Perfografia e escrita situada: caminhos para uma pesquisa em arte
Perfography and situated writing: the
construction of a research in arts
Juliana Lima Liconti
Doutoranda em Artes C�nicas
na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), bolsista Capes.
Artista-pesquisadora-docente que investiga a arte da performance como um
processo de desacostumar o olhar pr�-conceituoso para
abrir-se aos encontros. Membro da plataforma quandonde
(www.quandonde.com.br) e do GrupoN�made (@nomadegrupo).-
juliana.lima.liconti@gmail.com
- https://orcid.org/0000-0002-6997-9064
Resumo
Duas escritas tecem este texto: a primeira �
colorida, narra as fraquezas e as inseguran�as do processo de escrita; a
segunda � um artigo, nos moldes acad�micos, que discorre sobre duas pr�ticas de pesquisa em arte � a perfografia
e a escrita situada a partir da rela��o com o Modo Operativo AND. Ambas t�m a
atitude cartogr�fica � o acompanhar dos processos e o acolhimento dos
acontecimentos � como um princ�pio de a��o.
Palavras-chave:
Cartografia na arte - Metodologia. Escrita e arte. Performatividade
(Filosofia).
Abstract
Two
writings constitute this text. The first one is colorful, narrates the
weaknesses and insecurities of the writing process. The second one is an
academic paper that discusses two research practices in art� perfography (perfografia) and situated writing in relation with the Modus
Operandi AND. Both have the cartographic attitude � careful perception of
processes and openness to embrace events � as a principle of action.
Keywords: Cartography in art-Methodology. Writing and
art. Performative (Philosophy).
DOI: http://dx.doi.org/10.5965/1808312915252020e0022
Recebido em: 06/06/2020
Aceito em: 29/07/2020
O come�o antes do come�o
H� tr�s anos eu escrevi um artigo para publica��o em uma revista
acad�mica da �rea de artes c�nicas. O artigo era sobre a pesquisa em
arte/escrita em arte. Havia sido escrito por conta de uma convocat�ria tem�tica
da revista. Quando eu estava submetendo-o, percebi que a sele��o de textos para
o tema em quest�o ocorrera um ano antes (tamanha desaten��o!). Decidi, ent�o,
cancelar a submiss�o, trabalhar um pouco mais no texto para encaminh�-lo a
outro peri�dico. Resultado: at� a prepara��o para esta publica��o eu nunca mais
havia sequer aberto o arquivo.
Na �poca eu estava na fase de escrita da disserta��o. Um momento
bastante temido, sofrido e prazeroso para mim na pesquisa acad�mica. T�o
prazerosamente sofrido que publicar artigos sempre foi uma dificuldade minha.
Por um lado, � uma exig�ncia para algu�m que, como eu, pretende seguir carreira
acad�mica (se a universidade p�blica e gratuita continuar existindo, claro),
por outro, ante a correria dos afazeres urgent�ssimos do dia a dia, parar para
escrever algo que n�o possui prazo, que depende �nica e exclusivamente da minha
capacidade de organiza��o e planejamento, acaba se tornando uma atividade
incessantemente procrastinada (vide os tr�s anos!).
Na ocasi�o em que conheci Ines Saber[1],
ela estava convidando as pesquisadoras[2]
a participarem do presente dossi� e eu pensei: �posso retomar aquele artigo
sobre escrita/pesquisa em arte�. Abandonar textos por tempo indeterminado e
depois rel�-los costuma ser uma atividade muito decepcionante para mim e dessa
vez n�o foi diferente. Uma parte significativa das reflex�es j� n�o fazia mais
tanto sentido, outra encontrava reverbera��o nas minhas quest�es atuais, por�m necessitava
de atualiza��o e, em menor quantidade, alguns trechos ainda me contemplavam
exatamente como haviam sido escritos.
Ap�s selecionar o que seria mantido e fazer as altera��es necess�rias,
tamb�m senti a necessidade de escrever sobre as percep��es que t�m me
atravessado atualmente a respeito do tema e assim o fiz. Incomodava-me o fato de
o texto ser um depoimento sobre a escrita situada[3],
sem promover a efetiva��o das quest�es ali pontuadas, mas, com o prazo se
aproximando e na aus�ncia de uma solu��o para minha inquieta��o, mandei o texto
mesmo assim.
Quando recebi os apontamentos do Corpo Editorial do Dossi� � Do
tema aos modos, reflex�es e inven��es: a pesquisa em artes e as escritas sobre
a pesquisa �, encontrei a seguinte observa��o: �Parece interessante
descrever como essas opera��es de escrita aparecem neste texto�. Era exatamente
nesse ponto que residia o meu problema: o texto n�o praticava a escrita
situada, ele falava sobre ela e citava exemplos de experi�ncias
relacionadas. Como tornar um texto que foi escrito obedecendo �s f�rmas padr�o
um exerc�cio de escrita situada? Este � o problema que emergiu a partir da
minha participa��o neste dossi�.
A tentativa de solu��o circunstancial que encontrei foi a
seguinte: o texto possui dois estilos de escrita. Um deles � este que a leitora
est� acompanhando. Inspirada na provoca��o do fil�sofo Peter P�l Pelbart �[...] como ter a
for�a de estar � altura de sua pr�pria fraqueza, ao inv�s de permanecer na
fraqueza de cultivar apenas a for�a?� (2007, p.63), trata-se de um momento em
que vou explicitar os processos, compartilhar as dificuldades, apontar as
contradi��es. Como um solil�quio, porque � como se eu travasse uma conversa
comigo mesma, inserindo no arquivo do Word tudo que me vem � mente, e,
ao mesmo tempo, um di�logo com a leitora (que nesse momento � apenas uma
proje��o de mim mesma). O segundo estilo � basicamente o artigo atualizado que
eu submeti ao dossi�, que segue uma escrita mais pr�xima dos artigos acad�micos.
Introdu��o
A
escrita tem sido para mim o momento mais temido, sofrido e prazeroso da
pesquisa acad�mica, em que se est� s� e � preciso organizar em palavras tudo o
que foi realizado*. Como fazer isso? A Associa��o Brasileira de Normas T�cnicas
(ABNT) prop�e par�metros comuns; o que, a princ�pio, varia � apenas o conte�do
de cada trabalho. No entanto, a pesquisa no campo das artes tem questionado
essa forma predeterminada, haja vista que a presen�a da arte na academia �
lugar tradicionalmente reconhecido como cient�fico, onde aplicam-se m�todos
cujo intento � tornar a apreens�o da realidade o mais objetiva poss�vel a
despeito da subjetividade da pesquisadora (VIEIRA, 2009) � � em si paradoxal.
Afinal, como a arte poderia se pretender exclusivamente cient�fica, objetiva,
racional, se ela tamb�m atua no intuitivo, no subjetivo, nos sentimentos e nas
sensa��es?
A quest�o conflituosa aqui parece ser
a submiss�o da pesquisa em arte �s normas cient�ficas, quando a arte seria
outro tipo de conhecimento com diferentes propriedades e possibilidades e, se a
forma � indissoci�vel do conte�do, � esperado e at� desejado que os
questionamentos por parte das artistas-pesquisadoras acerca de como pesquisar/escrever
em arte, em vez de sobre arte, emerjam. Essa mudan�a de preposi��o apresenta
pol�ticas cognitivas (KASTRUP; TEDESCO; PASSOS, 2008) radicalmente diferentes.
Pol�tica entendida como atitude, ethos, e cogni��o pelo ponto de vista da autopoiese, proposta por Humberto
Maturana e Francisco Varela (2001), na qual um sistema vivo � entendido como um
sistema cognitivo, que produz a si mesmo e ao mundo simultaneamente no ato de
conhecer.
Se a cogni��o � um processo de
produ��o, maneiras diferentes de conhecer produzem mundos distintos, isto �,
quando se pesquisa sobre arte, a
pesquisadora est� desimplicada da experi�ncia, h� uma dist�ncia entre ela e o
objeto pesquisado, sendo assim produz uma pesquisa-mundo desincorporada que
denuncia essa separa��o. Por outro lado, na express�o pesquisa em arte os dois termos constituintes est�o amalgamados, o que
est� em evid�ncia n�o � a pesquisadora, mas a opera��o, � uma pesquisa-arte e a
sujeita � produto do processo de cria��o-pesquisa.
Pesquisar sobre arte �
tom�-la como objeto de pesquisa. A ci�ncia e a filosofia tamb�m se dedicam a
essa tarefa, considerando a profus�o de estudos relativos � natureza da
experi�ncia est�tica, � fun��o evolutiva da arte, � rela��o entre obras de arte
e conclus�es cient�ficas do mesmo per�odo hist�rico (GREINER, 2006). Enquanto a
express�o pesquisa em arte sugere a
arte como um tipo de conhecimento, portanto, criadora de suas pr�prias
epistemologias. Este texto pretende explorar esse segundo caminho (da pesquisa em arte) a partir de minhas experi�ncias recentes com a escrita de
textos acad�micos em articula��o com o pr�prio processo de pesquisa e produ��o
de conhecimento. Essas experi�ncias t�m sido conduzidas por dois procedimentos
metodol�gicos que ser�o apresentados nas p�ginas seguintes: o Modo Operativo
AND (MO_AND) e a Perfografia.
O Modo Operativo AND como caminho para
uma escrita situada**
Toda
a pensa��o da escrita na pesquisa em arte na
minha trajet�ria ocorre em interlocu��o com MO_AND, procedimento de instaura��o
de pol�ticas da conviv�ncia, concebido pela antrop�loga Fernanda Eug�nio. O
MO_AND oferece ferramentas-conceito e conceitos-ferramenta que me auxiliam no
processo de cria��o de uma escrita situada[4].
Antes de qualquer a��o, reparar. Uma das modula��es dessa
ferramenta-conceito no MO_AND � re-parar, executar um movimento de paragem como modo de
suspender um padr�o habitual de cis�o entre sujeita e objeto. Re-parar � criar
condi��es de vulnerabilidade ao encontro, � se permitir ser afetada, � uma pr�-a��o, uma pr�-para��o. Segunda modula��o do
reparar, sin�nimo de observar. O
MO_AND solicita que, em vez de olhar para os corpos como predeterminados (olhar
objetivo) ou carreg�-los de simbologias e mem�rias pessoais (olhar subjetivo),
se pare para reparar nas
propriedades-possibilidades do acontecimento, que s�o sempre situadas, a cada
situa��o um campo de propriedades-possibilidades � constru�do.
Reparar auxilia na percep��o de que as coisas
no mundo s�o constru��es, rela��es. Esta invers�o perceptiva de romper com a
categoriza��o e reparar na rela��o �
distante de um padr�o habitual do agir. � olhar para uma cadeira e, em vez de
dizer �� uma cadeira�, reparar que
uma cadeira tem sustenta��o, cavidade, superf�cie paralela ao ch�o e que as
propriedades da cadeira apontam as possibilidades: o que se pode com esse tem? Sentar, obviamente, mas o reparar � um exerc�cio de desobviedade do olhar. Em vez de buscar os significados por
de tr�s (understand),
o reparar faz ver a superf�cie (stand), a mat�ria, aquilo que de t�o
n�tido, torna-se invis�vel (EUG�NIO; FIADEIRO, 2013).
Se preciso escrever um artigo ou
organizar uma comunica��o em um evento de pesquisa, eu re-paro. Suspendo o impulso de j�
saber o que vou escrever ou falar, resisto � tenta��o de ter uma ideia a partir
do nada. Ao frear esses impulsos, eu imediatamente entro na segunda modula��o
do reparar.
Quando fui escrever minha disserta��o
de mestrado, Pistas para uma po�tica dos acidentes[5] (2016), inspirada
pelo MO_AND, fui reparar nas propriedades-possibilidades da performance Entre Trope�os[6] (2014-2016) � fruto da pesquisa. Notei
que ela tinha troca, escuta, procura, desorienta��o, encontro, di�logo,
interrup��o etc. Ao perceber essas opera��es da a��o performativa, busquei repeti-las
na escrita, como estrat�gia de praticar o MO_AND, possibilitando, assim, a
emerg�ncia de uma escrita situada. Entendi que, do mesmo modo que em Entre
Trope�os eu criava as condi��es de possibilidade para a emerg�ncia de
acidentes, na disserta��o eu precisava instaurar poss�veis acidentes na
experi�ncia de leitura do trabalho.
Ao fazer isso, acredito que, em vez de
produzir um texto sobre a performance, opto por inventar um modo de
escrita em rela��o com o trabalho art�stico, com as mesmas opera��es, por�m
atualizadas em outra forma. Para proporcionar uma frui��o est�tica a quem dela
tomar contato e ao mesmo tempo ser aut�noma. Por se tratar de uma pesquisa em
arte, n�o est� nem a servi�o da pr�tica art�stica, nem � sobre ela. �
como se a pr�tica art�stica e a escrita situada fossem posi��es equidistantes �s
opera��es que ambas ativam, ambas resultam de um mesmo processo de
cria��o-pesquisa-aprendizagem.
O invent�rio das opera��es de Entre
Trope�os disparou uma s�rie de quest�es: como uma escrita pode fazer
trocas? Produzir escuta? Acidentar a leitura? Desorientar? A proposi��o n�o �
que a opera��o se torne necessariamente uma qualidade da escrita, por exemplo,
uma escrita desorientada e sim a escrita como a��o propositiva para a leitora,
ou seja: como um texto acidenta a leitura? Vale ainda mencionar algumas
solu��es encontradas. Ao t�rmino da performance, eu escrevo e envio uma carta
para a c�mplice. Envelope � um dos materiais da a��o. Decidi, portanto,
acidentar a leitura usando envelopes. No meio do texto foram inseridos alguns
envelopes, cada um deles possu�a uma proposi��o distinta. Em um, a leitora
encontrava fotos impressas em papel fotogr�fico tamanho 10 x 15 cm, sem
legendas; em outro, o link para um �udio no qual � convidada a fechar os olhos
e escutar os sons do espa�o em que se encontra; em outro, um jogo de combina��o
de palavras; em outro, uma carta destinada a Jana�na, hom�nima da c�mplice da
performance, com quem troquei confid�ncias via interfone na cidade de S�o Paulo.
Feita a proposi��o, como escreveu a artista Lygia Clark, �cabe a voc� soprar o
sentido da nossa exist�ncia� (CLARK, 1998).
A escrita situada, produzida na
rela��o com o trabalho art�stico ao qual se refere na pesquisa em arte, pode
ser considerada uma escrita performativa na medida em que age, ou busca a
ag�ncia, na outra que l�, por meio das opera��es produzidas na escrita.
No artigo Destino: Poesia, Diego Baffi[7] (2016) encontra um modo de
fazer a leitora performar a condi��o de estrangeira quando oferece � leitura um
texto espelhado. A viv�ncia que teve no Haiti alterou a perspectiva dele e o
fez optar por repetir essa opera��o no texto, espelhando-o. Assim, prop�e �
leitora que performe uma posi��o equidistante � estrangeiridade
ao ler com o aux�lio de um espelho o texto invertido. Identifico nos modos de
escrever de Baffi a busca por materializar as
quest�es de pesquisa, para que deixem de ser ideias sobre e passem a ser opera��es, performances concretizadas
no ato da escrita e da leitura.
Cara leitora, at� aqui
voc� j� deve ter compreendido a conceitua��o que fa�o de escrita situada e qual
o procedimento que utilizo para oper�-la. Tamb�m dei exemplos de como a
coloquei em pr�tica na disserta��o e citei o meu parceiro de trabalho que
possui buscas afins com as minhas. Voc� tamb�m deve ter reparado que o texto
est� de acordo com a ABNT (Times New Roman, tamanho 12, espa�amento 1,5 entre
linhas, texto justificado etc.). Isso n�o � uma contradi��o? N�o
necessariamente! Uma escrita situada n�o � sin�nimo de uma guerra � ABNT. A
escolha das normas que ser�o subvertidas e das que ser�o seguidas est� atrelada
ao reparar da situa��o, do que ela oferece de propriedades-possibilidades.
No caso deste texto, e
a� sim me parece residir a contradi��o, a situa��o � a exist�ncia de um artigo
acad�mico sobre escrita situada, sem pratic�-la. Um artigo no qual fiz
quest�o de destacar todas as apari��es da palavra sobre e no qual
abertamente defendi a escrita em arte em detrimento da sobre
arte. Al�m dessa contradi��o, tamb�m faz parte da situa��o o fato de o texto
ter sido composto em temporalidades distintas � iniciado em 2016 e retomado em
2019, revisado pelo corpo editorial do dossi� e retrabalhado por mim.
Reparar na situa��o
produziu um certo impasse em mim. Primeiro: desta vez a escrita situada
precisava ser operada em um texto cuja tem�tica n�o era uma performance
art�stica, mas a pr�pria escrita acad�mica no campo das artes. Segundo: o meu
ponto de partida era um texto dentro dos padr�es preestabelecidos. Como contaminar
o texto sobre escrita situada com escrita situada?
Confesso que comecei a
escrever sobre as origens do texto, sem conscientemente saber quais escolhas
estava fazendo. At� que em dado momento tive um insight: �o texto ser�
dividido em dois. O artigo manter� sua estrutura e seu estilo de escrita e o
que eu estou escrevendo agora sem saber o porqu� vai revelar o processo de
escrita. Como se eu compartilhasse com a leitora o que passa na minha cabe�a. Inclusive,
ou talvez principalmente, as fraquezas, as inconsist�ncias, as autocr�ticas, os
receios etc.�. No primeiro momento pensei em trazer os dois estilos lado a
lado, separados por colunas, mas logo desisti desse formato porque a coluna equipara
o status dos dois textos e n�o acho que � o caso aqui. Os textos foram
escritos em momentos diferentes. O artigo � autossuficiente. Este aqui, no
entanto, depende do outro para existir, est� sempre em rela��o ao outro. A
fun��o dele � tornar o processo o mais expl�cito poss�vel. Encontrei como solu��o
poss�vel a mudan�a de cor porque quando fazemos revis�o em um arquivo de Word
o programa vai diferenciando as inser��es a partir das cores, por isso achei
interessante repetir essa opera��o na medida em que o texto em lil�s foi
escrito depois e est� narrando o processo de cria��o. Assim como em uma revis�o
pensei que ele poderia se relacionar com o artigo de diferentes maneiras: logo
antes (antecipando um por vir), logo depois (sintetizando quest�es) ou
pontualmente via coment�rio.
Uma pr�tica de pesquisa em arte: a perfografia
Imagem I - Evento Conversas sem fim
promovido pelo Col�gio Aplica��o (CAP/UFRJ)
Fonte: C�li Palacios
Imagem II - Grupo de Pesquisa Pr�ticas
Performativas Contempor�neas (PPGAC/UNIRIO)
Fonte: Tania Alice
Proponho um jogo. Antes de continuar a
leitura, pe�o que voc� jogue com o invent�rio de palavras a seguir, com o
intuito de produzir uma defini��o singular para a palavra perfografia[8]. Experimente
diferentes combina��es at� encontrar a sua composi��o.
cartografia���������������������� e����������������������� explicitar����� �������������������
��
normas������������������� enquanto��������������� �operada���������������������� uma
������� performance����������������� ���faz������������������� ���produzir������������� �������entre
�������� n�o-m�todo�� ��������������������e������ �����������������suspender���������������������� se
������� acompanhar����������������� h�brido����������������� ��m�todo������������������� situa��o�
Esse jogo, que eu espero que voc�
tenha acabado de jogar, � uma experimenta��o que tenho realizado em situa��es
nas quais preciso apresentar a minha pesquisa. Em vez de falar sobre a perfografia, eu convido as pessoas a pratic�-la. As
palavras est�o separadas e n�o h� uma ordem correta. O jogo evidencia o car�ter
processual e pl�stico do conceito. Produz engajamento em a��es caracter�sticas do
modo de operar perfogr�fico tais como: tatear, combinar,
recombinar, compor, formar, transformar, deformar, aproximar, distanciar etc.
Tomei contato com esse termo
recentemente. � uma no��o formulada pelo coletivo Parabelo[9]. Perfografia � um h�brido entre cartografia e performance. Essa
uni�o confluiu para as quest�es est�ticas do grupo: trabalhar a performance no
espa�o p�blico, entendendo-o como um territ�rio existencial a ser habitado
erraticamente pela perf�grafa (MARQUES; RACHEL,
2013). A perfografia para o coletivo Parabelo parece estar associada � rela��o entre
performance, corpo e cidade e caracterizar-se como um modo de agir que tateia o
decorrer dos acontecimentos sem antever o que vem a seguir.
Cartografia � um conceito da
geografia. Consiste em um desenho produzido durante os movimentos de
transforma��o da paisagem (ROLNIK, 2007), enquanto o mapa � uma representa��o
de um todo est�tico. Por se tratar de um procedimento que acompanha processos,
os fil�sofos Gilles Deleuze e F�lix Guattari (1995) fizeram uma transdu��o da
no��o de cartografia para a filosofia. Para os autores, a cartografia
acompanha, al�m dos territ�rios geogr�ficos, territ�rios existenciais, isto �,
os territ�rios de produ��o de subjetividade, que envolvem a rela��o com os
desejos e os afetos.
Um grupo de pesquisadoras brasileiras pertencentes
ao campo da psicologia alargou ainda mais o conceito ao pens�-lo como um m�todo
de pesquisa (PASSOS; KASTRUP; ESC�SSIA, 2014), considerando que as metodologias
tradicionais n�o s�o suficientes para abarcar investiga��es eminentemente
processuais. Elencaram pistas convergentes com a atitude cartogr�fica, sem
conceder a elas o estatuto de regra, tendo em vista que qualquer tentativa de
preestabelecer regras sobre como pesquisar cartograficamente � contr�ria �
natureza processual da cartografia, na qual emergem crit�rios espec�ficos a
cada situa��o. A cartografia n�o elenca o que deve ser feito,
entende que os procedimentos precisam ser situados em cada experi�ncia,
apontando a necessidade de uma atitude de abertura e acolhimento do que surge.
A
cartografia � um m�todo n�o-m�todo, porque prop�e uma invers�o metodol�gica: em
vez de met�-h�dos (caminho predeterminado por
metas), h�dos-m�ta (caminho produz as metas)
(Ibidem). Um m�todo que demanda a sustenta��o do n�o-saber, de manter-se
acompanhando o que acontece e resistindo ao impulso de controlar e prever os
acontecimentos***.
Assim
como a cartografia, a performance tamb�m � um conceito com bastante
plasticidade, possui muitas abordagens, escapando de uma defini��o precisa.
Quando o coletivo Parabelo produz essa mistura da
cartografia com a performance me parece se tratar de uma busca pela produ��o de
corpos que esperam, escutam, acompanham, agem, desviam, produzem ru�do. Corpos
que cartografam performando e performam cartografando.
A perfografia despertou particularmente o meu interesse porque
est� entre o pesquisar e a cria��o est�tica. Na minha pesquisa de doutorado em
andamento investigo a arte da performance no contexto das rela��es de
ensino-aprendizagem. Antes de tomar contato com esse conceito, eu j� pretendia
operar cartograficamente. O que a perfografia me
ofereceu foi a possibilidade de pensar todas as etapas da pesquisa entre a
cartografia e a performance, para que a arte da performance n�o seja apenas
tema, mas tamb�m meio de investiga��o. Um caminho de pesquisa em arte,
na qual, conforme mencionado anteriormente, criar, pesquisar e escrever emergem
em coengendramento, s�o frutos de um mesmo processo.
Busco
encontrar estrat�gias para que todas
as etapas da pesquisa se concretizem como experi�ncias est�ticas. Pretendo, a
cada situa��o de pesquisa, encontrar uma maneira perform�tica de retribui��o. A
performance como a linguagem que disponho para me relacionar. Essa escolha est�
associada � minha busca por investigar meios de pesquisar a arte por meio da
arte, para que n�o seja apenas conte�do/tema, mas tamb�m forma. Tenho adotado
como estrat�gia criar ou selecionar pr�ticas que realizam opera��es comuns �
arte da performance, como, por exemplo, tensionar arte/vida e arte/n�o-arte;
deslocar signos de seus ambientes convencionais; modular o tempo (ralentar ou
acelerar a dura��o dos acontecimentos), etc. Essas opera��es recorrentes na
performance foram mapeadas e nomeadas por Eleonora Fabi�o (2008) como
tend�ncias dramat�rgicas gerais. A minha t�tica, portanto, tem sido propor
viv�ncias em sala de aula que realizem essas tend�ncias dramat�rgicas. Da mesma
maneira que no processo da escrita busco repetir as opera��es da a��o art�stica
criando uma atualiza��o equidistante � uma escrita situada.
Por outro lado, a minha quest�o com a
cartografia � a atitude cartogr�fica, que implica acompanhar e agir de acordo
com a especificidade de cada acontecimento. Demanda uma aten��o e um trabalho
cont�nuo da pesquisadora sobre si mesma, uma vez que acompanhar � diferente de
controlar, requer sustentar o n�o saber, n�o ter respostas e sim perguntas e
essa atitude � angustiante em termos subjetivos (ROLNIK, 2007). Principalmente
para os modos de vida ocidentais nos quais h� uma defesa e um encorajamento ao
controle de tudo o tempo todo, de saber e ter respostas para tudo.
A ferramenta-conceito reparar
do MO_AND � valiosa para refrear os meus �mpetos de controle, para identificar as
opera��es, perceber quais est�o ativadas em cada contexto para propor a��es
performativas que criem rela��o com o que j�
est�, o que tem-pode. Pensa��o da pesquisa em
arte perfogr�fica em todas as a��es da pesquisa: da
leitura de refer�ncias �s visitas a campo. Se eu estou investigando a performatividade no ensino da arte da performance, como a
investiga��o em si pode ser uma performance? Essa � uma pergunta-motor de
experimenta��o. A partir dela posso buscar infinitas maneiras de pesquisar
performando, ativando, assim, o h�brido pesquisadora-performer.
A perfografia,
na concep��o que aqui defendo, � um modo de pesquisa-arte, no qual o ato de
pesquisar � art�stico, mais especificamente performativo. Por isso a
hibridiza��o do coletivo Parabelo fez muito sentido
na minha trajet�ria. Cartografia como performance e performance como
cartografia.
Esses conceitos/procedimentos t�m me
ajudado a construir um conhecimento art�stico t�o rigoroso quanto criativo,
cient�fico na medida em que �, e apenas porque �, art�stico. Eles tamb�m podem,
creio eu, servir de gatilho para outras pesquisadoras em sua busca por um
discurso pr�prio, mas leg�timo, no ambiente acad�mico.
Acabei fazendo menos
interfer�ncias nesta segunda parte, talvez porque ela seja recente. Tudo que
est� escrito nela s�o pensamentos/reflex�es/perguntas/a��es bastante
embrion�rios no meu processo de pesquisa e por isso, imagino, n�o consigo perceber
tantas inconsist�ncias. Acho que faltou dizer que eu concebo o MO_AND como um
dispositivo cartogr�fico, portanto, operar o MO_AND � cartografar um processo. Sendo
assim, a escrita situada � oriunda de uma cartografia das opera��es das
propriedades-possibilidades da pesquisa em arte****.
A perfografia,
por sua vez, � um encontro entre performance e cartografia. Ela tem sido minha
t�tica para tornar perform�ticas todas as a��es de pesquisa � os jogos de perfografia s�o um exemplo. Vou ousar fazer algumas
afirma��es, que possivelmente s�o precipitadas, mas um caminho performativo �
composto de risco e vulnerabilidade, ent�o, que seja! Por enquanto tenho
entendido que a escrita situada est� contida na perfografia,
uma vez que o modo de escrever perfogr�fico, por
conta dos aspectos cartogr�ficos, precisa se construir em rela��o �s condi��es
de produ��o e, al�m disso, conforme pontuei anteriormente, como a escrita situada
busca requisitar a ag�ncia da leitora, ela possui um car�ter performativo, ou
seja, tamb�m mescla performance e cartografia.
O fim
depois do fim
Curitiba, 24 de julho de 2020
Uma curta
retrospectiva:
Em setembro de 2019, abri o artigo arquivado por tr�s anos
para reescrev�-lo. Em meados de novembro recebi o parecer do corpo editorial do
Dossi� do tema aos modos, reflex�es e inven��es: pesquisa em artes e as
escritas da pesquisa. Nesse parecer uma pergunta me incitava a operar a escrita
situada, em vez de apenas descrev�-la, e foi ela que desencadeou este texto que
se espirala em duas escritas. A reformula��o aconteceu ainda no m�s de novembro
e depois disso n�o me foram solicitadas novas mudan�as.
Quando, ent�o, a Revista DAPesquisa
decide publicar o Dossi�, em maio de 2020, este texto passa por uma avalia��o
�s cegas feita por duas pareceristas. Uma delas***** dialogou com o texto a
partir dos coment�rios. Fez uma cita��o da pesquisadora Ciane
Fernandes (2008) que afirma que o come�o de uma escrita � o movimento. Sim! Uma
escrita n�o come�a com uma tela em branco. Uma escrita vai se fazendo, tomando
corpo ao longo de toda uma vida, mas uma escrita tamb�m � uma forma
circunstancial, ou seja, a sua forma-conte�do � a express�o do meio/situa��o em
que ela acontece. A juliana que escreveu sobre escrita situada em 2016 n�o � a
mesma que fez a reescrita em 2019 e quem escreve hoje j� � outra.
Mesmo neste intervalo de tempo cronologicamente menor a
experi�ncia de releitura � sempre uma viagem ao passado, como encontrar uma
carta escrita na inf�ncia. Como estou no meio de uma pesquisa de doutorado algumas
ideias se transformam rapidamente. O que fazer? Reescrever? N�o! Este texto
explicita o processo e a reescrita seria a oculta��o. Por isso estou criando
esta nova dobra �o fim depois do fim�, em outra cor para marcar outro
tempo-espa�o. Os coment�rios da parecerista que conversava �s margens do
arquivo me impulsionaram a criar esta dobra. Ela me perguntou: �Esse texto que espirala duas escritas � uma tentativa de re-parar? � poss�vel relacionar a paragem da
ferramenta-conceito e a paragem de tr�s anos entre as duas escritas que comp�em
esse texto? A ideia de um �come�o antes do come�o� poderia ser compreendida
como essa opera��o?�. Simplesmente n�o consegui encaixar uma resposta para essas
perguntas no solil�quio roxo que originalmente era o fim do texto. Se � para
expor o processo que a exposi��o aconte�a at�...
Vamos as respostas, sempre provis�rias.
�Esse texto que espirala duas escritas � uma tentativa de re-parar?� Sim! Primeiro eu re-parei,
ou seja, desfiz a cis�o sujeito (juliana) e objeto (texto sobre escrita
situada). Eu re-parei quando eu parei de querer
praticar a escrita situada. O querer estava sustentando o ego que mant�m a
cis�o. S� quando eu o suspendi (o movimento do re-parar)
que eu consegui reparar (na sua segunda modula��o), sin�nimo de �inventariar
atentamente� (EUGENIO, 2019, p.6). Nesse inventariar dei-me conta do intervalo temporal
e assim encontrei e fui encontrada pelo procedimento da escrita colorida que mostra
o que a escrita acad�mica costuma ocultar.
�� poss�vel relacionar a paragem da ferramenta-conceito e a
paragem de tr�s anos entre as duas escritas que comp�em esse texto?�. A paragem
de tr�s anos fez eu estranhar as palavras e o estranhamento, a �desobviedade� � o prop�sito do reparar. Ent�o, � como se a
paragem de tr�s anos explicitasse os efeitos do reparar. Por�m, no movimento oposto,
o tempo me distanciou do texto e assim eu pude estranh�-lo. No reparar eu me
aproximo at� o ponto em que n�o h� mais separa��o.
�A ideia de um �come�o antes do come�o� poderia ser
compreendida como essa opera��o [do reparar]?�. O come�o antes do come�o e o
fim depois do fim s�o materializa��es de tentativas de re-parar,
reparar e repara��o, produzem dobras no tempo e evidenciam que o come�o e o fim
s�o conven��es sociais, estamos sempre em meio de algo e �viver � sempre ger�ndio�
(EUGENIO; FIADEIRO, 2013, p. 223).
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COMENT�RIOS
* Eu reaproveitei este trecho na primeira p�gina supondo que eu
apagaria esta parte, mas, como foi durante o processo de escrita que encontrei
a proposi��o situada deste texto, decidi mant�-lo e evidenci�-lo para a
leitora.
E, sim, algumas entradas do solil�quio v�o acontecer via
coment�rio
** Eu fiz as divis�es no
texto a posteriori
*** Qualquer semelhan�a com o MO_AND n�o � mera coincid�ncia. No
segundo volume do livro Pistas do m�todo da cartografia (2016), um dos
artigos � uma coautoria de Fernanda Eug�nio e Jo�o Fiadeiro no qual discorrem
sobre o MO_AND.
**** Uma pesquisa � composta por um sem-fim de situa��es:
apresentar a pesquisa em um evento, escrever um artigo, escrever a tese etc.
O que proponho com a escrita situada e a perfografia � a cada situa��o, antes de reagir, re-parar, suspendendo o saber, o impulso da resposta
pronta. Ent�o, come�o a reparar na situa��o em quest�o, inventariando o que ela
me oferece. Uma comunica��o oral em um evento, por exemplo, me oferece 15 minutos,
pessoas sentadas assistindo, projetor etc.
Al�m disso, tem as propriedades-possibilidades da minha
pesquisa que prop�e pr�ticas incorporadas de ensino-aprendizagem. Ent�o, em vez
de falar sobre a minha pesquisa, eu posso propor uma pr�tica que
possibilite uma aprendizagem incorporada.
No caso espec�fico do jogo da perfografia,
como eu queria apresentar esse conceito que � um neologismo, reparando na
situa��o dei-me conta de que eu poderia propor um jogo no qual as pessoas comp�em
coletivamente os sentidos poss�veis da palavra.
A cartografia, conforme mencionado anteriormente, � um
desenho dos movimentos da paisagem, portanto, � um aprender a desaprender,
tendo em vista que cada situa��o � diferente e oferece propriedades-possibilidades
distintas, o que funciona em uma, pode n�o funcionar em outra.
O convite � a cada vez reparar em suas tr�s modula��es.
[Este
texto foi escrito dia 24/07/2020 em resposta a uma parecerista]
***** Eu n�o sei o g�nero da parecerista, mas aqui opto
pela flex�o no feminino
[1] Assisti
� comunica��o da pesquisa de doutorado da Ines
durante o 9� Semin�rio de Pesquisas em Andamento, promovido pelo PPGAC da USP,
em setembro de 2019.
[2] Opto pela flex�o no
feminino ainda que me refira a grupos compostos por mulheres e homens, como estrat�gia
de explicitar o falocentrismo da linguagem e como
exerc�cio para desacostumar esse padr�o em mim e na leitora.
[3] O conceito ser� abordado em pormenor na
sequ�ncia.
[4] A express�o escrita situada n�o � uma
inven��o minha, ela tem sido utilizada em diferentes contextos para se referir
a distintas pr�ticas. A escolha por essa express�o adveio da influ�ncia de um
modo de fazer site specific, cuja tradu��o
literal � s�tio espec�fico, que resumidamente consiste em a��es art�sticas
criadas na rela��o com espa�os e contextos espec�ficos. Essas cria��es s�o,
portanto, situadas, possuem um tempo-espa�o espec�fico. Inspirada nessas
no��es, utilizo a express�o escrita situada justamente para pensar um modo de
escrita que emerja das rela��es espec�ficas do contexto de produ��o de um texto
a ser criado. Na quandonde � plataforma da
qual fa�o parte desde a sua funda��o em 2012 � boa parte das a��es art�sticas
s�o concebidas por meio desse modo de fazer site specific,
por isso posso dizer que nela reside minha maior refer�ncia para a escolha
dessa express�o. Sobre site specific, ver Kwon (2002).
[5] Realizada no Programa de
P�s-gradua��o em Teatro da Universidade do Estado de Santa Catarina (PPGT/UDESC),
sob orienta��o da professora Sandra Meyer
Nunes.
[6] Programa performativo: procurar por uma
c�mplice, com localiza��o desconhecida, caminhando de modo errante pelas ruas
da cidade. O contato com a c�mplice � part�cipe da a��o � � mantido apenas por
telefone.
[7] Meu parceiro art�stico na plataforma quandonde interven��es urbanas em arte. Mais informa��es: www.quandonde.com.br
[8] Pe�o que fa�a a gentileza de enviar uma foto
da sua composi��o de palavras para o perfil do Instagram: @pedagogias_peformativas
[9] Coletivo
paulistano com 14 anos de pesquisa continuada cruzando os temas performance,
corpo e cidade. Mais informa��es em: www.coletivoparabelo.com/