas configura��es e interpreta��es, pois eles se comportam e se reorganizam independentemente das interven��es de um controle (externo ou interno). Isso significa que os blocos possuem uma linearidade, ou seja, um padr�o pr�-estabelecido na estrutura e na forma de escrita. Esse padr�o se repete (utiliza��o de cores, formatos e estilos de fontes) e � poss�vel identific�-lo ao longo do texto. No entanto, isso n�o impede que o leitor ou leitora tenha op��o de escolher, por exemplo, por qual caixa de texto ir� iniciar sua leitura dentro daquele bloco; se ler� os blocos na ordem em que aparecem ou outra ordem de acordo com seus focos de interesse explicitados tanto nas palavras das caixas amarelas, como nos t�tulos das caixas rosa.

H�, portanto, mesmo dentro dos padr�es, novas configura��es que ir�o se formar a partir da leitura de cada um/uma. A beleza disso � que eu n�o as posso prever. Ent�o... o texto est� aberto para as m�ltiplas interpreta��es, seja pela l�gica textual da escrita ou pelas compreens�es suscitadas pela forma. Para melhor visualiza��o, acesse a vers�o em pdf.

BLOCO DAS PERCEP��ES

 

Nas aulas de Teatro que foram ministradas em 2014 em uma escola de Educa��o Infantil na cidade de Uberl�ndia/MG, a pr�tica Experimenta��o de Texturas permitiu-me explorar as rela��es que a crian�a cria consigo, com os materiais, com o outro e com o espa�o. De modo mais livre a crian�a age e interage sobre os materiais e os mesmos afetam suas rela��es est�ticas, sensoriais, art�sticas e l�dicas.

 

Passei por algumas pr�ticas a partir do que eu entendia enquanto fazer teatral com crian�as.

Lentamente, comecei a perceber as crian�as com mais aten��o e perceber sutilezas. Reparei em seus modos de se relacionarem, de pensarem, de interagirem e de constru�rem suas experi�ncias art�sticas. Entendi que havia muitas potencialidades criativas nas experi�ncias art�sticas das crian�as.

 

 

 

 

RELA��ES

 

���������������� materiais

������������������� perceber sutilezas

 

 

��� olhar�������

Um caminho apontado pela professora e artista visual dinamarquesa Anna Marie Holm pareceu-me ser uma possibilidade diferente de tudo que eu vinha desenvolvendo em minha pr�tica.Ela prop�e a explora��o de materiais diversos, os quais as crian�as podem investigar, manipular, para criar e reconstruir outras instala��es.

 

Para a realiza��o de pr�ticas como essa eu dependia dos materiais dispon�veis na escola. Logo, tive que revisitar e ampliar meu modo de olhar os materiais existentes no espa�o escolar.

 

 

 

BLOCO DOS

QUESTIONAMENTOS

 

 

Quais materiais usar?

 

Como fazer?

� poss�vel me aproximar das propostas de Anna

Marie Holm dentro do espa�o escolar?

 

 

 

 

 


 

 

Como a arte e a cria��o podem emergir em um espa�o de controle?

 

Como pode o adulto saber onde termina o processo art�stico? Ou conhecer o caminho de antem�o e ter a situa��o sob controle? (Holm, 2004, p. 88)

 

ORdem

 

experi�ncias art�sticaS

����������

espa�o������������ ����������escolar

adulto

O que � um espa�o organizado? O que � uma sala em ordem?

 

 

Que tipo de ordem e organiza��o estamos construindo cotidianamente nas escolas?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O que s�o e como se d�o as experi�ncias art�sticas com crian�as?�����

 

BLOCO DAS NARRATIVAS

Iniciei pelos pap�is. N�o havia a��es bem delimitadas ou planos de aulas bem estruturados. Havia o papel, eu, as crian�as e o espa�o. Havia nos materiais uma imensur�vel riqueza nas formas, nas cores e nas texturas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Inser��o de novos materiais: tecido, algod�o, figurinos, folhas, caixas, retalhos, areia. Materialidades que se somavam e se completavam.

O espa�o j� n�o � mais o mesmo.

 

Outras formas, outras cores...

������������������������ Movimento...

������������������ Leveza...�������������������������������������������������������

������������������������������ �������Liberdade

 

 

 

 

 

�������������� PAP�IS ��������

 

HIST�RIAS

 

��������� FOLHAS SECAS

 

ALGOD�O����� AREIA

�������� CAIXA

 

TEXTURAS ��������M�SICAS

MOEDAS DE OURO

���������������

���� ����

Tantas outras vezes eu contava�� hist�rias���������

Vamos�� entrar na mata.

N�o sei o que

encontraremos ...

Le�es, girafas, ursos... podem nos esperar...!!!!!

 

Qual a sensa��o do algod�o?����������������� Por que essa areia ficou dessa cor?O que essa caixa pode ser?

De onde vem o papel?

 

BLOCO DAS NARRATIVAS

Em uma das �Experimenta��es de Texturas� com um tecido grande (bem grande), colorido e pesado, um grupo de crian�as de 5 anos se enrolava e se escondia. As crian�as puxavam umas �s outras. Era muita correria e gritos.

Uma crian�a afasta-se dessa experimenta��o e senta-se em um banco da sala. As demais parecem nem notar que isso acontece.

Eu estou sentada em outro banco. Apenas observo.

A crian�a sentada faz como se descascasse algo. Mastiga e engole. Repete esses movimentos. Outra crian�a se aproxima, a observa e a conduz para pr�ximo dos colegas.

Eu estou sentada em outro banco. Fico mais atenta e inquieta. Observo.

- Genteee! Parem de se esconder.

As outras crian�as que freneticamente seguiam enroladas, escondidas e puxando umas �s outras, fazem uma pausa e olham.

A crian�a que antes estava sentada no banco passa um dos bra�os em torno da cabe�a. Faz um movimento como se retirasse algo do rosto.

- � s� o coelhinho da p�scoa.

Convidam o coelho para entrar embaixo do tecido. Continuam...

EU ESTOU SENTADA EM OUTRO BANCO. SIGO OBSERVANDO, ATENTA, CURIOSA, PERPLEXA E FASCINADA.

 

 

 

ATENTA

 

OBSERVA

CONDUZ

CURIOSA

 

 

 

USUFRUIR O

PRAZER

 

�������������������������������

Hoje em dia, as crian�as t�m acesso a todo tipo de cor, mas, geralmente, sob supervis�o. Eu acredito que muitas das experi�ncias das crian�as seriam muito melhores se os professores, ao inv�s de gastarem tanta energia vigiando-as, procurassem, eles mesmos, testar as cores e usufruir o prazer advindo da experi�ncia. (Holm, 2004, p.86)

 

��������������� ���������������

���������������

Um mar de areia. Estamos imersos.

���������������

BLOCO DAS REFLEX�ES (DES) CONSTRU�DAS

 

 

 

 

Acho muito perigoso insistirmos em valorizar um tipo de produ��o art�stica que sempre espera uma espetaculariza��o do fazer teatral. As crian�as criam e s�o muito boas ao fazerem isso, mas, como nos alerta Holm, esse processo �[..] � selvagem, � louco, � maravilhoso [...]� (2004, p. 92).

 

H� imprevisibilidade constante nos processos das crian�as. Para a professora Fran�a (1994) a imprevisibilidade � um elemento fundamental para se pensar os processos educacionais. A autora elabora a ideia de que o imprevis�vel est� no cerne da condi��o humana, desde os estudos das ci�ncias �s cria��es das Artes.

 

 

ESPETACULARIZA��O

 

IMPREVISIBILIDADE CONSTANTE

 

PLANEJAMENTO FLUIDO

 

 

MATERIAIS SIMPLES

 

(Des) construir as pr�ticas art�sticas que habitualmente entendemos como �pr�prias para as crian�as� nos liberta de nossas preocupa��es com a arruma��o e com as tentativas de prever o que vai acontecer. O planejamento � fluido, porque as mudan�as acontecem incessantemente.

 

 

UMA PR�TICA COM MATERIAIS SIMPLES, UMA EXPERIMENTA��O DE TEXTURAS POTENCIALIZADA PELO CONTATO DAS CRIAN�AS

 

 

IM PRE VI SI BI LI DA DE

PADRONIZA��O

 

ORDEM ORDEM ORDEM

VIDA COTIDIANA

 

N�OOOOO ESTRUTURADO

��������������������� COMPLEXIDADE

 

 

 

A professora Lilian Fran�a (1994) faz uma an�lise das estruturas espaciais dos ambientes escolares e recorre aos conceitos de imprevisibilidade e ordem, presentes na Teoria do Caos para questionar os processos de ensino/aprendizagem

 

Edgar Morin: discute um dos conceitos mais importantes para a Teoria do Caos, a complexidade, de modo a tra�ar novas proposta para o ensino a partir de uma aprendizagem que leva em considera��o a dimens�o complexa da elabora��o do pensamento e das rela��es humanas.

 

 

BLOCO DO DI�LOGO:

ARTE E CI�NCIA

������������������������������������������������������������������������

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A artista visual Anna Marie Holm (2005) n�o trata precisamente da Teoria do Caos, mas discute conceitos como a imprevisibilidade, a padroniza��o, o acidental e o n�o estruturado em suas investiga��es com as crian�as, conferindo, assim, uma perspectiva ca�tica sobre os modos de rela��o e intera��es entre crian�a e Arte.

 

Marina Marcondes: O modo como a crian�a se organiza e se coloca dentro de uma aula de Teatro est� intrinsecamente ligado � sua vida cotidiana (ou seja, ao seu jeito de ser e estar no mundo).

 

 

.

 

 

 

 


BLOCO DAS CONEX�ES:

 

EXPERI�NCIAS ART�STICAS E O caos

MANUTEN��O DE

PADR�ES PADR�ES PADR�ES

 

INTER-RELA��O

CON------E------X�ES

������������������������ DESEQUIL�BRIOS

M�LTIPLAS

INTERA��ES

IMPREVISIBILIDADE

N�o h� como prever ou esperar uma organiza��o ou a manuten��o de padr�es de comportamentos, de rela��o ou cria��o.

SISTEMA

Elementos est�o em inter-rela��o e em rela��o com seu ambiente. As possibilidades criativas emergem da intera��o entre crian�a-crian�a; crian�a-espa�o e crian�a-material;

DIN�MICO

Constante adapta��o e aprendizado. Na medida em que as aulas aconteciam, as crian�as se apropriavam mais e mais das materialidades. Cada crian�a fazia novas conex�es com o espa�o, com os outros e com os materiais. A investiga��o nunca cessa.

N�O LINEARES

N�o existe um padr�o de mudan�a, h� in�meras irregularidades, constantes desequil�brios e varia��es que surgem a partir das m�ltiplas intera��es das crian�as.

Conceitos apresentados a partir das discuss�es dos autores Crispim e Barbosa (2006).

��� Experimenta��o de texturas

�������������������� e

Teoria do Caos

���

 

 

Imprevisibilidade

Sensibilidade das condi��es iniciais

Sistemas

Din�micos

N�o lineares

 

A pr�tica Experimenta��o de Texturas se estabelece visando garantir a potencializa��o art�stica da experi�ncia da crian�a. E para tal, faz-se necess�rio impregnar-se de uma perspectiva ca�tica que diz que voc� somente chega ao art�stico quando �est� em um terreno deliciosamente inst�vel" (Holm, 2005, p. 13-14).

 

 

 

 

 

 

 

 


��������������������������������������������������������

���������������

Ap�s apresentar estas ideias disparadoras para a elabora��o da pratica Experimenta��o de Texturas, apresento as duas perspectivas que auxiliaram nesta proposta de escrita (blocos de ideias) e nas reflex�es acerca da pr�tica. Nos primeiros blocos (das percep��es, dos questionamentos e das narrativas) encontram-se as perspectivas metodol�gicas que consistem em narrar os percursos, as escolhas e os questionamentos � pedag�gicos e art�sticos- que fundamentaram a elabora��o e a realiza��o destes experimentos art�sticos. J� os �ltimos blocos (das reflex�es descontru�das, do di�logo e das conex�es) apresentam uma perspectiva te�rica, cujo enfoque est� em apresentar o di�logo com autores, pesquisadores e artistas cujas investiga��es se debru�am sobre a educa��o, a inf�ncia e os conceitos da Teoria do Caos.

����������� Por fim, apresentarei de maneira mais conclusiva uma perspectiva que n�o est� presente nos blocos, mas que lan�a um olhar importante para vislumbrar os desdobramentos poss�veis acerca dos fazeres art�sticos na Educa��o Infantil, quando elaborados � luz dos conceitos da Teoria do Caos.

 

1.      Perspectivas metodol�gicas

 

As ideias suscitadas nos blocos acima s�o, portanto, o aprofundamento da minha pesquisa art�stica que se iniciou em 2008, quando passei a integrar o grupo de teatro Coletivo Teatro da Margem[1], cujas investiga��es se d�o a partir dos conceitos dos Viewpoints[2] que � uma pr�tica de car�ter improvisacional que permite que os atuantes desenvolvam maior consci�ncia de suas rela��es com tempo/espa�o nos momentos de cria��o. O trabalho do grupo reverberou em minhas pr�ticas dentro do ambiente escolar e, consequentemente, culminou na minha pesquisa de mestrado, cuja proposta foi a investiga��o das teatralidades contempor�neas e suas rela��es com espa�o escolar. Nesse momento eu me �esbarro� a primeira vez com as rela��es entre ondem/desordem que perpassam a Teoria do Caos.

Posteriormente a essa pesquisa, tive contato com o livro Fazer e pensar arte da artista visual dinamarquesa Ana Marie Holm[3]. Seus estudos e a forma como ela narra as experi�ncias com crian�as pequenas � entre 2 e 6 anos de idade � agu�ou meu olhar para os processos criativos realizados na inf�ncia.Nesse livro, a partir de suas experi�ncias em um ateli� de artes, Holm (2005) traz relatos do potencial criativo que envolve as a��es das crian�as. Ela desenvolve propostas a partir de instala��es e explora��es de materiais distintos, a fim de permitir que as crian�as criem � sua pr�pria maneira suas hist�rias, situa��es e experi�ncias est�ticas.

Esse modo de pensar e fazer arte com crian�as me fez iniciar em 2014 uma pr�tica que eu denominei de Experimenta��o de texturas. Tal pr�tica foi desenvolvida dentro das aulas de Teatro ministradas com crian�as da Educa��o Infantil dentro da grade curricular de uma escola da rede particular na cidade de Uberl�ndia/MG.Eu buscava uma pr�tica em que fosse poss�vel ir elaborando, testando e refazendo as proposi��es de experi�ncias art�sticas com as crian�as dentro daquele contexto, pautado, principalmente, nas explora��es de materiais diversos e nas rela��es existentes entre crian�a/crian�a, crian�a/adulto e crian�a/espa�o.Percebi, ent�o, que havia muitas potencialidades nessas experimenta��es das crian�as e que as pr�ticas que eu realizava, at� ent�o, n�o as consideravam de maneira mais determinante. Meu olhar tornara-se, aos poucos, cada vez mais de pesquisadora, logo, comecei a perceber a necessidade de encontrar novas possibilidades para as experi�ncias art�sticas vivenciadas junto �s crian�as.

Essa abertura de possibilidades trouxe para as aulas um car�ter mais imprevis�vel e uma irregularidade que come�ou a afetar os demais elementos - o espa�o, as sensa��es, os corpos e as hist�rias, minha postura, os planos de aula- presentes na proposta de Experimenta��o de Texturas. Deparei-me pela segunda vez com o caos: desordem, bagun�a, turbul�ncias e a impress�o de estarmos � as crian�as e eu � imersas nas incont�veis imprevisibilidades. O caos era t�o significativo, forte e determinante naquele processo de experimenta��o que nos desestabilizou. Eu sentia que ele era parte do processo que ali acontecia e que de alguma forma, o caos direcionava incisivamente as experimenta��es. O caos produzira diferencia��es no uso das materialidades, interferia nas a��es das crian�as e colocava-me fora da zona de conforto.

Comecei a repensar e a me questionar sobre os modos de apreender o conhecimento cognitivo dentro das escolas e no nosso cultivo de um ambiente silencioso, calmo e tranquilo como fonte de se obter a aprendizagem. Nas experimenta��es art�sticas, os processos de ensino/aprendizagem tamb�m estariam atrelados a essa necessidade de calmaria, controle e sil�ncio? Foi, assim, que se instauraram as premissas desta pr�tica: Como as investiga��es acerca da Teoria do Caos poderiam contribuir com as proposi��es de experimentos art�sticos com as crian�as dentro do espa�o escolar? De que modo os conceitos dessa teoria poderiam potencializar os processos de cria��o e/ou experi�ncias art�sticas das crian�as?

Tr�saspectos foram norteadores para a elabora��o e a realiza��o da pr�tica Experimenta��o de Texturas: a investiga��o que consistia em criar possibilidades da crian�a compreender informa��es sobre o material que seria utilizado (de onde vem, como �feito e como � por n�s utilizado em nosso cotidiano etc.); na experimenta��o,que era o momento onde crian�as testavam na pr�tica o material a partir de suas pr�prias ideias, sensa��es, emo��es,percep��es e suas a��es lhes conferiam as v�rias possibilidades de utiliza��o do material e a cria��o, na quala partir das rela��es que as crian�as estabeleciam com os materiais, com o espa�o, com outras crian�as e com o adulto a experimenta��o ia trazendo nuances po�ticas, art�sticas e de teatralidade.

O tempo para transitar entre esses tr�s aspectos durante as aulas n�o era pr�-determinado, pois cada material gerava uma demanda e um tempo diferente de a��o, rela��o e intera��o. Portanto, a dura��o das aulas com o mesmo material dependia do interesse das crian�as e das possibilidades (conversas entre as crian�as, hist�rias que elas me contavam ou situa��es que eu percebia no decorrer das aulas) que surgiam no decorrer da pr�pria pr�tica. O importante � ressaltar que um mesmo material continuava a ser experimentado mesmo quando ele assumia outras caracter�sticas: mais sujo, mais rasgado, recortado, j� pintado e etc., pois isso trazia novas quest�es para serem investigadas pelas crian�as permitindo que cada uma desenvolvesse suas pr�prias ideias diante da nova perspectiva do material.

Nessa pr�tica que chamo de Experimenta��o de Texturas tudo aconteceu ao mesmo tempo: meu desejo por um novo modo de fazer teatro com crian�as pequenas e meu encontro com os escritos da artista e pesquisadora da inf�ncia Anna Marie Holm. Portanto, nestes momentos minha principal quest�o era conseguir reelaborar as experi�ncias art�sticas que eu j� realizava junto �s crian�as pequenas dentro do espa�o escolar. E para tal, esse processo se inicia ao perceber o di�logo poss�vel entre os escritos de Anna Marie Holm, os experimentos art�sticos das crian�as pequenas e a Teoria do Caos.

 

2.      Perspectivas Te�ricas

 

����������� Para o mapeamento das investiga��es acerca da rela��o experimentos art�sticos, inf�ncia e Teoria do Caos, encontrei, autores, artistas e pesquisadores que apesar de n�o terem como foco a pr�pria Teoria do Caos, apresentam ideias e/ou proposi��es pass�veis de di�logos com os conceitos e pressupostos que envolvem tal teoria. Por exemplo, as discuss�es propostas pela professora Marina Marcondes Machado (2010; 2015) e pela artista visual Anna Marie Holm (2005, 2007) acerca da potencialidade art�stica da crian�a diante de suas experi�ncias art�sticas interseccionam-se de muitas formas com a Teoria do Caos.

����������� Marina Marcondes Machado (2010) desenvolve em seu p�s-doutorado os seguintes conceitos: crian�a performer e professor performer.Ambos est�o vinculados aos modos de como a crian�a e o adulto se organizam e se colocam dentro de uma aula de Teatro, sendo os modos da crian�a intrinsecamente ligados � sua vida cotidiana (ou seja, ao seu jeito de ser e estar no mundo), enquanto o professor performer est� mais conectado com a sua arte do que com seu ensejo do fazer pedag�gico, no qual ele est� atento ao seu modo de narrar, de propor e de se observar. O professor � parte da aula e n�o est� � parte dela.

Portanto, os conceitos de crian�a performer e professor performer trazidos por Machado (2010/2015) criam rela��es com a Teoria do Caos, na medida em que se traz uma forma mais imprevis�vel de olhar tanto para a crian�a como para o adulto. Um dos conceitos da Teoria do Caos � o chamado efeito borboleta ou sensibilidade das condi��es inicias (SCI).

Por volta da d�cada de 60, um cientista, em particular, percebe que o caos poderia explicar muitos �problemas� tomados como sem solu��o. Edward Lorenz, um meteorologista, percebe que quaisquer modifica��es m�nimas poderiam levar a mudan�as catastr�ficas nos resultados de determinadas equa��es. Esta constata��o o levou a perceber o qu�o compartimentalizada era a Ci�ncia e, que era necess�rio na meteorologia compreender que havia uma depend�ncia das condi��es iniciais, ou seja, saber exatamente a situa��o inicial tornava mais previs�vel as condi��es clim�ticas. No entanto, depend�ncia das condi��es iniciais faz com que as pequenas varia��es produzam multiplicidades, o que tornava dif�cil precisar com que frequ�ncia algum padr�o ir� aparecer � longo prazo. A cada posi��o inicial dada, uma riqueza de comportamentos est� prestes a emergir.

Sendo assim, considerar e variar as condi��es inicias de um experimento art�stico com crian�as abre espa�o para que o professor e a crian�a explorem vastamente as possibilidades est�ticas, as teatralidades e as potencialidades.O professor ao trabalhar a partir de determinada condi��o inicial tem a chance de escolher que tipo de narrativa ele quer imprimir naquela aula, sem obviamente, deixar de perceber as condi��es dadas e trazidas pela pr�pria crian�a.

Trata-se de perceber que assim como o fazer art�stico, o fazer docente tamb�m permite varia��es: na escolha do espa�o, do tipo de material ou da posi��o ocupada, seja, pelo adulto, seja pela crian�a. Cada mudan�a de condi��o inicial impregna o processo de a��es mais inesperadas e menos pragm�ticas, que refor�am a necessidade se come�ar a construir processos art�sticos com as crian�as pequenas mais calcados na imprevisibilidade.

A crian�a performer busca voltar suas percep��es, sensa��es, sentimentos e a��es para aquilo que lhes � inerente ao seu cotidiano. Elas s�o atra�das pelas experi�ncias que j� vivenciam, ou seja, voltam-se para lugares semelhantes. Sendo assim, elas s�o capazes de agir e intervir desde suas rela��es cotidianas at� mesmo construir um campo de a��o para si e suas ideias. Por isto, a sensibilidade das condi��es iniciais, conferem autonomia �s crian�as, que, gradativamente, sentem-se mais confiantes e engajadas a experimentar a Arte das mais variadas formas poss�veis.

����������� Complementando as contribui��es de Marina Marcondes, a pesquisa da artista visual dinamarquesa Anna Marie Holm, traz reflex�es oriundas de sua pr�tica de experimenta��o art�stica junto �s crian�as.����������� A artista prop�e a inser��o da Arte Contempor�nea nas escolas voltada, especificamente, para a inf�ncia. Dentro das experi�ncias propostas por Ana Marie Holm, as crian�as criam algo que lhes � pr�prio, inventam rela��es e estabelecem formas de express�o vivas e originais a partir da intera��o com os materiais e das rela��es estabelecidas na conviv�ncia.

Anna Marie Holm, pauta-se nos seguintes pressupostos: na liberdade de experimenta��o; na curiosidade da crian�a; na cria��o de ambientes instigadores e em uma rela��o mais partilhada entre crian�a e adultos. A liberdade de cria��o � um dos pressupostos do trabalho de Anna Marie Holm. A artista chama nossa aten��o para uma energia criativa natural que a crian�a possui e que esta pode ser acionada quando conferimos �s crian�as uma liberdade para manifestar seus anseios, desejos e medos. Desse modo, a liberdade agu�aria a curiosidade da crian�a pelo mundo. Se sentindo livre, a crian�a est� mais segura de si e de suas ideias, ela, ent�o, ousa investigar, pesquisar, inventar e criar.

����������� O trabalho da artista tamb�m faz uma ponte direta com v�rios dos conceitos pertinentes � teoria, por exemplo, ao deixar expl�cito o quanto o excesso de organiza��o pode ser prejudicial a espontaneidade da crian�a, Holm se aproxima do caos, pois, entende que com o excesso de organiza��o "(...) voc� nunca chega ao art�stico, porque isso s� acontece se voc� est� em um terreno deliciosamente inst�vel" (HOLM, 2005, p. 13/14).

����������� � nesta instabilidade que encontro algumas �certezas� sobre as experi�ncias art�sticas realizadas com crian�as. A principal delas � esta rela��o intr�nseca entre os modos como a crian�a cria e experiencia o fazer teatral com o caos. Holm parece j� ter percebido este tipo de di�logo em muitos momentos em que esteve junto as crian�as em seus processos de cria��o e experimenta��o. A instabilidade de Holm � a imprevisibilidade, a aleatoriedade e a varia��o constante que implica quando a crian�a manipula um material e as descobertas surgem ali, sem pretens�o, sem expectativa, sem um padr�o pr�-estabelecido por outrem que n�o por ela mesma.

����������� Ao atrelar a instabilidade a tipo de rela��o que as crian�as criam com a Arte, ela est� apontando um caminho que nos diz que h� na crian�a um modo peculiar de lidar com os aspectos l�dicos, imag�ticos, est�ticos e sens�veis que envolvem seus processos e experi�ncias art�sticas e que isto n�o precisa mais ser visto como ruim ou um problema, ao contr�rio, refor�a-se a ideia de a crian�a nos prop�e um novo tipo de ordem, distinta daquela que acreditamos ser a �nica forma.E esta ordem � o caos.

����������� O caos nos coloca diante de um novo tipo de ordem que explicita a sensibilidade diante das interfer�ncias, logo, tudo pode se modificar profundamente e muito r�pido, sem significar necessariamente que seja ruim ou tomado por desordens, que ali�s mais do que �bagun�a�, indicaria que alguns padr�es foram rompidos e as crian�as s�o �mestres� em estabelecerem sua rela��o com a Arte por meio de proposi��es que rompem com a nossa l�gica.

Sendo assim, pode-se afirmar que diante dos ambientes escolarizados os conceitos trazidos tanto por Holm (2005/2007) e Machado (2010/2015) s�o vistos nesta pesquisa enquanto tentativas de intervir nos rituais de escolariza��o e padroniza��o dos processos art�sticos que, geralmente, tendem a acontecer por regras estabelecidas pelos adultos a respeito do que �, ou n�o, adequado para uma crian�a. A Teoria do Caos, alinhada aos modos de pensar e realizar o art�stico destas duas autoras e artistas, rompe com a perspectiva de que aquilo que a crian�a faz � visto como bagun�a e, por isso, quase sempre pass�vel de ser �recolhido ou jogado fora pelos adultos� (Holm, 2007, p.14).

Na Educa��o, Edgar Morin (2007/2010), discute um dos conceitos mais importantes para a Teoria do Caos, a complexidade, de modo a tra�ar novas proposta para o ensino a partir de uma aprendizagem que leva em considera��o a dimens�o complexa da elabora��o do pensamento e das rela��es humanas.A professora L�lian Fran�a (1994) tamb�m repensa a Educa��o por meio dos aspectos organizacionais das institui��es. Ambos autores questionam os padr�es organizacionais pr�-estabelecidos pelas escolas a partir das ideias de ordem/ desordem e buscam compreender como estes padr�es afetam o modo como atualmente as crian�as lidam com sua pr�pria aprendizagem.

����������� Com a aproxima��o destes te�ricos encaminha-se para repensar a Pedagogia do Teatro � luz das considera��es da Teoria do Caos. Isto, implica, portanto, tamb�m em expandir a forma de perceber a forma da crian�a ser e estar no mundo e como isto se reverbera nas suas experi�ncias art�sticas. A crian�a atravessada por todas as rela��es que constr�i, dentro e fora do espa�o do escolar, aponta e nos demonstra que n�o se deveria imaginar uma Pedagogia do Teatro que n�o considerasse toda pot�ncia advinda da complexidade das rela��es da crian�a no mundo.

 

3.      Perspectivas futuras: poss�veis desdobramentos para o ensino de teatro na Educa��o Infantil

 

O percurso desta pr�tica aqui apresentada trata-se das reflex�es de uma professora de Artes na Educa��o Infantil. A Teoria do Caos vem auxiliar, portanto, a atua��o de professores de Teatro neste contexto espec�fico, visando ampliar as perspectivas sobre as pr�ticas art�sticas realizadas com crian�as pequenas dentro do espa�o escolar.

Ao se debru�ar sobre os conceitos desta teoria � poss�vel repensar os v�rios aspectos art�sticos e pedag�gicos pertinentes ao ensino de Teatro na Educa��o Infantil e que s�o essenciais para que professores (as) construam outras vis�es sobre a rela��o Teatro e Inf�ncia, tais como: a observa��o do adulto como parte essencial da aula; a valoriza��o e o inventivo das teatralidades e das formas art�sticas criadas pelas crian�as; as possibilidades diversas da fun��o que o adulto ocupa nestas pr�ticas ao se deslocar do adultocentrismo; o repensar dos modos de organiza��o dos planos de aula; a percep��o e o entendimento de que a crian�a pequena possui um modo ca�tico de se relacionar e produzir Arte.

Ao lan�ar m�o dos conceitos da Teoria do Caos, os professores de Teatro compreendem melhor o caos e, com isso, o v� como um aliado e, n�o mais, como um obst�culo as experi�ncias art�sticas, pois, compreende-se cotidianamente que crian�a possui um modo de apreens�o e cria��o diante dos processos art�sticos que perpassam v�rios conceitos presentes na Teoria do Caos[4].

Portanto, este di�logo nos oferece a oportunidade de elaborar praticas teatrais mais dial�gicas com as a��es e experimentos das pr�prias crian�as e construir novos significados acerca do que s�o as experi�ncias est�ticas dentro das escolas e, assim,oferecer � futuros professores de Teatro que atuar�o na Educa��o Infantil uma vis�o mais vasta sobre o que � e como vivenciar as experi�ncias art�sticas com crian�as pequenas, de modo a tirar de si a responsabilidade do controle excessivo t�o marcadamente impregnada em todos n�s.

 

 

REFER�NCIAS

 

BARBOSA, W.; CRISPIM, S. F. As teorias do caos e da complexidade estrat�gica. In: SIMP�SIO DE EXCEL�NCIA EM GEST�O E TECNOLOGIA. 11., 2006. Anais[...] Resende, RJ: Associa��o Educacional Dom Bosco, 2006. Dispon�vel em: https://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos06/834_Caos%20e% 20 Complexidade%20Seget.pdf. Acesso em: 28 ago. 2018.

 

FAGUNDES, P. Caos e cria��o processos de ensaio. In: CONGRESSO DA ASSOCIA��O BRASILEIRA DE PESQUISA E P�S-GRADUA��O EM ARTES C�NICAS, 6., 2010, S�o Paulo. Anais[...] S�o Paulo: ABRACE, v.11, n.1, 2010. Dispon�vel em:https://www.publionline.iar.unicamp.br/index.php/abrace /article /view/ 3675.Acesso em:29 jan. 2020.

 

FERREIRA, V. Mong�lia: uma narrativa ca�tica? Disserta��o (Mestrado em Letras). Pontif�cia Universidade Cat�lica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008. Dispon�vel em: https://www.maxwell. vrac.puc-rio.br/colecao.php?strSecao=resultado&nrSeq=12053@1. Acesso em 24 set 2020.

 

FRAN�A, L. C. M. Caos � Espa�o � Educa��o. S�o Paulo: Annablume, 1994.

 

HOLM, A. M. Baby-Art: os primeiros passos com a arte. S�o Paulo: Museu de Arte Moderna, 2007.

 

HOLM, A. M. Fazer e pensar arte. S�o Paulo: Museu de Arte Moderna de S�o Paulo, 2005.

 

HOLM, A. M. A energia criativa. Pro-posi��es, Campinas, v. 15, n. 1, [43], p. 83-95, jan./abr. 2004. Dispon�vel em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/article/view/8643844 /11324. Acesso em: 29 jan. 2020.

 

MACHADO, M. M. Novos rumos para o ensino do teatro: Reflex�o sobre curr�culo e cena contempor�nea. In: CONGRE.SSO DA ASSOCIA��O BRASILEIRA DE PESQUISA E P�S-GRADUA��O EM ARTES C�NICAS, 7., 2012, Porto Alegre. Anais[...] Porto Alegre, RS: ABRACE, v.13, n.1, 2012. Dispon�vel em: https://www.publionline.iar.unicamp.br/index.php/abrace/article/view/2258.

Acesso em 29 jan. 2020.

 

MACHADO, M. M. A po�tica do brincar. S�o Paulo: Editora Loyola, 2004.

 

MOREIRA, Adriana. Registros em fotografia das aulas. N�o publicado, 2014. fotografia. Acervo

pessoal. Acesso em: 28 set. 2020.

 

MOREIRA, Adriana. Planos de aulas de 2014/2015. 2015. 42 p. Arquivo pessoal.

 

 

 



[1] Um coletivo de egressos do curso de Teatro da Universidade Federal de Uberl�ndia que surgiu em 2007.

[2] Os viewpoints foram conceitualizados pela dan�arina Mary Overlie. A partir de seus estudos acerca da dan�a. Ela nomeia os six viewpoints: espa�o, tempo, forma, movimento e emo��o. Em 1984 Anne Bogart, uma diretora teatral norte-americana, interessa-se pelo trabalho de Mary Overlie e decide por aprofundar essa pesquisa, expandindo os viewpoints e utilizando-os como uma pr�tica de cria��o e investiga��o nos processos criativos em Teatro.

[3] Artista visual e educadora dinamarquesa, cujas investiga��es se debru�aram na rela��o entre a arte e inf�ncia.

[4] H� artistas pesquisadoras como a Patr�cia Fagundes (2010) que pensam o Caos e cria��o nos processos de ensaio e de ensino.